Representação da lenda sobre a fundação de Roma |
Em
todas civilizações da Antiguidade existe uma mistura de realidade e fantasia
para explicar seu surgimento. Em Roma, segundo a lenda, a sacerdotisa do templo
da deusa veste, deu à luz duas crianças gêmeas e as abandonou em um cesto ao
lado do rio Tibre. Os meninos era fruto de uma união proibida com Marte, deus
da guerra. Contudo, a correnteza do rio conduziu os gêmeos à terra firma. Foi
então que uma loba acercou-se deles, amamentou e levou-os para junto de seus
filhotes. Tempos depois, um pastor encontrou as crianças, deu-lhes o nome de
Rômulo e Remo e os levou para sua cabana, onde cresceram saudáveis.
Rômulo
traçou sobre o monte Palatino um grande círculo, sulcando o solo com um arado.
A terra revolvida simbolizava a muralha e o sulco representava o fosso da nova
fundação urbana: Roma. Mas Rômulo zombou e pisoteou o desenho. Furioso, Rômulo
saltou sobre Remo e o matou com um golpe de espada. E sentenciou: “Assim
morrerá quem, de futuro, transpuser as minhas muralhas”.
Evidencias
históricas mostram que os romanos antigos descendiam da mistura de grupos
residentes na região do Lácio (os latinos) e dos povos vindos de outras áreas
da península Itálica (como os sabinos) e do Mediterrâneo. Esses povos
partilhavam a península itálica com os etruscos e os gregos. Portanto, gregos e
etruscos exerceram grande influência na vida cultural, religiosa e política dos
romano. A cidade Roma foi originalmente um entreposto comercial etrusco.
Durante
o domínio etrusco, o rei acumulava as funções executiva, judicial, religiosa e
legislativa. Mas seus poderes eram limitados por um conselho de anciãos, o
Senado, que votava as leis reais. A confirmação dessas leis era feita pela
Cúria, uma assembleia composta de cidadãos em idade militar. Além disso, a
sociedade romana do período monárquico era formado por quatro segmentos
sociais.
Primeiramente,
no topo da pirâmide social existia os Patrícios, que eram proprietários das
terras férteis, dos grandes rebanhos e das minas, exerciam o poder político no
Senado, na Cúria e nas Magistraturas. Além disso, detinham a maior parte do
butim das guerras e davam proteção pessoal aos clientes. Já os Clientes eram
camponeses em sua maioria, mantinham uma forte dependência pessoal em relação
aos patrícios, apesar de serem homens livres. Outra classe social importante
eram os plebeus, que desempenhavam várias atividades, como o comércio e a
produção artesanal. Mesmo fossem homens livres, os plebeus não possuíam acesso
ao poder político. E, por fim, existiam os escravos, que eram obtidos por meio
da guerra ou privados de liberdade por conta de dívidas, realizavam todo tipo
de trabalho braçal e doméstico e não tinham qualquer direito político.
O
conselho de anciãos, o Senado que, segundo a tradição, tinha poderes para escolher
o rei, assumiu o poder. Surgiu um novo regime político na história de Roma: a
República, caracterizada por uma luta entre patrícios e plebeus que atravessou
os séculos V e IV a.c.
O
início da República, a história de Roma foi marcada pela guerra contra povos
rivais, anexação de territórios, subjugação das populações aliadas e fundação
de colônias. Até então, apenas os patrícios controlavam o Senado e tinham
acesso às mais altas magistraturas criadas com o estabelecimento da República,
isto é, aos cargos de Cônsul (que presidia os cultos religiosos e comandava o
exército), de Pretor (que exercia funções religiosas) e de Ditador (exercido
por um dos cônsules indicado pelo Senado em situações excepcionais).
Os
plebeus, ricos ou pobres, eram considerados cidadãos romanos, mas não
desfrutavam dos mesmos benefícios. Em outras palavras os plebeus ansiavam por
obter direitos políticos e o fim da proibição do casamento entre patrícios e
plebeus. Os camponeses, empobrecidos com a divisão das terras provenientes de
herança ou que haviam perdido seus bens com o endividamento, pretendiam
melhorar sua situação econômica. Buscavam por uma participação, ainda que
modesta, na posse das terras do Estado obtidas com a expulsão.
