Um
dos pressupostos conceituais concernentes ao movimento iluminista, mais
precisamente no âmbito filosófico, consiste em seus impactos na sociedade
contemporânea. O objeto de estudo em questão aborda de uma maneira categórica a
definição do Iluminismo, tendo como finalidade apresentar os aspectos da sua
filosofia e, sobremaneira a sus repercussão no dias atuais.
Uma definição mais precisa sobre a
palavra Iluminismo é “Iluminar” e “Esclarecer”, além de “Ilustração”. Deve-se
apresentar as motivações pelas quais os termos anteriores foram empregados, uma
vez que o seu contexto apresentava elementos peculiares. No período conhecido
como Idade Médio e, posteriormente, na consolidação dos Direito Divino dos
Reis, a produção de conhecimento estava permeada de concepções teocêntricas,
onde as explicações acerca dos eventos sociais eram oferecidas pela Igreja
Católica.
A sociedade, em todas as suas
esferas estava marcada pela opressão e sistematização dos saberes existentes na
órbita da Igreja. A instituição eclesiástica controlava de uma forma absoluta
tudo que se passava e todos os saberes existentes até então. Com isso, não
havia espaço para debates e formação de uma classe de pensadores e
questionadores sobre a ordem política, social e cultural estabelecida ao longo
da história.
Um dos fatos marcantes do século
XVII serviu de corroboração das práticas e ideais dos filósofos iluministas foi
a “revolução científica”. Em outras palavras, houve um avanço substancial acerca
do racionalismo, onde Galileu Galilei aprofundou a teoria heliocêntrica de
Nicolau Copérnico, demonstrando que a Terra girava em torno do Sol,
desconstruindo a teoria geocêntrica (a Terra era o centro do universo e o Sol
girava em torno dela) defendida pela Igreja Católica. Foi o momento em que
Isaac Newton desvendou a lei de gravitação universal, mostrando que dois
objetos quaisquer se atraem por meio de uma força que depende da massa desses
objetos e da distância entre eles, fundando a Física Moderna.
Em resumo, duas
correntes do pensamento, marcadas pelo antagonismo, acirraram a disputa no
sentido de tornar-se a detentora do conhecimento. A ciência e a religião
apresentaram peculiaridades no sentido de concretizar a supremacia ideológica
do mundo contemporâneo em processo de formação. No que concerne ao Iluminismo,
a razão assumiu um importante papel que, de uma maneira substancial, foi
responsável pela “laicização” do mundo ocidental, em prejuízo da mentalidade
religiosa. Com isso, um dos principais objetivos dos filósofos iluministas era
promover a desvinculação do ensino da Igreja, que estabelecia as diretrizes
curriculares na sociedade em questão. Portanto, os dogmas defendidos pela instituição
religiosa perdeu espaço, contrastando com o desenvolvimento e disseminação das
ideias iluministas.
Deve-se
frisar que a filosofia iluminista foi o ramo do conhecimento que provocou a
perda de influência da Igreja no mundo moderno, pois o homem assumiu um papel
de destaque, sendo considerado um ser capaz de entender o mundo que o cerca. O
antropocentrismo (o homem no centro de tudo) corroborou a filosofia que
sistematizava a busca incessante pelo conhecimento. A filosofia, sobremaneira,
se aperfeiçoou no sentido de promover um intenso debate acerca da organização
da sociedade e a organização das diretrizes governamentais em vigência. Não
obstante, o século XVIII também recebeu o nome de século das luzes, uma vez que
contrastava o período de “trevas” do período anterior e criticava a hegemonia
que a Igreja Católica exercia no mundo.
O
Iluminismo representa a saída dos Seres Humanos de uma tutela que estes mesmos
se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer
uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da
própria tutela quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas
falta de resolução e coragem para fazer uso do entendimento independentemente
da direção de outrem. Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! – esse é
o lema do Iluminista (...). (KANT, Immanuel, 1998, pág. 134)
Com a finalidade de sistematizar todo o
conhecimento existente na época, alguns filósofos como Denis Diderot e Jean
D’Alembert criaram a enciclopédia, que compreendia 17 volumes e foi organizada
a englobando os saberes inerentes à áreas como ciência, arte, música, política,
religião, matemática, etc. Com isso, os enciclopedistas, como eram chamados os
filósofos iluministas, procuravam valorizar o estudo das mais importantes áreas
do saber, tendo como princípio libertar o pensamento dos preceitos religiosos.
Deve-se
destacar que os filósofos que criaram a enciclopédia possuíam um espírito
nitidamente laico, ou seja, oposto às explicações oferecidas pela religião para
a natureza e a sociedade, colocando os Seres Humanos como seres capazes de
transformar sua realidade histórica. A filosofia iluminista desafiava os dogmas
católicos ao classificar a religião como um entre outros ramos da filosofia.
