terça-feira, 9 de abril de 2019

A Revolução Russa


A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial contribuiu decisivamente para a Revolução Russa. Para melhor compreender o processo revolucionário russo, recuemos um pouco no tempo.
No final do século XIX, o Império Russo possuía um vasto território (22 milhões km²), abrangendo terras na Europa e na Ásia; sua população era formada, em sua maioria, por povos de outras nacionalidades, que eram constantemente reprimidos e impedidos de expressar suas ideias e práticas. O governo estava nas mãos de uma monarquias absolutista e o soberano – o czar -  era visto como eleito por Deus.
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FAMÍLIA CZARISTA DO SÉCULO XIX
Na Rússia czarista não havia limites legais ao poder do czar. Os ministros eram indicados e destituídos conforme ele desejasse, e inexistia liberdade de expressão e de imprensa: livros, revistas e jornais sofriam uma forte censura. O czar e sua família, o clero ortodoxo e os nobres (chamados na Rússia de boiardos) constituíam os elementos privilegiados da sociedade russa. Já os camponeses (os mujiques) somavam 80% da população e grande parte deles vivia em extrema penúria, tendo de pagar altos impostos a governo pelo uso da terra. Entre os camponeses havia um número considerável de arrendatários e de escravos. O analfabetismo atingia a imensa maioria da população.
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ALEXANDRE II
Os czares da dinastia Romanov governaram a Rússia por mais de três séculos, mas foi somente no governo de Alexandre II (1858-1881) que a Rússia começou a se modernizar: criaram-se indústrias; iniciou-se a exploração de petróleo; e começou a construção de extensas ferrovias, entre as quais a Transiberiana.
Sob o czar Nicolau II, o capitalismo russo se expandiu, impulsionando pela entrada de capitais estrangeiros e pela existência de mão de obra farta e barata vinda do campo. Surgiram grandes indústrias, que reuniam milhares de operários, em cidades como São Petersburgo, Moscou e Odessa.
As condições de trabalho e de vida do operariado russo, no entanto, eram péssimas: jornadas extenuantes (12 a 14 horas por dia), salários baixos, moradias toscas e alimentação precárias.
O operariado russo resistia por meio de passeatas e greves. O czarismo, por sua vez, utilizava o Okhrana (polícia secreta do Estado) para reprimir duramente as manifestações dos trabalhadores.
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LÊNIN
As teses socialistas penetraram na Rússia graças à tradução da obra “O capital”, de Karl Marx, e dos textos de dois russos, Plekhanov e Lênin. Inspirados nesses textos, os intelectuais e operários fundaram organizações e grupos políticos de orientação marxista que, em 1898, se uniram para formar o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR). Esse partido foi logo desmantelado pela polícia do czar, que prendeu vários de seus membros. Porém, Lênin deixou a Rússia e voltou a se organizar no exterior.
Em 1903, o POSDR realizou seu II Congresso e, nos debates então ocorridos, emergiram duas correntes políticas que concordavam quanto a derrubar o czarismo e construir o socialismo, mas divergiam quanto à estratégia e aos meios a serem usados.
A corrente liderada por Yuli Martov propunha chegar ao poder por meio da aliança com a burguesia e evoluir para o socialismo por meio de eleições que garantiriam a maioria no Parlamento.
Já a corrente encabeçada por Lênin defendia a necessidade de um partido liderado por revolucionários profissionais, centralizado e submetido a uma rigorosa disciplina. Esse partido – segundo Lênin – seria clandestino, pois na Rússia czarista não havia liberdade política.
A maioria dos partidos do Congresso votou na tese de Lênin. Por isso, seus seguidores passaram a ser chamados de bolcheviques (majoritário, em russo), e os seus adversários, de mencheviques (minoritário).
Durante a guerra imperialista, as condições de trabalho e de vida dos operários russos pioraram. Reagindo a essa situação, em 9 de janeiro de 1905, eles e suas famílias marchavam desarmados em direção ao Palácio de Inverno, sede do governo, para levar ao czar Nicolau II uma petição reivindicando a redução da jornada de trabalho para 8 horas; o estabelecimento de um salário mínimo de um rublo por dia; instrução gratuita e obrigatória; eleições para uma Assembleia Constituinte, entre outros pontos.
