Após a insurreição comunista, o
Congresso Nacional aprovou uma série de medidas que aumentaram o poder de
Getúlio Vargas. Considerando que o Brasil vivia em estado de guerra, os
parlamentares autorizaram o governo a atuar de maneira repressiva diante de
manifestações políticas. O Congresso já tinha aprovado a Lei de Segurança
Nacional e, nesse momento, aprovou a censura aos meios de comunicação. Também foi
instituído o Tribunal de Segurança Nacional para julgar crimes considerados
políticos e contra a economia popular.
Assim, fortalecia-se
o projeto de instaurar no Brasil um governo autoritário que, sob a liderança de
Vargas, modernizaria o país.
Manchete da época referente à decretação da ditadura de Getúlio Vargas - o Estado Novo. |
No entanto, o mandato
constitucional de Vargas aproximava-se do fim. Em 1937, três candidatos se
apresentaram na campanha eleitoral para a presidência da república: o engenheiro
paulista Armando de Salles; o escritor paraibano José Américo de Almeida; e o
líder integralista Plínio Salgado. Mas poucos acreditavam que Vargas deixaria o
poder. Com poderes autoritários, apoiado pelas Forças Armadas e pelas elites
políticas, além do prestígio que tinha entre trabalhadores e intelectuais, em
10 de novembro de 1937 Getúlio Vargas deu um golpe de estado e implantou uma
ditadura no país: o Estado Novo.
A alegação para dar o
golpe, que não teve resistência, foi a descoberta do plano cohen – um plano
comunista, para tomar o poder, que depois se descobriu ser falso. Os estados
voltaram a ser governados por um interventor, nomeado pelo governo federal. Todas
as atividades políticas próprias da democracia representativa foram suspensas –
eleições, partidos políticos, parlamentos municipais, estaduais e federal. Uma nova
constituição, redigida pelo jurista Francisco Campos, foi outorgada. Por ela,
haveria uma Câmara Federal composta por deputados eleitos indiretamente, mas
nunca foi convocada.
Charge ironizando o Plano Cohen |
A constituição estava
de acordo com os modelos constitucionais autoritários e antiliberais em voga na
Europa e dava amplos poderes ao presidente da República. Para justificar a
ditadura, argumentava-se que as decisões do Congresso Nacional eram lentas e
que o país necessitava de um Executivo forte, capaz de tomar decisões rápidas.
Afirmava-se ainda
que, antes de 1930, o direito ao voto era uma farsa, pois democracia de fato
era ter direitos sociais e trabalhistas, acesso à educação e saúde. Assim, os
defensores do Estado Novo alegavam que o regime político instaurado em 1937
representavam uma “nova democracia”, porque era baseado nos direitos sociais
dos trabalhadores.
Em 11 de maio de
1938, um grupo de integralistas, apoiado por líderes políticos de oposição,
tomou a iniciativa de matar Getúlio Vargas, mas sem sucesso. Dezenas de
integralistas que participaram do atentado foram sumariamente fuzilados. Centenas
foram presos. Plínio Salgado teve de se exilar em Portugal. Foi o declínio do
integralismo no Brasil.
Ao longo do governo
Vargas, houve uma conjugação de medidas autoritárias com iniciativas voltadas
ao desenvolvimento econômico. Nessa época, por exemplo, foi construído o
moderno Estado brasileiro e foi fundado o Departamento Administrativo do
Serviço Público (DASP) – considerado um marco, pois possibilitava a formação de
um corpo permanente e qualificado de funcionários públicos, admitidos por
mérito em concurso, independentemente de influência das oligarquias. O Estado
se fortaleceu com a fundação de ministérios, autarquias, empresas estatais,
institutos e conselhos. O processo permitiu a intervenção estatal nas relações
entre empresários e trabalhadores e na condução da economia.
Em 1938, foi criado o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), cuja função era produzir e
coordenar a propaganda política, além de exercer censura em peças teatrais,
filmes, rádios, obras, jornais e nas atividades recreativas. O DIP era
responsável também pela criação e distribuição de diversos materiais, como
notícias, filmes, documentários e livros, com o objetivo de enaltecer Getúlio
Vargas e o Estado Novo.
Na prática, antes da
exibição de um filme no cinema, por exemplo, era apresentado o Cine Jornal
Brasileiro, que elogiava o presidente e apresentava as realizações do governo. Nas
rádios havia a transmissão obrigatória do programa A Hora do Brasil. Em bibliotecas
públicas eram distribuídas coleções de livros exaltando o presidente, o governo
e a pátria.
Propaganda de Getúlio Vargas, sistematizada pelo DIP. |
O DIP apresentava
Vargas como guia dos brasileiros, amigos das crianças e pai dos trabalhadores. Por
vezes era chamado de “pai dos pobres” por “doar” benefícios sociais ao povo.
Como forma de
propaganda governamental também foram instituídas datas festivas, como o
feriado de 1° de maio, reconhecido pelos trabalhadores como dia da celebração
do movimento operário – o “Dia do Trabalho”. Nessa data, o governo organizava
festividades em estádios como o de São Januário, no Rio de Janeiro, e do
Pacaembu, em São Paulo. Nesses eventos, Vargas discursava anunciando uma nova
medida que beneficiaria os trabalhadores.
Além disso, em troca
da cessão das bases militares e do fornecimento de borracha e minérios, o
governo norte-americano aprovou a liberação de empréstimos e fornecimento de
tecnologia para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), na cidade
de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Fundada em abril de 1941, a companhia foi
estratégica para a industrialização do Brasil.
Em resumo, a CSN, a
Companhia Vale do Rio Doce e as primeiras hidrelétricas propiciaram o impulso à
industrialização brasileira. Pela importância estratégica e pelo alto custo, o
governo reservou para as empresas estatais os ramos de siderurgia, energia,
pesquisa, transporte e comunicação.
