sábado, 7 de julho de 2018

A face autoritária da elite brasileira.


         O povo que desconhece a sua história está fadado a cometer os mesmos erros do passado. A nossa herança, marcada pelo autoritarismo dos militares, ocultada pela grande mídia, se renova com intensidade a poucos meses das eleições. Vivemos dias obscuros, onde o discurso de ódio e de intolerância ganha repercussão em vários níveis da sociedade.
         Na última quarta-feira (4) a CNI (Conferência Nacionais dos Industriais) realizou uma sabatina com os presidenciáveis. Essa é uma organização que aglutina os interesses financeiros dos grandes empresários do país. A finalidade do referido evento foi sistematizar um conjunto de ideias dos pré-candidatos à presidência, no que se refere, principalmente, aos projetos destinados ao setor da economia.
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         Todavia, deve-se ressaltar que o líder de todas as pesquisas de intenção de votos foi excluído da sabatina. Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, não foi convidado para participar do evento, mesmo sabendo que a Constituição Federal estabelece que ele tem o direito de concorrer ao pleito em outubro. Além do petista, outros candidatos do campo progressista, como a Manuela D’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL), também não foram convidados para apresentar as suas propostas para o desenvolvimento econômico do Brasil, caso conquistem a maioria dos votos.
         Esse fato já demonstra a inclinação dos empresários brasileiros, preocupados em atender os próprios interesses financeiros, mesmo que para isso a grande maioria da sociedade tenha que morrer de fome, diante da grave recessão econômica. Inexiste a preocupação com a distribuição de renda e a inclusão dos mais pobres no orçamento da União. O único objetivo consiste em saciar sua sede por lucros exorbitantes e, mormente, entregar as riquezas nacionais para grupos estrangeiros (como acontece atualmente com o governo golpista).
         Dois momentos da sabatina foram relevantes para corroborar a tese do sociólogo Jessé Souza no que se refere à classificação das classes dirigentes do país. É uma “elite do atraso”, onde a consciência política e social está comumente associada a uma concepção de nação desprovida do verdadeiro sentido nacional. Um dos episódios do evento foi a proliferação de preconceitos do fascista Jair Bolsonaro (PSL). O candidato fez um discurso voltado para a disseminação do ódio e o repúdio às camadas mais pobres da sociedade. O elemento assustador foi o fato de que os empresários se levantaram para aplaudir a encarnação de Hitler à versão brasileira.
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         Segundo Bolsonaro “hoje estão tirando nossa alegria de viver, não podemos mais contar piadas de afrodescendentes, de cearenses, de goianos”. Ele fez referência ao processo que vigora no Supremo Tribunal Federal por injúria e incitação ao racismo." Impossível dissociar a nefasta ação do candidato do PSL ao Nazismo que, deve-se enfatizar, também obteve o apoio de setores empresariais na Alemanha em meados de 1920/30.
         O relato do repórter Afonso Benites de El País é espantoso: "Bolsonaro não precisou mais do que superficialidades para ser aplaudido. Uma das vezes foi quando reforçou o seu discurso de que parte de seu primeiro escalão será ocupado por militares. 'Vou botar generais nos ministérios, sim. Qual o problema? Os anteriores botavam terroristas e corruptos e ninguém falava nada'.
         O ataque ao sistema democrático de direito é uma prerrogativa presente nos discursos do candidato. Homenagear torturadores e o regime militar brasileiro, responsável pela adoção de práticas de tortura e repressão é algo peculiar na postura de Bolsonaro. A nomeação de ministros militares seria a própria intervenção, rasgando os princípios constitucionais e democráticos que vigoram no Brasil desde a promulgação da Carta Magna, em 1988.
         O juiz chileno Miguel Vazques, da Corte de Apelações de Santiago condenou oito oficiais do Exército chileno, hoje na reserva, a 18 anos de prisão pelos assassinatos do ex-diretor do Serviço de Prisões, Littre Quiroga e do cantor Victor Jara, no Estádio Nacional do Chile, a 15 de setembro de 1973, quatro dias depois do golpe do general Augusto Pinochet que derrubou e matou o presidente Salvador Allende.
         Já o Brasil aceita a prestação de homenagens a torturadores e, sobretudo, jamais puniram os militares responsáveis por mortes e perseguições perpetradas durante o período. Passados 43 anos, diferentemente do que ocorre no Chile, nenhum assassino de Vlado, nem das outras centenas de vítimas de crimes cometidos por militares durante a ditadura foi identificado ou punido aqui entre nós.

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         Comandante do DOI-CODI, o coronel Brilhante Ustra, além de jamais ter sido punido em vida pelas torturas, pelas prisões, pelas mortes, foi elogiado, há dois anos, em pleno Congresso Nacional pelo hoje presidenciável Jair Bolsonaro e seu rosto estampa camisetas usadas por seus simpatizantes com o slogan "Ustra vive". Não sabemos se é analfabetismo político mesclado com baixo poder cognitivo ou ignorância sobre os acontecimentos históricos do nosso país. O fato é que a perpetuação do ódio em nossa sociedade ganha impulso com o discurso do candidato.
         Outro acontecimento relevante da sabatina foi a vaia destinada ao candidato Ciro Gomes (PDT). Um dos pontos mais importantes de seu discurso, onde ressaltou que fará uma reformulação nos dispositivos constitucionais presentes na reforma trabalhista, provocou a repulsa na plateia de quase 2 mil empresários. Deve-se enfatizar que a CNI foi uma base de apoio do golpista Michel Temer na retirada dos direitos históricos conquistados pela classe trabalhadora. A categoria patronal encontra-se na vanguarda do movimento golpista, principalmente no que tange à entrega das riquezas nacionais a grupos estrangeiros.
         Segundo o candidato pedetista, o seu projeto seria discutido com representantes dos patrões, empregados e de universidades. “Meu compromisso com as centrais sindicais é trazer essa bola de volta ao meio de campo”. Após ser vaiado, ele disse: “É assim que vai ser. Ponto final”. Mais vaias, que provocaram uma nova reação do pré-candidato. “Se quiserem presidente fraco, escolham um desses que ficam de conversa fiada aqui com vocês”.
         Outros candidatos causaram a apatia do público, como o atual ministro do governo golpista Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (REDE). Seus projetos não empolgaram e nem desmotivaram a plateia, formada por engravatados e brancos, ávidos por encontrar um candidato que realmente defendesse seus interesses no mercado financeiro. Já o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), arrancou aplausos da plateia quando prometeu reduzir a carga tributária para os empresários (música para os ouvidos da elite desse país). Foi a demonstração dos candidatos no que se refere à política econômica que adotarão, caso sejam eleitos. Tal política não será voltada para solucionar os problemas das camadas mais pobres da sociedade.
         Por fim, os candidatos apresentaram os seus projetos para a classe empresarial. Por outro lado, tal classe demonstrou sua face que é a simbiose da arrogância e autoritarismo, a sua inclinação em manter o domínio da elite dirigente sobre as camadas mais pobres da sociedade. Se for preciso apoiar o fascismo e práticas autoritárias encarnados na figura de Bolsonaro, que realiza seus discursos pautados no ódio e na intolerância racial, na intervenção dos militares “para garantir a ordem”, dessa forma será realizado.


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