Tal como a independência dos EUA, a
Revolução Francesa foi um conjunto de acontecimentos que sofreu a influência
dos valores iluministas que se difundiam na Europa no século XVIII. Sua
importância deve-se ao fato de ela ter contribuído para a superação, tanto do
absolutismo monárquico, quanto da sociedade estratificada que caracterizavam o
Antigo Regime, não apenas na Franca. Seu eco pôde ser sentido nas Américas, até
mesmo entre os revoltosos brasileiros, e por várias partes do planeta nas
décadas seguintes.
O principal lema da Revolução
Francesa era “liberdade, igualdade e fraternidade”. Entretanto, essa frase não
significava a mesma coisa para todos os que, envolvidos nos acontecimentos de
1789, estavam unidos para a derrubada do Antigo Regime. Para a burguesia,
liberdade significava o fim dos monopólios, que a impediam de exercer suas
atividades comerciais livremente, expressar suas opiniões e de defender seus
interesses sem nenhum tipo de censura. Para os camponeses, liberdade tinha
outro significado: o fim da condição servil. Para eles, liberdade era livrar-se
da condição servil e da submissão aos senhores de terra. Para os trabalhadores
pobres da cidade, liberdade era o direito de negociar melhores salários e de
opinar nos destinos do país.
A ideia de igualdade também possuía
diferentes interpretações: para a burguesia, queria dizer igualdade civil, ou
seja, o fim dos privilégios da nobreza e do clero e a conquista de direitos
políticos; para os camponeses e trabalhadores pobres das cidades, destituídos
de poder político e econômico, igualdade simbolizava a supressão da opressão e
da situação de miséria, visando a conquistas não apenas políticas, mas também
econômicas em direção à igualdade social.
Durante o século XVIII, os avanços
científicos, o progresso material e científico aumentou a população de 18 para
25 milhões de habitantes. A expansão econômica foi acompanhada pelo
fortalecimento econômico da burguesia. O mesmo desenvolvimento não ocorreu no
plano social e político. Porém, o regime de servidão ainda vigorava para a
maioria da população, enquanto o clero e a nobreza continuavam a gozar de
privilégios como: isenção de tributos, julgamentos e punições diferenciadas da
destinada aos membros do Terceiro Estado. O resultado desta desigualdade era
que recaía nas costas do Terceiro Estado o peso de sustentar o conjunto da
França, suas guerras e gastos luxuosos. Traduzido no cotidiano dos
trabalhadores, isso queria dizer que 80% da sua renda era destinada ao
pagamento dos impostos, que só eles pagavam.
A burguesia, apesar dos seus ganhos
crescentes, também se via limitada pelo controle estatal sobre a economia, pois
sobre ela e seus negócios também recaíam as taxações e as proibições.
Além das guerras que a Monarquia
Francesa achava indispensáveis à sua política externa, como a Guerra dos Sete
Anos e o auxílio econômico oferecido aos norte-americanos durante a Guerra de
Independência, a crise se tornou mais aguda com a grande seca de 1785, que
destruiu boa parte do rebanho nacional.
A esse quadro, somavam-se os altos
custos para a manutenção da corte, cujo luxo expressava o poderio e o esplendor
de toda a França. As saídas apontadas pelos ministros de Luís XVI, longe de
resolver a crise, acabaram por agravá-las ainda mais. Todos eram unânimes, isto
é, estavam de acordo com a ideia de que era preciso aumentar a arrecadação. Mas
quem iria pagar os novos impostos? O Terceiro Estado dizia já não ter mais
condição de fazê-lo e a Nobreza e Clero recusavam-se a pagar.
O parlamento francês era denominado
Estados Gerais, porque nele achavam-se representados os três Estados, ou seja,
os três grupos sociais que compunham a sociedade francesa. Assim, cada Estado tinha
o direito a um voto, independentemente do número de pessoas que representava. Esse
sistema dava enorme vantagem ao clero e à nobreza, que, com objetivos comuns,
votavam sempre juntos, garantindo a manutenção dos seus privilégios.
