quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O Segundo Reinado


        Interessados em derrubar os conservadores e manter privilégios ameaçados por rebeliões, como a Balaiada e a Farroupilha, os liberais passaram a divulgar que só um imperador poderia “salvar a nação” da desordem. Como Pedro de Alcântara contava com apenas 14 anos, eles lançaram uma campanha em jornais e revistas em prol da antecipação da maioridade, que logo ganhou o apoio de boa parte da população.
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D. Pedro II 
        Em pouco tempo, as manobras dos liberais e a força da propaganda surtiram efeito. Em 23 de julho de 1840, a Assembleia votou a maioridade de Dom Pedro de Alcântara e o aclamou imperador do Brasil. Com o golpe da maioridade e a ascensão dos liberais ao poder, iniciava-se o reinado de Dom Pedro II, que se estendeu por quase meio século.
        No poder, os liberais praticaram todo tipo de fraude para garantir a vitória nas eleições para a Câmara dos Deputados: pagaram valentões para surrar eleitores, roubaram urnas e qualificaram crianças, escravizados e defuntos como eleitores. Com isso, venceram as eleições que, por incluírem a violência, ficaram conhecidas como eleições do cacete.
        Derrotados, os conservadores pressionaram o imperador para que anulasse as eleições. Ele o fez e, a seguir, inaugurou o rodízio entre os partidos, nomeando, em 1841, um novo ministério de perfil conservador que deu continuidade à centralização política, aumentando a força do Estado sobre a Justiça e a polícia nas províncias.
        A Constituição do Império, outorgada em 1824, possibilitava ao imperador a concentração de uma enorme soma de poder em suas mãos. O imperador podia dissolver a Câmara e convocar eleições para renová-la; nomear presidentes de província; convocar as Forças Armadas; aprovar ou vetar as decisões da Câmara e do Senado, e perdoar sentenças dadas pelo poder judiciário.
        Era o imperador também quem indicava o presidente do Conselho de ministros. Estes, por sua vez, escolhia o ministério (ou gabinete) e o apresentava à Câmara dos Deputados. Se o ministério fosse aprovado pela Câmara, passava a exercer o Poder Executivo. Se fosse reprovado, a decisão caberia a Dom Pedro II, que, geralmente, dissolvia a Câmara e marcava novas eleições, conseguindo, assim, impor sua vontade.
        Os dois grandes partidos do reinado de Dom Pedro II – o Liberal e o Conservador – representavam as elites do Império e tinham, entre si, muitos pontos em comum, a saber: o interesse na manutenção da ordem, do escravismo, da unidade territorial e das autoridades constituídas. Tanto uns quanto outros tinham interesse na estabilidade do regime, que mantinha seus privilégios e excluía a maioria da vida política nacional. Isso ajuda a explicar por que o político pernambucano Holanda Cavalcante afirmou: “Nada tão parecido com um Saquarema quanto um Luzia no poder”. Era comum também os políticos mudarem de um partido para outro.
        Havia também algumas diferenças entre eles: os liberais eram favoráveis à descentralização e à maior autonomia das províncias. Já os conservadores defendiam a centralização política como condição para impor a ordem. No entanto, as semelhanças entre eles eram maiores que as diferenças. Prova disso é que, durante o Segundo Reinado, liberais e conservadores chegaram a governar juntos, compondo um mesmo ministério: o Ministério de Conciliação. Esse jogo de alternâncias e alianças contribuiu para a estabilidade e a longevidade do Império.
        A partir de 1834 – quando superou o açúcar como principal produto de exportação brasileiro -, o café uniu o centro político ao centro econômico, contribuindo, assim, para a consolidação do Estado imperial.
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        Introduzido no Brasil via Belém, no Pará, por volta de 1727, cafeeiro nos primeiros tempos era considerado planta de quintal e servia apenas ao consumo doméstico. No final do século XVIII, os cafezais ocuparam as encostas próximas ao Rio de Janeiro e, em seguida, avançaram pelas terras do Vale do Paraíba fluminense e paulista, o berço da cafeicultura comercial brasileira.
        Na década de 1820, o café tornou-se o terceiro produto da pauta das exportações brasileiras (18,4%), só perdendo para o açúcar (30,1%) e para o algodão (20,6%). Na década de 1830, passou a ser principal produto brasileiro de exportação (43%) e, na segunda metade do século XIX, chegou a responder por mais de 60 % das exportações brasileiras.
        A expansão da cafeicultura no Vale do Paraíba pode ser explicada pelos seguintes fatores:
Ø Abundância de terra e mão de obra escravizada: a terra foi concedida por D. João VI aos cafeicultores em forma de sesmarias e o trabalho cabia aos milhares de africanos escravizados trazidos pelo tráfico atlântico;
Ø Mercado externo em expansão: o hábito de beber café tornou-se moda na Europa e nos EUA, o que gerou um aumento da demanda internacional do produto;
Ø O cafeeiro podia durar 30 anos ou mais, enquanto a cana tinha de ser replantada a cada três anos;
Ø O café se deteriorava menos do que a cana durante o transporte.

