Os
princípios do movimento iluminista se desenvolveram de uma maneira intensa,
influenciando as sociedades contemporâneas. As concepções teóricas
sistematizadas pelos intelectuais iluministas repercutiram na estrutura
econômica, política e social dos países. A insatisfação da população no que diz
respeito à ordem política vigente (o Antigo Regime) gerou um ambiente propício
para o desenvolvimento e disseminação dos ideais iluministas e sua fundamentação
como parte fundamental para a estrutura organizativa dos governos atualmente.
O principal lema do Iluminismo foi a
liberdade em seu amplo sentido. Os filósofos franceses do século XVIII criaram
um conjunto de ideias que remodelaram a sociedade de uma maneira significativa.
O Antigo Regime, forma de governo que impunha a repressão e a ausência de
liberdade de expressão gerou um descontentamento suntuoso entre os filósofos do
século das luzes. Deve-se ressaltar que em tal modelo político que o conhecimento
era totalmente vinculado tão-somente à Igreja Católica e, sobremaneira, o Rei
absolutista ditava as regras acerca da organização social existentes.
Com isso, o filósofo Jean-Jacques
Rousseau reformulou suas ideias sobre a forma pela qual a sociedade deveria ser
organizada, levando em consideração as noções de liberdade então vigentes. Suas
concepções eram contrárias às concepções de Thomas Hobbes que afirmava existir
a necessidade de consolidar um Estado forte e autoritário com a finalidade de se
manter a ordem social. Rousseau afirmava que o contrato social era a
organização política adequada para concretizar a liberdade entre a população.
Ainda segundo o pensamento do intelectual, se o soberano não garantir as
condições de sobrevivência das pessoas e governar de uma forma despótica, a
população teria o direito de organizar um novo sistema de votação e escolher
outro representante.
Enquanto os súditos que se unem
pelo contrato continuam, a despeito dessa união, existindo como verdades
individuais, nenhuma unida autêntica e verdadeira foi realizada ainda. Essa
unidade jamais será alcançada pela coerção. É na liberdade que ela deve
alicerçar-se. Na verdade, a liberdade não exclui de maneira nenhuma a
submissão; ela não significa arbitrariedade mas, pelo contrário, estrita
necessidade de ação. (VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro; FERREIRA,
Jorge; SANTOS, Georgina dos. 2010, pág. 325)
Portanto,
pode-se afirmar que a estrutura política moderna se fundamentou tendo como
princípios as ideias de Rousseau, principalmente no que se refere à liberdade
de expressão. Além disso, contribuiu contundentemente para a sistematização de
ideais e valores democráticos no seio das sociedades contemporâneas, uma vez
que aconteceu a associação de tais valores com o progresso científico e
tecnológico. A felicidade humana, com a concessão plena de seus interesses,
estaria condicionado à justa distribuição do poder e a garantia dos direitos
básicos da população.
Todavia, o pensamento de Rousseau
não era unanimidade entre os demais filósofos iluministas, uma vez que a
finalidade era a implantação de reformas que, sobremaneira, garantiria a
manutenção da monarquia. Com isso, grande parte da sociedade continuaria
alijada do poder. O sistema de voto proposto pelos iluministas era o censitário
masculino, ou seja, somente os homens que possuíam uma certa renda poderia
exercer o direito de voto. Levando em consideração que mais de 80% da população
europeia do período em questão era composta por membros do Terceiro Estado, grande
parte da população não era considerada membros cidadãos da sociedade em que
estavam inseridos. Nota-se que, diante do posicionamento de grandes filósofos
do movimento, o Iluminismo ganhou um sentido burguês em sua fundamentação
teórica.
Mesmo com seu caráter elitista, o
Iluminismo influenciou a estrutura organizativa de diversas nações e promover a
reformulação de valores e de concepções políticas. A ideologia liberal ganhou
um impulso significativo com os intelectuais Voltaire e Montesquieu, uma vez que
ambos garantiam a liberdade de expressão e de propriedade privada, ideias
inovadoras para a época.
Um dos alicerces de Voltaire era a
liberdade religiosa, garantido pelas sociedades atualmente, através de uma
legislação democrática e cidadã. Porém, para o momento e a sociedade na qual o
filósofo estava inserido, suas ideias eram consideradas uma ameaça para a
hegemonia da Igreja Católica e, sobretudo para o poder absoluto dos reis
europeus. O embasamento epistemológico do pensador ganhou destaque no processo
de concretização da igualdade civil e liberdade tendo como funcionalidade o
progresso da sociedade.
