João Goulart |
Com
a renúncia do presidente, o governo devia ser entregue ao vice-presidente João
Goulart. Era isso o que dizia a Constituição. Mas nem todos eram favoráveis à
posse de Jango.
A
UDN, vários chefes militares, grandes empresários nacionais e estrangeiros eram
contrários à posse de Jango; ministros militares chegaram a acusar Jango de
ligação com o comunismo internacionais.
Líderes
de movimentos sociais e estudantis, alguns governadores de Estado –
especialmente o do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola – eram favoráveis à posse
de Jango.
O
país caminhava em direção a uma guerra civil quando o Congresso propôs uma
solução política para a crise. João Goulart poderia assumir desde que aceitasse o parlamentarismo.
Jango aceitou; mas, logo que tomou posse, em setembro de 1961, começou a
articular a volta do presidencialismo. Estava prevista em lei a realização de
um plebiscito para ver se o povo queria parlamentarismo ou o presidencialismo;
em 6 de janeiro de 1963, quase 80% dos eleitores (9 milhões e meio de
eleitores) disseram “não” ao parlamentarismo, devolvendo a chefa do governo a
João Goulart.
O
governo Jango foi conturbado. Parte do empresariado desconfiava dele e diminuiu
seus investimentos na produção, ocasionando queda do emprego. Além disso, o
custo das obras públicas consideradas essenciais obrigava o governo a emitir dinheiro.
A queda da produção e a emissão de dinheiro elevaram a inflação, diminuindo o
poder de compra dos salários, gerando tensão entre patrões e empregados.
Como
chefe de governo, Jango prometeu realizar as Reformas de Base: agrária,
administrativa, bancária, tributária, política e educacional. Com isso, buscava
se aproximar das camadas populares e de setores das camadas médias favoráveis à
mudança social. Mas a sociedade brasileira logo se dividiu em relação a essas
reformas.
Eram
favoráveis ás reformas de base: os movimentos sociais organizados. No meio
estudantil, destacava-se a União Nacional dos Estudantes (UNE), que
reivindicava justiça social e o fim do analfabetismo. No meio católico, as
organizações mais importantes eram a Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude
Universitária Católica (JUC). Já entre os trabalhadores urbanos, sobressaiu-se
o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), fundado em 1962. A mobilização também
chegou ao campo com a formação das Ligas Camponesas, lideradas pelo advogado
pernambucano Francisco Julião. Ele defendia a aplicação dos direitos
trabalhistas no campo; a sindicalização do trabalhador rural; uma reforma
agrária que limitasse a quantidade de terras que cada pessoa podia usufruir; e
a adoção de um imposto progressivo sobre as terras não cultivadas.
Liga Camponesa |
Eram
contrários às reformas de base: grandes empresários; parte do alto clero e dos
oficiais do Exército e organizações como o Instituto Brasileiro de Ação
Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), ambas
mantidas com o dinheiro de empresários brasileiros e estadunidenses. Essas organizações
investiam milhões de dólares em propaganda contra o governo Jango. Grandes jornais,
como O Estado de S. Paulo e a Tribuna da Imprensa (de Carlos Lacerda), também
atacavam o governo, tendo ou não razão.
As
posições se radicalizavam: os movimentos sociais exigiam as reformas de base
que Goulart havia prometido; a oposição acusava o presidente de ter perdido a
autoridade e de ser cúmplice do comunismo internacional. Sem o apoio do
Parlamento, Goulart optou por se aproximar dos movimentos sociais. Em 13 de
março, liderou um gigantesco comício pelas reformas de base em frente à estação
da Central do Brasil, no Rio de Janeiro.
Comício na Central do Brasil em defesa da Reforma de Base |
Nesse
comício, diante de cerca de trezentas mil pessoas, o presidente assinou dois
decretos de grande impacto popular. Um deles nacionalizava todas as refinarias
de petróleo particular. O outro desapropriava – para fins de reforma agrária – as
terras com mais de cem hectares situadas numa faixa de dez quilômetros às
margens das rodovias e ferrovias federais.
Marcha da Família com Deus pela Liberdade |
A
resposta ao comício do dia 13 não se fez esperar: seis dias depois (19 de
março) autoridades civis e religiosas promoveram no centro da capital paulista
uma grande passeata contra as reformas de João Goulart: a Marcha da Família com
Deus pela Liberdade. Note que nessa marcha o número de manifestantes foi
igualmente grande, cerca de trezentas mil pessoas.
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