Nas
eleições de outubro de 1950, Vargas foi candidato à sucessão de Dutra,
concorrendo pelo PTB, em aliança com o pequeno Partido Social Progressista
(PSP). O PSD lançou Cristiano Machado, mas na prática apoiou Vargas. A UDN
voltou a concorrer com o brigadeiro Eduardo Gomes, que novamente contou com a
simpatia dos jornais e das estações de rádio.
Vitória de Getúlio Vargas em 1950. |
A
campanha eleitoral de Vargas, em defesa do nacionalismo e do trabalhismo,
recebeu apoio dos meios de comunicação. Mesmo assim, ele foi vitorioso, com 48,
7% dos votos. O resultado não foi aceito pelos udenistas, que tentaram impedir
a posse de Vargas. Para eles, era difícil aceitar que o antigo ditador voltasse
à presidência por meio de eleições democráticas.
Vargas
assumiu a presidência em 31 de janeiro de 1951, com o país em crise econômica. No
entanto, logo conseguiu a diminuição da inflação e índices positivos de
crescimento econômico. Porém, em 1952, deparou-se com uma série de
dificuldades, sobretudo a suspensão pelo governo norte-americano de
financiamentos para projetos de desenvolvimento.
Apesar
das dificuldades, Vargas implementou política de incentivo à modernização,
propondo a criação da Petrobrás, da Eletrobrás, do Fundo Nacional de
Eletrificação, do Conselho Nacional de Pesquisa e do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE).
Vargas e o movimento "o petróleo é nosso" |
Naquele
momento, democracia e nacionalismo eram ideias valorizadas pela maioria da
sociedade brasileira. Acreditava-se que a industrialização promovida por
empresas de capital nacional e a defesa das riquezas naturais (como o petróleo)
possibilitariam ao país sair do atraso econômico, elevariam a renda das
populações mais pobres e permitiriam a superação da dependência em relação aos
países ricos.
O
nacionalismo e a democracia tornaram-se programas defendidos pelo PTB, pelo PCB
e por outras agremiações de esquerda. A grande vitória dos nacionalistas viria
com a criação da Petrobras, empresa estatal fundamental por Getúlio em 1953. Na
campanha, que ficou conhecida como “O petróleo é nosso”, trabalhistas,
comunistas, estudantes, sindicalistas e militares apoiaram em vários comícios o
projeto de nacionalizar o petróleo.
Em
1953, vários sindicatos de trabalhadores em São Paulo entraram em greve por
reajustes salariais – movimento conhecido como greve dos 300 mil. Os trabalhadores
viam seus salários defasados pelo aumento dos preços das mercadorias, e
diversas outras greves foram deflagradas. O governo reagiu nomeando João
Goulart – conhecido como Jango, político do PTB – para o Ministério do
Trabalho. O novo ministro passou a dialogar e a negociar com o movimento
sindical.
Os
movimentos grevistas mostravam que os trabalhadores não estavam passivos, pois
lutavam por seus direitos. Comunistas e trabalhistas, até então adversários,
passaram a atuar juntos na luta sindical, conquistando a diretoria de vários
sindicatos.
No
início de 1954, a crise econômica se aprofundou, em especial pela campanha dos
EUA contra o café brasileiro, resultando na baixa dos preços e na queda das
exportações do produto. Porém, a crise mais grave era política, pois havia
intensa oposição ao governo, com ataques radicais vindos tanto da UDN quanto do
PCB. Os liberais udenistas e os comunistas não aceitaram o retorno de Vargas à
presidência, mesmo que eleito democraticamente.
Carlos Lacerda - líder da UDN. |
No Congresso Nacional, os parlamentares udenistas criticavam sistematicamente o governo, com denúncias e insultos. A crise política foi motivada pela proposta de João Goulart de reajustar em 100% o salário mínimo, bastante defasado em decorrência da inflação. Empresários, políticos da UDN e a alta oficialidade do Exército eram contra o aumento salarial. O presidente concedeu o reajuste, mas teve de demitir João Goulart do Ministério do Trabalho.
O
principal opositor de Vargas era o jornalista Carlos Lacerda, filiado à UDN. Sem
o conhecimento do presidente, seu chefe de segurança, Gregório Fortunato,
contratou capangas para matar Lacerda. O atentado ocorreu na rua Tonelero, no
bairro de Copacabana (Rio de Janeiro), na noite de 5 de janeiro. No entanto, o
tiro mortal atingiu o major da Aeronáutica Rubens Vaz, pertencente a um grupo
de oficiais da FAB que acompanhava e protegia Lacerda.
O atentado na rua Tonelero - Copacabana, Rio de Janeiro. |
Lacerda
acusou Getúlio de ser o responsável pelo crime. A UDN e setores das Forças
Armadas iniciaram um movimento para afastar Vargas da presidência, se
necessário até por meio de um golpe militar. O presidente resistiu por vários
dias.
No
início do dia 24 de agosto, sozinho em seu quarto no Palácio do Catete, Vargas
deu um tiro contra o próprio peito. Ao seu lado foi encontrada uma carta,
chamada de carta-testamento, que explicava o motivo do suicídio, denunciava a
tentativa de golpe, a exploração dos trabalhadores e a dominação estrangeira no
Brasil.
Mobilização da população no velório de Getúlio Vargas. |
Cortejo fúnebre em homenagem a Getúlio Vargas. |
Ao
tomar conhecimento da tragédia, muitos concluíram que o presidente havia sido
vítima de uma grande injustiça.
No
Rio de Janeiro, durante três dias consecutivos, trabalhadores percorreram as
ruas e atacaram as sedes da UDN, de rádios e de jornais de oposição. Em Porto
Alegre, jornais, rádios, sedes de partidos políticos da oposição, lojas e
bancos norte-americanos foram destruídos. Em São Paulo, ocorreram passeatas e
fábricas foram fechadas. Em vários estados do Nordeste, a população demonstrou
grande tristeza em manifestações de rua. Os udenistas e os militares
antigetulistas ficaram paralisados diante do suicídio de Vargas e da revolta
popular. Como resultado, o plano golpista fracassou.
Quarto onde Vargas se matou, palácio do Catete, Rio de Janeiro. |
“lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra
a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a
calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha
morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo a caminho da eternidade e
saio da vida para entrar na história”
Getúlio Vargas – 24 de agosto de 1954.
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