Na abertura da reunião dos Estados
Gerais, o Terceiro Estado, que representava a burguesia e o povo francês,
exigiu a substituição da tradicional votação por Estado pela votação por
cabeça, na qual cada deputado teria direito a um voto, pois cedendo às pressões
do Terceiro Estado, Luís XVI tinha elevado o número dos seus representantes
para 500, enquanto o Primeiro contava com 247 e a Nobreza com 188.
Os deputados do Terceiro Estado
esperavam obter, assim, maioria absoluta sobre demais votos das ordens
privilegiadas.
A oposição dos demais Estados à
mudança do critério de votação estabeleceu um impasse político. Luís XVI
determinou o encerramento das atividades parlamentares e o fechamento da sala
onde se reuniam os deputados.
O Terceiro Estado, então, reuniu-se
numa outra sala e, com a participação de alguns membros do Primeiro e do
Segundo Estados, fizeram o juramento, que ficou conhecida como “juramento da
Sala do Jogo Péla”. Esse ato iniciou a formação de uma Assembleia Nacional
Constituinte. Em todas as decisões contaram com o apoio maciço do povo de Paris
e arredores, deixando o rei e a nobreza bastante isolados.
Enquanto Luís XVI tentava reunir
tropas para anular a rebeldia dos deputados e sufocar as diversas manifestações
populares de apoio à Assembleia Nacional, os populares armazenavam armas e
organizavam a “milícia de Paris”, um grupo militar disposto a enfrentar as
forças absolutistas. Em 14 de Julho, grande parte número de populares,
incluindo mulheres, invadiu e tomou a prisão da Bastilha, onde se supunha haver
muitas armas e prisioneiros, embora estivesse praticamente desativada. Para garantir
o poder da Assembleia Nacional Constituinte, os deputados decidiram criar um
exército revolucionário, a Guarda Nacional, organizando as milícias populares.
Em Paris, menos de um mês após a
tomada da Bastilha, a Assembleia Nacional aprovava o fim dos privilégios
feudais e, em seguida, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
documento que regulamentava os direitos humanos e a cidadania, estabelecendo o
direito à igualdade de todos os franceses perante a lei, o direito à liberdade
e a defesa da propriedade.
A queda da Bastilha |
Para resolver a crise financeira que
se agravava com a rebelião, os deputados decidiram, em 1790, confiscar os bens
da Igreja e tornar cidadãos comuns os indivíduos pertencentes ao Primeiro
Estado por meio da Constituição Civil do Clero. Os padres que não juraram esse
documento foram chamados de refratários e considerados inimigos da Revolução.
Pouco depois, em setembro de 1791, a Assembleia
finalizou a primeira Constituição francesa, estabelecendo a Monarquia
Constitucional em substituição à Monarquia Absolutista. Instituía-se a
separação dos poderes, com Luís XVI assumindo o Executivo, mas limitado pelo
Executivo (assembleia de deputados) e pelo Judiciário. A eleição dos deputados,
entretanto, seria feita de acordo com a renda dos cidadãos (voto censitário).
Em agosto, o rei foi destituído de
suas funções e preso com sua família. No dia 20 de setembro, as tropas da
Revolução obtiveram sua primeira grande vitória sobre o exército
austro-prussiano, que tentava inibir os avanços do processo revolucionário.
Com a suspensão de Luís XVI, a
Constituição de 1791 e o regime de governo adotado – a Monarquia Constitucional
– ficavam sem efeito. Assim, uma nova Assembleia foi organizada para redigir
uma nova Carta. Essa Assembleia acumulava as funções dos poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário e passou a chamar-se de Convenção.
A primeira decisão tomada pela
Convenção foi a abolição da realeza e a proclamação da República, em 22 de setembro
de 1792. Decidiu-se também que o rei deveria ser julgado por traição. Na convenção
as decisões não era fáceis de serem tomadas. De um modo geral, os membros da
Convenção se organizavam em três grupos:
· Girondinos:
Eram os deputados representantes da alta burguesia. Defendiam a consolidação da
monarquia constitucional e censitária e a moderação revolucionária. Seus deputados
sentavam-se à direita no plenário da Assembleia, e por isso foram denominados
também de Partido da Direita.
