Em 31 de março de 1964, explodiu a rebelião das Forças
Armadas contra o governo João Goulart. O movimento teve início em Minas Gerais,
apoiado pelo governador Magalhães Pinto. Rapidamente, os golpistas contaram com
a adesão de unidades de São Paulo, do Rio Grande do Sul e do antigo estado da
Guanabara.
João Goulart - presidente deposto pelos militares. |
Sem condições de resistir ao golpe militar, o presidente
João Goulart deixou Brasília em 1º de abril de 1964. Passou pelo Rio Grande do
Sul e, em seguida, foi para o Uruguai como exilado político. Era o começo do
período de governos militares.
O comando militar que passou a governar o país, em 9 de
abril de 1964, o Ato Institucional nº 1 (AI-01), que modificava a Constituição
em vigor, conferindo ao Executivo federal poderes para:
·Cassar
mandatos de parlamentares;
·Suspender
direitos políticos de qualquer cidadão;
·Realizar
outras modificações na Constituição;
·Decretar
estado de sítio sem aprovação do Congresso;
Castello Branco. |
No
dia 10 de abril, o Congresso Nacional foi reunido e, sob pressão, elegeu para a
presidência da República o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, que
assumiu o governo em 15 de abril de 1964.
O
governo Castello Branco foi imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos e
contou com o apoio de grandes empresários brasileiros e diretores de empresas
multinacionais.
Um
motivo importante para a obtenção desse apoio foi a adoção, pelos militares
brasileiros, de um conjunto de princípios conhecidos como Doutrina de Segurança
Nacional – elaborada pelos EUA e desenvolvida pela Escola Superior de Guerra.
De acordo com essa doutrina, o governo brasileiro assumia o compromisso de
combater as ideias socialistas e/ou comunistas.
Com
base nesse compromisso, promoveu-se forte repressão policial contra várias
entidades sociais: sindicatos foram fechados e a União Nacional dos Estudantes
(UNE), invadida e também fechada. Em 60 dias de governo militar, mais de 300
pessoas tiveram mandatos cassados e direitos políticos suspensos – entre elas,
três ex-presidentes da República: Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João
Goulart. No plano externo, em maio de 1964, as relações diplomáticas com Cuba –
único país latino-americano que adotava um regime socialista – foram rompidas.
Outra
medida que agradou principalmente autoridades e empresários dos EUA foi a
extinção da Lei de Remessa de Lucros (sancionada por Goulart em janeiro de
1964), permitindo que as multinacionais voltassem a enviar a suas matrizes no
exterior grandes somas de dinheiro, resultado dos lucros obtidos no Brasil.
A
política econômica era dirigida por Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões,
que elaboraram o Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg). Uma das
principais propostas desse programa era o combate à inflação mediante
favorecimento do capital estrangeiro, restrições ao crédito e redução dos
salários.
Durante
esse período, os trabalhadores perderam o direito de estabilidade no emprego e
foram reprimidas em suas tentativas de protestos. Muitos sindicatos sofreram
intervenção. As medidas econômicas realizadas tornaram o governo impopular,
provocando a reação até mesmo de antigos aliados do golpe militar, como Carlos
Lacerda. Este teria dito que o ministro Roberto Campos era um homem imparcial,
porque estava destruindo imparcialmente pobres e ricos.
Esse
descontentamento refletiu-se nas eleições para os governos estaduais de 1965,
quando as oposições ao regime militar conseguiram vitórias significativas. Em
resposta, e para combater a oposição, o governo federal editou novas normas
antidemocráticas.
Com
isso, foi decretado o AI-02, que conferia mais poderes ao presidente da
República para cassar mandatos e direitos políticos. Além disso, estabelecia a
eleição indireta para presidente e extinguia todos os partidos políticos
existentes. Com isso, foi realizado uma reforma partidária, adotando o
Bipartidarismo (existência de apenas dois partidos políticos). Formaram-se,
então:
·
A Aliança Renovadora Nacional (ARENA) –
Partido que congregou os políticos que apoiavam o governo e,
·
O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – Partido
que reuniu os políticos que se opunham ao governo (dentro dos limites
considerados “aceitáveis” pelos militares).
Charge sobre o bipartidarismo. |
O
Ato Institucional nº 3 estabeleceu o fim das eleições diretas para prefeitos
das capitais e governadores. A partir de então, os governadores seriam
indicados pelo presidente da República e submetidos à aprovação das Assembleias
Legislativas. Os prefeitos seriam indicados pelos governadores.
