sábado, 29 de outubro de 2016

A Reforma Protestante


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Martinho Lutero
          A Reforma Protestante e a Reforma Católica integram um conjunto de acontecimentos que marcaram a transição do feudalismo para uma sociedade aos moldes burgueses na Europa ocidental. Além disso, foi um movimento portador de críticas aos dogmas e práticas do catolicismo, que abalaram a autoridade da hierarquia eclesiástica. Com o apoio de segmentos sociais interessados na diminuição do poder do papa, ela contribuiu para modificar as instituições políticas, sociais e econômicas europeias. O termo protestantismo não designa uma Igreja ou seita específica, mas o movimento de reforma religiosa iniciado na Alemanha por Martinho Lutero, que deu origem a diversos agrupamentos evangélicos.
              A Reforma Protestante tornou-se mais intensa com as pregações de Martinho Lutero, monge agostiniano e doutor em Teologia pela Universidade de Wittenberg, na Alemanha. Ele acreditava nas ideias de Jan Huss principalmente no que dizia respeito às propostas de liberdade de culto e de liberdade de consciência individual. Divergindo das orientações de Roma, Lutero acreditava que a salvação da alma resultava da fé, a graça divina mais importante do homem; e que as boas em nada influíam para a salvação. A partir dessas ideias, Lutero condenou a compra de indulgências como passaporte ao reino dos céus.
            As condições políticas e econômicas do Santo Império Romano-Germânico favoreceram a difusão das concepções de Lutero. O Império era formado por diversos principados independentes governados por nobres que elegiam o imperador. Além disso, muitos feudos eram controlados pelo clero, que conseguiam lucros com o arrendamento dessas terras. Outras fontes de renda da Igreja provinham da arrecadação do dízimo e do comércio de indulgências. Diante do poderio econômico e dos abusos cometidos pelos eclesiásticos, diversos segmentos sociais faziam fortes críticas à Igreja, criando um terreno favorável para a proposta de reforma religiosa.
            Mas os diferentes grupos sociais dos principados alemães tinham características, objetivos e interesses diferentes. A burguesia queria um clero menos intransigente e ao mesmo tempo desejava reduzir a transferência de capitais para Roma; a nobreza desejava apoderar-se das terras eclesiásticas, enquanto os camponeses viam na Igreja Católica um dos maiores exploradores do Império devido à cobrança dos dízimos. Eles queriam terras para cultivar. E também estavam dispostos a lutar para se livrar da dominação dos grandes nobres, qualquer que fosse a sua religião.
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Martinho Lutero e as 95 teses
No ano de 1517, denunciando a venda de indulgências e a doutrina da salvação  pelas obras, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, onde era sacerdote, um documento que apontava noventa e cinco críticas ao papado, conhecido como as 95 teses de Lutero. O aparecimento de tais teses deu início ao confronto entre Roma e o monge rebelde. Leão X exigiu que Lutero se retratasse, sob pena de ser considerado herético. Lutero respondeu à ordem papal queimando publicamente o documento que continha a intimação vinda de Roma. Como consequência, foi excomungado mas, com a proteção da nobreza alemã, conseguiu manter-se escondido por algum tempo.
Em apoio às decisões do papa, o imperador Carlos V convocou Lutero a comparecer diante da Dieta de Worms, assembleia imperial, para que fosse julgado pelos príncipes alemães. O julgamento foi favorável a Lutero, uma vez que a maioria dos nobres era hostil a Roma. Contrariando a decisão da Assembleia, Carlos V determinou o banimento de Lutero dos territórios imperiais. Mas Frederico da Saxônia o acolheu nos seus domínios, situados entre os rios Reno e o mar Báltico. Outros príncipes financiaram a divulgação das ideias luteranas por todo o país.
            A Reforma religiosa na Suíça representou, antes de tudo, uma necessidade burguesa. Tal classe social necessitava, desse modo, de novos parâmetros morais, econômicos e religiosos que legitimassem a obtenção do lucro por meio do comércio e da exploração do trabalho assalariado.
            Ulrico Zwinglio, ardente defensor das ideias de Lutero, foi o iniciador da reforma religiosa na Suíça. De formação humanista, ordenou-se padre em 1517, mostrando-se sempre muito crítico em relação aos dogmas da Igreja Católica. Sua atuação humanitária no auxílio aos pobres e doentes nas ruas de Zurique, durante a peste bubônica que assolou a Suíça em 1519, tornou-se muito popular. Essa passagem de sua vida levou-o a refletir sobre a necessidade de viver mais intensamente a religião. Em seus sermões, passou a discutir a urgência de reformar o cristianismo.
            Zwinglio defendia a predestinação e condenava a confissão, alegando que cabia a Deus e não aos padres perdoar os pecados. Por iniciativa sua, a religião reformada estendeu-se pelo norte da Suíça. Em 1531, quando tentava levar seus ensinamentos a grupos mais conservadores, teve início uma guerra civil que provocou a morte do reformador. Mas suas propostas saíram vitoriosas, consagradas no acordo conhecido como a Paz de Kappel, pelo qual o governo de cada região suíça teria direito de escolher sua própria religião.
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João Calvino
A cidade-república de Genebra foi o cenário e o laboratório para a atuação de um  dos maiores impulsionadores da Reforma, o teólogo João Calvino. Ao converter-se ao luteranismo por volta de 1530, Calvino renunciou a alguns benefícios eclesiásticos. Em razão disso, foi perseguido e transferiu-se para Genebra em 1536. João Calvino reafirmava as doutrinas luteranas da salvação pela fé e levava às últimas consequências a teoria da predestinação.
Os princípios calvinistas pregavam o rigor da disciplina, a valorização moral do trabalho e da poupança, oferecendo aos setores burgueses uma justificativa religiosa sólida e bem elaborada para suas atividades. Esse aspecto de justificativa ideológica contribuiu para que a doutrina calvinista ganhasse adeptos nas principais cidades-repúblicas da Suíça. A partir de 1541, tanto o governo como a religião de Genebra estavam nas mãos de Calvino, que exerceu o poder por intermédio de uma oligarquia religiosa conservadora sob o controle de um consórcio (assembleia). Detendo uma autoridade ilimitada, esse órgão controlava o cotidiano das pessoas, obrigando-as a participar de cultos e da comunhão.
As ideias de Calvino expandiram-se pela Europa ocidental, região na qual o desenvolvimento das práticas capitalistas abria um campo favorável para uma reforma religiosa que justificasse e além disso impulsionasse as atividades dos setores mercantis e manufatureiros. Em cada país, grupos religiosos de inspiração calvinista, organizados pela burguesia local, empenharam-se na conversão de outras camadas sociais. Na Inglaterra (puritanos), na Escócia (presbiterianos), na França (huguenotes) e em muitas outras regiões surgiram adeptos da fé e da ética conservadora calvinista.
Já na Inglaterra, a Reforma aconteceu antes mesmo de Lutero ter consolidado sua influência doutrinária nos territórios alemães. Como acontecia em outros países, na Inglaterra a Igreja Católica detinha a posse de grandes extensões de terras, cobiçadas pela coroa e pela nobreza. As ideias dos humanistas e dos pensadores do Renascimento corroíam a autoridade tradicional e, para agravar a situação, as influências da Reforma chegavam ao país. A penetração das ideias de Lutero e mais tarde de Calvino nas camadas sociais teve repercussões importantes para a história do protestantismo na Inglaterra.
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Henrique VIII, o fundador da Igreja Anglicana na Inglaterra 