A reação do czar foi ordenar a seus soldados que atirassem contra a multidão, à queima-roupa, o que mudou em mais de mil mortos e cerca de 5 mil feridos. O episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento.
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DOMINGO SANGRENTO
A desastrosa participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, porém, reacendeu a crise social: falta de alimentos, alta nos seus preços, desemprego, fome e doenças passaram a fazer parte do cotidiano dos russos. No inverno, o frio, de muitos graus abaixo de zero, tornava a fome ainda mais insuportável.
Em 23 de fevereiro de 1917, no calendário juliano, uma passeata de trabalhadores e trabalhadoras marchou em direção à sede do governo, em São Petersburgo, repetindo em voz alta a expressão: Paz, terra e pão!. Muitos soldados, enviados para reprimir os manifestantes, entregaram suas armas e aderiram ao movimento revolucionário. Unido, o povo invadiu o Palácio de Inverno em 27 de fevereiro e pôs fim ao czarismo na Rússia. O Império foi então substituído pela República. E o Governo Provisório assumiu o poder.
Nos meses seguintes o processo revolucionário se acelerou: operários, camponeses e soldados saíram às ruas em manifestações ruidosas que, apesar de reprimidas, avolumavam-se dia a dia; e, em 24 de outubro de 1917, esse processo culminou com o início de uma operação armada visando a derrubada do Governo Provisório. Naquele dia soldados, marinheiros e operários, sob a liderança de Lênin e Leon Trotsky – comandante da Guarda Vermelha -, ocuparam as pontes sob o rio Neva, as estações ferroviárias, os prédios públicos da cidade de São Petersburgo, e iniciaram o assalto ao Palácio de Inverno, sede do governo.
Alegando que ia buscar reforços para resistir, Kerenski fugiu; tiros de canhão disparados de um cruzador ancorado no rio Neva deram início à operação militar que marcou o início da Revolução Russa e, horas depois, os defensores do Governo Provisório tinham sido vencidos: os bolcheviques ocuparam o Palácio de Inverno e o poder na Rússia, tendo Lênin no cargo de presidente do Conselho de Comissários do Povo. A bandeira vermelha foi hasteada pela primeira vez na sede do governo russo.
Ao assumir o poder, Lênin retirou a Rússia da guerra, confiscou terras dos nobres e do clero e distribuiu-as aos camponeses, além de estatizar indústrias, bancos e estradas de ferro. Além disso, separou a Igreja do Estado, adotou o calendário gregoriano e permitiu que os pobres frequentassem teatros, cinemas e livrarias, antes restritos aos ricos.
Essas medidas dividiram a sociedade russa, o que acabou provocando uma sangrenta guerra civil.
A guerra civil russa durou de 1918 a 1921: de um lado estavam os monarquistas, liberais e mencheviques, defendidos pelo Exército Branco e apoiados por potências estrangeiras; de outro, os bolcheviques e o seu Exército Vermelho, comandado por Leon Trotsky. Durante o conflito, o governo leninista adotou o comunismo de guerra, política que envolvia o controle estatal da indústria e do comércio, o confisco do excedente agrícola aos camponeses e o racionamento do consumo.
Os bolcheviques venceram a guerra e, organizados em torno do Partido Comunista, firmaram-se no poder. A economia russa, porém, estava à beira do colapso. Para fazer frente a essa situação, Lênin adotou a Nova Política Econômica (NEP), que combinava princípios socialistas com práticas capitalistas. A NEP incentivou o comércio, a pequena e a média manufatura, fazendo surgir com isso uma nova categoria social, os nepmen (empresários dispostos a colaborar com o governo socialista); estimulou a entrada de capitais estrangeiros no país; e permitiu aos camponeses a venda das sobras da colheita no mercado interno. Com isso, o governo estimulou a produção e garantiu o abastecimento de alimentos e roupas. A NEP conseguiu que a agricultura russa se recuperasse, mas a indústria e o comércio continuaram em uma situação difícil. A abertura econômica resultante da NEP não foi acompanhada de democratização política. O Partido Comunista, liderado por um pequeno grupo dirigente, o Politburo (birô político), passou a ter total controle da vida política: suprimiu a liberdade de expressão e submeteu os sindicatos e os sovietes às suas ordens. Em dezembro de 1922, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
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MAPA DA URSS

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