Inauguração da CSN. |
A iniciativa privada,
de capital nacional ou estrangeiro, atuava na produção de bens de consumo, que
trazia retorno mais imediato. O planejamento econômico e as empresas estatais,
regidos por uma política nacionalista, introduziram o Brasil no mundo
industrial.
Artistas e
intelectuais participaram do governo Vargas visando desenvolver um projeto
cultural voltado para reforçar a identidade nacional. Entre eles, estavam
muitos dos modernistas que fizeram parte da semana de 1922
A cultura era
interpretada como patrimônio da sociedade. Com essa visão, foram fundados
diversos órgãos, como o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o
Museu de Belas Artes, o Museu Imperial e o Museu da Inconfidência. Também foi
criado o Instituto Nacional do Livro e o primeiro parque nacional brasileiro: o
parque nacional de Itatiaia.
O governo Vargas, com
o objetivo de reforçar o sentimento de nacionalidade, valorizou a cultura
popular. Ao mesmo tempo, os grupos populares não desperdiçaram a chance que se
abria para a legitimação da sua cultura, dando início a um processo de
reconhecimento mútuo entre o Estado e a cultura popular.
A prática da
capoeira, por exemplo, até então proibida e criminalizada, foi liberada, aceita
como arte marcial legítima e reconhecida como esporte nacional. Processo similar
ocorreu com o samba. Embora nas décadas de 1910 e 1920 os cantores e
compositores do gênero tivessem bom espaço no meio artístico, o samba era visto
com preconceito, sobretudo pelas elites brasileiras. Nos anos 1930, o governo
reconheceu o samba como expressão da cultura brasileira.
A partir de 1942, o
governo formulou o projeto conhecido como trabalhismo – expressão que veio da
Inglaterra e fazia referência ao Partido Trabalhista daquele país.
O ministro do
trabalho, Marcondes Filho, passou a falar em um programa semanal de rádio, em
que comentava vários temas, como as leis trabalhistas, a valorização do
trabalhador, o reconhecimento da cultura nacional e o desenvolvimento
econômico.
As leis sociais eram
apresentadas pelo ministro Marcondes Filho como um “presente” de Vargas aos
trabalhadores – embora ele não comentasse as lutas empreendidas por esses
trabalhadores para conquista-las. Assim, o ministro do Trabalho pedia que o
presidente fosse reconhecido em suas iniciativas. Tais argumentos fundamentaram
o prestígio de Vargas entre os trabalhadores.
No segundo semestre
de 1944, estava próximo o final da Segunda Guerra Mundial, com a derrota da
Alemanha nazista. Nessa época, o mundo estava muito diferente dos anos 1930,
quando Getúlio Vargas chegara ao poder. Com o final da guerra, a democracia
liberal recuperou seu prestígio. Assim, a ditadura do Estado Novo estava
condenada.
Os principais
comandantes militares, que até então tinham apoiado o governo ditatorial de
Getúlio, passaram a exigir a implantação de um regime democrático.
Durante o ano de
1945, a sociedade brasileira viveu a transição da ditadura para a democracia. Em
fevereiro, acabou a censura à imprensa. Em abril, a decretação da anistia pelo
governo libertou todos os presos políticos. Foram marcadas para 2 de dezembro
eleições para presidente da República, deputados federais e senadores.
Novos partidos
políticos foram organizados. Entre os grupos de oposição, o grande destaque foi
a fundação da União Democrática Nacional (UDN). O partido ficou conhecido por
ser antigetulista e anticomunista, pela defesa do moralismo e pela oposição à intervenção
do Estado na economia. Os udenistas defendiam ainda a abertura do país ao
capital estrangeiro, com um programa inspirado no liberalismo econômico. A UDN
tinha base nas cidades do interior e forte influência sobre as classes médias
das capitais de alguns estados. Os udenistas lançaram como candidato à presidência
da República o brigadeiro Eduardo Gomes.
Quando
os udenistas e os jornais atacavam a legislação trabalhista e o governo Vargas,
os trabalhadores se sentiam ameaçados, pois associavam seus direitos sociais à
pessoa do presidente. Em abril de 1945, em muros e postes das ruas das grandes
cidades surgiram frases como “Nós queremos Getúlio”. Essa ideia logo se
espalhou por todo o país, dando início ao movimento queremista.
O
queremismo cresceu rápido, com vários comícios exigindo que Vargas continuasse
na presidência da República. No entanto, aos poucos, os líderes queremistas
perceberam que não bastava a permanência de Getúlio no poder para que as leis
sociais fossem preservadas. Era preciso consolidá-las em uma nova Constituição.
O lema do queremismo deixou de ser o simples “queremos Getúlio’ e
transformou-se em “constituinte com Getúlio”.
Movimento conhecido como queremismo. |
A
vitória do brigadeiro Eduardo Gomes era dada como certa. No entanto, Vargas
apoiou a candidatura de Eurico Gaspar Dutra, com a condição de que ele
preservasse as leis sociais e indicasse o PTB para dirigir o Ministério do
Trabalho. O apoio foi fundamental, promovendo a vitória inesperada de Dutra com
mais de 55% dos votos. Getúlio Vargas e Luís Carlos Prestes foram eleitos
senadores, com grande votação nas cidades. Dutra e os parlamentares foram
empossados em 31 de janeiro de 1946.
Eurico Gaspar Dutra. |
Pela
primeira vez na história do Brasil, os antigos “coronéis” que controlavam os
votos dos eleitores na Primeira República foram derrotados em seus próprios “currais”
eleitorais. Nas cidades, políticos da UDN, surpresos e contrariados, admitiam
que os trabalhadores passaram a ter vontade própria, votando no PTB e no PCB.
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