A participação da Rússia na Primeira
Guerra Mundial contribuiu decisivamente para a Revolução Russa. Para melhor
compreender o processo revolucionário russo, recuemos um pouco no tempo.
No
final do século XIX, o Império Russo possuía um vasto território (22 milhões
km²), abrangendo terras na Europa e na Ásia; sua população era formada, em sua
maioria, por povos de outras nacionalidades, que eram constantemente reprimidos
e impedidos de expressar suas ideias e práticas. O governo estava nas mãos de
uma monarquias absolutista e o soberano – o czar - era visto como eleito por Deus.
FAMÍLIA CZARISTA DO SÉCULO XIX |
Na
Rússia czarista não havia limites legais ao poder do czar. Os ministros eram
indicados e destituídos conforme ele desejasse, e inexistia liberdade de
expressão e de imprensa: livros, revistas e jornais sofriam uma forte censura.
O czar e sua família, o clero ortodoxo e os nobres (chamados na Rússia de
boiardos) constituíam os elementos privilegiados da sociedade russa. Já os
camponeses (os mujiques) somavam 80% da população e grande parte deles vivia em
extrema penúria, tendo de pagar altos impostos a governo pelo uso da terra.
Entre os camponeses havia um número considerável de arrendatários e de
escravos. O analfabetismo atingia a imensa maioria da população.
ALEXANDRE II |
Os
czares da dinastia Romanov governaram a Rússia por mais de três séculos, mas
foi somente no governo de Alexandre II (1858-1881) que a Rússia começou a se
modernizar: criaram-se indústrias; iniciou-se a exploração de petróleo; e
começou a construção de extensas ferrovias, entre as quais a Transiberiana.
Sob
o czar Nicolau II, o capitalismo russo se expandiu, impulsionando pela entrada
de capitais estrangeiros e pela existência de mão de obra farta e barata vinda
do campo. Surgiram grandes indústrias, que reuniam milhares de operários, em
cidades como São Petersburgo, Moscou e Odessa.
As
condições de trabalho e de vida do operariado russo, no entanto, eram péssimas:
jornadas extenuantes (12 a 14 horas por dia), salários baixos, moradias toscas
e alimentação precárias.
O
operariado russo resistia por meio de passeatas e greves. O czarismo, por sua
vez, utilizava o Okhrana (polícia secreta do Estado) para reprimir duramente as
manifestações dos trabalhadores.
LÊNIN |
As
teses socialistas penetraram na Rússia graças à tradução da obra “O capital”,
de Karl Marx, e dos textos de dois russos, Plekhanov e Lênin. Inspirados nesses
textos, os intelectuais e operários fundaram organizações e grupos políticos de
orientação marxista que, em 1898, se uniram para formar o Partido Operário
Social Democrata Russo (POSDR). Esse partido foi logo desmantelado pela polícia
do czar, que prendeu vários de seus membros. Porém, Lênin deixou a Rússia e
voltou a se organizar no exterior.
Em
1903, o POSDR realizou seu II Congresso e, nos debates então ocorridos,
emergiram duas correntes políticas que concordavam quanto a derrubar o czarismo
e construir o socialismo, mas divergiam quanto à estratégia e aos meios a serem
usados.
A
corrente liderada por Yuli Martov propunha chegar ao poder por meio da aliança
com a burguesia e evoluir para o socialismo por meio de eleições que garantiriam
a maioria no Parlamento.
Já
a corrente encabeçada por Lênin defendia a necessidade de um partido liderado
por revolucionários profissionais, centralizado e submetido a uma rigorosa
disciplina. Esse partido – segundo Lênin – seria clandestino, pois na Rússia
czarista não havia liberdade política.
A
maioria dos partidos do Congresso votou na tese de Lênin. Por isso, seus
seguidores passaram a ser chamados de bolcheviques (majoritário, em russo), e
os seus adversários, de mencheviques (minoritário).
Durante
a guerra imperialista, as condições de trabalho e de vida dos operários russos
pioraram. Reagindo a essa situação, em 9 de janeiro de 1905, eles e suas
famílias marchavam desarmados em direção ao Palácio de Inverno, sede do
governo, para levar ao czar Nicolau II uma petição reivindicando a redução da
jornada de trabalho para 8 horas; o estabelecimento de um salário mínimo de um
rublo por dia; instrução gratuita e obrigatória; eleições para uma Assembleia
Constituinte, entre outros pontos.
