Uma definição precisa sobre o movimento iluminista consiste na ideia de que foi um movimento que se desenvolveu na
Europa do século XVIII e que exerceu enorme influência na forma pela qual se
compreende a política, a sociedade, a economia e a religião. Além disso,
deve-se ressaltar que tal movimento inspira a nossa visão do mundo
contemporâneo. A palavra Iluminismo vem do verbo iluminar, ou até mesmo ilustração
que significa ilustrar, cujo significado é brilhante, polido.
A partir do século XVIII houve
uma transformação no modo de pensar da sociedade, contrariando a concepção de
conhecimento existente na Idade Média. Em outras palavras, no período feudal a
produção de saberes acontecia seguindo parâmetros conhecidos como Teocentrismo
(Deus estava no centro de tudo), ou seja, todos os fenômenos da natureza,
doenças ou catástrofes naturais eram explicados como sendo a vontade de Deus. Não
existia uma explicação científica para tais eventos, pois somente a Igreja
Católica controlava a sistematização de conhecimentos. No que diz respeito ao
Iluminismo houve uma valorização de uma nova forma de se analisar o mundo, conhecido,
sobretudo, como Antropocentrismo (o homem no centro de tudo). Com isso, os
homens passaram a ser considerados seres racionalmente capazes de explicar o
mundo ao seu redor. Por isso, a igreja perdeu sua hegemonia no continente
europeu.
Deve-se enfatizar que, a partir
do século XVIII, em função das transformações na ciência e na técnica ocorrida
na Europa Ocidental, os homens passaram a acreditar que apenas o pensamento
racional (e não mais a fé) seria capaz de promover o desenvolvimento das
sociedades. Para tanto, deveria se libertar de toda forma de superstição, de
preconceito, de medo (considerados irracionais). Dessa forma, a base do
pensamento iluminista é a valorização da razão humana como fonte de
conhecimento.
René Descartes |
Uma das características do
movimento iluminista consiste no estímulo a realização de experimentos
científicos, promovendo um avanço significativo no processo de produção de
conhecimentos. Com a finalidade de reunir todos os saberes do período, os iluministas
franceses decidiram criar uma enciclopédia, que se transformou num excelente
instrumento de divulgação dos princípios do movimento. Com isso, aconteceu a
revalorização da tradição investigativa da Antiguidade Clássica e do
Renascimento para entender e explicar tanto o mundo quanto o Ser Humano. Com isso,
o experimentalismo e o racionalismo, representados pelas obras de René
Descartes e Isaac Newton, são exemplos disso.
Os iluministas defendiam a
liberdade, a tolerância e a igualdade dos indivíduos perante a lei. Esses princípios
se tornariam objetos de reivindicações das lutas democráticas travadas nos
séculos seguintes em muitas partes do mundo. Em cada localidade em que o
movimento floresceu, o iluminismo teve desdobramentos diferentes. No continente
americano, marcado pela exploração colonial, o iluminismo inspirou os
movimentos de revolta e de independência, que contribuíram para o fim do pacto
colonial. Já na França, os ideais de liberdade e de igualdade fizeram com que a
Revolução Francesa tornasse possível e, sobretudo, levasse à tomada do poder
pela burguesia. Já em Portugal e em outras nações europeias, provocou reformas
modernizadoras que ficaram conhecidas como despotismo esclarecido.
Um dos principais alvos das críticas
dos iluministas era o absolutismo (forma de governo em que o poder se encontra
concentrado nas mãos dos reis), que simbolizavam o autoritarismo em voga. Além disso,
tais reis absolutistas afirmavam que a função que eles exerciam significava a
vontade de Deus e, dessa maneira, eram considerados pessoas de natureza
diferente, superiores aos demais. Portanto, diversos autores formularam teorias
que contestavam o poder absoluto do rei.
