As
eleições para formar a Assembleia Nacional Constitucional ocorreram em 3 de
maio de 1933. Foram eleitos 214 deputados e mais 40 chamados de “representantes
classistas”, porque eleitos por sindicato.
A
nova constituição foi promulgada em 16 de julho de 1934, na qual estavam
garantidas as instituições liberal-democráticas. Mas dela também constavam
várias medidas do Governo Provisório, como o poder para interferir nos assuntos
econômicos e sociais.
Embora
a Constituição determinasse eleições diretas para a presidência da República,
ficou estabelecido nas Disposições Transitórias que o primeiro presidente da
República seria eleito pelos parlamentares. No dia seguinte à promulgação da
Constituição, Getúlio Vargas foi eleito, dando início ao período
constitucional.
Para
os tenentes e os políticos reformistas que apoiavam Vargas, a nova Constituição
trazia o risco do retorno ao liberalismo, portanto um retrocesso do Brasil para
o regime oligárquico.
Ao
mesmo tempo, a sociedade brasileira protagonizava conflitos entre organizações
de direita e de esquerda, o que representava uma particularidade do Brasil. Na
Europa havia o mesmo ambiente de radicalização entre grupos fascistas e
organizações comunistas e socialistas.
A
Ação Integralista Brasileira (AIB) foi fundada em 1932, a partir da união de
diversos grupos e partidos políticos ultranacionalistas e de extrema-direita,
sob a liderança de Plínio Salgado. Na sua origem, o movimento foi fortemente
influenciado pelos fascismos que, naquela época, cresciam na Europa. O nome e
algumas ideias, por exemplo, foram tomados do integralismo português.
Plínio Salgado e movimento conhecido como Ação Integralista Brasileira |
O
integralismo brasileiro defendia a existência de um partido único; o fim da
liberdade de expressão; a eliminação de qualquer oposição; o culto à
personalidade do líder; o nacionalismo radical; a recusa à democracia liberal e
ao socialismo; o controle do Estado sobre os meios de comunicação; a manutenção
das hierarquias sociais; o uso da violência para impor as determinações; além
do combate sem trégua ao liberalismo, ao comunismo e ao capitalismo financeiro.
Eram adeptos, também, dos valores mais tradicionais da Igreja Católica.
Defensores
do nacionalismo, os integrantes denunciavam em toda parte os inimigos da nação
brasileira: liberais, democratas, socialistas, comunistas, maçons e
capitalistas internacionais. O discurso de alguns líderes integralistas
propunha também a condenação dos judeus, tal como o antissemitismo nazista.
Enfim, os integralistas consideravam essencial eliminar os “inimigos do Brasil”
em busca de uma sociedade harmônica.
Plínio
Salgado, líder da AIB, tinha como projeto a construção de uma sociedade
integral, baseada na cultura brasileira e no modelo corporativo, eliminando-se
o conflito social. Apegado à ideia de totalidade, concebia uma sociedade em que
todos pensassem de maneira igual, pois tinha horror ao pluralismo de opiniões,
típico dos regimes democráticos.
A
partir de 1936, a AIB organizou-se como partido político. Com 500 mil a 800 mil
filiados, número muito grande para a época, a AIB chegou a eleger nas eleições
de 1936 cerca de 500 vereadores, 20 prefeitos e 4 deputados estaduais.
Em
1934, inúmeros segmentos sociais brasileiros mobilizavam-se contra a
possibilidade de uma nova guerra mundial. Estavam seriamente preocupados com o
avanço do fascismo na Europa e com o crescimento do Integralismo no Brasil.
Dentre eles estavam sindicalistas, intelectuais, estudantes, militares e
militantes de esquerda.
Sede do movimento Aliança Nacional Libertadora. |
Em
março de 1935 foi organizada no Rio de Janeiro a Aliança Nacional Libertadora
(ANL). Liderada por militares identificados com o movimento tenentista, a ANL
caracterizava-se como uma frente antifascista da qual participavam organizações
femininas, culturais, estudantis, sindicais e de profissionais liberais. Também
participavam grupos anti-imperialistas e os que se opunham a uma nova guerra
mundial.
A
presidência da organização cabia ao almirante Hercolino Cascardo, e a luta
principal era contra o integralismo e a Lei de Segurança Nacional, promulgada
pelo governo Vargas em abril. No programa da ANL constava o cancelamento da
dívida externa, o combate ao capital estrangeiro, a exigência e o fim da
exploração dos camponeses.
Luís Carlos Prestes. |
Embora
desse apoio formal à Aliança, inicialmente o PCB não teve participação nela
porque naquele momento os comunistas rejeitavam alianças com outros grupos
políticos, inclusive de esquerda. Mesmo assim, durante o comício de fundação da
ANL, o jovem aliancista Carlos Lacerda propôs o nome de Luís Carlos Prestes,
que ingressou no PCB em 1931, para presidente de honra da Aliança.