A
reação do czar foi ordenar a seus soldados que atirassem contra a multidão, à
queima-roupa, o que mudou em mais de mil mortos e cerca de 5 mil feridos. O episódio
ficou conhecido como Domingo Sangrento.
DOMINGO SANGRENTO |
A
desastrosa participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, porém, reacendeu
a crise social: falta de alimentos, alta nos seus preços, desemprego, fome e
doenças passaram a fazer parte do cotidiano dos russos. No inverno, o frio, de
muitos graus abaixo de zero, tornava a fome ainda mais insuportável.
Em
23 de fevereiro de 1917, no calendário juliano, uma passeata de trabalhadores e
trabalhadoras marchou em direção à sede do governo, em São Petersburgo,
repetindo em voz alta a expressão: Paz, terra e pão!. Muitos soldados, enviados
para reprimir os manifestantes, entregaram suas armas e aderiram ao movimento
revolucionário. Unido, o povo invadiu o Palácio de Inverno em 27 de fevereiro e
pôs fim ao czarismo na Rússia. O Império foi então substituído pela República. E
o Governo Provisório assumiu o poder.
Nos
meses seguintes o processo revolucionário se acelerou: operários, camponeses e
soldados saíram às ruas em manifestações ruidosas que, apesar de reprimidas,
avolumavam-se dia a dia; e, em 24 de outubro de 1917, esse processo culminou
com o início de uma operação armada visando a derrubada do Governo Provisório. Naquele
dia soldados, marinheiros e operários, sob a liderança de Lênin e Leon Trotsky –
comandante da Guarda Vermelha -, ocuparam as pontes sob o rio Neva, as estações
ferroviárias, os prédios públicos da cidade de São Petersburgo, e iniciaram o
assalto ao Palácio de Inverno, sede do governo.
Alegando
que ia buscar reforços para resistir, Kerenski fugiu; tiros de canhão
disparados de um cruzador ancorado no rio Neva deram início à operação militar
que marcou o início da Revolução Russa e, horas depois, os defensores do
Governo Provisório tinham sido vencidos: os bolcheviques ocuparam o Palácio de
Inverno e o poder na Rússia, tendo Lênin no cargo de presidente do Conselho de
Comissários do Povo. A bandeira vermelha foi hasteada pela primeira vez na sede
do governo russo.
Ao
assumir o poder, Lênin retirou a Rússia da guerra, confiscou terras dos nobres
e do clero e distribuiu-as aos camponeses, além de estatizar indústrias, bancos
e estradas de ferro. Além disso, separou a Igreja do Estado, adotou o calendário
gregoriano e permitiu que os pobres frequentassem teatros, cinemas e livrarias,
antes restritos aos ricos.
Essas
medidas dividiram a sociedade russa, o que acabou provocando uma sangrenta
guerra civil.
A
guerra civil russa durou de 1918 a 1921: de um lado estavam os monarquistas,
liberais e mencheviques, defendidos pelo Exército Branco e apoiados por
potências estrangeiras; de outro, os bolcheviques e o seu Exército Vermelho,
comandado por Leon Trotsky. Durante o conflito, o governo leninista adotou o
comunismo de guerra, política que envolvia o controle estatal da indústria e do
comércio, o confisco do excedente agrícola aos camponeses e o racionamento do
consumo.
Os
bolcheviques venceram a guerra e, organizados em torno do Partido Comunista,
firmaram-se no poder. A economia russa, porém, estava à beira do colapso. Para fazer
frente a essa situação, Lênin adotou a Nova Política Econômica (NEP), que
combinava princípios socialistas com práticas capitalistas. A NEP incentivou o
comércio, a pequena e a média manufatura, fazendo surgir com isso uma nova
categoria social, os nepmen (empresários dispostos a colaborar com o governo
socialista); estimulou a entrada de capitais estrangeiros no país; e permitiu
aos camponeses a venda das sobras da colheita no mercado interno. Com isso, o
governo estimulou a produção e garantiu o abastecimento de alimentos e roupas. A
NEP conseguiu que a agricultura russa se recuperasse, mas a indústria e o
comércio continuaram em uma situação difícil. A abertura econômica resultante
da NEP não foi acompanhada de democratização política. O Partido Comunista,
liderado por um pequeno grupo dirigente, o Politburo (birô político), passou a
ter total controle da vida política: suprimiu a liberdade de expressão e
submeteu os sindicatos e os sovietes às suas ordens. Em dezembro de 1922, foi
criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
MAPA DA URSS |
Nenhum comentário:
Postar um comentário