Contudo,
como exemplo do autoritarismo e ausência de liberdade de expressão da sociedade
do século XVIII, a Igreja incluiu a enciclopédia no Index, a lista de livros
proibidos. A finalidade era impedir que as ideias dos iluministas, desafiadoras
da ordem eclesiástica vigente, circulasse pela sociedade europeia. Nesse
momento, sobretudo, Estado e Igreja eram instituições aliadas, pois ambas se
apoiavam com o objetivo de viabilizar a manipulação das classes sociais
subalternas. Com isso, todas as medidas adotadas pela cúpula majoritária da
Igreja era apoiada pelo governo. Porém, mesmo diante da repressão e do
autoritarismo da ordem política estabelecida, em 1772 a obra foi publicada e se
espalhou para diversos países europeus e, sobretudo para p continente
americano.
A
sociedade na qual a filosofia iluminista se desenvolveu foi marcada pela
predominância da concepção dos Direitos Divinos dos Reis, em que o Rei tinha o
direito de governar de uma forma autoritária por ter sido o escolhido por Deus.
A rígida sociedade estratificada, que inviabilizava a mobilidade das classes
sociais era legitimada pela Igreja Católica e impedia que o Terceiro Estado (os
camponeses e burgueses) alcançasse uma melhor condição de vida.
Os
iluministas eram contrários a concepção mística de concentração do poder nas
mãos dos reis de uma forma absoluta (o absolutismo). O argumento dos filósofos
era de que o Antigo Regime celebrava a desigualdade, concedendo apenas
privilégios aos reis e à nobreza, que estavam isentos do pagamento de impostos.
Portanto,
a filosofia do século XVIII esteve permeada de ideias inovadoras para a época,
pois os homens assumiram um papel de suma importância para a consolidação de
novas diretrizes do conhecimento moderno. A França, país onde o Iluminismo teve
início, cumpriu o seu papel de disseminar uma nova corrente de pensamento que
inovaria e sistematizaria uma ideologia responsável pela eclosão de ideologias
revolucionárias.
Todavia,
ao passar da Europa para a América, as ideias iluministas se enfraqueceram
demasiadamente. Nas colônias portuguesas, por exemplo, as ideias dos filósofos
iluministas não se fizeram presentes. Na verdade, a ausência de um sistema de
comunicação adequado impossibilitava a circulação de ideias pelas colônias,
principalmente no Brasil. Além disso, as bibliotecas raramente importavam
livros, pois havia um controle assíduo por parte dos funcionários da
Inquisição, órgão da Igreja Católica que inviabilizava a circulação de livros
que continham conteúdos contrários às diretrizes ideológicas da instituição
religiosa.
Porém,
mesmo com a proibição do governo luso, as ideias iluministas circulavam entre
grupos revolucionários do Brasil, culminando na eclosão de importantes
revoltas. Os princípios dos movimentos que eclodiram no Brasil Colonial eram
ideais separatistas, uma vez que a metrópole sufocava a economia dos países
explorados de uma forma intensa. Aliado aos aspectos inerentes às noções de
liberdade, havia a finalidade de se desvincular do Antigo Regime português, que
impunha regras financeiras opressoras à colônia.
Todavia,
no que diz respeito à América Espanhola as ideias iluministas ganharam um espaço
mais adequado, uma vez que as produções literárias e artísticas eram mais
intensas. Em decorrência do fortalecimento da imprensa, das escolas de pintura
e até de universidades, os ideais iluministas se disseminaram de uma maneira
substancial. Porém, as diretrizes curriculares e as normas de ensino tinham
como finalidade formar quadros para o clero e para a nobreza para a
administração colonial, calcada no estilo do Antigo Regime europeu.
Já
na América Inglesa a influência da filosofia iluminista foi favorecida pela
presença significativa da imprensa em várias cidades. Existia uma preocupação
dos colonos em importar os livros da Europa, favorecendo para que as ideias
iluministas circulassem sem restrição pela América. Com o objetivo de facilitar
a produção de conhecimentos, foram fundadas nove faculdades, possibilitando o
desenvolvimento e posterior desenvolvimento das ideias iluministas.
Com
a intensa disseminação das ideias iluministas no continente europeu, diversos
movimentos revolucionários aconteceram, tendo como finalidade colocar em
prática os ideais propagados pela França no século XVIII. As ideias do filósofo
John Locke foram importantes e estiveram presentes no processo de independência
das Treze Colônias, que culminou na formação dos Estados Unidos da América. Já
no Brasil colônia, revoltas como a Inconfidência Mineira e Inconfidência Baiana
foram planejadas tendo como embasamento teórico os ideais difundidos pelos
filósofos iluministas.
Portanto,
deve-se frisar que o movimento iluminista não ficou restrito apenas na França e
no continente europeu. Diversos países no mundo adotaram as concepções
desenvolvidas pelos intelectuais franceses do século XVIII e foram fundamentais
para a eclosão de movimentos revolucionários. Contata-se que, mesmo com as
restrições impostas pela Igreja Católica, as concepções filosóficas do
Iluminismo se fortaleceram de uma forma substancial, redefinindo a configuração
política de várias nações do mundo.
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