Costuma-se
designar Iluminismo ou Ilustração ou, ainda, Filosofia das Luzes, o movimento
intelectual de renovação filosófica e intelectual que atingiu sua maturidade e
maior expressão na França, no século XVIII.
Também na
França, as contradições características do Antigo Regime se acirraram
(privilégios do clero e da nobreza, reação aristocrática visando manter
intactos os “seus direitos” seculares, permanência de relações sociais e ainda
predominantemente feudais que entravavam as forças capitalistas emergentes,
etc.).
Esse
movimento intelectual tinha como fundamentos a crença inabalável na razão e a
ideia de que o progresso do homem pode ser infinito, desde que o espírito
humano, por meio do livre exercício de suas faculdades, liberte-se do emaranhado
de superstições, do misticismo e das “trevas”, a que até então estivera
subordinado.
Como
desdobramento natural da filosofia iluminista, verificou-se um desprezo pelo
passado, com a rejeição das velhas crenças e antigas tradições. No contexto do “século
das luzes”, mais uma vez a Idade Média foi objeto de críticas, reforçando-se estereótipos
construídos à época do Renascimento. Com isso, tanto o Antigo Regime quanto
suas instituições – a sociedade estamental ou de “ordens”, baseada nos
privilégios de nascimento, as religiões tradicionais (em especial o
catolicismo) e a Igreja – passaram a ser objeto das críticas dos filósofos e
propagandistas das “luzes”.
Voltaire |
Afirmou-se,
de maneira crescente, o pensamento anticlerical, embora a grande maioria dos
pensadores iluministas não negasse a existência de Deus. A esse respeito, Voltaire, um dos pensadores iluministas, de maneira irônica, afirmou: “As religiões
são como garimpos; só brilham onde há escuridão”.
A
síntese do pensamento iluminista ´pode ser encontrada na Enciclopédia ou
Dicionário Crítico das Ciências, das Artes e das Profissões, obra que compreendia
um total de 35 volumes e que foi publicada, apesar das censuras, entre 1751 e
1780. Verdadeiro emblema das “luzes”, dirigida por Diderot e D’Alembert,
propunha expor a ordem, o encadeamento do conhecimento em todas as áreas
(ciência, artes, política, religião, etc) e suas respectivas relações, na
perspectiva do pensamento iluminista.
A crítica
às proibições impostas pelos soberanos absolutistas e às teorias que
justificavam o poder absoluto dos reis se multiplicaram na segunda metade do
século XVIII. Cada vez mais, os pensadores, refletindo o espírito de toda uma
época e o inconformismo com as estruturas político-jurídicas do Antigo Regime,
defendiam a mais ampla liberdade de expressão. No campo político destacaram-se
Rousseau (1712-1778) e o Barão de Montesquieu. Enquanto o primeiro defendia, inclusive, a ideia de
soberania popular, o segundo, em sua obra clássica “O Espírito das Leis”,
propunha a tripartição dos poderes (executivo, legislativo e judiciário).
Rousseau |
No entanto,
Jean-Jacques Rousseau é considerado o mais expressivo pensador do Iluminismo,
tendo sido responsável por formular as bases da concepção moderna de
democracia. Para ele, os homens estabeleceram um pacto de união organizando uma
comunidade política que deve ser a expressão da vontade geral. Assim, o governo
exerceria o poder de acordo com essa vontade geral e soberana do povo.
Em sua
obra “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens",
Rousseau afirmou: “Pudera escolher o lugar de meu nascimento (...). Teria
desejado nascer em um país onde o soberano e o povo pudesse ter apenas um único
e mesmo interesse, para que todos os movimentos da máquina (do Estado) se
dirigissem sempre para a felicidade de todos. Não sendo isso possível, a menos
que povo e soberano fossem só pessoa, conclui-se que eu desejaria ter nascido
sob um governo democrático sabiamente constituído”.
Nos séculos
XVII e XVIII, o Antigo Regime, suas instituições e suas práticas econômicas
mercantilistas se desestruturaram em virtude de movimentos revolucionários, nos
quais a participação popular foi decisiva, como na Revolução Francesa de 1789. Também
observaram-se revoluções concretizadas nas instituições do Antigo Regime, que
atendia aos interesses da burguesia. Esta, em muitos países, até mesmo em
função do temor provenientes dos movimentos sociais, compôs-se com setores
reformistas da aristocracia.
As
revoluções, entendidas como o “pesadelo” dos grupos dominantes, deveriam ser
evitadas a qualquer custo. Nesse sentido, o reformismo político, que ficou
conhecido como Despotismo Esclarecido, tornou-se um dos mecanismos principais,
em muitos países europeus, de controle das aspirações populares. Os governantes
autoritários, mesmo não abrindo mão de seu poder absoluto, aceitaram atender
algumas determinações advindas do Iluminismo.
Assim
como nos planos filosófico, político, social e religioso o Antigo Regime fora
questionado pela “Filosofia das Luzes” e pelos “enciclopedistas”, também o
mercantilismo, política econômica dos Estados absolutistas na época de transição
feudalismo/capitalismo, foi questionado teoricamente pelos chamados
économister. Os filósofos iluministas acreditavam na existência de leis
naturais que regiam a dinâmica da economia, na liberdade de mercado, no individualismo
econômico, na livre concorrência, na liberdade de contrato e na livre iniciativa
e fundamentados no racionalismo (tal como os iluministas), eles eram
radicalmente contrários a qualquer intervenção estatal na economia. Seu lema
era “laissez faire, laissez passer”, ou seja, deixai fazer, deixai passar” (as
mercadorias), o mundo vai por si mesmo.
Por
fim, as novas relações sociais de produção deveriam ser definidas pela
liberdade de contrato entre capital e trabalho, com base na livre negociação
entre as partes, e não mais subordinadas pelos regulamentos das antigas
corporações de ofício, por exemplo. Evidentemente, esse “novo mundo”, baseado
no progresso e na liberdade de mercado e tão sonhado pela Economia Política, a
qual procurou sistematiza-lo em bases científicas, encerrava em si uma
contradição elementar. Esta resultava de um conflito inerente à sociedade liberal, burguesa, capitalista e industrial:
a existência de uma classe social que detinha os meios de produção – os capitalistas;
e de uma classe expropriada, obrigada a vender sua força de trabalho em troca de
salários e que tinha de si apenas a prole – os proletários.
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