                 O início da reforma religiosa inglesa se deu por iniciativa do rei Henrique VIII, que encontrou apoio em seus súditos para a organização da Igreja Anglicana. Mas isso não significou que a ruptura com a Igreja Católica no país tenha sido apenas uma questão política. O conflito entre o rei e o papa foi desencadeado por problemas domésticos. Em 1527, Henrique VIII solicitou ao papa autorização para anular o seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão. Tal pedido justificava-se no fato de ele e Catarina terem apenas uma filha, com saúde comprometida, e portanto inapta para subir ao trono da Inglaterra no momento necessário.
Envolvido com uma dama inglesa, Ana Bolena, o rei pretendia resolver o problema da sucessão casando-se novamente, e para isso aguardava a autorização da Santa Sé. Mas o papa Clemente VII evitava intervir nessa questão, uma vez que Catarina era sobrinha do Imperador Carlos V, do Sacro Império Germânico, que no momento auxiliava a Igreja no combate aos luteranos. Os infindáveis adiamentos do papa levaram Henrique VIII a tomar a iniciativa em 1531, obrigando o Parlamento a votar uma série de leis que colocou a Igreja Católica inglesa sob o controle do Estado. O rei se tornou chefe supremo da Igreja Anglicana através do Ato de Supremacia, podendo nomear os eclesiásticos e determinar os dogmas religiosos. A resposta do papa foi a excomunhão de Henrique VIII.
A complementação da obra reformista de Henrique VIII foi realizada no reinado de Elizabeth I, sua filha com Ana Bolena. Entremeando características do anglicanismo e do calvinismo, a nova Igreja Anglicana procurou chegar a uma conciliação das regras religiosas na Inglaterra, na tentativa de impedir a divisão do reino por questões de crença.
No que se refere às origens da Reforma Católica ou contrarreforma podem ser buscadas a partir dos últimos anos do século XV, antes mesmo, portanto, da Reforma Protestante. A reação de Roma frente à expansão do protestantismo veio através de várias medidas, entre elas a reorganização do Tribunal do Santo Ofício, que atuava na Europa desde a Idade Média, julgando e punindo aqueles que fossem suspeitos de difundir ideias e práticas religiosas em desacordo com a Igreja Católica.
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O Concílio de Trento 
Além disso, por iniciativa do papa Paulo III, a Igreja Católica realizou um dos  encontros mais importante de sua história milenar: o Concílio de Trento. O Concílio realizou-se de 1545 a 1563, com algumas interrupções, e teve como objetivo principal posicionar-se frente às críticas protestantes. Dentre as decisões mais importantes tomadas em Trento, destacaram-se a reafirmação dos dogmas católicos, a manutenção dos sacramentos, a confirmação da transubstanciação, da hierarquia do clero e o celibato clerical.
O Concílio também formulou normas para coibir abusos como a venda de indulgências e aprovou propostas para a fundação de seminários de teologia, destinados a melhorar a formação do clero. Por último, surgiu o Index, uma lista de livros cuja leitura era proibida aos católicos.
O movimento católico foi ainda reforçada pela estruturação de ordens religiosas, sendo uma das mais importantes a Companhia de Jesus, fundada por Inácio Loyola. Os Jesuítas, como ficaram conhecidos seus integrantes, se organizaram como um verdadeiro exército para a contraofensiva católica. Responsáveis pelo fortalecimento do catolicismo em muitos dos países em que atuaram, transformaram-se em educadores e desempenharam, por exemplo, um papel fundamental na catequese dos povos nativos das colônias portuguesas e espanholas na América.
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Padres Jesuítas

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