quarta-feira, 2 de março de 2016

O impacto do Imperialismo nas sociedades africanas


Introdução
            Este trabalho tem como objetivo primordial apresentar as características inerentes à imposição de regras e preceitos por parte dos imperialistas com relação, mormente, aos países africanos. Seão debatidos os impactos gerados pelo modo de produção capitalista diante da estrutura organizacional das comunidades africanas, tanto sob a perspectiva cultural, quanto sócio-econômica.
            Como premissa, busca-se analisar conceitualmente o imperialismo e todas as suas variantes. O choque cultural inerente a essa questão e a tentativa de se estabelecer um conjunto de regras e normas com relação à dominação colonialista, serão as peculiaridades do trabalho apresentado.
            Com o presente estudo, procura – se analisar o completo desmantelamento de sociedades de culturas milenares e a imposição de um novo conjunto de tradições e valores considerados “cultos” e “civilizados”. A instituição de pressupostos filosóficos sistematizados no sentido de justificar e legitimar a dominação imperialista. Diversos escritores e pensadores do século XIX atuaram com a finalidade de promover a fragmentação da cultura local e a suposta “superioridade” dos europeus.
            Não se pode deixar de destacar as particularidades da Conferência de Berlim e sua importância no sentido de se compreender a separação de antigas comunidades aliadas e a união de povos, que outrora eram rivais. Esse aspecto é de grande relevância para que se reflita sobre a atual situação do continente, caracterizado pela eclosão de inúmeras guerras e rivalidades beligerantes.
  Um dos objetivos da pesquisa consiste em desmistificar algumas conjecturas preconceituosas acerca da história do continente africano. Uma delas é a provável passividade e conivência das lideranças locais com relação à penetração dos europeus. É perceptível que houve resistência a tal penetração, principalmente embasado em princípios religiosos. (O Islamismo, por exemplo).
            Por fim, será possível apresentar o resultado de um meticuloso trabalho, realizado no sentido de debater a forma com que a história do continente africano é retratada nas instituições de ensino. Após a promulgação da lei 10. 693, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, a reformulação de uma nova grade curricular precisa se adequar a uma historiografia mais abrangente e democrática. Em outras palavras, o corpo docente necessita promover uma redefinição de pressupostos pedagógicos para instituir um ensino de história do continente africano, onde os discentes negros se sintam valorizados e respeitados.
O impacto gerado pelo capitalismo nas sociedades africanas
            Antes de iniciar uma discussão mais apurada acerca da conjuntura sócio-política da África, somos obrigados a bordar alguns conceitos de fundamental importância. Partindo-se de uma análise mais abrangente, o imperialismo consiste numa forma de exploração em que os países mais desfavorecidos financeiramente são comumente controlados, tanto na esfera sócio-política-econômica, quanto na esfera cultural pelos países do chamado “Primeiro mundo”.
            Vale ressaltar que o imperialismo está atrelado a um conjunto mais abrangente, que reformulou a forma de pensamento e a situação econômica de diversos países.  Sendo responsável, sobremaneira, pela instituição da pobreza no continente africano, pois a forma de produção capitalista procura usurpar os bens materiais e mão-de-obra barata dos países dominados.
            Uma das características do imperialismo do século XIX, que recebeu o nome de neocolonialismo, foi expandir suas áreas de influências para os países considerados “atrasados” e “incultos”. O principal argumento utilizado pelas potências européias para justificar a destruição, a matança e a dominação implementada sobre as comunidades africanas, foi a questão da assertiva proferida sobre a suposta superioridade dos países da Europa com relação às sociedades da África. Na verdade, o único obejetivo de tais potências consistia na busca desenfreada por matéria-prima mais barata e abundante e o reconhecimento industrial internacional.
            Um dos pilares das correntes filosóficas do século XIX, que englobava suntuosos trabalhos sobre sociedade, cultura e economia, afirmava que o regime capitalista encontraria o seu colapso após uma série de crises, guerras e catástrofes. Todas essas concepções encontraram eco no imperialismo, que, de uma maneira geral, acabou sendo o motivo pelo qual uma variedade de anormalidades se fizeram presentes nas sociedades exploradas pelas superpotências capitalistas.
            Deve-se ressaltar que um dos propósitos peculiares das nações capitalistas consiste em aumentar seus territórios e sua área de influência, difundindo seu mercado e desenvolvendo vantagens financeiras substanciais.  Isso acarreta em uma série de problemas para as populações locais, que acabam sofrendo com a destruição, dominação e predominância das potências européias sobre as comunidades subjugadas.
            O continente africano, caracterizado pela heterogeneidade cultural e repleto de povos com tradições diversas, acabou sofrendo com a ambição e a voracidade de alguns países da Europa. Comunidades inteiras foram devastadas em virtude de apresentarem qualquer vestígio de resistência à penetração dos líderes europeus em seus países.
Vale observar que as análises marxistas estabelecem uma conexão específica entre o imperialismo de fins do século XIX e início do XX e o capitalismo em geral ou uma sua etapa em particular. Consideram que o imperialismo tem raízes econômicas fundamentais e estabelece relações assimétricas de dominação entre os países, que implicam a exploração das zonas “atrasadas” em benefício dos países capitalistas “desenvolvidos”.[1]