· Pântano:
O grupo também era composto por membros da alta burguesia, porém não
apresentavam convicções políticas definidas. Oscilavam entre a moderação e o
radicalismo. Seus representantes sentavam-se no centro da Convenção e. por esse
motivo, foram denominados Partido de Centro.
· Jacobinos:
Congregavam os Sans-culottes e a pequena burguesia. Boa parte dos seus
deputados sentava-se à esquerda no plenário da Convenção, ficou conhecida como
republicanos radicais.
Maximilien Robespierre |
À medida que a revolução se tornava
mais radical, os jacobinos foram ganhando força e o controle do governo. A guerra
avançava, havia inflação e fome, e os jacobinos, liderados por Maximilien
Robespierre, acreditavam que o Estado deveria assegurar a todos os cidadãos os
bens necessários à sobrevivência, mesmo que para isso tivesse que negar o
direito à propriedade privada. A França e os cidadãos franceses estavam em
perigo e tudo deveria ser feito para salvá-los, diziam os jacobinos com o apoio
dos sans-culottes.
A execução do rei Luís XVI indignou e
aterrorizou os governantes europeus, que, amedrontados, organizaram uma série
de invasões estrangeiras ao território francês. As regiões favoráveis ao rei
foram dominadas, e seus líderes, punidos com a pena de morte. No tribunal
revolucionário parisiense, quem fosse acusado de contarrevolucionário recebia,
sem qualquer tipo de apelação, a sentença de morte. Calcula-se que, entre 1793
e 1795, época denominada de fase do Terror, cerca de 17 mil pessoas tenham sido
sumariamente executadas.
Guilhotina usada pelos Jacobinos |
No entanto, as divergências entre os
jacobinos, somadas às dificuldades militares e econômicas, enfraqueciam o
governo da Convenção, liderado por Robespierre. Para continuar o poder, ele
adotou, então, medidas extremas: condenou Danton, o líder dos jacobinos
moderados, bem como os principais chefes radicais, como Hébert, à morte na guilhotina. Sem poupar os próprios membros da Convenção, a prática do Terror
tornou cada vez mais impopular o governo jacobino.
Aproveitando-se da situação, os
girondinos desfecharam um golpe contra Robespierre. Defendendo o fim do Terror
e condenando o “banho de sangue” jacobino, os girondinos invadiram a Convenção
e assumiram o governo da França. Robespierre foi preso, condenado e executado
na guilhotina em Julho de 1794. Como o golpe acontecera no dia 9 do mês
termidor, segundo o calendário da Revolução, denominou-se a retomada do poder
pela alta burguesia francesa de reação termidor.
Os dirigentes termidorianos redigiram
uma terceira constituição, e criaram um governo denominado Diretório. Restabelecia-se
assim o caráter censitário para a eleição dos deputados e determinava-se que o
poder executivo, órgão máximo do governo, seria composto por cinco membros.
As ameaças internas contra o Diretório
somava-se contra o Diretório somava-se às externas, pois os exércitos absolutistas
continuavam a atacar a França. Além disso, a crise econômico-financeira
aprofundara-se ainda mais, estimulando o descontentamento e as manifestações
populares.
Napoleão Bonaparte |
Entre os deputados mais moderados, era
forte o desejo de estabelecer um governo eficiente na pacificação do país e na
defesa das conquistas burguesas da Revolução. Dessa forma alguns membros do
Diretório articularam um golpe de Estado que levou ao poder o principal líder
militar da França naquele momento: Napoleão Bonaparte.
Em 9 de novembro de 1799, Napoleão derrubou
o Diretório e instaurou o Consulado, assumindo como primeiro cônsul. O episódio
ficou conhecido como Golpe do 18 Brumário. Para alguns historiadores
representou o fim do processo revolucionário francês e o início da fase da
consolidação das conquistas burguesas.
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