Introdução
Este trabalho tem como objetivo
primordial apresentar as características inerentes à imposição de regras e
preceitos por parte dos imperialistas com relação, mormente, aos países
africanos. Seão debatidos os impactos gerados pelo modo de produção capitalista
diante da estrutura organizacional das comunidades africanas, tanto sob a
perspectiva cultural, quanto sócio-econômica.
Como premissa, busca-se analisar conceitualmente
o imperialismo e todas as suas variantes. O choque cultural inerente a essa
questão e a tentativa de se estabelecer um conjunto de regras e normas com
relação à dominação colonialista, serão as peculiaridades do trabalho
apresentado.
Com o presente estudo, procura – se
analisar o completo desmantelamento de sociedades de culturas milenares e a
imposição de um novo conjunto de tradições e valores considerados “cultos” e
“civilizados”. A instituição de pressupostos filosóficos sistematizados no
sentido de justificar e legitimar a dominação imperialista. Diversos escritores
e pensadores do século XIX atuaram com a finalidade de promover a fragmentação
da cultura local e a suposta “superioridade” dos europeus.
Não se pode deixar de destacar as
particularidades da Conferência de Berlim e sua importância no sentido de se
compreender a separação de antigas comunidades aliadas e a união de povos, que
outrora eram rivais. Esse aspecto é de grande relevância para que se reflita sobre
a atual situação do continente, caracterizado pela eclosão de inúmeras guerras
e rivalidades beligerantes.
Um
dos objetivos da pesquisa consiste em desmistificar algumas conjecturas
preconceituosas acerca da história do continente africano. Uma delas é a
provável passividade e conivência das lideranças locais com relação à
penetração dos europeus. É perceptível que houve resistência a tal penetração,
principalmente embasado em princípios religiosos. (O Islamismo, por exemplo).
Por fim, será possível apresentar o
resultado de um meticuloso trabalho, realizado no sentido de debater a forma com
que a história do continente africano é retratada nas instituições de ensino.
Após a promulgação da lei 10. 693, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da
cultura afro-brasileira nas escolas, a reformulação de uma nova grade
curricular precisa se adequar a uma historiografia mais abrangente e
democrática. Em outras palavras, o corpo docente necessita promover uma
redefinição de pressupostos pedagógicos para instituir um ensino de história do
continente africano, onde os discentes negros se sintam valorizados e respeitados.
O
impacto gerado pelo capitalismo nas sociedades africanas
Antes de iniciar uma discussão mais
apurada acerca da conjuntura sócio-política da África, somos obrigados a bordar
alguns conceitos de fundamental importância. Partindo-se de uma análise mais
abrangente, o imperialismo consiste numa forma de exploração em que os países
mais desfavorecidos financeiramente são comumente controlados, tanto na esfera
sócio-política-econômica, quanto na esfera cultural pelos países do chamado
“Primeiro mundo”.
Vale ressaltar que o imperialismo
está atrelado a um conjunto mais abrangente, que reformulou a forma de
pensamento e a situação econômica de diversos países. Sendo responsável, sobremaneira, pela
instituição da pobreza no continente africano, pois a forma de produção
capitalista procura usurpar os bens materiais e mão-de-obra barata dos países
dominados.
Uma das características do
imperialismo do século XIX, que recebeu o nome de neocolonialismo, foi expandir
suas áreas de influências para os países considerados “atrasados” e “incultos”.
O principal argumento utilizado pelas potências européias para justificar a
destruição, a matança e a dominação implementada sobre as comunidades africanas,
foi a questão da assertiva proferida sobre a suposta superioridade dos países
da Europa com relação às sociedades da África. Na verdade, o único obejetivo de
tais potências consistia na busca desenfreada por matéria-prima mais barata e
abundante e o reconhecimento industrial internacional.
Um dos pilares das correntes
filosóficas do século XIX, que englobava suntuosos trabalhos sobre sociedade,
cultura e economia, afirmava que o regime capitalista encontraria o seu colapso
após uma série de crises, guerras e catástrofes. Todas essas concepções
encontraram eco no imperialismo, que, de uma maneira geral, acabou sendo o
motivo pelo qual uma variedade de anormalidades se fizeram presentes nas
sociedades exploradas pelas superpotências capitalistas.