            Os países considerados de “Primeiro Mundo”, utilizando os termos empregados nos estudos e pesquisas sociais realizadas em meados da década de 1980, achavam-se no direito de controlar administrativamente os países do “Terceiro Mundo”. Vale enfatizar que esse controle trouxe diversas dificuldades às sociedades africanas, provocando o desmantelamento de povos de tradição milenar.
            Um dos pilares do sistema imperialista consiste no fato de desrespeitar as sociedades africanas, pois o continente inteiro foi ”retalhado” de acordo com os interesses dos líderes europeus. Basta enfatizar que as linhas que demarcam as fronteiras geográficas dos países africanos são retas e não sinuosas. Essa característica evidencia a divisão dos Estados e nações da África entre as potências européias. Deve-se destacar que, ao dividir o continente, não houve a preocupação com as populações locais, isto é, povos inimigos acabaram sendo obrigados a conviver num mesmo espaço, enquanto que comunidades aliadas foram sumariamente separadas. Esse fato representou um regresso significativo no processo de constituição social, econômica e cultural dos países africanos.
            Esse imperialismo, que modificou significativamente as relações sociais das sociedades africanas, tinha como objetivo preliminar obrigar os países africanos, asiáticos e latinos americanos a consumirem os produtos advindos do sistema produtivo europeu. Além disso, algumas potências do “velho continente” procuravam diminuir as desvantagens ou prejuízos econômicos, como era caso de Portugal, Reino Unido, Russia, Holanda, dentre outros.

A França procurava uma compensação para as perdas na Europa em ganhos no ultramar. O Reino Unido aspirava compensar seu isolamento na Europa engrandecendo e exaltando o império britânico. A Rússia, bloqueada nos Bálcãs, voltava-se de novo para a Ásia. Quanto à Alemanha e à Itália, queriam mostrar ao mundo que tinham o direito de realçar seu prestigio, obtido à força na Europa por façanhas imperiais em outros continentes. As potências de menor importância, que não tinham prestígio a defender, lá conseguiam viver sem se lançarem na aventura imperialista, a não ser Potugal e Holanda, que demonstraram renovado interesse pelos impérios que já possuíam, esta última principalmente, administrando o seu com redobrado vigor. [2]