Ao
final do governo Castello Branco, o alto comando militar escolheu como novo
presidente o marechal Arthur da Costa e Silva, ministro da guerra de Castello
Branco. Essa escolha foi referendada em 3 de outubro de 1966 pelos políticos da
Arena, que eram maioria no Congresso Nacional. Para registrar seu protesto, os
integrantes do MDB retiraram-se do local de votação. Costa e Silva assumiu a
presidência em 15 de março de 1967.
Durante
o governo Costa e Silvam apesar da repressão policial, aumentaram os protestos
contra a ditadura militar no país. As manifestações reuniam diversos grupos
sociais. Estudantes saíam às ruas em passeata, operários organizavam greves
contra o arrocho salarial, políticos de oposição faziam pronunciamentos
criticando as arbitrariedades da ditadura. Carlos Lacerda, por exemplo,
procurou organizar uma frente ampla de oposição política. Entre os membros da
Igreja Católica, padres denominados progressistas denunciavam a fome do povo e
a tortura policial contra os adversários da ditadura.
No Rio
de Janeiro, mais de 100 mil pessoas saíram às ruas em passeata, no dia 26 de
junho de 1968, em protesto contra o assassinato do estudante Edson Luís de Lima
Souto, de 18 anos, morto pela polícia durante uma manifestação pública contra o
regime militar. Alguns meses depois o governo reagiu com a publicação do Ato
Institucional nº 5, ou, simplesmente, AI-5.
Corpo de Edson Luis, vítima da brutalidade da Ditadura Militar. |
Em
setembro de 1968, o deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, fez um discurso
veemente contra os militares no Congresso Nacional, responsabilizando-os pela violência
policial praticada contra os estudantes e outros grupos. Ele propôs à população
boicotar a parada militar de 7 de setembro.
Oficiais
militares consideraram o discurso ofensivo à honra das Forças Armadas e exigiram
que o deputado fosse processado. Devido à imunidade parlamentar dos deputados,
para processá-lo era necessária uma autorização da Câmara Federal. O Ministro
da Justiça solicitou, então, ao Congresso licença para entrar com uma ação
contra Moreira Alves, mas a Câmara Federal negou-se a conceder tal autorização.
A resistência
dos parlamentares provavelmente serviu de pretexto para os setores militares
que pretendiam endurecer ainda mais o regime. Em dezembro de 1968, o governo
determinou o fechamento do Congresso Nacional por tempo ilimitado e a cassação
do mandato do deputado Marcio Moreira Alves e de outros parlamentares. Também decretou
o AI – 5, um dos mais terríveis instrumentos normativos lançados pelo regime
militar, era o fechamento político, defendido pela “linha dura” do comando
militar.
O AI
– 5 conferia ao presidente da República amplos poderes para perseguir e reprimir
as oposições. Podia, por exemplo, decretar estado de sítio, intervir nos
estados e municípios, cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos,
demitir funcionários públicos etc.
General Costa e Silva. |
Utilizando
o AI – 5, o governo Costa e Silva determinou a prisão de milhares de pessoas em
todo o país – inclusive a de Carlos Lacerda, do marechal Lott e de Juscelino
Kubitschek; fechou o Congresso Nacional por tempo indeterminado; cassou o
mandato de centenas de deputados federais e estaduais, vereadores e prefeitos;
e afastou quatro ministros do Supremo Tribunal Federal.
A legislação
arbitrária preocupa o presidente Costa e Silva, que não queria passar à
história apenas como o criador do AI – 5. Por isso, confiou ao vice-presidente,
Pedro Aleixo, a missão de elaborar o anteprojeto de uma nova Constituição para
o país. A Carta estava praticamente concluída quando Costa e Silva foi obrigado
a se afastar da presidência.
Pedro Aleixo foi
impedido de substituí-lo: os ministros não queriam um civil no poder. Assim,
durante dois meses, o país foi governado por uma Junta Militar, composta de
ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Em 22 de outubro de
1969, por determinação da Junta Militar, o Congresso foi reaberto – mas sem os
deputados cassados dez meses antes, logo após a edição do AI – 5.
Emílio Garrastazu Médici. |
Apoiado na legislação
instituída no final do governo Costa e Silva, o novo general-presidente, Emílio
Garrastazu Médici representou os chamados anos de chumbo da ditadura, período em
que o poder ditatorial e a violência repressiva contra as oposições chegaram ao
seu auge.
Com a suspensão dos
direitos fundamentais do cidadão, qualquer um que se pronunciasse contra o
governo podia ser perseguido politicamente, demitido do emprego ou até mesmo
preso.
Os militares
procuraram esconder da população o combate violento que moveram contra grupos
sociais de diversas tendências políticas que se opunham à ditadura: liberais,
socialistas e comunistas. Com a censura aos meios de comunicação, grande parte
da população não sabia o que acontecia nos porões dos órgãos de segurança
pública.
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