Vimos que o governo português não aderiu ao Bloqueio Continental
e continuou comerciando com a Inglaterra. Em represália, as tropas napoleônicas
invadiram Portugal, e a família real portuguesa teve de se transferir para o
Rio de Janeiro. A transferência da Corte não foi uma decisão repentina: há
tempos, intelectuais e políticos portugueses propunham a formação de um Império
Luso-Brasileiro, com sede no Rio de Janeiro, a fim de proteger os domínios
lusos e defende-los das agressões de potências europeias.
Por esses motivos, no final de 1807, o príncipe Dom João,
que assumira a regência em razão da doença de sua mãe, D. Maria I, a louca, sua
família e cerca de 10 a 15 mil pessoas embarcaram para Brasil. Escoltada pela marinha
inglesa, a comitiva de Dom João desembarcou em Salvador em 22 de janeiro de
1808 e, um mês e meio depois, chegou ao Rio de Janeiro, que passou a ser então
a sede do Império Português, cujo território abrangia terras na Europa, África
e Ásia.
Chegada da Família Real em Salvador |
Durante sua permanência, Dom João e sua corte estabeleceram uma aliança com a elite de São Paulo e do Rio de Janeiro, por meio de negócios entre eles envolvendo terras e comércio de abastecimento, de casamentos com famílias locas e de empregos concedidos por Dom João aos membros dessa elite. Essas relações sociais e mercantis com a elite do Centro-sul levaram ao enraizamento da Corte portuguesa e à sua intenção de permanecer no Brasil, fenômeno que a historiadora Maria Odila Dias chamou de interiorização da metrópole.
D. João VI |
Seis
dias depois de sua chegada ao Brasil, Dom João decretou a abertura dos portos
brasileiros às nações amigas e estipulou o imposto de 24% para as mercadorias
estrangeiras. Essa medida inevitável, já que os portos portugueses estavam
ocupados pelos franceses, trouxe benefícios para o Brasil, pois, a partir daí,
as exportações brasileiras não tinham mais de passar por Portugal, o mesmo
acontecendo com os produtos que viessem de outros países para cá.
Para
a Inglaterra, a abertura dos portos brasileiro foi extremamente vantajosa, pois
o governo inglês havia negociado com Portugal certos privilégios no comércio
com o Brasil, em troca da proteção dada à família real.
Naquele
mesmo ano chegaram ao Brasil dezenas de navios estrangeiros, ingleses em sua maioria.
Traziam produtos variados: tecidos, caixões, mostruário, ferragens, cristais,
perfumes, cachimbos e também artigos de utilidade duvidosa, como patins para
gelo, carteiras para notas (no Brasil só havia moedas e... calçados para neve!
Em Abril
de 1808, já instalado na cidade do Rio de Janeiro, Dom João liberou indústrias
no Brasil, isentou do pagamento de impostos as matérias-primas destinadas a ela
como o ferro) e prometeu subsídios às fábricas de tecidos, lã e algodão. Porém,
os resultados dessas medidas foram inexpressivos, por causa da falta de
investimentos na indústria e da dificuldade de competir com os produtos
estrangeiros.
Em
troca da ajuda e da proteção dada à Família Real portuguesa, o governo de Dom
João assinou com a Inglaterra, em 1810, os tratados de Aliança e Amizade e
Comércio e Navegação, que asseguravam um conjunto de vantagens e privilégios
aos ingleses. O principal deles era que, para entrar no Brasil, as mercadorias
inglesas deveria pagar um imposto de 15% (menor inclusive que os 16% pagos pelas
portuguesas), enquanto as outras nações continuariam pagando 24%.