            Com isso, deve-se enfatizar que as estruturas coloniais orquestradas pelas nações européias tinham a função, sobremaneira, de recompensar alguma perda financeira. Isso comprova a corrida por colônias no continente africano, pois infinitas riquezas, materialmente dizendo, foram usurpadas pelos chamados “chefes de Estado” europeus. Além dessas riquezas materiais, pode-se afirmar que o domínio territorial das comunidades da África também foi muito sistemático, provocando uma celeuma no sentido de ter causado o desmembramento de sociedades e a completa perda da identidade cultural.
            Uma das peculiaridades do regime imperialista consiste em instrumentalizar uma completa manipulação sobre as sociedades africanas. Com isso, os líderes europeus buscavam influenciar as instituições presentes nas mais tradicionais comunidades da África. Nesse sentido, vefirica-se que ocorreu um nítido “choque cultural” entre povos de tradições e costumes completamente diversos. Em outras palavras, os colonos, que eram sumariamente explorados, não se adequavam aos costumes impostos pelos dominadores, criando uma nítida dificuldade em sistematizar uma indentidade cultural no âmbito nacional.
            A principal ferramenta empregada para viabilizar a súbita dominação européia foi a imposição de valores e princípios religiosos. Vale destacar que, na esfera religiosa, o cristianismo não se fazia presente no continente. A cultura religiosa local estava voltada para o chamado politeísmo, ou seja, a adoração de vários deuses. Além disso, deve-se ressaltar que algumas comunidades praticavam o canibalismo, um importante ritual de adoração aos deuses, onde se comia a carne de seres humanos.
            Essa composição cultural das comunidades africanas evidencia os embates decorrentes do contato entre os europeus e os líderes africanos, e o esforço empreendido pelas correntes religiosas da Europa, no sentido de instrumentalizar a conversão dos africanos ao cristianismo. Essa conversão, segundo o pensamento eclesiástico, facilitaria a completa dominação sobre as comunidades africanas e promoveria a expansão da cristandade pelo mundo.

No caso do “cristianismo evangélico”, a partilha da África era explicada como consequência de um impulso “missionário” e “humanitário”, orientado para “regenerar” os povos africanos. O movimento missionário, sobretudo dos luteranos alemães e da diversidade de calvinistas evangélicos a serviço da Sociedade Missionária de Londres, atuantes na Serra Leoa, na Costa do Ouro, na Nigéria e na Libéria, e das missões católicas na bordadura do Senegal, clamava a conquista da África pela Europa como meio de pôr fim à escravatura e ao massacre dos negros, ao mesmo tempo em que pretendia instaurar as condições necessárias para “regenerá-los”, isto é, torná-los cristãos e civilizados.[3]

            Um dos mecanismos que foram empregados, no aspecto ideológico, na tentativa de se justificar a domininação imperialista foi a teoria do darwinismo social. Tal teoria afirmava que os povos considerados “incultos”, “bárbaros” e “a-históricos”, devem se sucumbir diante dos países tidos como portadores do “progresso” e da “cultura”. Essa posição preconceituosa de alguns pensadores do período demonstra os pressupostos teóricos instrumentalizados no sentido de justificar a subjulgação de povos e comunidades de tradições que fugiam ao protótipo estabelecido pelos europeus.
            Nesse sentido, vale ressaltar que o único objetivo presente nas intenções dos colonizadores consiste na ambição de angariar vantagens econômicas. Com isso, torma-se verificável a completa aniquilação das sociedades locais que, de uma forma sistemática, foram obrigadas a conceder suas riquezas materiaisàs lideranças européias.
            Algumas ferramentas foram empreendidas pelas nações da Europa, com o objetivo de aprimorar o esquema de dominação colonialista. Em outras palavras, determinadas práticas foram adotadas intencionando orquestrar a repressão, a violência e a destruição das comunidades africanas e, por consequência, viabilizar a retirada das suas riquezas naturais.
             Uma dessas práticas foi a imposição de taxas tributárias abusivas. Com isso, a população mais carente, principalmente das zonas rurais, se via obrigada a contribuir para o governo da metrópole e, em contrapartida, não recebiam nada em troca.
            Outra questão importante está relacionada com a exploração da mão-de-obra local, isto é, os colonizados eram obrigados a trabalhar compulsoriamente e recebeiam um salário irrisório pelos serviços prestados. Era um trabalho forçado, que, de uma maneira geral, desarticulava os costumes de alguns povos da região, cuja cultura era apenas trabalhar o suficiente para a sua sobrevivência.
            Vale suscitar que, partindo-se de uma análise econômica acerca da dominação imperialista, os países europeus obrigavam os líderes africanos a assinarem uma série de acordos devantajosos para suas comunidades. Esses acordos provocavam a ruína das sociedades africanas, pois acabavam tendo que arcar com uma série de prejuízos econômicos e financeiros. Esse fator é de fundamental importância para se entender a atual situação de algumas nações da África, marcadas pela miséria, a disseminação da fome e das mais variadas doenças.
            Após a concretização da dominação cultural, os líderes europeus iniciaram a dominação militar, absorvendo e administrando as terras das lideranças locais. Com isso, os tradicionais chefes das regiões dominadas acabavam perdendo seus locais de origem para os comandantes estrangeiros. Esse fator é responsável, sobremaneira, pela inviabilização da criação de uma identidade cultural e o desmembramento de povos e clãs de tradições e costumes significantes para a história do continente.
            As mais tradicionais correntes historiográficas, embutidas de princípios eurocênctricos, apresentam a dominação imperialista somente sob a visão dos “vencedores”, ou seja, o lado da história considerado “irrelevante” acaba sendo colocado em segundo plano. Os europeus, que se rotulam “os verdadeiro agentes históricos”, dominaram o pensamento historiográfico em todos os aspectos, mistificando uma série de noções preconceituosas acerca do continente africano. Como se a África não tivesse importância no cenário da história. Com isso, a concepção equivocada de que os povos africanos não ofereceram resistência à penetração européia ganharam uma conotação de veracidade. Todavia, essa questão é passível de maiores questionamentos.
Em 1895, Wogobo, o Moro Naba, ou rei dos Mossi (na atual Republica do Alto Volta), declarou ao oficial francês, capitao Destenave:

Sei que os brancos querem me matar para tomar o meu país, e, ainda assim, você insiste em que eles me ajudarão a organizá-lo. Por mim, acho que meu país esta muito bem como está. Não preciso deles. Sei o que me falta e o que desejo: tenho meus próprios mercadores; considere-se feliz por não mandar cortar-lhe a cabeça. Parta agora mesmo e, principalmente, nao volte nunca mais. [4]

                Diversas comunidades da África, partindo-se de pressupostos militares e religiosos, concretizaram um nítido movimento no sentido de desestruturar o regime imperialista orquestrado pelos europeus. No seu aspecto militar e logístico, alguns líderes locais africanos como Moro Naba, rei dos Mossi; Prempeh I, rei dos Ashanti; Lat-Dior, o damel de Cayor; dentre outros; ofereceram uma consistente resistência aos imperialistas europeus.
            No que diz respeito à questão religiosa, vinculada ao estabelecimento de estratégias de resistência ao colonialismo, esse foi um fator de ponderada importância. Um dos princípios arraigados na corrente doutrinária do Islamismo consiste em manter-se imune aos valores do chamado “universo cristão”, sistematizando um conjunto de normas e regras que devem ser seguidas no sentido de não aceitar a sua interferência. Vale destacar que isso proporcionou uma série de movimentos que propunham impedir e inibir a penetração da cultura “cristã” nos Estados cuja religião predominante fosse o islamismo. Em outras palavras, as questões políticas, sociais e culturais estavam sumariamente atreladas a proposições ideológicas da religião.
            Torna-se importante ressaltar que algumas comunidades africanas não aceitaram passivamente o estabelecimento da exploração colonialista por parte dos europeus. De uma maneira geral, deve-se ressaltar que as nações da Europa que materializaram o projeto imperialista, encontraram algumas dificuldades em obter sucesso na empreitada. Com isso, a noção eurocêntrica da história, que afirmava que os líderes europeus dominaram com facilidade o continente africano, sofre contestações demasiadamente pertinentes. As concepções que afirmavam que as comunidades africanas eram amorfas e pacíficas se tornam absoletas e sem significância historiográfica.
Ainda nessa direção pode-se acrescentar que os países setentrionais, no seu conjunto, provavelmente foram os que apresentaram mais resistência diante da perda de sua soberania. Milhares de sudaneses, egípcios e somalis perderam suas vidas em confronto com as tropas coloniais britânicas. Eram movidos por um sentimento patriótico fundido a um sentimento religioso fortemente arraigado. Significa dizer que essas populações lutaram pela defesa do seu território e de sua fé, uma vez que lhes era inaceitável, como islamizados, ser submissos no plano político a uma potência cristã, no caso, a Grã-Bretanha.[5]

