segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

América: continente dos emigrados

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Ilustração referente à chegada dos portugueses no Brasil
No final do século XV, quando os europeus chegaram à América, depararam com povos em diferentes estágios de evolução, a que chamaram "índios". Os ancestrais desses "índios havia, ocupado o continente em diferentes ondas migratórias, o que contribuiu para dar à nova pátria o perfil heterogêneo que encontrado ainda hoje. De maneira geral, acredita-se que os imigrantes apresentavam certas identidades  entre si, mas não se pode esquecer que cada um deles tinha sua própria história, seu jogo de forças sociais, formas de trabalho, tradições e mitos.

Estima-se que, quando Pedro Álvares Cabral chegou ao litoral brasileiro, aqui existiam em torno de 10 milhões de indígenas. Hoje, esse número não ultrapassa 300 mil.

Das extensões de gelo sobre o Ártico percorridas pelos esquimós até os territórios dos patagônicos no extremo sul das Américas, grupos indígenas pontilhavam o "continente dos emigrados". Entre eles existia uma enorme diversidade sócio-cultural. O império inca, na área andina, correspondente às regiões do Equador, Bolívia e Peru, e as civilizações asteca e maia, no México e no trecho norte da América Central, constituem exemplos de sociedades indígenas de grande desenvolvimento político, econômico e social.

Nas terras que hoje integram o Canadá, os EUA e o Brasil existiam grupos nômades que se dedicavam à coleta, à caça, à pesca e a uma agricultura rudimentar. Seu estilo de vida variava em função de diversos fatores, entre os quais o ambiente que dominavam. Por exemplo, os costumes dos grupos que se deslocavam pelas pradarias diferiam bastante daqueles encontrados entre os povos da floresta. Porém, mesmo entre grupos que partilhavam a mesma região, os traços culturais variavam de tribo para tribo.
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Ritual dos índios tupinambá
Assumindo o risco da generalização, pode-se dizer que a vida social dos indígenas estava centrada nas relações familiares e no papel que cada elemento ocupava na comunidade. Na maioria dos grupos, a poligamia (união de um homem com várias mulheres) constituía prática comum. As tarefas cotidianas se distribuíam de acordo com o sexo e a faixa etária. As mulheres encarregavam-se das atividades domésticas e, eventualmente, dos trabalhadores agrícolas, enquanto os homens se dedicavam à pesca, à caça e à guerra.

Até o contato com o europeu, instrumentos e armas eram feitos de madeira, pedra e osso. Os ameríndios dominavam a arte de fazer fogo a partir da rotação rápida de um pedaço de madeira dura em outro mais flexível. O fogo servia ao preparo dos alimentos e à fabricação de recipientes de barro, de maior ou menor grau de elaboração conforme o grupo indígena.

A tribo era a organização social mais abrangente dessas populações. Dependendo do número de seus membros, podia reunir várias aldeias e controlar um extenso território. Os assuntos mais importantes eram discutidos pelos guerreiros mais experientes ou pelos homens adultos. Nesses conselhos tribais ou de aldeias, as opiniões dos xamãs eram sempre ouvidas com atenção. Misto de curandeiros e feiticeiros, eles conheciam os espíritos, associados às manifestações da natureza, e sabiam curar doenças, neutralizando os espíritos que as provocavam.
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A divisão do trabalho entre os indígenas.

Em sua maioria, os povos indígenas não reconheciam a existência de fronteiras nítidas entre o mundo dos homens e o mundo dos espíritos; pois cabia aos xamãs - os pajés dos grupos tupis do território brasileiro - acompanhar a passagem de um plano ao outro. 

Algumas tribos se dividiam em clãs integrados por indivíduos que se julgavam descendentes da mesma entidade mítica - uma águia, por exemplo. Também era comum a existência de líderes de bandos, de autoridade temporária, escolhidos para coordenar as ações durante uma caçada ou uma expedição guerreira. Mas nessas sociedades sem Estado não existia um poder político que determinasse o que as pessoas deveriam fazer e que punisse quem não obedecesse. Mesmo que a tribo tivesse optado pela paz com um inimigo tradicional, por exemplo, um grupo de guerreiros poderia contrariar a decisão e partir para o combate.

Mais numerosos do que as tribos de qualquer outro grupo linguístico existente no Brasil, como o grupo Jê e o aruaque, os tupis-guaranis podiam ser encontrados ao longo do litoral sul-americano desde a Venezuela até o rio da Prata, no sul do continente. Esses grupos foram os que tiveram mais contato com os colonizadores. Estima-se que, no momento do encontro com os europeus, sua população ultrapassava a casa de um milhão de pessoas, dispersas pelo litoral e em áreas do interior.

      Da época da conquista aos nossos dias, várias imagens já foram construídas sobre os Guarani. Conquistadores, religiosos, antropólogos e viajantes tentaram reproduzir o pensamento e as atitudes desse grupo indígena de modos de vida antigos e atuais, que ainda hoje os "civilizados" não lograram alcançar. O mais intrigante e alarmante é talvez o fenômeno dos suicídios que, nos últimos tempos passaram a ocupar as manchetes de jornais.

Nas aldeias não existia uma autoridade  formal, responsável pelo controle do grupo. Mas os guerreiros mais valorosos tinham grande prestígio, e o mesmo acontecia aos pajés, mediadores entre o plano dos homens e o dos espíritos, presentes em todas as manifestações da natureza. Esses grupos acreditavam na vida futura e na reencarnação dos antepassados em uma criança. Temiam os espíritos do mal e as almas dos mortos, responsabilizados pelas doenças, acidentes, derrotas nas guerras e fenômenos meteorológicos, como as tempestades.

Possíveis ou não de compreensão, certos enigmas da vida desses povos não conseguiram ser respondidos de maneira aceitável. Um dos costumes indígenas que causou enorme perturbação aos europeus foi o ritual antropofágico, praticado entre os tamoios e outros grupos tupi-guaranis. Comer a carne de um guerreiro da tribo inimiga, após uma guerra, tinha um significado místico arraigado na cultura das comunidades ameríndias. 
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Representação do ritual antropofágico.
Os primeiros contatos que os conquistadores tiveram com os povos da Amazonas, entre eles os Tapajós e os Omagua, ocorreram em meados do século XVI. A região era densamente povoada, com cerca de dez milhões de habitantes distribuídos principalmente ao longo do rio Amazonas e de seus afluentes. A atual população de ameríndios que habita hoje a região, cerca de 250.000 indivíduos, não pode ser comparada à complexa sociedade que aí se encontrava no passado.

Há fortes indícios de que eram governados por líderes poderosos, responsáveis por amplos territórios, que apesar de não possuírem o poder político institucionalizado de um Estado, eram respeitados e reconhecidos.

Pelo que parece, a sociedade era estratificada, composta pelo chefe das aldeias, habitantes comuns, artesãos, religiosos e escravos, todos subordinados a um chefe regional: as chefaturas. As riquezas naturais foram fortes aliadas na sobrevivência dessa civilização, que vivia da pesca e da agricultura.  

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