Comprovando mais um dos paradoxos da
política brasileira, o chamado Golpe da Maioridade, que antecipou a coroação e
o governo de D. Pedro II, foi tramado pelos liberais. Alguns políticos
contemporâneos ao projeto indagavam: Será uma epidemia regressista? Ou os
liberais reconhecem a necessidade da ordem centralizada?
D. Pedro II |
Na verdade, os liberais acreditavam
na possibilidade de conquistar vantagens políticas com o novo governo. A antecipação
da maioridade, impulsionada por eles, representou uma tentativa de retomarem
seus privilégios políticos, interrompidos com a renúncia de Feijó. Os primeiros
anos do governo de D. Pedro II foram marcados por várias medidas institucionais
e pacificadoras, objetivando a consolidação da monarquia. A tendência ao ”regresso”,
voltada para uma política centralizadora, esteve presente nas medidas iniciais
adotadas pelo segundo imperador.
Portanto, durante o Segundo Reinado,
dois “grupos políticos” disputaram o poder no Brasil. Liberais e Conservadores surgiram
da cisão do Partido Liberal durante o período regencial. Estavam comprometidos,
portanto, com um passado de lutas – mas, é claro, não ao ponto de sofrerem por
suas convicções. A frase atribuída ao político pernambucano Holanda Cavalcante:
“Nada se assemelha mais um conservador do que um liberal no poder”, traduz
muito bem a opinião de grande parte da sociedade imperial.
Embora, sem dúvida, nada parecesse
tanto um conservador quanto um liberal no poder, e os dois partidos
apresentasse inegáveis semelhanças em termos de origem social e de interesses
econômicos representados, havia entre eles algumas diferenças. Os conservadores
defendiam o fortalecimento do Executivo e do poder central, enquanto os
liberais batiam-se pelo federalismo e pela extensão das prerrogativas das
províncias.
Um dos fatos mais importante do
governo do Segundo Reinado foi a Guerra do Paraguai. As origens do conflito
estão ligadas à intervenção do Brasil, em 1851, num conflito político-militar
no Uruguai. Dois agrupamentos, os Blancos e os Colorados, lutavam pelo poder,
apoiados respectivamente pela Argentina e pelo Brasil. Decidido a derrubar o
governo de Manuel Rosas, o império utilizou o pretexto de que os grandes
estancieiros blacos estavam invadindo as terras do sul do Brasil.
Batalha do Riachuelo - Guerra do Paraguai |
Em 164, o Brasil interveio novamente
no Uruguai. O presidente paraguaio, Solano López, interessado em conquistar
aliados para a defesa do direito paraguaio à navegação no Prata, apoio o
governo uruguaio. A questão se agravou quando López autorizou o aprisionamento
do navio brasileiro Marquês de Olinda, que transportava o governador do Mato
Grosso. Ainda em 1864, as relações entre os dois países foram interrompidas e o
Paraguai invadiu o Mato Grosso, declarando guerra ao Brasil.
Ditador paraguaio - Solano López |
Em 1865, os paraguaios ocuparam a
região argentina de Corrientes, pretendendo alcançar o Rio Grande do Sul e o
Uruguai. López acreditava que a Argentina se manteria neutra no conflito e não
hesitou em abrir novas frentes de combate. Nesse mesmo ano, porém, o Brasil
assinou com a Argentina e o Uruguai o Tratado da Tríplice Aliança. Essa derrota
diplomática deixou López isolado e abalou sua política militar. Os aliados
tinham uma superioridade esmagadora. Seriam precisos, porém, mais cinco anos de
lutas até a vitória definitiva. Afinal, no dia primeiro de março de 1870, López
foi derrotado e assassinado, no combate de Cerro Corá.
Ao terminar a guerra, o Paraguai se
encontrava totalmente arrasado. Perdera metade de sua população; velhos,
mulheres e crianças representavam a grande maioria dos sobreviventes. O sonho
de Francia, de basear o desenvolvimento paraguaio nas forças de seu povo,
desaparecera juntamente com os sonhos de grandeza de Solano López. O modelo de
desenvolvimento dependente, financiado pelo capital estrangeiro e apoiado por
material bélico estrangeiro, estava vitorioso em toda a América do Sul.
No bojo das transformações que
estavam acontecendo no Brasil imperial, uma questão desencadeou intermináveis e
apaixonadas discussões em toda a sociedade: a abolição da escravidão. A discussão
para saber se o trabalho escravo poderia ser o responsável pelo “atraso” do
país diante das “evoluídas” nações europeias, ocupou jornalistas, escritores e
políticos.
Na verdade, a transição do trabalho
escravo para o trabalho livre representava uma exigência da expansão
capitalista. A Inglaterra, pioneira na Revolução Industrial e na luta contra o
tráfico negreiro, tinha consciência de que o escravismo constituía um entrave
ao aumento dos mercados consumidores de suas manufaturas, e exercia forte
pressão para pôr fim a esse obstáculo. As pressões externas aliavam-se às
pressões internas decorrentes do próprio desenvolvimento urbano. Nas cidades. A
contratação de trabalhadores livres, cada vez mais numerosos, se mostrava bem
mais lucrativa do que o recurso à mão-de-obra escrava.
Tudo isso favoreceu a aprovação de um
série de leis que restringiram gradativamente a esfera de ação do escravismo. A
primeira, em 1850, foi a Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico
negreiro. Em 1871, a chamada Lei do Ventre Livre assegurou a liberdade dos
filhos de escravos que nascessem após a sua entrada em vigor.
Toda a década de 1880 foi marcada
por intensos debates sobre a questão abolicionista principalmente na imprensa. Como
se tratava de um assunto polêmico, mereceu cada vez mais espaço dos jornais. Mas
nem todos os periódicos aderiram à campanha, uma vez que vários anunciantes
eram senhores de escravos.
Em 1885, as elites do império
tiveram de fazer novas concessões na tentativa de conter a campanha
abolicionista. Foi assinada a Lei do Sexagenário, que dava liberdade a todos os
escravos com mais de 60 anos de idade. Finalmente, em 13 de maio de 1888, a
princesa Isabel, na ausência do seu pai, D. Pedro II, e pressionada pelos
setores abolicionistas assinou a Lei Áurea, libertando os escravos no Brasil.
Princesa Isabel |
Cabe observar que a Lei Áurea não
extinguiu a escravidão no Brasil. O que ela fez foi tornar livre todos os
escravos por um período de 100 anos. Ou seja, após a abolição, a vida dos
negros não sofreu muitas alterações, uma vez que não houve uma preocupação de
integrá-los à sociedade. Alguns ex-escravos plantaram pequenas roças de subsistências.
Outros conseguiram empregos precários nas regiões rurais ou então se dirigiram
às cidades, formando uma mão-de-obra marginalizada. Em algumas regiões, as
autoridades exigiram que o ex-cativo assinasse um documento comprometendo-se a “viver
bem em sociedade”. Isso significava que ele teria de trabalhar, mesmo que
faltassem empregos.
Milhares de negros libertos
dirigiram-se para o Rio de Janeiro. Como o mercado de trabalho na região da
capital não conseguiu absorver todo o contingente, foi grande o número de
desempregados e subempregados. Todos considerados, na época, preguiçosos,
malandros e vadios pela parcela “branca” da sociedade. Juízos de valor em que
certa medida persistem, numa evidência de que o preconceito é continuamente
alimentado por uma situação de inferioridade social. As camadas populares do
Brasil estão longe da cidadania.