                Partindo-se de uma análise voltada para questões jurídicas, que oficializou definitivamente a partilha do continente africano, devemos frisar a questão da realização da Conferência de Berlim. Em tal Conferência ficou estabelecido a meneira pela qual o continente seria inteiramente “retalhado” entre as potências da Europa. A veleidade política dos líderes europeus como Leopoldo II, da Bélgica e de tradicionais nações como Portugal foram os baluartes da tentativa de se materializar um consistente império ultramarino.
            Enquanto que a Bélgica de Leopoldo II buscava elaborar estratégias consistentes de exploração da África, retirando suas riquezas materiais e bens naturais, Portugal objetivava formar apenas uma província sobre seus domínios, que ligaria Angola a Moçambique. Isso evidencia que as nações da Europa estavam categoricamente preocupadas em construírem um alicerce econômico no continente africano. E a Conferência de Berlim foi utilizada, sobremaneira, para institucionalizar a dominação colonialista.
            Vale destacar que essa conferência contribuiu substantivamente para a destruição de algumas comunidades da África. Basta ressaltar que algumas sociedades que eram inimigas acabaram sendo unidas após a partilha e, em contrapartida, famílias aliadas foram intepestivamente separadas. Esse fato acarretou numa série de problemas sociais para o continente, pois houve um significativo aumento no número de guerras no interior da África. Nesse sentido, o impacto sofrido por essas sociedades foi alarmante, uma vez que transformou radicalmente as relações sócio-políticas das lideranças locais.  
            Por fim, vale enfatizar que a estrutura social das comunidades africanas foi sumariamente prejudicada ao longo da sua história. O objetivo, ainda presente em discursos de algumas lideranças européias, consiste em retirar as riquezas naturais e as matérias-primas abundantes presentes no interior do continente. Não há, ainda em pleno século XXI, nenhuma iniciativa construtiva no sentido de resolver os graves problemas enfrentados pelos povos africanos que, de uma forma generalizada, morrem de fome, doenças das mais diversas espécies, guerras religiosas, lutas insanas pelo poder político, disputas sangrentas pelo controle de lençóis petrolíferos, dentre outros fatores.
            Partindo-se de pressupostos teóricos e mistificações filosóficas, algumas teorias preconceituosas foram formuladas no transcorrer do século XVIII e XIX, cuja intenção perceptível era justificar o imperialismo e a penetração catastrófica dos europeus no continente africano. Tais teorias estavam embasadas em princípios e ideias referentes à suposta “inferioridade” das comunidades africanas, contrariando a noção de “progesso”, “desenvolvimento” e “civilização” das nações européias.
            Inúmeros pensadores europeus insistiam em proferir discursos ratificando a suposta “superioridade” da Europa. Os africanos eram considerados povos sem história e caracterizados como selvagens e incultos, sendo, dessa maneira, indispensável adotar estratégias no sentido de promover o “desenvolvimento” de tais sociedades. Vale ressaltar que algumas comunidades da África realizavam rituais antropofágicos e adoravam vários deuses. Essa característica foi interpretada pelas lideranças européias de uma forma preconceituosa e culturalmente negativa.
            Torna-se verificável que o comportamento dos europeus, diante dos valores e da cultura apresentadas pelos africanos, foi desrespeitoso e completamente desumano, haja vista que famílias ou comunidades inteiras foram destruídas logo após esse primeiro contato. As particularidades das sociedades da África, que faziam parte de sua história e de suas tradições, perderam-se diante das espadas e armas de fogo trazidas pelos europeus imperialistas.
“a principal característica dos negros é que sua consciência ainda não atingiu a intuição de qualquer objetividade fixa, como Deus, como leis, pelas quais o homem se encontraria com a própria vontade, e onde ele teria uma ideia geral de sua essência (...) o negro representa, como já foi dito o homem natural, selvagem e indomável. Devemos nos livrar de toda reverência, de toda moralidade e de tudo o que chamamos sentimento, para realmente compreendê-lo. Neles, nada evoca a ideia do caráter humano (...) a carência de valor dos homens chega a ser inacreditável. A tirania não é considerada uma injustiça e comer carne humana é considerado algo comum e permitido (...) entre os negros, os sentimentos morais são totalmente fracos – ou, para ser mais exato inexistentes”.[6]