Outra importante contribuição dos
filósofos iluministas consiste na divisão do poder na estrutura governamental
de um país. Segundo o filósofo Montesquieu, “uma injustiça feita ao indivíduo é
uma ameaça a toda sociedade”. Em outras palavras, as injustiças sociais e a
concentração do poder nas mãos de um seleto grupo contribuía para o avanço da
desigualdade entre a população e, sobremaneira, o desenvolvimento de regimes
políticos autoritários.
Em sua mais famosa obra, “O espírito das
leis”, o filósofo defendeu a concepção de poder dividida em três esferas
independentes entre si. Essas esferas seriam o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário. Com isso, não haveria espaço para o fortalecimento do poder nas
mãos de uma única pessoa e, categoricamente, a igualdade seria concretizada na
sociedade. Em outras palavras, segundo o pensamento de Montesquieu, se uma
única pessoa criasse as leis e as colocasse em prática, haveria o surgimento de
regimes políticos desprovidos de igualdade e liberdade religiosa e de
expressão.
A filosofia iluminista, precisamente em
suas ramificações no plano político e social, serviram de embasamento para a
formação das sociedades contemporâneas. Todavia, ainda existe a contribuição
econômica dos intelectuais Iluministas para a composição organizativa do poder
constituinte, no que tange, mormente, às relações entre a classe burguesa e as
regras de comércio estabelecidas pelo Estado.
O liberalismo econômico, fundado por
Adam Smith, propagava a concepção de que o Estado deveria conceder aos
burgueses a liberdade de comércio. Ou seja, segundo Smith, o governo não pode
estabelecer diretrizes econômicas, promovendo a ampla liberdade de
comercializar no interior da sociedade. Deve-se frisar que tal pensamento é
comumente adotado por diversas nações do mundo e que foi responsável pela
estruturação das relações econômicas da nações desenvolvidas financeiramente.
Pode-se afirmar que o liberalismo de Adam Smith serviu como alicerce para a
adoção do modo capitalista de produção que, de uma maneira categórica, culminou
na sistematização de novas relações de trabalho.
Outro importante fenômeno foi o
Despotismo Esclarecido, que surgiu na França também no século XVIII e se
espalhou para diversos países no mundo. O termo em questão apresenta o
inconveniente de propor uma contradição nos seus termos, pois um déspota não
poderia ser, por definição, ser esclarecido. Na verdade, o Despotismo Esclarecido
foi uma mistura de elementos que englobava valores outorgados pelos filósofos
iluministas e o autoritarismo dos soberanos na direção do Estado.
Mas foi isso que ocorreu no século
XVIII em vários reinos europeus cujos monarcas e ministros assimilavam parte
das ideias iluministas em voga na França e na Inglaterra num esforço para
modernizar o Estado. Eles buscavam libertá-lo da influência da religião,
sobretudo nos países católicos, e utilizar o governo para fomentar a economia,
aumentar a riqueza da sociedade. (DESCARTES, René. 2001. Pág. 56)
O
Despotismo Esclarecido sistematizou um conjunto de práticas essencialmente
iluministas, porém manteve traços do autoritarismo do Antigo Regime. A
racionalização da economia, proposta por Adam Smith foi adotada pelos
governante com a finalidade de promover o desenvolvimento econômico, marcado
pelos retrocessos verificados até o momento. Além disso, as reformas
implantadas pelos déspotas esclarecidos estavam desvinculadas das práticas
adotadas pela Igreja.
A repercussão mais imediata foi
sentida nas colônias dos países ibéricos, pois houve uma tentativa dos reis no
sentido de impedir a ação da inquisição e dos padres jesuítas. A finalidade era
impedir que os tribunais eclesiásticos inviabilizasse a propagação das “ideias
francesas”, consideradas uma ameaça ao predomínio exercido pela Igreja
Católica. Além disso, objetivava adotar as concepções liberais e,
consequentemente sistematizar o crescimento econômico na metrópole portuguesa.
Portanto, o modelo político-econômico
adotado pelos déspotas esclarecidos serviram de alicerce para o estabelecimento
de diretrizes administrativas implantadas nas sociedades contemporâneas. A
filosofia, ramo do conhecimento que procura analisar meticulosamente os
acontecimentos, ganhou uma conotação epistemológica na França do Século XVIII,
reformulando as normas e valores das sociedades contemporâneas. Por isso, as
ideias dos filósofos do período em questão ainda são presentes e atuais,
gerando acalorados debates sobre sua funcionalidade orgânica.
muito obrigado
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