John Locke |
Um desses pensadores foi John
Locke, que defendia a ideia de que a vida, a liberdade e a propriedade privada
eram direitos humanos naturais. Para ele os governos haviam surgido por
intermédio de um contrato social feito entre os homens para a preservação
desses direitos. Portanto, caso o governo não cumprisse sua razão de ser – a de
proteger e garantir o livre curso da igualdade social -, a sociedade teria direito
à rebelião e à substituição do governante tirânico. Além disso, Locke afirmava
a concepção de liberalismo político, ou seja, o Estado não era patrimônio pessoal
e exclusivo do soberano, por isso, deveria compartilhar o poder de decisão
sobre os assuntos de interesses comum com os representantes dos proprietários
de terra, reunidos em um parlamento.
Barão de Montesquieu |
Outro importante pensador
iluminista foi o Barão de Montesquieu, que criticou o Estado absolutista
francês e fez elogios ao governo inglês, que era controlado pelo parlamento e
não apenas pelo monarca. Montesquieu desenvolveu a teoria da separação e da independência
dos poderes do Estado, segundo a qual o governo seria exercido pelo Legislativo
(que elabora as leis), pelo Executivo (que executa as leis, governando o Estado)
e pelo Judiciário (que julga e estabelece as punições dos que desobedecem as
leis). Para o filósofo, esta divisão impediria que algum poder quisesse se
sobrepor aos demais.
Outro importante destaque no
produção de conhecimentos foi o Voltaire, que criticava a posição da Igreja e a
censura de seu tempo. É sua a frase: “Não concordo com nenhuma das palavras que
você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las”. Além disso, o
pensador defendia a ideia de que a monarquia respeitasse os direitos
individuais e na qual o rei fosse um homem “esclarecido”, ou seja, que tivesse
ideias que promovesse o desenvolvimento e a modernização da nação.
Jean-Jacques Rousseau |
Por fim, Jean-Jacques Rousseau
foi o responsável pelas críticas mais radicais à Igreja e à concentração de
poder nas mãos dos reis. Em seus escritos, Rousseau se mostrou favorável à
formação de um governo popular em oposição à Monarquia absolutista. Por essa
razão ficou conhecido como “pai da democracia”. Suas ideias tiveram grande
aceitação entre as camadas populares e a pequena burguesia europeia,
especialmente quando defendia que a nova sociedade deveria ser composta,
fundamentalmente, de pequenos proprietários e que o povo deveria exercer sua
autoridade diretamente, sem intermediários.
No que diz respeito ao setor da
economia, duas correntes de pensamento foram criadas no contexto do Iluminismo.
O primeiro foi a Fisiocracia, que afirmava que a terra era a única fonte de
riqueza, e a agricultura era a única atividade verdadeiramente produtiva. Com isso,
o comércio e a indústria seriam atividades secundárias, meramente
transformadoras.
Por outro lado, uma nova doutrina
ganhou força, conhecida como Liberalismo Econômico e, dessa forma, mudou o
modelo econômico de diversas nações europeias. Seus pressupostos foram criados
pelo escocês Adam Smith, que defendia a ideia de que a riqueza das nações era
gerada pelo trabalho, exercido por indivíduos livres. Para os liberalistas, a
economia também possuía leis próprias, que funcionariam naturalmente, se
necessitar da intervenção do governo. Os liberais adotavam o lema fisiocrata do
“Laissez-faire, laissez-passer”, ou seja, deixe fazer, deixe passar,
ressaltando a liberdade que julgavam necessária para o bom funcionamento das
leis econômicas.
Vale enfatizar que diversos
monarcas europeus, influenciados pelas ideias iluministas, implementaram
reformas políticas, sociais e econômicas na administração de seus reinos. A finalidade
era racionalizar a administração e aplicar a igualdade de impostos para todas
as camadas sociais, além de incentivar a educação e a produção artística. Apesar
das reformas, o caráter autoritário dos governos absolutistas foram mantidos em
muitos lugares, pois os monarcas não concordavam em dividir o poder ou eliminar
os privilégios. Por isso, esse tipo de governo ficou conhecido como Despotismo Esclarecido.
Voltaire |
Representação das reuniões dos iluministas |