Pintura ilustrando a Independência do Brasil |
No dia
7 de setembro de 1822, D. Pedro I recebeu duas cartas: uma das Cortes
portuguesas e outra de José Bonifácio. A carta das Cortes anulava seus atos no
Brasil e ameaçava fazê-lo regressar à força. Seu objetivo era que o Brasil
voltasse a ser Colônia. A carta de José Bonifácio dizia que só restava a ele
voltar para Portugal como prisioneiro das Cortes ou proclamar a independência.
D. Pedro escolheu romper com Portugal; o Brasil conseguia, assim, a sua
emancipação política.
A independência
política do Brasil foi liderada pelas elites do Centro-Sul (sobretudo São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), interessada em manter a liberdade de
comércio, ampliar a autonomia administrativa e conservar seus privilégios. Isso
ajuda a explicar porque o projeto de independência vitorioso manteve a
monarquia e a escravidão e as restrições ao exercício da cidadania.
D.
Pedro I foi aclamado imperador. Uma multidão compareceu à festa de sua
aclamação. Durante o século XIX, a data da sua aclamação era comemorada como o
dia da independência do Brasil. O imperador era, então, um homem popular.
O reconhecimento
da independência brasileira envolveu os mais diversos interesses. Os EUA foram
o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil (1824). O então presidente
estadunidense James Monroe defendia o lema “A América para os americanos”, isto
é, a América não deveria aceitar a interferência da Europa; daí o interesse estadunidense
no reconhecimento da emancipação brasileira.
Portugal
reconheceu a soberania do Brasil (1825), mas para isso exigiu o pagamento de 2
milhões de libras esterlinas (a moeda inglesa). Para pagar essa dívida, o
governo brasileiro pediu aos banqueiros ingleses um empréstimo. Parte do
dinheiro, no entanto, nem chegou a sair da Inglaterra, porque Portugal devia
aos ingleses uma grande soma.
Coroação de D. Pedro I |
Independente
de Portugal, o Brasil podia fazer suas próprias leis. Em maio de 1823, uma Assembleia Constituinte, formada por deputados de várias províncias brasileiras,
reuniu-se no Rio de Janeiro para elaborar uma constituição para o Brasil.
Depois
de intensos debates, os deputados apresentaram um projeto de Constituição que
limitava os poderes de D. Pedro I, proibindo-o de dissolver a Câmara dos Deputados.
O projeto, no entanto, não chegou a ser aprovado a ser aprovado. D. Pedro I
mandou seus soldados fecharem a Assembleia e prenderem os deputados ali
reunidos.
O
fechamento da Assembleia provocou enorme descontentamento em todo país. Indiferente
a isso, D. Pedro I tomou outra medida autoritária: nomeou dez pessoas de sua
confiança – o Conselho de Estado – e carregou-as de escrever uma constituição
no prazo de quarenta dias. A primeira constituição do Brasil foi outorgada por
D. Pedro em 25 de março de 1824. Essa constituição adotava a Monarquia
hereditária e criava quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e
Moderador.
·
Poder Executivo: Era exercido pelo imperador e
seus ministros; sua função era administrar o país.
·
Poder Legislativo: Exercido pelos deputados e
senadores; sua função era elaborar, discutir e aprovar leis; o cargo de senador
era vitalício (ou seja, durava a vida toda) e o de deputado era por um período
de quatro anos).
·
Poder Judiciário: exercido por tribunais e
juízes; sua função era aplicar a lei. Os magistrados do Superior Tribunal eram
nomeados pelo imperador.
·
Poder Moderador: exercido exclusivamente pelo
imperador, que podia: nomear e demitir livremente os ministros e os presidentes
de província; dissolver a Câmara dos Deputados; nomear os senadores; suspender
os magistrados e perdoar sentenças de réus condenados pelo judiciário. Enfim,
tinha o direito de intervir em todos os outros poderes.
O autoritarismo de D. Pedro I era
duramente criticado em várias províncias brasileiras. Em Pernambuco, dois
jornais, A sentinela da liberdade, de Cipriano Barata, e o Tífis Pernambucano,
de Frei Caneca, fazia forte oposição a D. Pedro I. Frei Caneca dizia: ”(...) o
poder moderador (...) é a chave mestra da opressão da nação brasileira”.
Além disso,
na época, uma crise econômico-financeira atingia todo o Nordeste devido à queda
nos preços externos do açúcar, do fumo, do algodão e dos altos impostos
cobrados pelo governo de D. Pedro I; ao mesmo tempo, as altas constantes nos
preços dos alimentos e dos aluguéis castigavam a população pobre.
Morte de Frei Caneca |
Nesse clima tenso, D. Pedro I demitiu o
presidente da província de Pernambuco; os pernambucanos reagiram prontamente:
romperam com Império, proclamaram uma República (2 de Julho de 1824) e formaram
uma junta governativa. A república em questão recebeu o nome de Confederação do
Equador.
Para
reprimir a revolução no Nordeste, D. Pedro I conseguiu, junto aos banqueiros
britânicos, um empréstimo de 1 milhão de libras e organizou poderosas forças
militares para acabar com o movimento. Embora com poucas armas e sem navios, os
nordestinos resistiram quase dois meses. As forças imperiais, principalmente os
mercenários britânicos, cometeram muitas violências em Recife, matando
populares e incendiando casas, mesmo depois de terem vencido a guerra. Vários líderes
rebeldes foram condenados à morte.