                Hegel foi um dos filósofos que se propôs a analisar a conjuntura sócio-histórica do continente africano. Em seu pensamento, onde está presente a visão eurocêntrica da historiografia positivista, os negros africanos são apresentados de uma forma irrelevantes e sua cultura considerada inviável segundo os padrões estabelecidos pelos europeus. Torna-se importante destacar que os pressupostos teóricos presentes na linha de raciocínio de filósofos como Hegel, estão totalmente vinculados à concepção equivocada de que tudo que não se enquadra ao protótipo de “cultura” e “civilização” imposto pelos europeus é errônea e degradante. Em outras palavras, os imperialistas encontravam respaldo em tais pensadores no sentido de que estavam fazendo parte de uma “missão civilizadora” diante das comunidades africanas.
            Um dos pilares construtivos de uma sociedade igualitária, justa e humanitária consiste no estabelecimento de um sistema educacional de qualidade. Com isso, é necessário adotar um currículo que esteja de acordo com a realidade sócio-cultural do corpo discente. Vale destacar que a educação é uma importante ferramenta no sentido de perpetuar ideias e valores, além de formar cidadão obejtivando transformar a comunidade a que pertencem.
            No tocante ao ensino de história da África, que se tornou obrigatório nas instituições educacionais pela lei 10. 693, ainda é notório a defasagem em vários aspectos, principalmente no que diz respeito à busca pela igualdade racial nos ambientes de ensino. Em outras palavras, o negro, como agente histórico ativo, continua sendo marginalizado e relegado a um segundo plano. Essa questão está relacionada a pressupostos teóricos e epistemológicos vinculados a proposições preconceituosas, pois o papel desempenhado pelos afro-descendentes nos livros didáticos é irrelevante e desprovido de maior relevância, segundo alguns escritores tradicionais.
            Nesse sentido, vale destacar que a maneira pela qual a história africana é retratada nos livros didáticos, ligada a um positivismo narrativo, conduz os saberes concernentes ao tema de uma forma liner. Essa posição proporciona um comportamento passivo do corpo discente diante do conteúdo discutido. Não há a preocupação em reelaborar uma didática e metodologias de ensino que apresente o continente africano marcado pela pluralidade de culturas e tradições diversificadas. Partindo-se de uma análise abrangente, pode-se afirmar que a África é retratada de uma maneira homogênea, desvalorizando suas particularidades e sua importância na história mundial.

A homogeneização do currículo sob a visão eurocêntrica levará a valorização da raça branca, deixando para um segundo plano a paricipação dos demais povos, principalemente dos povos africanos, assim a escola contribui para inferiorizar esse grupo étnico não mostrando sua atuação e importante participação na construção da história da sociedade. O momento do planejamento escolar necessita trazer à tona uma discussão de extrema importância: a educação e a diversidade étnico-racial.[7]

            Uma das características presentes no ensino de história da África atualmente consiste na presença de uma série de manifestações eurocêntricas. Nesse sentido, deve-se enfatizar que há uma deficiência significativa no tocante à imparcialidade no que se refere aos estudos sobre o assunto. A história da Europa, com todas as suas variantes mitológicas, ganha um espaço expressivo nos livros didáticos. Por outro lado, a história do continente africano é marcada por conjecturas pejorativas e noções preliminares preconceituosas. Existe a necessidade de se reestruturar a forma de se ministrar as aulas e os livros didáticos referentes à África, de uma maneira que valorize os discentes afro-descendentes e sua importante contribuição para a história.