Entretanto,
a importância que os plebeus assumiram na composição do exército romano,
entretanto, acabou obrigando os patrícios a negociar e abrir cada vez mais
espaço para esse grupo social na ordem pública.
Durante
o século V a.c. os plebeus lideraram uma série de revoltas e se organizaram como
um grupo independente como um grupo independente, contrário à nobreza patrícia.
Em 494 a. c., um episódio decisivo garantiu-lhes uma grande vitória. Diante da
ameaça de um ataque de tropas estrangeiras a Roma, os plebeus se recusaram a
prestar ajuda militar. Exigiram a criação de um cargo político ocupado apenas
por plebeus. Sem alternativa, o Senado instituiu a magistratura do Tribunato da
Plebe. Com isso, os tribunos tinha o poder de vetar as leis contrárias aos
interesses da plebe.
Entre
451 e 450 a.c., os plebeus obtiveram outra grande conquista: a elaboração por
escrito das leis do Direito vigente. Embora mantivesse a proibição do casamento
entre patrícios e plebeus e a escravidão por dívidas, a chamada Lei das Doze
Tábuas, marco inicial da história do direito romano, dava o direito ao cidadão
comum de apelar contra as decisões da Justiça e contar com um defensor.
A
expansão territorial gerou um intenso conflito entre os romanos. Apesar do
crescimento natural da população e da participação dos plebeus na infantaria,
as terras recém-conquistadas se concentravam nas mãos dos patrícios, que
ocupavam as funções mais importantes do exército. Vale ressaltar que as áreas
anexadas pertenciam ao Estado, mas poderiam ser usadas para pastagens ou
cultivo, mediante pagamento de uma taxa, conforme a quantidade de animais, ou
de um aluguel. Muitos proprietários, porém, ampliavam o limite de suas terras,
avançando sobre as terras do Estado. Assim, a propriedade de alguns se
alargava, enquanto a de outros diminuía.
Em
367 a.c., uma lei proposta pelo tribunato da plebe promoveu uma reforma agrária
e política. Os plebeus enriquecidos passaram a ter o direito de ocupar as mais
altas magistraturas, como os cargos de Cônsul, Censor, Ditador e Pretor. Foi
fixado um limite para as propriedades pertencentes ao Estado, e aqueles que
haviam se apossado dessas terras tiveram de devolvê-las. Deve-se enfatizar que,
em 326 a.c., a escravidão por dívidas foi abolida, e em 286 a.c. as resoluções
da assembleia da plebe (plebiscito) tornaram-se obrigatórias.
Em
sua expansão pelo Mediterrâneo ocidental, os romanos tiveram de enfrentar a
supremacia de Cartago, cidade localizada no norte da África e que dominava a
região no século III a.c. Cartago, de origem fenícia, se destacava no comércio
marítimo. Os comerciantes cartagineses, também chamados de púnicos pelos
romanos, possuíam diversas colônias em toda a costa setentrional da África, no
sul da península ibérica, na Sardenha, Córsega e a oeste da Sicília. Com isso,
entre 264 e 146 a.c., três grandes guerras opuseram Roma e Cartago: as guerras
púnicas. As forças das duas potências eram bastante equilibradas e contavam com
aliados importantes. Roma dispunha de um poderoso exército e Cartado de uma
impressionante vitória.
O
saldo das três guerras púnicas foi positivo para Roma, garantindo-lhe a posse
dos territórios sob o domínio de Cartago. A conquista desses territórios
provocou grandes transformações no regime de propriedade e estimulou o
crescimento da escravidão no mundo romano. Com isso, um outro tipo de conflito
passou ao primeiro plano na sociedade romana: a luta entre senhores e escravos.
Representação de Espártaco |
O
contraste entre a escravidão no campo e na cidade deu origem a muitas revoltas
entre os escravos rurais. A mais famosa foi a de Espártaco no ano 73 a.c.,
liderada por um grupo de gladiadores na Campânia. Milhares de escravos
participaram com o objetivo de retornar às terras de origem. Outra revolta
importante aconteceu na Sicília, entre 136 e 133 a.c., quando milhares de escravos tomara o poder, estabeleceram um governo despótico e escravizaram a
população local. Sem uma proposta alternativa à escravidão, acabavam por
produzi-la. Os escravos revoltosos lutavam, antes de tudo, pela própria
liberdade. Jamais almejaram extinguir a escravidão no mundo romano ou formar
uma outra sociedade.