Deve-se ressaltar que um dos
propósitos peculiares das nações capitalistas consiste em aumentar seus
territórios e sua área de influência, difundindo seu mercado e desenvolvendo
vantagens financeiras substanciais. Isso
acarreta em uma série de problemas para as populações locais, que acabam
sofrendo com a destruição, dominação e predominância das potências européias
sobre as comunidades subjugadas.
O continente africano, caracterizado
pela heterogeneidade cultural e repleto de povos com tradições diversas, acabou
sofrendo com a ambição e a voracidade de alguns países da Europa. Comunidades
inteiras foram devastadas em virtude de apresentarem qualquer vestígio de
resistência à penetração dos líderes europeus em seus países.
Vale observar
que as análises marxistas estabelecem uma conexão específica entre o
imperialismo de fins do século XIX e início do XX e o capitalismo em geral ou
uma sua etapa em particular. Consideram que o imperialismo tem raízes
econômicas fundamentais e estabelece relações assimétricas de dominação entre
os países, que implicam a exploração das zonas “atrasadas” em benefício dos
países capitalistas “desenvolvidos”.[1]
Os países considerados de “Primeiro
Mundo”, utilizando os termos empregados nos estudos e pesquisas sociais
realizadas em meados da década de 1980, achavam-se no direito de controlar
administrativamente os países do “Terceiro Mundo”. Vale enfatizar que esse
controle trouxe diversas dificuldades às sociedades africanas, provocando o
desmantelamento de povos de tradição milenar.
Um dos pilares do sistema
imperialista consiste no fato de desrespeitar as sociedades africanas, pois o
continente inteiro foi ”retalhado” de acordo com os interesses dos líderes
europeus. Basta enfatizar que as linhas que demarcam as fronteiras geográficas
dos países africanos são retas e não sinuosas. Essa característica evidencia a
divisão dos Estados e nações da África entre as potências européias. Deve-se
destacar que, ao dividir o continente, não houve a preocupação com as
populações locais, isto é, povos inimigos acabaram sendo obrigados a conviver
num mesmo espaço, enquanto que comunidades aliadas foram sumariamente
separadas. Esse fato representou um regresso significativo no processo de
constituição social, econômica e cultural dos países africanos.
Esse imperialismo, que modificou
significativamente as relações sociais das sociedades africanas, tinha como
objetivo preliminar obrigar os países africanos, asiáticos e latinos americanos
a consumirem os produtos advindos do sistema produtivo europeu. Além disso,
algumas potências do “velho continente” procuravam diminuir as desvantagens ou
prejuízos econômicos, como era caso de Portugal, Reino Unido, Russia, Holanda,
dentre outros.
A França
procurava uma compensação para as perdas na Europa em ganhos no ultramar. O
Reino Unido aspirava compensar seu isolamento na Europa engrandecendo e
exaltando o império britânico. A Rússia, bloqueada nos Bálcãs, voltava-se de
novo para a Ásia. Quanto à Alemanha e à Itália, queriam mostrar ao mundo que
tinham o direito de realçar seu prestigio, obtido à força na Europa por
façanhas imperiais em outros continentes. As potências de menor importância,
que não tinham prestígio a defender, lá conseguiam viver sem se lançarem na
aventura imperialista, a não ser Potugal e Holanda, que demonstraram renovado
interesse pelos impérios que já possuíam, esta última principalmente,
administrando o seu com redobrado vigor. [2]
Com isso, deve-se enfatizar que as
estruturas coloniais orquestradas pelas nações européias tinham a função,
sobremaneira, de recompensar alguma perda financeira. Isso comprova a corrida
por colônias no continente africano, pois infinitas riquezas, materialmente
dizendo, foram usurpadas pelos chamados “chefes de Estado” europeus. Além dessas
riquezas materiais, pode-se afirmar que o domínio territorial das comunidades
da África também foi muito sistemático, provocando uma celeuma no sentido de
ter causado o desmembramento de sociedades e a completa perda da identidade
cultural.