Depois da
brutal repressão à Confederação do Equador, a oposição a D. Pedro I aumentou
mais. Além de autoritário, D. Pedro I mostrava-se incompetente para resolver a
crise econômico-financeira que o país atravessava. Ano após ano, a balança
comercial brasileira apresentava-se negativa, ou seja, o valor gasto com as
importações era superior ao ganho com as exportações.
Para fazer
frente às suas despesas, o governo de D. Pedro I pedia empréstimos aos bancos
estrangeiros e emitia moeda. Isso gerava inflação. Conforme o preço dos
alimentos e dos aluguéis subia, mais diminuía a popularidade do imperador. Em 1829,
como reflexo dessa crise, o Banco do Brasil, fundado na época de D. João VI,
entrou em falência.
Quando D.
João morreu, em 1826, deixou o trono português para seu filho D. Pedro I. esse,
no entanto, renunciou a ser rei em Portugal em favor de sua filha, D. Maria da
Glória. Mas D. Miguel, irmão de D. Pedro I, deu um golpe e usurpou o trono de
sua sobrinha, proclamando-se rei de Portugal. D. Pedro I reagiu preparando-se
militarmente para reconquistar o trono português. Isso aumentou sua
impopularidade. Os políticos brasileiros afastaram-se dele, acusando-o de estar
mais interessado nos assuntos de Portugal do que nos do Brasil.
Pedro de Alcântara - 5 ano de idade |
Pressionado
por populares e por soldados, D. Pedro I abdicou em 7 de abril de 1831. Deixou o
trono brasileiro para o seu filho Pedro de Alcântara. Como o menino tinha
apenas 5 anos de idade, o Brasil passou a ser governado por regentes. D. Pedro I
voltou a Portugal disposto a reconquistar o trono português.
Em 1831
ainda, a Assembleia Geral elegeu um militar e dois deputados para compor a
Regência Trina Permanente; o homem mais poderoso dessa regência era o ministro
da justiça, o padre paulista Diogo Antônio Feijó. Quando essa regência assumiu
o governo, ocorria uma disputa pelo poder no Parlamento, na imprensa e nas ruas
entre os três grupos políticos. Eles eram:
·
Restauradores: Defendia a volta de D. Pedro I ao
poder. Eram contrários a reformas sociais. Fazia parte desse grupo comerciantes
portugueses, altos funcionários públicos e alguns oficiais do exército,
geralmente portugueses.
·
Moderados: Buscavam a manutenção dos privilégios
das elites provinciais e a Monarquia Constitucional.
·
Exaltados: Eram membros das camadas médias. Defendiam
o federalismo (grande autonomia política e econômica para as províncias); parte
deles era favorável à República.
Por não confiar na capacidade do
exército de manter a ordem imperial, o governo regencial criou, em 1831, a
Guarda Nacional, da qual só podiam participar os brasileiros com idade entre 21
e 60 anos e renda anual mínima de 200 mil réis nas quatro maiores cidades e de
100 mil réis no resto do país.
O governo entregou aos
fazendeiros mais ricos a patente de coronel da Guarda Nacional, a mais alta de
todas elas. Cada fazendeiro-coronel organizava um destacamento em sua região,
com homens de sua confiança e com recursos próprios, adquirindo com isso um
enorme poder local.
Tanto moderados quanto exaltados
concordavam com a necessidade de reformar a Constituição que tinha sido imposta
por D. Pedro I. Depois de muito debater a questão no Parlamento, chegaram a um
acordo que consistia em conceder certa autonomia às províncias e garantir a
unidade do Império. Com esse objetivo, o governo regencial aprovou o Ato
Adicional de 1834, o qual concedia às províncias o direito de ter uma
Assembleia própria. Com isso, após a decretação do Ato Adicional, as províncias
ganharam o direito de fazer algumas leis e de decidir sobre em que aplicar o
dinheiro de parte dos impostos arrecadados.
Com a morte de D. Pedro I, em
1834, o grupo dos restauradores se dissolveu; parte de seus membros se retirou
da política; a outra parte passou para o grupo dos moderados. Nesse contexto,
ocorreram no Brasil, pela primeira vez, eleições para a escolha do chefe de
governo. O padre Feijó venceu por uma diferença pequena de votos.
Durante o seu governo, Feijó teve
que enfrentar duas das maiores rebeliões regenciais: a Cabanagem e a
Farroupilha. No entanto, a Câmara era formada por deputados da oposição. Sem apoio
na Câmara dos Deputados e sem recursos suficientes para conter as rebeliões
provinciais, Feijó renunciou, em 1837.
Com a renúncia de Feijó, Pedro de
Araújo Lima assumiu o governo, sendo depois eleito regente por ampla maioria
dos votos. Ele inaugurou o Regresso, uma política de fortalecimento do poder
central que contou com o apoio de boa parte das elites.
Diante dessa situação e do perigo
de desintegração do território nacional, a propaganda exigindo a antecipação da
maioridade do imperador ganhou força. Passou a ser vista como uma forma de “salvar
a nação”. Em julho de 1840, a campanha foi vitoriosa: com 15 anos incompletos,
D. Pedro II foi aclamado imperador do Brasil. O episódio foi conhecido como
Golpe da Maioridade e deu início ao Segundo Reinado.
Coroação de D. Pedro II |
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