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Da década de 1830 até a de 1880, o café produzido no Vale do Paraíba fluminense e paulista tornou-se a principal riqueza do Império. Daí a expressão muito usada na época: “O Brasil é o vale”. Enriquecidos, os cafeicultores do Vale, conhecidos como “barões do café”, foram a principal base de sustentação política do Império. Nas fazendas, a mão de obra predominante foi a de africanos escravizados e seus descendentes.
O Vale do Paraíba foi próspero enquanto produziu café. Em pouco tempo, o desmatamento e a erosão (desgaste da terra pela ação da água das chuvas e outros agentes) foram esgotando o solo. Nessa região, os arbustos de café eram plantados em terrenos altos e muito inclinados. Sem a proteção das árvores na época das chuvas, a enxurrada acabava arrastando a camada fértil do solo. Conforme o solo ia se esgotando, os cafezais seguiam em busca de terras férteis. Partiam, deixando para trás “cidades mortas”, como escreveu Monteiro Lobato.
Aos poucos, os cafezais foram deixando o Vale do Paraíba e ocupando o Oeste Paulista, onde o café encontrou a “terra roxa”, solo fértil e ideal para o seu crescimento. Em 1870, a cidade de Campinas, em São Paulo, já produzia mais café do que a cidade de Vassouras, líder do Vale do Paraíba, e pelo porto da cidade de Santos, também em São Paulo, já se exportava mais café do que pelo porto do Rio de Janeiro. Em alguns anos, as ondas verdes de café já cobriam o trecho que vai de Campinas a Ribeirão Preto.
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Já no centro-sul, quase toda malha ferroviária foi construída visando ao escoamento do café. Pensando em agilizar o transporte desse produto, o Barão de Mauá planejou a construção de uma ferrovia ligando Jundiaí a Santos, passando pela cidade de São Paulo. O plano de Mauá se concretizou em 1968, com a inauguração da São Paulo Railway. Os capitais, os técnicos e os materiais usados na construção dessa importante ferrovia eram, no entanto, predominantemente ingleses.
A partir de Jundiaí, o avanço dos trilhos foi inteiramente financiado por capitais brasileiros, principalmente dos cafeicultores do Oeste Paulista, que pensavam como empresários: compravam terras, importavam máquinas e investiam na expansão das ferrovias.
Assim, conforme as “ondas verdes de café” avançavam, ia se multiplicando o número de ferrovias, como a Paulista, a Mogiana, a São Paulo-Rio e a Ituana. Essa malha ferroviária abriu o interior de São Paulo à cultura do café, diminuiu o custo do transporte, aumentou os lucros dos cafeicultores e transformou o porto de Santos em um grande centro de comercialização do produto. Os grandes fazendeiros deixavam suas fazendas sob a responsabilidade de administradores e construíam casas nas cidades, onde abriam negócios, estimulando, assim, a urbanização e a modernização.

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