Um fato raro, quase inédito: a Globo partiu para o confronto público com
a Rede Record do bispo Edir Macedo. O governo Bolsonaro está no centro da
ofensiva da emissora dos Marinho contra a concorrente. Enquanto a Globo
distancia-se cada vez mais do governo de extrema-direita, a Recoro (ao lado do
SBT) tornaram-se as emissoras extraoficiais do novo regime. O jornalista
Maurício Stycer, um dos maiores especialistas em TV do país, apontou em
seu blog:
"Fato muito incomum, neste domingo (20) a Globo fez uma crítica pública ao
jornalismo praticado pela concorrente Record. Deu-se durante o 'Fantástico' e
fez menção a uma entrevista exibida minutos antes por seu concorrente direto, o
'Domingo Espetacular'".
Os apresentadores do "Fantástico", Ana Paula Araújo e Tadeu
Schmidt, resumiram em 60 segundos o conteúdo das respostas dadas por Flávio
Bolsonaro à Record (aqui).
Em seguida,
anotou Stycer em seu blog, Ana Paula detonou o programa concorrente. Com
ironia, registrou que o senador eleito não respondeu a uma questão essencial
por que não foi questionado a respeito:
"Ao senador, não foi perguntado, e por isso ele não respondeu, por
que optou por 48 depósitos de R$ 2 mil com diferença de minutos em cada
operação em vez de depositar o total que recebeu em espécie de uma só vez na
agência bancária onde tem conta. Também não foi questionado por que
preferiu receber parte do pagamento da venda em dinheiro e não em cheque
administrativo ou transferência bancária".
Uma crítica desse gênero na Globo não seria veiculada sem autorização
expressa da cúpula da emissora e sem a concordância dos Marinho. A guerra cada
vez mais aberta entre a Globo e o clã e governo Bolsonaro começa a se tornar
também uma guerra que está demolindo a unidade que a mídia conservadora
construiu nos últimos anos ao redor da perseguição ao PT. De um lado, Globo e
Folha começam a ter uma postura crítica e de oposição cada dia mais agressiva a
Bolsonaro. Do outro lado, com Record e SBT à frente, Rede TV, Band e Jovem Pan
têm alinhamento integral ao novo regime -com o provável reforço em breve da
versão brasileira da rede norte-americana CNN. O conservador O Estado de
S.Paulo tem oscilado entre os dois grupos.
No novo cenário, a Globo e a Folha assumem, em determinados momentos,
aspectos da narrativa das mídias independentes do país, como o 247, Fórum, DCM,
Brasil de Fato, RBA entre outros.
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