Alemães, italianos ou poloneses, os
imigrantes tiveram um começo difícil no Brasil – lotes reservados a eles
ficavam distantes da cidade, as terras nem sempre eram boas para o cultivo dos
produtos agrícolas a que estavam acostumados e o isolamento dificultava a
adaptação e o progresso.
As
colônias de imigrantes com base na pequena propriedade e no trabalho familiar
resultaram no povoamento de áreas enormes, situadas entre o interior e o
litoral das províncias sulistas. Quanto à cultura material, os imigrantes do
Sul contribuíram nas técnicas agrícolas, especialmente no uso do arado, da
grade e das carroças de quatro rodas. Dedicaram-se à policultura e à
semicultura, no Rio Grande do Sul, e à indústria de laticínios e de conservas, em
Santa Catarina. O fabrico de cerveja, vinho, champanhe e conhaque, a cultura do
trigo e da erva-mate e a manufatura de tecidos e malhas também foram
disseminados pelos imigrantes.
No
Segundo Reinado, o Império Brasileiro envolveu-se também em conflitos na região
platina. Cortada por vários rios navegáveis, como o Paraguai, o Paraná e o
Uruguai, a região é rica e estratégica, e foi palco de constantes conflitos
entre os países sul-americanos. Os rios Paraná e Uruguai desembocaram no rio da
Prata, que era usado por comerciantes sul-americanos e europeus para fazer as
mercadorias chegarem aos portos de Buenos Aires e Montevidéu, que, dali,
seguiam para o interior ou eram vendidas para a Europa.
Os
países sul-americanos lutaram entre si pelo controle dos rios, das terras, do
gado e, sobretudo, do poder. O Império Brasileiro, por exemplo, interveio
diversas vezes na região platina. Em 1851, invadiu o Uruguai para derrubar o
blanco Manuel Oribe e colocar no poder o colorado Frutuoso Rivera. No ano
seguinte, invadiu a Argentina para depor o caudilho Juan Manoel Rosas. E, anos
depois, voltou a invadir o Uruguai para depor Atanásio Aguirre, que era aliado
do ditador paraguaio Solano López. O ditador, então, revidou mandando apreender
o navio brasileiro Marquês de Olinda, que seguia com destino ao Mato Grosso e,
em 13 de dezembro de 1864, declarou guerra ao Brasil, dando início à Guerra do
Paraguai.
Solano López |
Em
janeiro de 1865, como o governo argentino não permitiu que os paraguaios
atravessassem seu território para atacar o Rio Grande do Sul, López declarou
guerra também à Argentina. Em maio de 1865, o Brasil de Dom Pedro II, a
Argentina de Bartolomeu Mitre e o Uruguai de Venâncio Flores formaram a
Tríplice Aliança para combater o Paraguai.
Para
o historiador Ricardo Salles, por exemplo, o Brasil tinha interesse em impedir
a formação de um Estado nacional forte nas terras onde hoje estão Uruguai,
Paraguai e Argentina, assegurar a livre navegação nos rios da bacia platina e
garantir os ganhos territoriais nas áreas de fronteira.
A
Argentina queria garantir a unidade do país, ameaçada pelo fato de que suas
províncias de Entre Rios e Corrientes queriam separar-se e formar países
independentes, contando para isso com o apoio do Paraguai.
O
Paraguai de Solano López desejava fortalecer-se a ponto de garantir que não
seria anexado pelos seus vizinhos (Argentina e Brasil) e buscava uma saída para
o mar. Por isso, López aliou-se ao Uruguai e aos rebeldes argentinos com o
objetivo de formar um novo país, cujo porto marítimo seria Montevidéu. O presidente
do novo país seria, é claro, ele próprio.
Numa
primeira fase por meio de manobras rápidas, o Paraguai obteve vitórias por terá.
Mas, nos rios, a Marinha de Guerra brasileira mostrou-se superior, vencendo os
paraguaios em junho de 1865, na batalha naval de Riachuelo, travada no rio
Paraná. Em setembro do mesmo ano, outra aliada, desta vez por terra, em
Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
No
decorrer da guerra, o número de soldados da Tríplice Aliança foi crescendo. As forças
brasileiras eram compostas pelo Exército, pela Guarda Nacional e pelos
Voluntários da Pátria (recrutados à força e, por isso, chamados ironicamente de
“voluntários a pau e corda”). Estima-se que os efetivos brasileiros podem ter
chegado a 200 mil homens. A superioridade populacional e econômica das forças
aliadas também foi decisiva nos rumos da guerra.
A
segunda fase da guerra foi marcada por importantes vitórias dos aliados, apesar
da tenaz resistência paraguaia. Em 1868, sob o comando do Duque de Caxias, as
forças aliadas conquistaram a fortaleza de Humaitá e venceram importantes
batalhas, como as de Itororó, Avaí, Lomas Valentinas e Angostura, chamadas de
dezembradas por terem ocorrido no mês de dezembro. Essas vitórias facilitaram o
caminho para Assunção, capital do Paraguai, conquistada em janeiro de 1869.
Conde D'Eu |
A
última fase da guerra, em que se deu a perseguição de Solano López em
território paraguaio, é conhecida como Campanha da Cordilheira e foi comandada
pelo Conde D’Eu, autor de muitas atrocidades cometidas contra civis paraguaios.
O presidente paraguaio foi morto por soldados brasileiros em Cerro Corá, em 10
de maio de 1870.
Para
o Paraguai, a guerra foi um desastre. Segundo o historiador Ricardo Salles, a
guerra vitimou 95% da população masculina do país. Além das mortes em combate,
muitos civis e militares morriam por causa de epidemias, como a cólera, das más
condições de higiene e de habitação, e da fome. O Paraguai perdeu 140 mil
quilômetros quadrados de seu território, parte para o Brasil e parte para a
Argentina. Economicamente, saiu fragilizado, o que teve implicações que se
estendem até os dias atuais.
O
Brasil incorporou territórios, garantiu a ligação fluvial com o sul do Mato
Grosso e conservou a hegemonia na região, mas tudo isso a um custo muito alto. Os
dados oficiais falam em 23. 917 mortos em combate; mas há estudos que estimam
em 100 mil, entre civis e militares.
Os
gastos com a guerra foram de 614 mil contos de réis, 11 vezes o orçamento do
governo brasileiro em 1864. O déficit gerado pela guerra atravessou décadas e
ocorreu um aceleramento contraídos com os banqueiros ingleses.
A
Argentina, que possuía na época 1, 5 milhão de habitantes, perdeu 18 mil
soldados. Já o Uruguai foi o país que menos teve perdas. Durante
a Guerra do Paraguai ocorreram a institucionalização e o fortalecimento do
Exército brasileiro. Muitos militares brancos, que haviam lutado ao lado com
soldados negros, voltaram da guerra questionando a escravidão e a monarquia que
lhe dava suporte.
Além disso, a vitória na guerra elevou a
autoimagem dos militares brasileiros e os aproximou das ideias e do movimento a
favor da República.
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