quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A Guerra de Secessão

           Durante a primeira metade do século XIX, o governo dos EUA tratou de consolidar a independência e a unidade do país, assim como de expandir seu território, sobretudo para o Oeste.
            A Doutrina do Destino Manifesto – a crença de que o povo dos EUA seria eleito por Deus para comandar o mundo – entendia como tarefa divina e necessária espalhar pelo mundo as concepções da sociedade espalhar pelo mundo as concepções da sociedade norte-americana. Isso se traduziu na ideia de expansão territorial. Entendia-se que a primeira grande tarefa dos estadunidenses era avançar para o oeste, unindo o Atlântico ao Pacífico, e para o sul.

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            Mas a primeira etapa da expansão territorial foi concluída com a compra da Louisiana da França, em 1803. Napoleão Bonaparte, necessitando de dinheiro para custear seu “Grande Exército”, vendeu o território por 11,25 milhões de dólares. Depois, foi a vez da Flórida, comprada da Espanha em 1819.
            Quando a expansão se oriental para os territórios do oeste, o resultado foi trágico para os povos indígenas, considerados um obstáculo para o tipo de povoamento e a expansão agrícola que se pretendia implantar.
            No momento em que os colonos se deslocaram para as terras indígenas, erguendo casas, arando os campos, fundando fortes e cidades, com o apoio de tropas federais, os conflitos se tornaram inevitáveis.
            O governo promulgou leis implacáveis contra os povos indígenas, como a Lei de Remoção dos índios, em 1830, que obrigava diversos desses povos a migrar para reservas localizadas a oeste do rio Mississipi. Assim, ocorreu com os Cherokees, na Geórgia, e os Seminoles, na Flórida, entre outros grupos. É claro que os indígenas reagiram a essa invasão, atacando caravanas de colonos, casas e fortes.

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Ilustração da expansão dos EUA para o OESTE.

            O governo garantiu aos povos indígenas que os limites de suas novas terras seriam respeitados. Porém, isso não ocorreu: os colonos também passaram a ocupar as reservas. Em razão disso, muitos povos se rebelaram, com intensos conflitos que resultaram em inúmeras mortes, em ambos os lados, mas sobretudo entre os indígenas.
A ocupação do oeste estadunidense se intensificou com a construção da malha ferroviária, iniciada na década de 1840, recortando terras de leste a oeste. Duas décadas depois, o país já contava com mais de 50 mil quilômetros de trilhos. A ferrovia funcionou como desbravadora, ao viabilizar a exploração agrícola de terras até então inacessíveis.
Ao norte, em 1867, os EUA compraram o Alasca da Rússia, por 7,2 milhões de dólares. A aquisição foi muito discutida no Congresso: muitos consideravam a região uma “caixa de gelo”, que não traria nenhum benefício ao país. Posteriormente, diversos recursos naturais foram encontrados no Alasca, estimulando o povoamento do território.
A anexação dessas áreas foi decisiva para a deterioração das relações entre o norte industrial e o sul escravista dos Estados Unidos.
Os representantes dos interesses nortistas no Congresso, sobretudo após a fundação do Partido Republicano (1854), defendiam a proibição da escravidão nos novos territórios. Vislumbravam o oeste como um grande celeiro e um grande mercado para a indústria do norte.
Os representantes dos estados do sul, aglutinando em torno do Partido Democrata, pretendiam ampliar as plantações escravistas de algodão, incorporando terras no sudoeste. As discordâncias se estendiam, ainda, à política tarifária: os estados do norte defendiam tarifas protecionistas em defesa de sua indústria nascentes; os estados sulistas – exportadores de algodão e importadores de manufaturados – preferiam o livre-cambismo, com tarifas baixas sobre os produtos importados. Os impasses se agravaram na década de 1850 e culminaram em uma guerra civil, a Guerra de Secessão.
O conflito entre o norte e o sul assumiu caráter fortemente ideológico. O impasse provocou polêmicas radicais entre as duas partes. De um lado, o norte mais industrializado, voltado para o mercado interno, com mão de obra livre assalariada, proprietários rurais de pequeno porte e uma classe média cada vez mais atuante. De outro, um sul também rico, porém, comandado por senhores escravistas, que vendiam algodão para as fábricas inglesas.
Em meados do século XIX, o sul tinha maior força política no governo federal. Em 1854, foi aprovada a Lei Kansas-Nebraska, proposta por um representante sulista, que facultava à população dos territórios anexados o direito de escolher se a escravidão seria ou não admitida.
Essa lei foi aplicada à administração dos novos territórios do Kansas e de Nebrasca e provocou sério atrito com os nortistas, que acusaram o governo e o Congresso de terem se curvado aos escravistas.
O Kansas se tornou, então, palco de lutas armadas entre abolicionistas e escravistas, que lá se dirigiam e disputaram o poder – um antecedente da guerra que estava por vir.
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No conflito de interesses entre os estados escravistas e os abolicionistas estadunidenses, entrou em cena a atuação política de Abraham Lincoln. Nascido em Kentucky, no oeste, filho de lavradores, foi um autodidata que se formou advogado. Em relação à escravidão, seu discurso era ambíguo: condenava-a do ponto de vista moral, mas defendia o direito de os estados escravistas a conservarem. Afinal, a Constituição garantia a soberania das unidades federadas.
Lincoln filiou-se ao Partido Republicano em 1854. Quatro anos depois disputou uma cadeira no Senado, em uma campanha marcada por acirrados debates sobre a escravidão. Perdeu as eleições, mas ganhou projeção nacional, embora ficasse identificado no sul como “abolicionista radical”. Em 1860, foi indicado pelo Partido Republicano para disputar a presidência dos EUA. Venceu com cerca de 39% dos votos, e tomou posse em março de 1861.
Já em abril de 1861, os sulistas atacaram e tomaram o Forte Sumter, na Baía de Charleston (Carolina do Sul), dando início à guerra. A convicção que ambos os lados tinham de que a guerra seria rápida logo se desfez. O exército confederado, embora menor e menos equipado que o da União, colheu sucessivas vitórias entre 1861 e 1862. O objetivo militar dos confederados era, então, evitar a invasão do exército inimigo e manter um impasse que levasse a negociações, buscando forçar Lincoln a reconhecer o novo Estado confederado.
Em 1861, o Congresso aprovou a Lei do Confisco, determinando a expropriação de qualquer propriedade usada em favor dos confederados. No ano seguinte, aprovou a segunda Lei do Confisco, que declarava livre todo escravo capturado ou fugido para o território da União. Lincoln propôs a emancipação dos escravos de forma lenta e gradual, mediante indenização. Tudo isso contrariava frontalmente os interesses dos escravocratas sulistas. A guerra transformou-se, então, em um conflito contra a escravidão.
          Para firmar a aliança com os estados do oeste e incentivar os colonos, aprovou-se, em 1862, um lei (Homestead Act) que facilitava o acesso à propriedade da terra, no oeste, para todo colono chefe de família maior que 21 anos que não tivesse lutado contra o governo dos EUA. Foi um grande estímulo aos pioneiros, à pequena propriedade, à vinda de imigrantes e ao trabalho livre.

