O
velho camarada Luiz Carlos Prestes
Uma
das personalidades mais marcantes do século passado, que revolucionou a
ideologia comunista de meados dos anos 1930 e 1940, foi o comunista Luiz Carlos
Prestes. Sua vida foi caracterizada pelos exílios e pela luta na defesa dos
ideais marxistas. Frustrações e conquistas também fizeram parte da trajetória
desse grande líder, contestado por alguns e admirado por outros. Suas convicções e projetos políticos
modificaram radicalmente a constituição estrutural do partido comunista da
época.
A
sua marcante participação na história do país começou em meados de 1925, quando Prestes percorreu pelo menos 13 estados,
mais de 25 mil quilômetros, divulgando suas ideias. Essa postura atribuiu ao
ex-militar do exército a alcunha de Cavaleiro
da Esperança. A “Coluna Prestes”,
como o movimento ficou conhecido, foi perseguido pelo governo de Artur
Bernades. Após dois anos de peregrinação pelo país, o revolucionário e seus
companheiros passaram à clandestinidade em alguns países da América Latina.
Todavia, sua conduta atraiu a atenção dos membros majoritários do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Após
sua entrada para o PCB, Prestes iniciou seus estudos sobre as ideias
comunistas. Realizando uma análise sobre a conjuntura política do período
abordado, percebemos que ocorria uma dicotomia peculiar, uma vez que o nazismo e fascismo ganhavam espaço no cenário internacional. Visando inibir o
avanço do nazi-fascimo, Prestes, juntamente com membros ativos do PCB,
organizaram a Aliança Nacional
Libertadora, um movimento que objetivava impedir o crescimento do Nazismo
no Brasil.
Nesse
contexto de bipolaridade, ou seja, onde duas correntes ideológicas se
destacavam de uma maneira significativa, a fascista e a comunista, Prestes
organizou um movimento no sentido de derrubar o governo de Getúlio Vargas e implantar um governo popular no Brasil. Todavia, alguns
equívocos foram constatados no planejamento da revolta. O líder da rebelião
procurou se aliar à classe militar, deixando de trabalhar com os sindicatos e
trabalhadores de uma maneira geral. Os destacamentos que supostamente estavam
ao lado dos revolucionários não se levantaram contra o governo. (Esse episódio
ficou conhecido como a “Intentona
Comunista”). Com isso, todos os participantes da revolta foram presos e Olga Benário, esposa de Luiz Carlos Prestes foi enviada ao campo de
concentração de Hitler.
Esse episódio
provocou a prisão do cavaleiro da esperança, que ficou na cadeia durante nove
anos (1935-1944). Foi o período chamado de Estado
Novo, onde Vargas governou o Brasil de uma forma ditatorial. Vale ressaltar
que sua filha nasceu no interior de um campo de concentração, e sobreviveu
graças ao engajamento de sua avó, D.
Leocádia Prestes. Após longos anos na cadeia, quando foi libertado, Prestes
se tornou senador da república, entrando, por pouco tempo, na vida política do
país. Vale destacar que logo depois, no governo de Eurico Gaspar Dutra, ele também foi obrigado a se retirar do país.
Nas eleições de 1950,
Prestes provocou uma das cenas mais intrigantes da sua carreira política, que
foi seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas à Presidência da República. A
pergunta que os comunistas da época se faziam era como o “cavaleiro da
esperança” poderia dar sustentação política a uma pessoa que mandou sua esposa
para a morte nas mãos de Hitler e deixou-o preso por nove anos. Vale frisar que
milhares de membros do PCB deixaram o partido por causa dessa atitude de
Prestes.
A resposta do líder
comunista foi simples e objetiva. Segundo Prestes suas convicções políticas
estavam acima de suas trajédias pessoas. Em outras palavras, ele acreditava que
naquele momento o melhor para o país era a volta de Vargas ao poder. As
críticas que recebeu de seus companheiros não o fez mudar de posição, uma vez que
sua principal característica sempre foi a de não voltar atrás depois de tomada
uma decisão.
Já nos acontecimentos
envolvendo a ação dos militares brasileiros em 1964, Prestes foi contra a luta armada. Essa posição também gerou
uma série de contestações de seus paridários, que o acusou de reacionário e
desprovido dos verdadeiros ideais marxistas. O historiador Jorge Ferreira
argumenta sobre o assunto com objetividade e precisão: “Com a vitória fácil do golpe
militar, várias lideranças dentro do partido se opuseram a ele, que sempre foi
contra a luta armada”. Vale ressaltar que nesse momento houve uma
divisão interna do partido, onde os mais “radicais”, que defendiam a luta
armada, contestavam os comunistas, como Prestes, que eram contrários às ações
armadas na luta contra os militares.