Uma das peculiaridades do regime
imperialista consiste em instrumentalizar uma completa manipulação sobre as
sociedades africanas. Com isso, os líderes europeus buscavam influenciar as
instituições presentes nas mais tradicionais comunidades da África. Nesse
sentido, vefirica-se que ocorreu um nítido “choque cultural” entre povos de
tradições e costumes completamente diversos. Em outras palavras, os colonos,
que eram sumariamente explorados, não se adequavam aos costumes impostos pelos
dominadores, criando uma nítida dificuldade em sistematizar uma indentidade
cultural no âmbito nacional.
A principal ferramenta empregada
para viabilizar a súbita dominação européia foi a imposição de valores e
princípios religiosos. Vale destacar que, na esfera religiosa, o cristianismo
não se fazia presente no continente. A cultura religiosa local estava voltada
para o chamado politeísmo, ou seja, a adoração de vários deuses. Além disso,
deve-se ressaltar que algumas comunidades praticavam o canibalismo, um
importante ritual de adoração aos deuses, onde se comia a carne de seres
humanos.
Essa composição cultural das comunidades
africanas evidencia os embates decorrentes do contato entre os europeus e os
líderes africanos, e o esforço empreendido pelas correntes religiosas da
Europa, no sentido de instrumentalizar a conversão dos africanos ao
cristianismo. Essa conversão, segundo o pensamento eclesiástico, facilitaria a
completa dominação sobre as comunidades africanas e promoveria a expansão da
cristandade pelo mundo.
No caso do
“cristianismo evangélico”, a partilha da África era explicada como consequência
de um impulso “missionário” e “humanitário”, orientado para “regenerar” os
povos africanos. O movimento missionário, sobretudo dos luteranos alemães e da
diversidade de calvinistas evangélicos a serviço da Sociedade Missionária de
Londres, atuantes na Serra Leoa, na Costa do Ouro, na Nigéria e na Libéria, e
das missões católicas na bordadura do Senegal, clamava a conquista da África
pela Europa como meio de pôr fim à escravatura e ao massacre dos negros, ao
mesmo tempo em que pretendia instaurar as condições necessárias para
“regenerá-los”, isto é, torná-los cristãos e civilizados.[3]
Um dos mecanismos que foram
empregados, no aspecto ideológico, na tentativa de se justificar a domininação
imperialista foi a teoria do darwinismo social. Tal teoria afirmava que os
povos considerados “incultos”, “bárbaros” e “a-históricos”, devem se sucumbir
diante dos países tidos como portadores do “progresso” e da “cultura”. Essa
posição preconceituosa de alguns pensadores do período demonstra os
pressupostos teóricos instrumentalizados no sentido de justificar a subjulgação
de povos e comunidades de tradições que fugiam ao protótipo estabelecido pelos
europeus.
Nesse sentido, vale ressaltar que o
único objetivo presente nas intenções dos colonizadores consiste na ambição de
angariar vantagens econômicas. Com isso, torma-se verificável a completa
aniquilação das sociedades locais que, de uma forma sistemática, foram
obrigadas a conceder suas riquezas materiaisàs lideranças européias.
Algumas ferramentas foram empreendidas
pelas nações da Europa, com o objetivo de aprimorar o esquema de dominação
colonialista. Em outras palavras, determinadas práticas foram adotadas
intencionando orquestrar a repressão, a violência e a destruição das
comunidades africanas e, por consequência, viabilizar a retirada das suas
riquezas naturais.
Uma dessas práticas foi a imposição de taxas
tributárias abusivas. Com isso, a população mais carente, principalmente das
zonas rurais, se via obrigada a contribuir para o governo da metrópole e, em
contrapartida, não recebiam nada em troca.
Outra questão importante está
relacionada com a exploração da mão-de-obra local, isto é, os colonizados eram
obrigados a trabalhar compulsoriamente e recebeiam um salário irrisório pelos
serviços prestados. Era um trabalho forçado, que, de uma maneira geral,
desarticulava os costumes de alguns povos da região, cuja cultura era apenas
trabalhar o suficiente para a sua sobrevivência.