Conclusão
            Um dos objetivos em se realizar o presente trabalho científico consiste em desmistificar algumas noções preconceituosas sobre a história do continente africano. Além disso, as premissas metodológicas que nortearam tal trabalho procurou detalhar a forma pela qual o modo de produção capitalista causou prejuízos à estrutura organizacional da Àfrica, provocando sérios problemas sociais, culturais e econômicos. Com isso, tornou-se essencial estabelecer um diálogo entre o passado e o presente, no sentido de se compreender quais foram as estratégias criadas pelos líderes europeus objetivando materializar a dominação imperialista.
            Partindo-se de uma análise teórica, a base de sustentação do colonialismo europeu consiste nos ideais preconceituosos inerentes ao continente africano. Vale destacar que a particularidade do pensamento científico do século XIX consistia em valorizar a cultura da Europa e, em contrapartida, retirar dos africanos o papel de sujeitos construtores de sua própria história.
            Vale ressaltar que o impacto gerado pelo capitalismo na África foi refletido em diversos aspectos. Comunidades inteiras foram destruídas, tanto no aspecto social, quanto no cultural. Com isso, após a interferência das lideranças européias no continente, verificamos a completa destruição dos valores que proporcionariam uma identidade cultural entre os africanos. A destruição de crenças e valores entre os habitantes do continente causou sérios danos à funcionalidade das comunidades tradicionais, que tiveram suas particularidades desvalorizadas pelo branco colonizador.
            Devemos enfatizar que esse processo avassalador de dominação imperialista ganhou uma ênfase mais construtiva após a eclosão da chamada Revolução Industrial. Essa essertiva torna-se coerente no sentido de que a África sempre foi um continente caracterizado pela abundante matéria-prima e recursos naturais preciosos. Partindo-se dessa premissa, a África sempre foi, de uma maneira ou de outra, o local ideal para os líderes europeus concretizarem seus objetivos financeiros.
            Entretanto, voltando-se para as problemáticas inerentes ao sistema de ensino, onde se verifica a formulação de proposições preconceituosas concernentes à história do continente africano, algumas considerações devem ser debatidas. Entrementes, cabe ao corpo docente reformular seus princípios pedagógicos objetivando impedir a elaboração de afirmações inverídicas sobre o tema. O papel que o negro exerce na sociedade ao longo da história deve ser ressaltado de uma maneira mais positiva, para que o aluno afro-descendente possa se identificar de uma forma significativa ao estudar sobre a história do continente africano.
            Por fim, a estrutura organizacional dos livros didáticos deve ser analisada cautelosamente pelo professor no sentido de evitar anacronismos e conjecturas eurocêntricas. A imposição de fatos narrados cronologicamente, que procura exaltar figuras mitológicas e a exposição acrítica dos acontecimentos, são elementos que devem ser evitados ao se estudar a história da África. Mostrar aos discentes que o continente não é marcado apenas por situações negativas, como a fome, a miséria e a disseminação de graves doenças, mas sim pela sistematização de elementos culturais e valores históricos milinares.
Bibliografia
ANDRADE, Manoel Correia de. O Brasil e a África. 5ª ed. São Paulo. Contexto, 1997.
BOAHEN Albert Adu. (Org). África sob dominação colonial,1880-1935. História Geral da África. 2ª ed. Brasília. Unesco, 2010.
HAYES, C. J. H. “A generation of materialism. 4ª ed. Lisboa. Verbo. 1871-1900”.
HEGEL, Marx. 1999, apud PRAXEDES, 2008
HERNANDEZ; Leila Leite. A África na sala de aula. 2ª ed. São Paulo. Selo negro, 2008.
LOPES, A. L. Currículo, escola e relações étnico-raciais. In: UNB. Centro de Educação à distância. Educação Africanidades Brasil. Brasília: UnB/CEAD, 2006.

ORIÁ, R. O negro na historiografia didática: imagens, identidades e representações. In: Textos de História. Brasília, DF, n. 24, v.4 , n. 2, 1996.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo. Ática, 2008.



               


           
           




















[1] HERNANDEZ; Leila Leite. A África na sala de aula. 2ª ed. São Paulo. Selo negro, 2008, pág. 78
[2] HAYES, C. J. H. “A generation of materialism, 1871-1900”. In: UZOIGWE, op. cit, p. 48.
[3] HERNANDEZ; Leila Leite. A África na sala de aula. 2ª ed. São Paulo. Selo negro, 2008, pág. 80.
[4] BOAHEN Albert Adu. (Org). África sob dominação colonial,1880-1935. História Geral da África. 2ª ed. Brasília. Unesco, 2010. Pág. 31.
[5] HERNANDEZ; Leila Leite. A África na sala de aula. 2ª ed. São Paulo. Selo negro, 2008, pág. 112.
[6] HEGEL, Marx. 1999, p. 83-86, apud PRAXEDES, 2008, pág. 15.


[7] LOPES, A. L. Currículo, escola e relações étnico-raciais. In: UNB. Centro de Educação à distância. Educação Africanidades Brasil. Brasília: UnB/CEAD, 2006, pág. 15

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