Uma vez
instalado, o governo de Dom João empenhou-se em modernizar a cidade do Rio de
Janeiro, assemelhando-a a Lisboa. Multiplicaram-se as obras em solo carioca:
abriram-se vias para facilitar a circulação de pessoas e mercadorias,
construíam novas habitações com amplos jardins e janelas envidraçadas, que
permitiam a entrada de luz, e instalaram-se importantes órgãos administrativos,
como Ministério e o Conselho de Estado, a Intendência da Política, o Erário
Régio, o Banco do Brasil e a Casa da Moeda. Além disso, foram criadas
importantes instituições científico-culturais, como a Imprensa Régia, que
publicou livros, folhetos e o primeiro jornal feito no Brasil, a Gazeta do Rio
de Janeiro; a Academia Médico-Cirúrgica; o Teatro Real; o Museu Nacional; a
Biblioteca Real e a Academia de Belas Artes.
A transferência
da Corte para o Rio de Janeiro havia criado uma fratura no Império Português: a
metrópole privada de seu soberano, perdera suas antigas funções; a colônia, por
sua vez, exercia agora a função de metrópole. Essa situação acirrou s conflitos
de interesses entre as forças políticas que disputavam benefícios e poder no
Império Português, independentemente de seus membros serem brasileiros ou
portugueses, e estarem lá ou aqui.
Nesse
contexto, Dom João elevou o Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e
Algarve, em 1815, e justificou, assim, sua permanência no Rio de Janeiro, onde
seu governo tinha fincado raízes e obtido vantagens para si e seus protegidos.
Enquanto,
no Brasil, D. João VI e seus aliados desfrutavam de poder e privilégios, em
Portugal a maioria da população vivia pobremente e enfrentava um misto de crise
econômica e caos político por causa: dos prejuízo causados pela ocupação
francesa e a transferência da Corte para o Brasil, em 1808; perda dos lucros do
comércio com o Brasil decorrente da abertura dos portos brasileiros; da
presença militar inglesa em Portugal, a partir de 1815. É que, com a queda de
Napoleão, forças militares inglesas se instalaram no Reino sob o comando do
Marechal Beresford, a quem foi dado o título de Lorde Protetor de Portugal.
Os liberais
portugueses acusavam o governo absolutista de D. João VI pelo descontentamento
e pela pobreza do povo; e, reagindo a essa situação opressiva, promoveram a
Revolução Liberal do Porto (1820), um movimento armado inspirado no ideário
iluminista e com amplo apoio popular do povo, espalhou-se rapidamente pelo
restante do país, inclusive Lisboa, e modificou inteiramente o quadro político
dos dois lados do Atlântico, levando a política para as ruas, as praças e o
parlamento.
Representação da Revolução Liberal do Porto |
Vitoriosos,
os revolucionários organizaram uma Junta governativa e convocaram eleições para
compor uma assembleia de deputados, denominada Cortes Constituintes. Em janeiro
de 1821, os deputados constituintes começaram a trabalhar na Constituição
destinada a limitar o poder absoluto de D. João VI.
Assim
que notícia da Revolução do Porto chegou ao Brasil, ocorreram manifestações nas
ruas de Belém, Salvador e Rio de Janeiro, exigindo que Dom João aderisse
imediatamente à Revolução e à Constituição que estava sendo elaborada pelas
Cortes de Lisboa.
A
elite do Centro-Sul também se posicionou em relação às mudanças ocorridas em
Portugal. No Rio de Janeiro, membros de importantes famílias fluminense se
mineiras, como José da Silva Lisboa e Nogueira da Gama, sugeriam que o rei Dom
João VI voltasse para Lisboa, possibilitando a organização de um império
constitucional no Brasil, separado de Portugal e sob a regência do príncipe Dom
Pedro. Já um outro grupo político, liderado pelo comerciante fluminense Joaquim
Gonçalves Ledo e pelo imigrante José Clemente Português, sem que fosse preciso
a separação; para o Brasil dentro do Império Português, sem que fosse preciso a
separação; para esse grupo a vitória das Cortes de Lisboa sobre o absolutismo
era o único meio de efetuar as mudanças políticas necessárias.
Diante
das pressões externas, representadas pelo poder das Cortes, e internas (dos
grupos de políticos favoráveis e contraditórios à separação de Portugal), em 26
de abril de 1821, D. João VI partiu com sua família para Lisboa deixando no
Brasil seu filho e herdeiro Dom Pedro na condição de príncipe regente.
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Sem Censura - Moisés Rodrigues
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