Vale suscitar que, partindo-se de
uma análise econômica acerca da dominação imperialista, os países europeus
obrigavam os líderes africanos a assinarem uma série de acordos devantajosos
para suas comunidades. Esses acordos provocavam a ruína das sociedades
africanas, pois acabavam tendo que arcar com uma série de prejuízos econômicos
e financeiros. Esse fator é de fundamental importância para se entender a atual
situação de algumas nações da África, marcadas pela miséria, a disseminação da
fome e das mais variadas doenças.
Após a concretização da dominação
cultural, os líderes europeus iniciaram a dominação militar, absorvendo e
administrando as terras das lideranças locais. Com isso, os tradicionais chefes
das regiões dominadas acabavam perdendo seus locais de origem para os
comandantes estrangeiros. Esse fator é responsável, sobremaneira, pela
inviabilização da criação de uma identidade cultural e o desmembramento de
povos e clãs de tradições e costumes significantes para a história do
continente.
As mais tradicionais correntes
historiográficas, embutidas de princípios eurocênctricos, apresentam a dominação
imperialista somente sob a visão dos “vencedores”, ou seja, o lado da história
considerado “irrelevante” acaba sendo colocado em segundo plano. Os europeus,
que se rotulam “os verdadeiro agentes históricos”, dominaram o pensamento
historiográfico em todos os aspectos, mistificando uma série de noções
preconceituosas acerca do continente africano. Como se a África não tivesse
importância no cenário da história. Com isso, a concepção equivocada de que os
povos africanos não ofereceram resistência à penetração européia ganharam uma
conotação de veracidade. Todavia, essa questão é passível de maiores
questionamentos.
Em 1895, Wogobo, o Moro Naba, ou rei dos Mossi (na
atual Republica do Alto Volta), declarou ao oficial francês, capitao Destenave:
Sei que os brancos querem me matar para tomar o meu país, e, ainda
assim, você insiste em que eles me ajudarão a organizá-lo. Por mim, acho que
meu país esta muito bem como está. Não preciso deles. Sei o que me falta e o
que desejo: tenho meus próprios mercadores; considere-se feliz por não mandar
cortar-lhe a cabeça. Parta agora mesmo e, principalmente, nao volte nunca mais.
[4]
Diversas comunidades da África, partindo-se de
pressupostos militares e religiosos, concretizaram um nítido movimento no
sentido de desestruturar o regime imperialista orquestrado pelos europeus. No
seu aspecto militar e logístico, alguns líderes locais africanos como Moro Naba,
rei dos Mossi; Prempeh I, rei dos Ashanti; Lat-Dior, o damel de
Cayor; dentre outros; ofereceram uma consistente resistência aos imperialistas
europeus.
No que diz respeito à questão
religiosa, vinculada ao estabelecimento de estratégias de resistência ao
colonialismo, esse foi um fator de ponderada importância. Um dos princípios
arraigados na corrente doutrinária do Islamismo consiste em manter-se imune aos
valores do chamado “universo cristão”, sistematizando um conjunto de normas e
regras que devem ser seguidas no sentido de não aceitar a sua interferência.
Vale destacar que isso proporcionou uma série de movimentos que propunham
impedir e inibir a penetração da cultura “cristã” nos Estados cuja religião
predominante fosse o islamismo. Em outras palavras, as questões políticas,
sociais e culturais estavam sumariamente atreladas a proposições ideológicas da
religião.
Torna-se importante ressaltar que
algumas comunidades africanas não aceitaram passivamente o estabelecimento da
exploração colonialista por parte dos europeus. De uma maneira geral, deve-se
ressaltar que as nações da Europa que materializaram o projeto imperialista,
encontraram algumas dificuldades em obter sucesso na empreitada. Com isso, a
noção eurocêntrica da história, que afirmava que os líderes europeus dominaram
com facilidade o continente africano, sofre contestações demasiadamente
pertinentes. As concepções que afirmavam que as comunidades africanas eram
amorfas e pacíficas se tornam absoletas e sem significância historiográfica.
