Um dos
eventos que marcou o século XX foi o conflito conhecido como Primeira Guerra
Mundial, onde diversas nações do mundo desencadearam uma sangrenta guerra e
que, sobretudo, reformulou a geografia do continente europeu. Uma das causas do
conflito foi o imperialismo, que consiste na busca desenfreada das grandes
potências por colônias na África e na Ásia. Com isso, diante da sede por
lucros, perpetuou-se entre tais potências um sentimento de rivalidade, que
culminou numa guerra de proporções continentais.
Deve-se
ressaltar que no início do século XX, os franceses perderam a região da
Alsácia-Lorena para os alemães, uma região rica em carvão. Diante desse fato, o
orgulho francês foi gravemente ferido, tornando-se uma questão de honra
recuperar esses territórios. O crescimento da Alemanha desencadeou uma acirrada
disputa com outras nações europeias, como a Inglaterra e a própria França.
Além disso, houve também a
revitalização do ideal de nacionalismo, cujo principal alicerce ideológico
consistia na defesa de sua nação diante das ameaças estrangeiras e, sobretudo,
pela preservação das colônias dominadas. Minorias étnicas – como tchecos,
eslovacos, bósnios, croatas e romeno -, sistematizavam estratégias de luta no
sentido de preservar sua autonomia. Os sérvios, por exemplo, identificavam-se
com os interesses nacionais e culturais dos povos russos, criando diferenças e
antagonismos com os austríacos.
Os países europeus passaram cada
vez mais a investir cada vez mais nas Forças Armadas, que culminou na
mobilização da população com ideias de civismo e patriotismo. Deve-se ressaltar
que, no início do século XX, a Europa vivia em paz, embora fosse uma paz
armada. Na época, era comum usar a frase latina Si vis pacem, para bellum, ou
seja, “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Em outras palavras, mesmo
vivendo um período de paz, sem conflitos bélicos, os países europeus investiam
na fabricação de armamentos.
Deve-se enfatizar que dois
blocos de países se formação antes da eclosão da guerra. Por um lado, foi
criado a Tríplice Entente, liderada pela França, Inglaterra e Rússia. Em
contrapartida, foi criada a Tríplice Aliança, composta, principalmente, pela Alemanha,
Império Austro – Húngaro e Itália. Estava criado o clima fundamental para o inicio
da guerra, apenas faltava um motivo para seu início.
O pretexto para a guerra foi o
assassinato do príncipe herdeiro do trono do império austro-húngaro, Francisco Ferdinando, na cidade
de Sarajevo. Em decorrência da morte do príncipe, a monarquia fez uma série de
exigências ao governo sérvio, incluindo o direito de investigar o assassinato. Porém,
se as condições fossem aceitas, a Sérvia renunciaria à sua soberania; se
negasse, seria motivo para a declaração da guerra. Com isso, os sérvios se
recusaram a aceitar a imposição dos austríacos e, um mês após a morte do príncipe,
a guerra teve início.
A Rússia se posicionou em defesa
dos sérvios e mobilizou suas tropas. Por outro lado, os alemães, alegando
solidariedade aos austríacos, declarou guerra aos austríacos e, dois dias depois
fez o mesmo contra a França. A Inglaterra, alegando a quebra de neutralidade
belga, declarou guerra contra a Alemanha, honrando a tríplice entente. Deve-se
enfatizar que cada país beligerante contou com o apoio de suas sociedades. O nacionalismo
exacerbado e as crenças de que o conflito era inevitável e seria curto
mobilizaram amplos setores sociais.
No final de 1915, uma realidade
se impôs na frente ocidental: a guerra de trincheiras. Elas foram cavadas ao
longo de centenas de quilômetros, cortando o território europeu de norte a sul.
Desse modo, os exércitos alemães e franceses não conseguiam avançar, e assim
permaneceram por mais três anos. Por mais que usassem artilharia pesada, nenhum
dos dois lados conseguia ultrapassar as trincheiras inimigas, o que representou
um dos maiores horrores da guerra. Milhares de soldados passavam meses atirando
contra os inimigos, enfiados na terra, junto com ratazanas e piolhos. A água e
a comida eram racionadas. Muitas vezes eles não podiam retirar os cadáveres dos
colegas e conviviam com os corpos em estado de decomposição.
O campo de batalha é terrível. Há cheiro de azedo, pesado e penetrante
de cadáveres. Homens que foram mortos no último outubro estão meio afundados no
pântano e nos campos de nabo em crescimento. (...) Um pequeno veio de água
corre através da trincheira, e todo mundo usa a água para beber e se lavar: é a
única água disponível. Ninguém se importa com o inglês pálido que apodrece
alguns passos adiante. As bombas alemães, caindo sobre o cemitério, provocaram
uma terrível ressurreição.
(De um fatalista na guerra, de Rudolf Binding, que serviu em uma das
divisões da Jungdeutschland).
Além disso, o exército alemão
passou a utilizar lança-chamas e armas químicas, como o gás mostarda, que
provocaram graves queimaduras. Além disso, os ingleses inventaram o tanque de
guerra, o avião (usado pela primeira vez como arma bélica) e o submarino
(considerado o grande triunfo alemão).
A vitória tendia para o lado
alemão mas, em abril de 1917, novos acontecimentos mudaram o rumo da guerra. A participação
dos EUA na guerra se restringia apenas no fornecimento de mantimentos aos países
envolvidos, além do empréstimo de recursos financeiros. Porém, após o
afundamento do navio norte-americano Lusitana, o governo começou a mudar sua
posição diante do conflito. Mesmo assim, sua participação se tornou efetiva
apenas quando a situação pareceu desfavorável aos seus aliados.
Ao longo de 1917, as sociedades
europeias envolvidas no conflito estavam cansadas e os soldados exaustos. O custo
de vida disparou, os salários diminuíram e as mercadorias desapareceram das
prateleiras. Com isso, tornou-se efetivo um amplo movimento pacifista exigindo
o fim da guerra.
Embora o exército alemão tentasse
uma contraofensiva para alcançar Paris, acabou rechaçado, sem ter condições
para lutar. Enquanto na Alemanha a população conhecia a fome, Inglaterra e
França recebia ajuda material e militar dos EUA. Diante da derrota iminente, o
governo alemão assinou o armistício, sem condições, em 11 de novembro de 1918.
Após o fim do conflito foi criado
o Tratado de Versalhes, conhecido pelos alemães como ditado de Versalhes, por
ser impositivo e humilhante. As imposições foram fundamentadas na cláusula de
culpa de guerra, estabelecida pelas potências vitoriosas. De acordo com o
tratado, a Alemanha perdeu parte de seus territórios, ficou proibida de
constituir exército, não poderia fabricar armas, foi obrigada a pagar uma
pesada indenização, dentre outras punições. Com isso, os submarinos alemães foram
entregues à Inglaterra, à Bélgica e à França.
As consequências da guerra foram
trágicas para as sociedades europeias. Cerca de 10 milhões de pessoas morreram,
entre civis e militares. Milhões de mulheres tornaram-se viúvas, com filhos
para criar e, sobretudo, as nações europeias saíram arruinadas do conflito. Além
disso, a democracia liberal passou a sofrer fortes críticas, acontecendo
intensos confrontos entre nacionalistas radicais e partidos comunistas em
diversos países do mundo.
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