O povo que desconhece a sua
história está fadado a cometer os mesmos erros do passado. A nossa herança,
marcada pelo autoritarismo dos militares, ocultada pela grande mídia, se renova
com intensidade a poucos meses das eleições. Vivemos dias obscuros, onde o
discurso de ódio e de intolerância ganha repercussão em vários níveis da
sociedade.
Na última quarta-feira (4)
a CNI (Conferência Nacionais dos Industriais) realizou uma sabatina com os
presidenciáveis. Essa é uma organização que aglutina os interesses financeiros
dos grandes empresários do país. A finalidade do referido evento foi
sistematizar um conjunto de ideias dos pré-candidatos à presidência, no que se
refere, principalmente, aos projetos destinados ao setor da economia.
Todavia, deve-se ressaltar
que o líder de todas as pesquisas de intenção de votos foi excluído da sabatina.
Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, não foi convidado para participar
do evento, mesmo sabendo que a Constituição Federal estabelece que ele tem o
direito de concorrer ao pleito em outubro. Além do petista, outros candidatos
do campo progressista, como a Manuela D’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos
(PSOL), também não foram convidados para apresentar as suas propostas para o
desenvolvimento econômico do Brasil, caso conquistem a maioria dos votos.
Esse fato já demonstra a
inclinação dos empresários brasileiros, preocupados em atender os próprios
interesses financeiros, mesmo que para isso a grande maioria da sociedade tenha
que morrer de fome, diante da grave recessão econômica. Inexiste a preocupação
com a distribuição de renda e a inclusão dos mais pobres no orçamento da União.
O único objetivo consiste em saciar sua
sede por lucros exorbitantes e, mormente, entregar as riquezas nacionais para
grupos estrangeiros (como acontece atualmente com o governo golpista).
Dois momentos da sabatina
foram relevantes para corroborar a tese do sociólogo Jessé Souza no que se
refere à classificação das classes dirigentes do país. É uma “elite do atraso”,
onde a consciência política e social está comumente associada a uma concepção de
nação desprovida do verdadeiro sentido nacional. Um dos episódios do evento foi
a proliferação de preconceitos do fascista Jair Bolsonaro (PSL). O candidato
fez um discurso voltado para a disseminação do ódio e o repúdio às camadas mais
pobres da sociedade. O elemento assustador foi o fato de que os empresários se
levantaram para aplaudir a encarnação de Hitler à versão brasileira.
Segundo Bolsonaro “hoje
estão tirando nossa alegria de viver, não podemos mais contar piadas de
afrodescendentes, de cearenses, de goianos”. Ele fez referência ao processo que
vigora no Supremo Tribunal Federal por injúria e incitação ao racismo."
Impossível dissociar a nefasta ação do candidato do PSL ao Nazismo que, deve-se
enfatizar, também obteve o apoio de setores empresariais na Alemanha em meados
de 1920/30.
O relato do repórter Afonso
Benites de El País é
espantoso: "Bolsonaro não precisou mais do que superficialidades para ser
aplaudido. Uma das vezes foi quando reforçou o seu discurso de que parte de seu
primeiro escalão será ocupado por militares. 'Vou botar generais nos
ministérios, sim. Qual o problema? Os anteriores botavam terroristas e
corruptos e ninguém falava nada'.
O ataque ao sistema
democrático de direito é uma prerrogativa presente nos discursos do candidato.
Homenagear torturadores e o regime militar brasileiro, responsável pela adoção de
práticas de tortura e repressão é algo peculiar na postura de Bolsonaro. A nomeação
de ministros militares seria a própria intervenção, rasgando os princípios
constitucionais e democráticos que vigoram no Brasil desde a promulgação da
Carta Magna, em 1988.
O juiz chileno Miguel
Vazques, da Corte de Apelações de Santiago condenou oito oficiais do Exército
chileno, hoje na reserva, a 18 anos de prisão pelos assassinatos do ex-diretor
do Serviço de Prisões, Littre Quiroga e do cantor Victor Jara, no Estádio
Nacional do Chile, a 15 de setembro de 1973, quatro dias depois do golpe do
general Augusto Pinochet que derrubou e matou o presidente Salvador Allende.
Já
o Brasil aceita a prestação de homenagens a torturadores e, sobretudo, jamais
puniram os militares responsáveis por mortes e perseguições perpetradas durante
o período. Passados 43 anos, diferentemente do
que ocorre no Chile, nenhum assassino de Vlado, nem das outras centenas de
vítimas de crimes cometidos por militares durante a ditadura foi identificado
ou punido aqui entre nós.
Comandante do DOI-CODI, o
coronel Brilhante Ustra, além de jamais ter sido punido em vida pelas torturas,
pelas prisões, pelas mortes, foi elogiado, há dois anos, em pleno Congresso
Nacional pelo hoje presidenciável Jair Bolsonaro e seu rosto estampa camisetas
usadas por seus simpatizantes com o slogan "Ustra vive". Não sabemos
se é analfabetismo político mesclado com baixo poder cognitivo ou ignorância
sobre os acontecimentos históricos do nosso país. O fato é que a perpetuação do
ódio em nossa sociedade ganha impulso com o discurso do candidato.
Outro acontecimento
relevante da sabatina foi a vaia destinada ao candidato Ciro Gomes (PDT). Um
dos pontos mais importantes de seu discurso, onde ressaltou que fará uma
reformulação nos dispositivos constitucionais presentes na reforma trabalhista,
provocou a repulsa na plateia de quase 2 mil empresários. Deve-se enfatizar que
a CNI foi uma base de apoio do golpista Michel Temer na retirada dos direitos
históricos conquistados pela classe trabalhadora. A categoria patronal
encontra-se na vanguarda do movimento golpista, principalmente no que tange à
entrega das riquezas nacionais a grupos estrangeiros.
Segundo o candidato
pedetista, o seu projeto seria discutido com representantes dos patrões,
empregados e de universidades. “Meu compromisso com as centrais sindicais é
trazer essa bola de volta ao meio de campo”. Após ser vaiado, ele disse: “É
assim que vai ser. Ponto final”. Mais vaias, que provocaram uma nova reação do
pré-candidato. “Se quiserem presidente fraco, escolham um desses que ficam de
conversa fiada aqui com vocês”.
Outros candidatos causaram
a apatia do público, como o atual ministro do governo golpista Henrique
Meirelles (MDB) e Marina Silva (REDE). Seus projetos não empolgaram e nem
desmotivaram a plateia, formada por engravatados e brancos, ávidos por
encontrar um candidato que realmente defendesse seus interesses no mercado
financeiro. Já o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), arrancou
aplausos da plateia quando prometeu reduzir a carga tributária para os
empresários (música para os ouvidos da elite desse país). Foi a demonstração
dos candidatos no que se refere à política econômica que adotarão, caso sejam
eleitos. Tal política não será voltada para solucionar os problemas das camadas
mais pobres da sociedade.
Por fim, os candidatos
apresentaram os seus projetos para a classe empresarial. Por outro lado, tal
classe demonstrou sua face que é a simbiose da arrogância e autoritarismo, a
sua inclinação em manter o domínio da elite dirigente sobre as camadas mais
pobres da sociedade. Se for preciso apoiar o fascismo e práticas autoritárias
encarnados na figura de Bolsonaro, que realiza seus discursos pautados no ódio
e na intolerância racial, na intervenção dos militares “para garantir a ordem”,
dessa forma será realizado.
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