quinta-feira, 21 de julho de 2016

A Revolução do Haiti

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                Poucos anos depois da Independência das Treze Colônias inglesas, os habitantes de uma colônia francesa pegaram em armas pela independência. Era Saint Domingue ocupada pelos franceses no século XVII e transformada, no século XVIII, numa das maiores produtoras de açúcar do Caribe.
                A colônia tinha o perfil das ilhas escravistas da região, com uma minoria de senhores, administradores e comerciantes brancos e uma imensa maioria de escravos de origem africana: cerca de 85% de uma população de 800 mil habitantes. Os quase 30 mil mestiços e negros libertos tinham papel importante na economia local, dominando cerca de um terço dos negócios na ilha.
                A eclosão da Revolução Francesa causou enorme impacto. Em princípio, dividiu os grandes senhores (grands blancs) entre os partidários do movimento e os leais ao Antigo Regime. Depois, abriu espaço para as reivindicações dos mestiços e libertos (affranchis), que exigiram enviar representantes aos Estados Gerais, convocados pelo rei Luís XVI em Paris. Os grands blancs se opuseram, e Vincent Ogé e Jean Baptista Chavanes lideraram uma insurreição contra os brancos, em 1790, na qual buscaram o apoio da Inglaterra, rival da França. Mas o golpe foi abortado e os líderes da rebelião executados.
                O quadro se agravou com o levante geral dos escravos e quilombolas, liderados por Boukman, Biassou e Jean-François, em 1791. Nessa altura, grands blancs e affranchis se uniram e pediram a intervenção da metrópole, que se encontrava dilacerada por conta da Revolução Francesa.
                Ainda assim, a França enviou 6 mil soldados em 1792, sob o comando do girondino Santhonax, para conter a rebelião e defender a colônia de um eventual ataque inglês. Para complicar a cena, os espanhóis resolveram retomar a ilha toda, enviando tropas de Santo domingo.
                Em 1793 o governo francês aboliu a escravidão nas colônias. Além disso, o comando-geral do exército recaiu sobre o negro Toussaint-Louverture, que venceu os espanhóis e dirigiu suas tropas contra as milícias dos grands blancs, inconformados com a abolição da escravidão. Porém, Toussaint se conduziu de forma ambígua em todo o processo, esforçando-se por ser leal à República francesa. Foi promovido, por esse motivo, a general de brigada do exército francês. Mas, com a mudança do quadro político na metrópole, adotou posições conservadoras, obrigando os negros a voltar a trabalhar nas plantações. Sua tentativa de manter o poder a qualquer preço descontentou à França e aos generais negros ao mesmo tempo.
                Em 1802, após a ascensão de Napoleão Bonaparte (1799), o governo francês decidiu restabelecer a escravidão em Saint Dominigue, e um poderoso exército de 60 mil homens – comandados pelo general Leclerc, cunhado de Napoleão – foi enviado à ilha. Toussaint-Louverture ainda conseguiu mobilizar suas tropas, agora contra os franceses iniciando a luta pela independência. Mas sua liderança estava com os dias contatos.
Nessa altura, a luta pela independência de Saint Domingue e pela abolição da escravidão eram faces da mesma moeda. Toussaint-Louverture foi capturado pelos franceses e morreu na França, mas a luta prosseguiu sob o comando de Jean-Jacques Dessalines e Alexandre Pétion, generais oriundos do exército quilombola.
Toussaint-Louverture
Em 1804, o exército rebelde, composto de africanos e seus descendentes, incluindo escravos, libertos e quilombolas, triunfou sobre os franceses. Foi proclamada a independência, escolhendo-se para o novo Estado o nome de Haiti (derivado de Ahti, nome indígena da ilha antes da colonização). Muitos brancos do Haiti foram massacrados ou  expulsos; muitos fugiram deixando seus bens para trás.
Mas as lutas prosseguiram internamente; Dessalines opô-se a outro general, Henri Cristoph, que em 1811 estabelecera o regime monárquico no norte da ilha, enquanto no sul vigorava uma república. A população do Haiti mergulhava numa crise da qual jamais sairia, perdendo o lugar de grande produtor de açúcar que ocupara até fins do século XVIII.

Na América, o Haiti foi o único caso de movimento no qual convergiram abolição da escravidão e proclamação da independência, incluindo o massacre de brancos vencidos. Tornou-se, por isso mesmo, um fantasma que assombrou por décadas senhores escravistas do continente

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