A ANL empolgou
milhares de pessoas, com a fundação de aproximadamente 1.500 núcleos. Diversos
jornais conservadores a acusavam de planejar um regime comunista no Brasil. O
ambiente era de radicalização política entre aliancistas e integralistas, com
frequentes brigas de rua. Em um comício na cidade de Petrópolis, integralistas
chegaram a atirar contra os manifestantes da ANL, matando uma pessoa e fazendo
dezenas de feridos.
O crescimento da ANL,
incomodava o governo, que queria o fechamento da organização. O álibi para
declarar a ilegalidade da Aliança não demorou a surgir.
Luís Carlos Prestes,
que há meses vivia clandestinamente no Rio de Janeiro, proclamou apoio à
Aliança Nacional Libertadora num manifesto em que defendia o “assalto ao poder
pelas grandes massas”, arrematando com a palavra de ordem: “todo o poder à
ANL”. A última frase, similar às palavras de ordem de Lênin meses antes da
Revolução Russa – “Todo o poder aos sovietes” -, foi o álibi que o governo
Vargas necessitava para declarar a ilegalidade da Aliança. Assim, em julho, a
ANL deixou de existir.
Na mesma época em que
era organizada a Aliança Nacional Libertadora, comunistas brasileiros reunidos
em Moscou discutiam com os dirigentes da Internacional Comunista, órgão sediado
na capital soviética, a possibilidade de deflagrarem uma revolução no Brasil.
Para isso, queriam o
apoio da Internacional Comunista. Luís Carlos Prestes e os comunistas
brasileiros exageravam a força do PCB e, ao mesmo tempo, subestimavam o governo
Vargas ao dizer que estava enfraquecido.
Para Prestes, a
revolução deveria ser uma operação militar, que implicava tomar os quartéis e
derrubar o governo Vargas pela força. Com o apoio dos comunistas e liderando os
militares, em especial o antigo grupo dos tenentes, Prestes presumia que a
revolução era viável. Mas ele estava enganado. Nesse momento, poucos tenentes o
apoiavam, pois a maioria era fiel ao governo Vargas.
A Internacional
Comunista tinha o objetivo de apoiar partidos comunistas pelo mundo e não se
omitiu diante do pedido de auxílio dos revolucionários brasileiros. Assim,
Prestes recebeu apoio em dinheiro e de assessores, como a comunista alemã Olga
Benário, que o acompanhou em sua viagem ao Brasil. Essa parceria política
também tornou-se também amorosa.
Olga Benário. |
Contudo, sem que
Prestes e seus assessores soubessem, em 23 de novembro eclodiu uma rebelião em
Natal, Rio Grande do Norte. Soldados e sargentos do Exército, inconformados com
punições, tomaram o quartel, a sede da polícia e os correios. O governador do
Estado fugiu, deixando a cidade sob o governo de um Comitê Popular
Revolucionário, formado por comunistas.
Ao mesmo tempo,
eclodiu em Recife outro movimento, também sob a liderança dos comunistas. Uma instalação
militar foi tomada e armas foram distribuídas à população. Mas as pessoas não
tiveram interesse em participar da revolução e, sem apoio popular, a revolução
foi facilmente sufocada.
Ao tomar conhecimento
das revoltas de Natal e Recife, Prestes decidiu desencadear a revolução no Rio
de Janeiro, certo da vitória. Mas suas previsões não se concretizaram. Apenas uma
instalação militar – o 3º Regimento de Infantaria na Praia Vermelha, no bairro
da Urca – foi tomado por militares seguidores de Prestes. Mesmo assim, acabou
derrotada pelas forças leais ao governo. O partido comunista não atuou com a
força que precisava ter. Tratou-se de uma insurreição militar liderada por Luís
Carlos Prestes.
O governo iniciou uma
forte repressão, em especial contra os comunistas e as organizações de
esquerda, na qual muitos dos integrantes acabaram presos, torturados e mortos.
Luís Carlos Prestes foi preso, junto com Olga Benário que, mesmo grávida, foi
extraditada, meses depois para a Alemanha e morreu em um campo de concentração
nazista. Sua filha, Anita Prestes, foi salva pela avó paterna, que liderou uma
pressão internacional pela libertação da criança.
As consequências da
insurreição comunista de 1935 foram trágicas para o movimento de esquerda. Centenas
de comunistas sofreram maus-tratos nas prisões e ficaram detidos até 1945. O movimento
sindical independente ou vinculado às esquerdas foi perseguido. O partido
comunista deixou de existir. Além disso, disseminou-se nas forças armadas um
sentimento negativo muito forte contra os comunistas.
Resultado do ataque comunista ao Quartel da Salgadeira, no Centro de Natal. |
A insurreição de 1935
fortaleceu ainda mais o governo de Vargas, pois vários setores das elites, que
até então desconfiavam do governo, passaram a apoiar o presidente com medo dos
comunistas.
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