O próprio Prestes foi
categórico ao argumentar sobre a questão: “Nós tínhamos muita confiança nas forças
armadas, tínhamos uma fração muito forte no Exército, mas aqueles elementos não
estavam preparados para se defender, para organizar a resistência”. Vale destacar que, partindo-se de uma
visão estrutural, a luta armada realmente obteve sucesso, pois importantes
líderes dessas lutas acabaram morrendo ou sofrendo torturas diversas nos
aparelhos repressores orquestrados pelo regime militar. O exemplo mais
emblemático disso foi a morte de Marighella
e de Lamarca, que foram perseguidos
e assassinados pelos militares. Em outras palavras, Prestes sabia que o momento
não era oportuno e que os revolucionários não estavam prontos para enfrentar o
exécito brasileiro. Contudo, vale destacar que o cavaleiro da esperança cometeu
um equívoco em sua análise acerca da atual situação política do Brasil, pois
para ele o governo de João Goulart tinha apoio dos grandes empresários e
industriais, e, dessa forma, sua presença no comando supremo do país estaria
garantida. Foi um erro de percepção política, uma vez que os militares
conseguiram derrubar o presidente e instituir uma ditadura militar.
Com o golpe militar
de 1964, Luiz Carlos Prestes acabou, mais uma vez, caindo na clandestinidade.
Nesse período foi morar na Rússia, onde procurou articular estratégias no
sentido de lutar contra a concentração de poder nas mãos dos generais
brasileiros. Seu exílio durou até 1979, quando conseguiu retornar ao país pelas
vias legais. O clima era de euforia e de luta pela volta da democracia, onde
passeatas e movimentos de contestação à ordem vigente estavam sendo colocados
em prática em todos os Estados da federação.
O fim da ditadura
ocorreu em 1985, quando Tancredo Neves
foi eleito presidente da república, o primeiro presidente civil depois de 21 de
regime militar. Todavia, Tancredo não assumiu o poder, pois acabou adoencendo
poucos dias antes da posse. O vice, José
Sarney, após uma série de conflitos e desentendimentos, assumiu o comando
supremo da nação.
Numa carta endereçada
à sua esposa, que estava em Moscou, Prestes desabafou: “E o próprio Sarney já vai
manifestando seus instintos latifundiários e sua disposição de continuar no
poder de qualquer maneira, já não apenas por cinco anos, mas por muito mais”.
Basta olharmos para a
atual situação do Congresso Nacional
para verificarmos que mais uma vez Prestes estava correto em suas proposições
políticas. Não só o Sarney, mas vários políticos oligárquicos exercem o poder
de uma forma soberana e despótica. A democracia, mais uma falácia do
neoliberalismo, apenas serve para fortalecer o apadrinhamento e falta de
escrúpulos dos “líderes” dessa nação sem liderança.
Prestes, antes de
morrer, em 1990, deixou claro suas convicções acerca da formação estrutural do
PCB. Para ele, o partido comunista, de uma forma lamentável e deplorável,
perdeu seus ideais e seu engajamento na luta contra a miséria e manipulação das
camadas mais desfavorecidas. Em outras palavras, o partido deixou de lado a
luta pela causa popular, das melhorias trabalhistas e do materialismo
histórico. E, realmente, os partidos atuais, que se escondem atrás das siglas,
da foice e do martelo (símbolos do
comunismo), apenas querem seus espaços nas pastas ministeriais do Estado. Procuram
se aliar ao governo em busca de benefícios políticos, e não apresentam
propostas no sentido de melhorar a vida da população mais carente.
Enfim, a figura de
Luiz Carlos Prestes modificou o pensamento das camadas sociais brasileiras
preocupadas com a revolução comunista.
Suas análises continuam presentes e servindo de modelo para projeções no
sentido de encontrar soluções para problemas estruturais da nossa nação. Revolucionário ou Reacionário, Comunista
ou Burguês, não importa como os
atuais historiadores o consideram, sua estima e convicções sempre será
destacada por todos que se propõem em explicar os atuais problemas do Brasil.
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