Coliseu romano, onde os gladiadores lutavam até a morte |
Durante
o processo de expansão romana, aumentaram o empobrecimento da população livre,
sobretudo da rural, e a migração para as cidades. Para contornar a crise e
combater a fome, o Estado passou a distribuir cereais e a promover espetáculos
públicos nas arenas para animar a plebe. Essa política ficou conhecida como
“pão e circo”. No entanto, isso não resolvia a questão. Assim pensavam os
irmãos Graco.
Em
133 a.c., Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe. Ele ambicionava trazer de
volta as pequenas propriedades e reaver as terras do Estado, indevidamente
ocupada pelos grandes proprietários. Porém, acusado de sacrilégio e tirania,
Tibério foi assassinado. Mas seu sonho não se perdeu no tempo. Em 123 a.c., seu
irmão Caio Graco foi também eleito tribuno. Disposto a continuar a obra de
Tibério, reapresentou com êxito a lei agrária, conseguindo a distribuir lotes
públicos.
Reeleito
em 122 a.c., Caio Graco tomou dias medidas polêmicas: fundou uma nova colônia
em Cartago e propôs a concessão de cidadania romana a todos os povos aliados de
origem latina da península itálica. A reação da elite foi negativa, pois
receava perder o controle nas eleições. A habilidade dos senadores em tramar e
conspirar teve efeito arrasador, impedindo a reeleição de Caio Graco. Em 121
a.c., toda a legislação criada por ele foi anulada por um novo tribunato, a
partir de então, a República mergulhou em uma crise sem retorno. O senado havia
vencido, mas acabou desmoralizado. Entretanto, o prestígio dos generais crescia
intensamente. A criação do império era questão de tempo.
O
expansionismo romano tinha como base um exército composto de pequenos
proprietários, mas com o tempo tornou-se imprescindível recrutar proletários. A
principal mudança foi que os combatentes tornavam-se verdadeiros soldados;
aliás a palavra deriva exatamente da nova condição: receber soldo, isto é, um
pagamento pelo serviço militar. O general Caio Graco foi o autor dessa mudança,
que reforçou a lealdade pessoal dos soldados a seus generais. Aliás, em busca
de compensação econômica, os soldados se tornaram cada vez mais leais aos seus
generais, que, por sua vez, passaram a usar esse apoio para fortalecer suas
ambições políticas.
Representação da morte de César |
Depois
de Caio Mário e Silas, foi a vez de César adotar formalmente o título de
ditador, atingindo as bases da República e abrindo caminho para a fundação do
governo imperial. Deve-se ressaltar que, durante essa fase, Roma expandiu
consideravelmente suas fronteiras. Em 58 a.c. conquistou a Gália (atual
França). As sucessivas e grandiosas vitórias nos campos de batalha levaram
César a ambicionar o poder maior. Em 50 a.c., quando o senado exigiu seu
regresso e a desmobilização de seu exército na Gália, César desafiou a tradição
romana que impedia qualquer general de marchar sobre Roma com seus soldados
armados, dando ordem para que suas legiões atravessassem o rio Rubicão, ao
norte da península itálica, em 49 a.c.
Ao
marchar em direção a Roma, César teve de enfrentar a oposição de Pompeu, seu
genro e colega de triunvirato. Derrotou as legiões de Pompeu e acabou nomeado
ditador vitalício em 45 a.c. Mas a oposição a César continuou, sobretudo entre
a elite romana, que se opunha ao crescente poder do general. Seu envolvimento
com Cleópatra, nomeada por ele rainha do Egito, de cuja união nasceu Ptolomeu
César, futuro faraó, acirrou ainda mais os ânimos. Em março de 44 a.c., César
foi morto a facadas no Senado, incluindo-se, entre os assassinos, homens de sua
confiança, como Brutus. As últimas palavras do virtual fundador do Império
Romano teria sido “até tu Brutus”.
Representação do tribuno da plebe |
Representação das lutas travadas entre os gladiadores romanos |
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