Em
outubro de 1930, grupos políticos do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba
se uniram a oficiais do Exército conhecidos como tenentes para destituir
Washington Luís da presidência da República – movimento chamado como Revolução
de 1930. O movimento foi vitorioso e teve um de seus líderes, Getúlio Vargas,
no poder como chefe do Governo Provisório em 30 de setembro.
A
constituição de 1891 foi revogada e os governantes dos estados, substituídos
por interventores, que eram em geral tenentes da confiança do governo. O
Congresso Nacional, as assembleias legislativas e as câmaras de vereadores, por
sua vez, foram fechadas. Getúlio Vargas passou a governar por meio de decretos.
Getúlio Vargas e a Revolução de 1930. |
A
situação no Brasil não era fácil, sobretudo diante dos efeitos da crise
econômica de 1929: queda vertiginosa do preço do café no mercado internacional;
falência de fazendeiros; baixa das exportações; falta de moedas estrangeiras
para pagar a dívida externa; milhares de trabalhadores desempregados nas
cidades.
Como
a economia brasileira dependia do café, a primeira medida foi evitar o colapso
generalizado desse setor. Para isso, com a intenção de preservar a
rentabilidade mínima dos cafeicultores, o governo, em 1931, comprou parte das
safras de anos anteriores que estavam estocadas – cerca de 14 milhões de anos
de sacas de café – e as queimou. Conseguiu, assim, evitar que os preços nos
mercados internacionais caíssem ainda mais. Procurou também abrir novos
mercados de exportação, comercializando com os países da Europa central. Para
auxiliar o setor, criou o Departamento Nacional do Café.
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Getúlio
Vargas assumiu a presidência com grande prestígio, mas sua base de sustentação
não era hegemônica. Muitos políticos apoiaram a Revolução de 1930 apenas por
discordarem do presidente Washington Luís – eram políticos conservadores e não
tinham planos de reformar as estruturas econômicas e sociais do país.
Havia,
no entanto, uma nova geração de políticos reformistas que se aliou aos tenentes
e defendia reformas profundas, como a educação pública obrigatória e a
moralização das eleições com a implantação do voto secreto. O grupo reformista
pretendia ainda aprovar leis sociais a favor dos trabalhadores e diversificar a
economia, livrando o Brasil da grande dependência do café.
Enfim,
o Brasil era um país agrícola, basicamente monocultor, com um sistema político
fraudulento e dominado pelas oligarquias rurais. Por isso, os políticos
reformistas não admitiam a volta ao passado, com o domínio das oligarquias
liberais e dos coronéis, que mantinham forte influência sobre o poder público.
Para eles, aliás, um dos maiores problemas do Brasil era exatamente esse:
“falta poder público e sobra poder privado”. Portanto, o grupo desejava um
Governo Provisório longo, capaz de realizar as reformas propostas e, assim,
eliminar o poder das oligarquias e dos coronéis.
Uma
das primeiras e principais medidas tomadas pelo Governo Provisório foi a
criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, também chamado de
Ministério da Revolução, por meio do qual o Estado passava a intervir nas
relações entre patrões e trabalhadores. Com isso, entre 1931 e 1934, foi
promulgada a maior parte da legislação trabalhista vigente até hoje: limitação
da jornada de trabalho, regulamentação do trabalho feminino e infantil,
pagamento de horas extras, férias, pensões e aposentadorias, entre diversas
outras. (Vale destacar que grande parte dos direitos trabalhistas foram
retirados pelo atual governo e, sobretudo, serão impostas a partir de novembro).
Em
curto espaço de tempo, os trabalhadores brasileiros passaram a usufruir de
direitos sociais, ampliados alguns anos depois com o estabelecimento do salário
mínimo (1940). Mas não bastava criar leis trabalhistas, era necessário obrigar
os empresários a cumpri-las. Para isso foram instituídas as Juntas de
Conciliação e Julgamento, que resultaram na Justiça do Trabalho (1939) – um
tribunal para assegurar que os patrões acatassem a legislação.
