Túpac Amaru |
Como parte de sua política colonial, a
coroa espanhola delegava a curacas a responsabilidade de governar, em nome dela,
as populações indígenas do Vice-Reino do Peru. Esses curacas eram batizados com
nomes cristãos e estudavam em colégios católicos, onde aprendiam valores e
conhecimentos presentes na cultura espanhola.
Um desses curacas, José Gabriel Condorcanqui,
descendia da nobreza inca e tinha sido finamente educado, tendo frequentado
inclusive a Universidade de São Marcos, cujo currículo era semelhante ao da
universidade espanhola de Salamanca. Por seu carisma e preparo. Condorcanqui
assumiu a liderança de diversos pueblos (povoados) localizados na província de
Tinta, no vice-Reino do Peru. Cada Pueblo tinha o dever de pagar à coroa
espanhola um imposto e de enviar um certo número de indígenas para o
cumprimento da mita, trabalho forçado realizado durante um parte do ano.
Na segunda metade do século XVIII, as
autoridades espanholas aumentaram os impostos cobrados dos pueblos e
endureceram o controle sobre esses povoados, diminuindo, com isso, o poder dos
curacas.
Vendo que a opressão sobre os mitayos
(trabalhadores obrigados ao cumprimento da mita) aumentava e que o poder dos
curacas tinha diminuído, Condorcanqui tentou negociar com as autoridades. Solicitou
que os indígenas de seus pueblos não tivessem mais de cumprir com a mita nas
minas de São Luís do Potosí, região alta e muito fria, na atual Bolívia. Ele justificou
seu pedido, argumentando que os mitayos tinham de caminhar meses para chegar às
minas, que adoeciam no caminho e que abandonavam suas plantações sem cuidados
por longo tempo. E acrescentou que, nas minas, as mortes por soterramento eram frequentes.
Nada disto comoveu os representantes da
Espanha; Gabriel Condorcanqui adotou o nome de Túpac Amaru, nome do último
líder da resistência inca aos espanhóis, e optou então pela revolta. O levante
teve início em novembro de 1780, com a prisão, seguida de enforcamento, do
corregedor Antônio Arriaga, autoridade colonial responsável pela cobrança de
impostos e pela distribuição dos indígenas nos locais de trabalho.
À frente das forças rebeldes, compostas de dezenas de
milhares de indivíduos, indígenas em sua maioria, Túpac Amaru marchou em direção
a Cuzco, antiga capital inca. Os realistas, no entanto, com reforços chegados
de Lima, conseguiram refrear os rebeldes. Túpac Amaru recuou com sua gente para
Tinta, onde chegou a assinar um documento abolindo a mita e todas as formas de
trabalho forçado nas minas e manufaturas.
Em abril, os realistas ajudados por criollos e alguns
curacas cercaram os rebeldes provocando muitas baixas entre eles. A seguir,
Túpac Amaru e seus principais colaboradores sofreram uma emboscada e foram
capturados. Em 18 de maio de 1781, Túpac Amaru foi enforcado na praça central
de Cuzco, teve sua língua cortada e seu corpo esquartejado; sua cabeça foi
exposta em diferentes pontos da cidade. A Revolta de Túpac Amaru teve
importantes desdobramentos no Vice-Reino do Peru: os curacas perderam as
prerrogativas que tinham e o medo de um levante da maioria indígena contra uma
minoria branca assombrou as elites locais durante muito tempo ainda.
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