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Em 1862, por meio da Proclamação da Emancipação, Lincoln aboliu a escravidão nos EUA, exceto nos estados que haviam recusado a secessão (separação), como Delaware, parte da Virgínia e do Kentucky. A proclamação de 1863 também aprovou o recrutamento de negros livre nos exércitos da União.
O resultado da guerra permaneceu incerto até 1863, com sucessivos triunfos do exército do sul, comandado pelo general Lee. O êxito animou os confederados, que, em julho daquele ano, ousaram invadir o território da União, na Pensilvânia. Foi uma das batalhas mais sangrentas da guerra, que resultou na derrota completa dos confederados. A partir daí, o sul limitou-se a defender seu território.
A imagem dos EUA após a guerra era positiva. Os estados do norte eram vistos como hegemônicos, abolicionistas, industrializados, democráticos, vencedores de um sistema escravista ultrapassado e violento.
O presidente Lincoln é hoje celebrado como grande estadista e defensor da liberdade. É considerado um mártir, pois morreu assassinado por um extremista do sul em 15 de abril de 1865. Os direitos constitucionais foram estendidos aos ex-escravos pela 15ª Emenda, de 1870, concedendo o direito a voto a todos os cidadãos estadunidenses, independentemente de raça, cor ou condição prévia de servidão. Ao mesmo tempo, iniciou-se a “Reconstrução Radical” do sul, na qual políticos aventureiros do norte se elegeram com base no voto dos ex-escravos.
A ascensão de milhões de negros à condição de cidadãos provocou outro tipo de guerra: a guerra racial. Ex-confederados criaram, no sul, a Ku Klux Klan (KKK), organização racista de brancos que se recusava a compartilhar direitos constitucionais com os negros, em plano de igualdade. Foi uma reação à chamada “Reconstrução Radical”, que a União impôs aos derrotados.

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Ku Klux Klan.
A KKK matou muitos negros, espancou e mutilou vários outros, sempre com um discurso preconceituoso e discriminatório. Agiam na clandestinidade, mas com tolerância das autoridades, uniformizados com um manto e uma máscara brancos. Suas vítimas eram, muitas vezes, enforcadas, mortas na fogueira ou ainda pregadas em uma cruz. Declarada ilegal, a KKK perdeu sua força, mas seria revigorada após a Primeira Guerra Mundial, quando se espalhou por todo o país.

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