Ainda nessa direção pode-se acrescentar que os
países setentrionais, no seu conjunto, provavelmente foram os que apresentaram
mais resistência diante da perda de sua soberania. Milhares de sudaneses,
egípcios e somalis perderam suas vidas em confronto com as tropas coloniais
britânicas. Eram movidos por um sentimento patriótico fundido a um sentimento
religioso fortemente arraigado. Significa dizer que essas populações lutaram
pela defesa do seu território e de sua fé, uma vez que lhes era inaceitável,
como islamizados, ser submissos no plano político a uma potência cristã, no
caso, a Grã-Bretanha.[5]
Partindo-se de uma análise voltada para questões
jurídicas, que oficializou definitivamente a partilha do continente africano,
devemos frisar a questão da realização da Conferência de Berlim. Em tal
Conferência ficou estabelecido a meneira pela qual o continente seria inteiramente
“retalhado” entre as potências da Europa. A veleidade política dos líderes
europeus como Leopoldo II, da Bélgica e de tradicionais nações como Portugal
foram os baluartes da tentativa de se materializar um consistente império
ultramarino.
Enquanto
que a Bélgica de Leopoldo II buscava elaborar estratégias consistentes de
exploração da África, retirando suas riquezas materiais e bens naturais,
Portugal objetivava formar apenas uma província sobre seus domínios, que
ligaria Angola a Moçambique. Isso evidencia que as nações da Europa estavam
categoricamente preocupadas em construírem um alicerce econômico no continente
africano. E a Conferência de Berlim foi utilizada, sobremaneira, para
institucionalizar a dominação colonialista.
Vale
destacar que essa conferência contribuiu substantivamente para a destruição de
algumas comunidades da África. Basta ressaltar que algumas sociedades que eram
inimigas acabaram sendo unidas após a partilha e, em contrapartida, famílias
aliadas foram intepestivamente separadas. Esse fato acarretou numa série de
problemas sociais para o continente, pois houve um significativo aumento no
número de guerras no interior da África. Nesse sentido, o impacto sofrido por
essas sociedades foi alarmante, uma vez que transformou radicalmente as
relações sócio-políticas das lideranças locais.
Por
fim, vale enfatizar que a estrutura social das comunidades africanas foi
sumariamente prejudicada ao longo da sua história. O objetivo, ainda presente
em discursos de algumas lideranças européias, consiste em retirar as riquezas
naturais e as matérias-primas abundantes presentes no interior do continente. Não
há, ainda em pleno século XXI, nenhuma iniciativa construtiva no sentido de
resolver os graves problemas enfrentados pelos povos africanos que, de uma
forma generalizada, morrem de fome, doenças das mais diversas espécies, guerras
religiosas, lutas insanas pelo poder político, disputas sangrentas pelo
controle de lençóis petrolíferos, dentre outros fatores.
Partindo-se
de pressupostos teóricos e mistificações filosóficas, algumas teorias
preconceituosas foram formuladas no transcorrer do século XVIII e XIX, cuja
intenção perceptível era justificar o imperialismo e a penetração catastrófica
dos europeus no continente africano. Tais teorias estavam embasadas em
princípios e ideias referentes à suposta “inferioridade” das comunidades
africanas, contrariando a noção de “progesso”, “desenvolvimento” e
“civilização” das nações européias.
Inúmeros
pensadores europeus insistiam em proferir discursos ratificando a suposta
“superioridade” da Europa. Os africanos eram considerados povos sem história e
caracterizados como selvagens e incultos, sendo, dessa maneira, indispensável
adotar estratégias no sentido de promover o “desenvolvimento” de tais sociedades.
Vale ressaltar que algumas comunidades da África realizavam rituais
antropofágicos e adoravam vários deuses. Essa característica foi interpretada
pelas lideranças européias de uma forma preconceituosa e culturalmente
negativa.
Torna-se
verificável que o comportamento dos europeus, diante dos valores e da cultura
apresentadas pelos africanos, foi desrespeitoso e completamente desumano, haja
vista que famílias ou comunidades inteiras foram destruídas logo após esse
primeiro contato. As particularidades das sociedades da África, que faziam
parte de sua história e de suas tradições, perderam-se diante das espadas e
armas de fogo trazidas pelos europeus imperialistas.