Em
julho de 1943, o governo reuniu essas leis na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). No entanto, a legislação trabalhista estava voltada apenas para os
trabalhadores urbanos, pois os trabalhadores rurais não foram incluídos nos
benefícios dessa legislação.
Getúlio Vargas e a concessão de direitos aos trabalhos. |
Além
das leis trabalhistas, o governo montou um sistema de saúde pública: construiu
grandes hospitais e criou o Ministério da Educação e Saúde. Investiu recursos
na área da saúde da criança, da gestante e no combate de doenças endêmicas,
como malária, febre amarela e lepra, com equipes deslocando-se para lugarejos
que não contavam com serviços médicos. Foi criado também um vasto programa de
previdência social, com seguros contra a invalidez, doença, morte, acidentes de
trabalho, seguro-maternidade, entre outros.
Foi
instituído ainda um sistema público de educação básica e foram criadas Escolas
Normais para a formação de professores. O governo Vargas adotou os princípios
de um movimento conhecido como Escola Nova – escola pública, universal,
gratuita e laica -, onde todos deveriam receber a mesma educação, criando,
assim, a igualdade de oportunidades. Além disso, foram implementadas companhas
pela erradicação do analfabetismo.
Entretanto,
parte das oligarquias de São Paulo era vista como empecilho para a execução das
reformas, sobretudo os grupos que serviram de base para os governos anteriores
a 1930 e mostravam insatisfações com as medidas aplicadas pelo Governo
Provisório. Então Vargas excluiu do governo esses grupos, em especial os
ligados ao Partido Democrático (PD) que, nas eleições de 1930, tinham apoiado a
sua candidatura. Em seguida, nomeou para administrar e estado um interventor
militar, o pernambucano João Alberto, identificado com o tenentismo.
A
reação dos paulistas foi imediata, lançando uma campanha pela
constitucionalização do país. Apesar de diferentes projetos, as elites
políticas paulistas se uniram pela volta do regime constitucional e a autonomia
dos estados. Com o fortalecimento da oposição, Vargas recuou e substituiu João
Alberto pelo paulista Pedro Toledo, indicado pelas elites do Estado. Em
fevereiro de 1932, o governo federal editou o Código Eleitoral que convocava
uma Assembleia Nacional Constituinte. Esse código também instituiu o voto
secreto e a Justiça Eleitoral, além de estender às mulheres o direito de votar.
As eleições ficaram marcadas para maio de 1933.
Mas
as medidas não surtiram efeito. Membros do PRP e do PD formaram a Frente Única
Paulista (FUP), exigindo autonomia dos estados e o fim do Governo Provisório de
Vargas com a constitucionalização do país. Algumas lideranças formaram uma
organização civil clandestina com a sigla MMDC. Tratava-se das iniciais dos
nomes de quatro estudantes mortos em conflitos de rua com a polícia: Miragaia,
Martins, Dráusio e Camargo.
Cartaz convocando a população paulista à guerra. |
Em
9 de Julho de 1932 eclodiu a rebelião conhecida como Revolução
Constitucionalista, mobilizando setores ligados ao café, à indústria e às
classes médias do estado. Também houve a participação de intelectuais, embora
os trabalhadores tivessem ficado distantes da rebelião. Fábricas foram
convertidas para a produção de armas. Mas os revoltosos não receberam o apoio
esperado de outros estados, em particular Minas Gerais e Rio Grande do Sul
Restritos
a São Paulo, os conflitos duraram três meses. O comando da revolução
constitucionalista se rendeu em 2 de outubro de 1932. Com o fim dos combates,
vários líderes foram presos e muitos foram obrigados a se exilar no exterior.
Apesar da derrota no plano militar, as elites paulistas tiveram ganhos políticos:
a convocação da Assembleia Nacional Constituinte não poderia ser revogada e foi
nomeado o segundo interventor civil e paulista – Armando de Salles Oliveira. A
guerra civil resultou no processo de reconstitucionalização do país.
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