Com o endurecimento político, alguns
grupos opositores decidiram partir para a luta armada. Promoveram diversas
ações violentas, incluindo assaltos a bancos, com o objetivo de obter dinheiro
para financiar a luta, e sequestros de diplomatas estrangeiros, para trocá-los
por presos políticos.
Carlos Lamarca - líder da VPR. |
Dois líderes
guerrilheiros desse período, o ex-deputado comunista Carlos Marighella (da Ação
Libertadora Nacional – ANL) e o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca (da
Vanguarda Popular Revolucionária – VPR), foram mortos. Além deles, milhares de
pessoas acusadas de subversão foram torturadas pelos agentes da repressão;
centenas delas foram mortas em todo o país.
O governo médici foi
marcado ainda por um período de desenvolvimento econômico que a propaganda
oficial chamou de “milagre brasileiro”, destacado por grandes projetos de
integração nacional – como a rodovia transamazônica – e de crescimento
econômico.
Carlos Marighella, vítima de uma emboscada planejada pelos militares. |
Comandada por Antônio
Delfim Neto, ministro da Fazenda desde o governo Costa e Silva, a economia
passou a crescer a altas taxas anuais, tendo como base o aumento da produção
industrial – com destaque para a indústria automobilística -, o crescimento da
geração de energia elétrica e das exportações (bens manufaturados, veículos
etc) e a acentuada utilização de capital estrangeiro na forma de investimentos
diretos e empréstimos.
A contrapartida desse
crescimento foi a adoção de uma rígida política de arrocho salarial, contra a
qual os trabalhadores e os sindicatos não podiam reagir devido à repressão
política. A concentração de renda no país se intensificou. O próprio presidente
Médici teia admitido o lado desfavorável do “milagre brasileiro” ao afirmar: a
economia vai bem, mas o povo vai mal”.
Segundo Elio Gaspari,
“o Milagre Brasileiro e os Anos de Chumbo foram simultâneos. Ambos reais,
coexistiram negando-se (...). Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta
de admitir) que houve o outro”.
O “milagre”, porém,
durou pouco. A partir de 1973, teve início a primeira crise do petróleo, que
provocou uma alta vertiginosa nos preços desse produto. A economia mundial
desestabilizou-se, e a brasileira – que não se baseava de forma predominante
nas próprias forças econômicas – sofreu grande impacto. A inflação começou a
subir, e a dívida externa elevou-se de maneira assustadora.
Teve início, então,
uma longa e amarga crise econômica. O governo militar começou a perder um de
seus principais argumentos de sustentação no poder: estava provado que a
ditadura não garantia o desenvolvimento.
Ernesto Geisel |
Terminado o mandato
de Médici, o general Ernesto Geisel foi indicado pelo alto comando militar para
sucedê-lo. Pela primeira vez, no entanto, havia um concorrente indicado pelo
partido da oposição: foi a chamada anticandidatura do deputado Ulysses
Guimarães, do MDB, cujo objetivo era denunciar a farsa do processo eleitoral. Geisel
foi eleito pelo Colégio Eleitoral, com os votos dos membros da ARENA, e assumiu
o cargo em 15 de março de 1974.
Geisel integrava um
grupo de oficiais militares favoráveis à devolução gradual do poder aos civis e
dizia-se disposto a promover um processo “gradual, lento e seguro” de abertura democrática.
Com “seguro” o novo presidente queria dizer que não permitiria uma guinada “à
esquerda” no regime político e garantiria a manutenção das grandes diretrizes
do golpe de 1964.
No plano econômico,
Geisel recebeu um país com dificuldades que anunciavam o fim do “milagre”:
queda do PIB, aumento da inflação e uma enorme dívida externa. Com a crise do
petróleo, o novo governo percebeu que era necessário modificar alguns
fundamentos da política econômica adotada até então, tanto no plano interno
como no externo.
O governo Geisel
iniciou o processo de abertura política do regime militar diminuindo a censura
sobre os meios de comunicação e realizando, em 1974, eleições livres para
senador, deputado e vereador.
Nessas eleições, o
MDB, único partido de oposição, alcançou uma vitória significativa sobre a
Arena, o partido do governo. Isso assustou os militares da chamada linha dura. Apesar
das declarações do governo, os comandantes dos órgãos de repressão não tinham
nenhuma simpatia pela ideia de uma abertura democrática, razão pela qual
continuaram agindo com a mesma violência do período anterior.
Foi nesse contexto
que ocorreu, em São Paulo, a morte do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de
1975. O fato foi noticiado na grande imprensa. Pouco tempo depois, em janeiro
de 1976, morreu o operário Manoel Fiel Filho. Ambos haviam sido presos,
torturados e mortos nas dependências do Destacamento de Operações de
Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), ligado ao II
Exército.
Jornalista Vladimir Herzog, encontrado morto nas dependências do DOI-CODI. |
As ações dos órgãos de repressão, que alegavam agir em nome da segurança nacional, escandalizaram a opinião pública. Geisel reagiu afastando imediatamente o general comandante do II Exército. Em outubro de 1977, exonerou o ministro da Guerra, general Silvio Frota, que pertencia à chamada linha dura.
Em face da derrota do
governo nas eleições nas eleições de 1974, Geisel decidiu recuar no processo de
abertura política. Sua preocupação eram as eleições municipais de 1976 e,
depois, as eleições estaduais e federais de 1978. Os problemas econômicos do
país, junto com as críticas da oposição, poderiam determinar uma votação
contrária ao governo. Assim, foram decretadas novas normas restritivas em
relação ao processo político-eleitoral, como a Lei Falcão e o Pacote de Abril.