“a principal característica dos negros é
que sua consciência ainda não atingiu a intuição de qualquer objetividade fixa,
como Deus, como leis, pelas quais o homem se encontraria com a própria vontade,
e onde ele teria uma ideia geral de sua essência (...) o negro representa, como
já foi dito o homem natural, selvagem e indomável. Devemos nos livrar de toda
reverência, de toda moralidade e de tudo o que chamamos sentimento, para
realmente compreendê-lo. Neles, nada evoca a ideia do caráter humano (...) a
carência de valor dos homens chega a ser inacreditável. A tirania não é
considerada uma injustiça e comer carne humana é considerado algo comum e
permitido (...) entre os negros, os sentimentos morais são totalmente fracos –
ou, para ser mais exato inexistentes”.[6]
Hegel foi um dos
filósofos que se propôs a analisar a conjuntura sócio-histórica do continente
africano. Em seu pensamento, onde está presente a visão eurocêntrica da
historiografia positivista, os negros africanos são apresentados de uma forma
irrelevantes e sua cultura considerada inviável segundo os padrões
estabelecidos pelos europeus. Torna-se importante destacar que os pressupostos
teóricos presentes na linha de raciocínio de filósofos como Hegel, estão
totalmente vinculados à concepção equivocada de que tudo que não se enquadra ao
protótipo de “cultura” e “civilização” imposto pelos europeus é errônea e
degradante. Em outras palavras, os imperialistas encontravam respaldo em tais
pensadores no sentido de que estavam fazendo parte de uma “missão civilizadora”
diante das comunidades africanas.
Um dos pilares construtivos de uma
sociedade igualitária, justa e humanitária consiste no estabelecimento de um
sistema educacional de qualidade. Com isso, é necessário adotar um currículo
que esteja de acordo com a realidade sócio-cultural do corpo discente. Vale
destacar que a educação é uma importante ferramenta no sentido de perpetuar
ideias e valores, além de formar cidadão obejtivando transformar a comunidade a
que pertencem.
No tocante ao ensino de história da
África, que se tornou obrigatório nas instituições educacionais pela lei 10.
693, ainda é notório a defasagem em vários aspectos, principalmente no que diz
respeito à busca pela igualdade racial nos ambientes de ensino. Em outras
palavras, o negro, como agente histórico ativo, continua sendo marginalizado e
relegado a um segundo plano. Essa questão está relacionada a pressupostos
teóricos e epistemológicos vinculados a proposições preconceituosas, pois o
papel desempenhado pelos afro-descendentes nos livros didáticos é irrelevante e
desprovido de maior relevância, segundo alguns escritores tradicionais.
Nesse sentido, vale destacar que a
maneira pela qual a história africana é retratada nos livros didáticos, ligada
a um positivismo narrativo, conduz os saberes concernentes ao tema de uma forma
liner. Essa posição proporciona um comportamento passivo do corpo discente
diante do conteúdo discutido. Não há a preocupação em reelaborar uma didática e
metodologias de ensino que apresente o continente africano marcado pela
pluralidade de culturas e tradições diversificadas. Partindo-se de uma análise
abrangente, pode-se afirmar que a África é retratada de uma maneira homogênea,
desvalorizando suas particularidades e sua importância na história mundial.
A homogeneização
do currículo sob a visão eurocêntrica levará a valorização da raça branca,
deixando para um segundo plano a paricipação dos demais povos, principalemente
dos povos africanos, assim a escola contribui para inferiorizar esse grupo
étnico não mostrando sua atuação e importante participação na construção da
história da sociedade. O momento do planejamento escolar necessita trazer à
tona uma discussão de extrema importância: a educação e a diversidade
étnico-racial.[7]
Uma das características presentes no
ensino de história da África atualmente consiste na presença de uma série de
manifestações eurocêntricas. Nesse sentido, deve-se enfatizar que há uma
deficiência significativa no tocante à imparcialidade no que se refere aos
estudos sobre o assunto. A história da Europa, com todas as suas variantes
mitológicas, ganha um espaço expressivo nos livros didáticos. Por outro lado, a
história do continente africano é marcada por conjecturas pejorativas e noções
preliminares preconceituosas. Existe a necessidade de se reestruturar a forma
de se ministrar as aulas e os livros didáticos referentes à África, de uma
maneira que valorize os discentes afro-descendentes e sua importante
contribuição para a história.
