Dom João assumiu em meio à crise econômica e financeira,
agravada pelo fato de D. João VI ter levado consigo as reservas do Banco do
Brasil, da recusa das províncias, sobretudo do Norte e do Nordeste, em aceitar
a sua autoridade e da insegurança reinante no país. Essa situação levou ao
encarecimento do custo de vida; à diminuição das moedas em circulação
(resultante do entesouramento de dinheiro) e ao atraso nos pagamentos de
soldados e funcionários públicos. No caso do Rio de Janeiro, as condições
financeiras eram ainda mais graves, devido à suspensão das remessas de impostos
por parte das províncias.
Nesse ambiente de incertezas, deputados brasileiros foram a
Lisboa, com a expectativa de participar da elaboração da Constituição.
O conflito de interesses se acirrou e, em primeiro de
outubro de 1821, chegaram ao Rio de Janeiro decretos das Cortes contendo as
decisões tomadas pelos deputados reunidos em Lisboa. Eis algumas delas:
·
As províncias brasileiras, inclusive o Rio de
Janeira, deveriam ser administradas por Juntas de governo eleitas localmente.
·
As tropas, a polícia e as milícias ficariam
sob a ordem de um comandante de armas nomeado pela Justiça;
·
Tanto a Junta de governo quanto o comandante
de armas deveriam obediência às Cortes de Lisboa;
·
A regência de Dom Pedro foi dada como
extinta, devendo o príncipe regente voltar para Portugal imediatamente;
Tais
decretos atingiram em cheio as pretensões do grupo liderado por Nogueira da
Gama, que propunha a criação de um império no Brasil separado de Portugal, e as
ambições de Dom Pedro de governar esse império. Foi então que, com o apoio de
importantes políticos fluminenses e mineiros, Nogueira da Gama e José
Bonifácio, uma figura de destaque na política paulista, iniciaram uma campanha
visando à permanência de Dom Pedro e ao rompimento com Portugal.
Representação do Dia do Fico |
Assim,
no dia 9 de Janeiro de 1822, depois de receber um manifesto pela sua
permanência com mais de 8 mil assinaturas, Dom Pedro anunciou sua decisão de
permanecer no Brasil, o que pode ser interpretado como uma vitória do grupo de
Nogueira da Gama e José Bonifácio. Após o Dia do Fico, como ficou conhecido o
fato, os jornais ligados a esse grupo político passaram a apresentar as lutas
políticas como se fossem disputas entre brasileiros, partidários da
Independência, portugueses, defensores da recolonização, quando na verdade
havia brasileiros e portugueses tanto de um lado quanto de outro.
Em
13 de maio de 1822, Dom Pedro foi agraciado com o título de Defensor Perpétuo
do Brasil, inclinando-se cada vez mais para a ruptura. Naquela data, os grupos
da elite fluminense, mineira e paulista tinham chegado a um consenso quanto à
independência com Dom Pedro no cargo de imperador, mas tinham algumas
divergências entre si.
Ainda
em Agosto, Dom Pedro viajou a São Paulo visando pacificar as disputas políticas
locais e fortalecer a posição de José Bonifácio. Voltava da cidade paulista de
Santos quando recebeu as cartas das Cortes portuguesas acompanhadas de outras,
escritas por suas esposas, Dona Leopoldina, e pelo ministro José Bonifácio. Nas
cartas vindas de Portugal, os deputados das Cortes ameaçavam iniciar uma guerra
enviando tropas ao Rio de Janeiro, caso o príncipe não voltasse para Lisboa. Já
a carta de José Bonifácio dizia que só existiam dois caminhos: ou voltar para
Portugal como prisioneiro das Cortes portuguesas ou proclamar a Independência,
tornando-se imperador do Brasil. Dom Pedro optou por romper com Portugal e, em
7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, retirou do chapéu as fitas
com as cores vermelha e azul das Cortes portuguesas. O ato de Dom Pedro ficou
conhecido como o Grito do Ipiranga.
Representação da Independência do Brasil |
Na época, o sete de setembro não teve a importância que lhe
foi atribuída mais tarde. A data usada para marcar a emancipação política do
Brasil era o Doze de Outubro, dia da aclamação de Dom Pedro I. Sua coroação
como imperador do Brasil ocorreria em 1º de dezembro de 1822. Como parte dos
preparativos desse evento, o Imperador encomendou ao francês jean-Baptiste
Debret uma pintura, que faria sua estreia em uma apresentação extraordinária no
Teatro da Corte.
O Império fundado por Dom Pedro I, porém, não teve aceitação
pacífica em todas as províncias brasileiras. Na Bahia, no Grão-Pará, no
Maranhão, no Piauí e no Ceará houve conflitos armados.
Na Bahia, as forças portuguesas, comandadas pelo coronel
Madeira de Melo, recusaram-se a aceitar a emancipação política do Brasil e
ocuparam Salvador, onde prenderam o líder da resistência baiana, Freitas
Guimarães. A resistência baiana se deslocou, então, para a região do Recôncavo.