Decretada em junho de
1976, a Lei Falcão – cujo nome deriva do ministro da Justiça, Armando Falcão –
limitava a propaganda eleitoral, no rádio e na televisão, à apresentação
protocolar de um breve resumo das atividades políticas do candidato. Foi a
forma encontrada pelo governo para impedir o debate político.
Com o Pacote de
Abril, divulgado em abril de 1977, Geisel fechou o Congresso Nacional por duas
semanas e decretou uma série de normas autoritárias que, entre outras medidas,
determinava que um terço dos senadores fosse escolhido por eleições indiretas. Criava-se
o que a imprensa apelidou, pejorativamente, de senadores biônicos, isto é, que
não eram eleitos pelo voto popular e sempre votavam a favor do governo.
Durante o processo de
abertura política, destacou-se o surgimento de um novo sindicalismo, de perfil
oposicionista em relação às diretrizes governamentais. Esse movimento liderou
as primeiras greves operárias contra o achatamento dos salários e o
autoritarismo do governo militar.
Durante o ano de
1979, em todo o país, mais de 3 milhões de trabalhadores fizeram greve. Entre as
paralisações destacaram-se as greves dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo,
na Grande São Paulo, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, então
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – região que abrange os municípios
paulistas de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul e concentrava
grandes e médias industriais metalúrgicas na época.
Luiz Inácio Lula da Silva - presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. |
O primeiro grande
marco do processo de redemocratização foi a Lei da Anistia, que resultou de um movimento
nacional impulsionado por vários segmentos da sociedade civil.
Milhares de pessoas
foram beneficiadas com a anistia promulgada em agosto de 1979: os presos
políticos da ditadura militar puderam ser liberados; os brasileiros que estavam
exilados em outros países tiveram a possibilidade de regressar ao Brasil; as
pessoas que tinham perdido seus direitos políticos foram reabilitadas em sua
cidadania.
Em contrapartida, a
anistia foi ampla o suficiente para absolver os militares acusados de praticar torturas
ou cometer assassinatos. Mas não foi irrestrita. Militares punidos por não
terem se engajado no golpe e aqueles que haviam cometido atos considerados
terroristas pelo regime militar não foram beneficiados com a anistia.
Outra mudança foi a
aprovação pelo Congresso, em novembro de 1979, de uma Lei Orgânica dos
Partidos, que restabeleceu o pluripartidarismo, acabando, portanto, com o
bipartidarismo no país. Os registros da Arena e MDB foram cancelados e nos
meses seguintes formaram-se seis novas legendas que deveriam contar,
obrigatoriamente, com a palavra partido em seu nome. Entre elas: o Partido
Democrático Social (PSD), o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB);
Partido dos Trabalhadores (PT); o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); o
Partido Democrático Trabalhista (PDT); o Partido Popular (PP); dentre outros.
Foi no agravamento da
crise econômica e da insatisfação popular com o governo que ocorreram as
eleições de 1982. Apesar da continuidade da Lei Falcão e de outras dificuldades
impostas pelo governo, o eleitorado manifestou seu descontentamento elegendo um
grande número de candidatos da oposição nos estados mais populosos, onde os
movimentos sociais eram mais organizados.
Em 15 de março de
1983, depois de 18 anos de ditadura, novos governadores, eleitos pelo voto
direto, assumiram a liderança dos estados brasileiros. Com força renovada, as
oposições políticas passaram a exigir eleições diretas para presidente da
República e a volta dos civis ao poder.
De janeiro a abril de
1984, a campanha pelas eleições diretas reuniu milhões de pessoas em diversas
cidades do país. Esse movimento ficou conhecido pelo nome Diretas já.
Movimento conhecido como Diretas já |
O presidente
Figueiredo mostrava-se irresoluto sobre a sucessão presidencial, ora dizendo
que não tinha apego pelo poder, ora dando sinais de querer permanecer. Mas parecia
certo que ele pretendia que a próxima eleição presidencial fosse pela via
indireta. Na véspera da votação da emenda Dante de Oliveira, marcada para 25 de
abril de 1984, o governo decretou estado de emergência em Brasília, e forças
policiais militares cercaram o Congresso. Os governistas alegavam que havia
necessidade de proteger os parlamentares da “pressão popular”.
No dia da votação,
apesar da ampla mobilização da sociedade civil, a emenda Dante de Oliveira não
alcançou número suficiente de votos na Câmara para entrar em vigor. Uma série
de manobras de políticos ligados ao regime militar impediu que se obtivesse o
número de votos necessários.
O principal grupo
contrário à emenda Dante de Oliveira era liderado pelo então deputado federal
paulista Paulo Maluf, que acreditava poder eleger-se para a presidência da República
por meio das eleições indiretas promovidas no Colégio Eleitoral.
Em 15 de janeiro de
1985, o Colégio Eleitoral deu maioria de votos à chapa da Aliança Democrática,
elegendo Tancredo Neves como sucessor de Figueiredo. Apesar da eleição
indireta, a escolha de Tancredo foi bem acolhida pela população, despertando um
sentimento de esperança de transformações democráticas.
Tancredo era
conhecido como um político conciliador. Na qualidade de presidente eleito,
visitou governantes de diversos países no mês seguinte e, quando voltou, negociou
e anunciou seu ministério. No entanto, atingido por grave enfermidade, foi
internado na véspera da posse (14 de março) e não pôde assumir a presidência.
Submetido a várias
cirurgias, faleceu no dia 21 de abril de 1985, deixando de luto boa parte da
sociedade. Por força de uma lei de 21 de abril de 1986, Tancredo Neves é
considerado ex-presidente do Brasil, embora não tenha sido empossado.
Cortejo fúnebre de Tancredo Neves. |
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