Conclusão
Um dos objetivos em se realizar o
presente trabalho científico consiste em desmistificar algumas noções
preconceituosas sobre a história do continente africano. Além disso, as
premissas metodológicas que nortearam tal trabalho procurou detalhar a forma
pela qual o modo de produção capitalista causou prejuízos à estrutura
organizacional da Àfrica, provocando sérios problemas sociais, culturais e
econômicos. Com isso, tornou-se essencial estabelecer um diálogo entre o
passado e o presente, no sentido de se compreender quais foram as estratégias
criadas pelos líderes europeus objetivando materializar a dominação
imperialista.
Partindo-se de uma análise teórica,
a base de sustentação do colonialismo europeu consiste nos ideais
preconceituosos inerentes ao continente africano. Vale destacar que a
particularidade do pensamento científico do século XIX consistia em valorizar a
cultura da Europa e, em contrapartida, retirar dos africanos o papel de
sujeitos construtores de sua própria história.
Vale ressaltar que o impacto gerado
pelo capitalismo na África foi refletido em diversos aspectos. Comunidades
inteiras foram destruídas, tanto no aspecto social, quanto no cultural. Com
isso, após a interferência das lideranças européias no continente, verificamos
a completa destruição dos valores que proporcionariam uma identidade cultural
entre os africanos. A destruição de crenças e valores entre os habitantes do
continente causou sérios danos à funcionalidade das comunidades tradicionais,
que tiveram suas particularidades desvalorizadas pelo branco colonizador.
Devemos enfatizar que esse processo
avassalador de dominação imperialista ganhou uma ênfase mais construtiva após a
eclosão da chamada Revolução Industrial. Essa essertiva torna-se coerente no
sentido de que a África sempre foi um continente caracterizado pela abundante
matéria-prima e recursos naturais preciosos. Partindo-se dessa premissa, a
África sempre foi, de uma maneira ou de outra, o local ideal para os líderes
europeus concretizarem seus objetivos financeiros.
Entretanto, voltando-se para as
problemáticas inerentes ao sistema de ensino, onde se verifica a formulação de
proposições preconceituosas concernentes à história do continente africano,
algumas considerações devem ser debatidas. Entrementes, cabe ao corpo docente
reformular seus princípios pedagógicos objetivando impedir a elaboração de
afirmações inverídicas sobre o tema. O papel que o negro exerce na sociedade ao
longo da história deve ser ressaltado de uma maneira mais positiva, para que o
aluno afro-descendente possa se identificar de uma forma significativa ao
estudar sobre a história do continente africano.
Por fim, a estrutura organizacional
dos livros didáticos deve ser analisada cautelosamente pelo professor no
sentido de evitar anacronismos e conjecturas eurocêntricas. A imposição de
fatos narrados cronologicamente, que procura exaltar figuras mitológicas e a
exposição acrítica dos acontecimentos, são elementos que devem ser evitados ao
se estudar a história da África. Mostrar aos discentes que o continente não é
marcado apenas por situações negativas, como a fome, a miséria e a disseminação
de graves doenças, mas sim pela sistematização de elementos culturais e valores
históricos milinares.
Bibliografia
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[1] HERNANDEZ; Leila Leite. A África
na sala de aula. 2ª ed. São Paulo. Selo negro, 2008, pág. 78
[2]
HAYES, C. J. H. “A generation of materialism, 1871-1900”. In: UZOIGWE, op. cit,
p. 48.
[3] HERNANDEZ; Leila Leite. A África
na sala de aula. 2ª ed. São Paulo. Selo negro, 2008, pág. 80.
[4] BOAHEN Albert Adu. (Org). África sob dominação colonial,1880-1935. História
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[5] HERNANDEZ; Leila Leite. A África
na sala de aula. 2ª ed. São Paulo. Selo negro, 2008, pág. 112.
[7] LOPES, A. L. Currículo, escola e
relações étnico-raciais. In: UNB. Centro de Educação à distância. Educação
Africanidades Brasil. Brasília: UnB/CEAD, 2006, pág. 15
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