Conseguir o reconhecimento da independência também não foi
tarefa fácil. As nações absolutistas, que formavam a Santa Aliança, opunham-se
ao Liberalismo na Europa e ameaçavam frustrar a emancipação política
latino-americana.
Os Estados Unidos, por sua vez, tinham interesse em proteger
a América contra a política intervencionista da Santa Aliança e a influência europeia.
Isso ajuda a explicar por que, com base na Doutrina Monroe, os Estados Unidos foram
o primeiro país a reconhecer a independência política do Brasil, fato ocorrido
em 1824.
Pressionado pela Inglaterra, Portugal reconheceu a emancipação
do Brasil em 1825, exigindo para isso:
- · O pagamento de 2 milhões de libras;
- · O título honorário de imperador do Brasil para Dom João VI;
- · O compromisso de não aceitar a adesão ao Brasil de nenhuma colônia portuguesa na África;
Para
pagar a dívida assumida com Portugal, o Brasil de Dom Pedro I pediu um
empréstimo aos banqueiros ingleses. Estes concordaram em emprestar o dinheiro,
mas, como Portugal tinha uma dívida com a Inglaterra, o dinheiro não chegou a sair
dos cofres ingleses.
D. Pedro I |
Uma
Assembleia Constituinte formada de deputados das várias províncias brasileiras
começou a se reunir no Rio de Janeiro em maio de 1823, a fim de elaborar uma
Constituição. Não tardaram a surgir divergências entre Dom Pedro I e os
deputados. No discurso de abertura da Assembleia, ele jurou que defenderia a
futura Constituição “se fosse digna do Brasil e dele próprio”.
O projeto
de Constituição, de autoria de Antônio Carlos de Andrade e Silva, irmão de José
Bonifácio, dizia que:
·
O Imperador não podia dissolver a Assembleia (Câmara
dos Deputados e Senado);
·
Os senadores seriam indicados pelo imperador,
a partir de uma lista tríplice eleita em cada província;
·
Para ser eleitor, era preciso ter uma renda
mínima equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca (com isso, excluía-se
da vida política imensa maioria da população);
·
Os estrangeiros não podiam se candidatar aos
cargos de deputado ou senador; o artigo visava afastar do poder os portugueses
aliados do imperador;
A partir
daí aumentaram as divergências entre o imperador e os deputados, com acusações
de lado a lado. Os deputados passaram a noite acordados debatendo a situação,
por isso aquela noite foi apelidada de Noite da Agonia. Na manhã seguinte, Dom
Pedro I tomou uma medida extrema: dissolveu a Assembleia Constituinte e mandou
prender vários deputados, entre os quais estavam os irmãos Andrada. A seguir,
prometeu um novo projeto da Constituição duas vezes mais liberal do que o
anterior.
Dom
Pedro I, no entanto, não convocou uma Nova Assembleia, mas nomeou um Conselho de
Estado composto por 10 homens de sua confiança para escrever uma Constituição
em 40 dias.
A primeira
Constituição brasileira, e única do Império, foi outorgada em 25 de março
de1824 e definia o governo como uma monarquia constitucional hereditária. O país
foi dividido em províncias, cujos presidentes seriam nomeados pelo imperador.
Os poderes
instituídos nessa Constituição eram quatro:
·
Poder Executivo: imperador e ministros de
Estad. Sua função era administrar o país.
·
Poder Legislativo: Câmara dos Deputados e
Senado. Sua função era elaborar, discutir e aprovar leis. O cargo de deputado
era temporário (durava quatro anos); já o de senador era vitalício. Cada província
elegia três candidatos, e o imperador nomeava um deles para o cargo de senador.
·
Poder Judiciário: juízes e tribunais,
encarregados da aplicação das leis e do julgamento dos infratores. Os magistrados
do Supremo Tribunal eram nomeados pelo imperador.
·
Poder Moderador: exclusivo do imperador, que
podia dissolver a Câmara e convocar eleições para renová-la; nomear presidentes
de província; convocar as Forças Armadas; aprovar ou vetar as decisões da
Câmara e do Senado. Enfim, o poder moderador permitia ao imperador colocar-se
acima dos demais poderes.
O Conselho
de Estado era formado por conselheiros vitalícios nomeados pelo imperador e
opinava sobre questões políticas internas e externas do país.
O voto
era indireto e censitário. Indireto, porque primeiramente os votantes escolhiam
os eleitores, que, por sua vez, escolhiam os deputados e os senadores. Censitário,
porque dependia de rendimentos. Para ser eleitor era preciso ter uma renda
anual de no mínimo 100 mil-réis; para ser candidato a deputado, uma renda de
400 mil-réis; e para senador, 800 mil-réis. Não podiam ser eleitores os criados
de servir, os menores de 25 anos e os libertos, mesmo tendo renda suficiente.
Na Constituição
não havia referência às mulheres: elas estavam excluídas dos direitos políticos
pelas normas sociais
A religião
oficial do Império continuou sendo a católica romana. Qualquer outra religião era
proibida , sendo permitido apenas seu culto doméstico, sem forma alguma
exterior de templo.
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