Durante
a primeira metade do século XIX, o governo dos EUA tratou de consolidar a
independência e a unidade do país, assim como de expandir seu território,
sobretudo para o Oeste.
A
Doutrina do Destino Manifesto – a crença de que o povo dos EUA seria eleito por
Deus para comandar o mundo – entendia como tarefa divina e necessária espalhar
pelo mundo as concepções da sociedade espalhar pelo mundo as concepções da
sociedade norte-americana. Isso se traduziu na ideia de expansão territorial.
Entendia-se que a primeira grande tarefa dos estadunidenses era avançar para o
oeste, unindo o Atlântico ao Pacífico, e para o sul.
Mas
a primeira etapa da expansão territorial foi concluída com a compra da
Louisiana da França, em 1803. Napoleão Bonaparte, necessitando de dinheiro para
custear seu “Grande Exército”, vendeu o território por 11,25 milhões de
dólares. Depois, foi a vez da Flórida, comprada da Espanha em 1819.
Quando
a expansão se oriental para os territórios do oeste, o resultado foi trágico
para os povos indígenas, considerados um obstáculo para o tipo de povoamento e
a expansão agrícola que se pretendia implantar.
No
momento em que os colonos se deslocaram para as terras indígenas, erguendo
casas, arando os campos, fundando fortes e cidades, com o apoio de tropas
federais, os conflitos se tornaram inevitáveis.
O
governo promulgou leis implacáveis contra os povos indígenas, como a Lei de
Remoção dos índios, em 1830, que obrigava diversos desses povos a migrar para
reservas localizadas a oeste do rio Mississipi. Assim, ocorreu com os
Cherokees, na Geórgia, e os Seminoles, na Flórida, entre outros grupos. É claro
que os indígenas reagiram a essa invasão, atacando caravanas de colonos, casas
e fortes.
Ilustração da expansão dos EUA para o OESTE. |
O
governo garantiu aos povos indígenas que os limites de suas novas terras seriam
respeitados. Porém, isso não ocorreu: os colonos também passaram a ocupar as
reservas. Em razão disso, muitos povos se rebelaram, com intensos conflitos que
resultaram em inúmeras mortes, em ambos os lados, mas sobretudo entre os
indígenas.
A ocupação do oeste
estadunidense se intensificou com a construção da malha ferroviária, iniciada
na década de 1840, recortando terras de leste a oeste. Duas décadas depois, o
país já contava com mais de 50 mil quilômetros de trilhos. A ferrovia funcionou
como desbravadora, ao viabilizar a exploração agrícola de terras até então
inacessíveis.
Ao norte, em 1867, os
EUA compraram o Alasca da Rússia, por 7,2 milhões de dólares. A aquisição foi
muito discutida no Congresso: muitos consideravam a região uma “caixa de gelo”,
que não traria nenhum benefício ao país. Posteriormente, diversos recursos
naturais foram encontrados no Alasca, estimulando o povoamento do território.
A anexação dessas
áreas foi decisiva para a deterioração das relações entre o norte industrial e
o sul escravista dos Estados Unidos.
Os representantes dos
interesses nortistas no Congresso, sobretudo após a fundação do Partido
Republicano (1854), defendiam a proibição da escravidão nos novos territórios.
Vislumbravam o oeste como um grande celeiro e um grande mercado para a
indústria do norte.
Os representantes dos
estados do sul, aglutinando em torno do Partido Democrata, pretendiam ampliar
as plantações escravistas de algodão, incorporando terras no sudoeste. As
discordâncias se estendiam, ainda, à política tarifária: os estados do norte
defendiam tarifas protecionistas em defesa de sua indústria nascentes; os
estados sulistas – exportadores de algodão e importadores de manufaturados –
preferiam o livre-cambismo, com tarifas baixas sobre os produtos importados. Os
impasses se agravaram na década de 1850 e culminaram em uma guerra civil, a
Guerra de Secessão.
O conflito entre o
norte e o sul assumiu caráter fortemente ideológico. O impasse provocou
polêmicas radicais entre as duas partes. De um lado, o norte mais
industrializado, voltado para o mercado interno, com mão de obra livre
assalariada, proprietários rurais de pequeno porte e uma classe média cada vez
mais atuante. De outro, um sul também rico, porém, comandado por senhores
escravistas, que vendiam algodão para as fábricas inglesas.
Em meados do século
XIX, o sul tinha maior força política no governo federal. Em 1854, foi aprovada
a Lei Kansas-Nebraska, proposta por um representante sulista, que facultava à
população dos territórios anexados o direito de escolher se a escravidão seria
ou não admitida.
Essa lei foi aplicada
à administração dos novos territórios do Kansas e de Nebrasca e provocou sério
atrito com os nortistas, que acusaram o governo e o Congresso de terem se
curvado aos escravistas.
O Kansas se tornou,
então, palco de lutas armadas entre abolicionistas e escravistas, que lá se
dirigiam e disputaram o poder – um antecedente da guerra que estava por vir.
No conflito de
interesses entre os estados escravistas e os abolicionistas estadunidenses,
entrou em cena a atuação política de Abraham Lincoln. Nascido em Kentucky, no
oeste, filho de lavradores, foi um autodidata que se formou advogado. Em
relação à escravidão, seu discurso era ambíguo: condenava-a do ponto de vista
moral, mas defendia o direito de os estados escravistas a conservarem. Afinal,
a Constituição garantia a soberania das unidades federadas.
Lincoln filiou-se ao
Partido Republicano em 1854. Quatro anos depois disputou uma cadeira no Senado,
em uma campanha marcada por acirrados debates sobre a escravidão. Perdeu as
eleições, mas ganhou projeção nacional, embora ficasse identificado no sul como
“abolicionista radical”. Em 1860, foi indicado pelo Partido Republicano para
disputar a presidência dos EUA. Venceu com cerca de 39% dos votos, e tomou
posse em março de 1861.
Já em abril de 1861,
os sulistas atacaram e tomaram o Forte Sumter, na Baía de Charleston (Carolina
do Sul), dando início à guerra. A convicção que ambos os lados tinham de que a
guerra seria rápida logo se desfez. O exército confederado, embora menor e
menos equipado que o da União, colheu sucessivas vitórias entre 1861 e 1862. O
objetivo militar dos confederados era, então, evitar a invasão do exército
inimigo e manter um impasse que levasse a negociações, buscando forçar Lincoln
a reconhecer o novo Estado confederado.
Em 1861, o Congresso
aprovou a Lei do Confisco, determinando a expropriação de qualquer propriedade
usada em favor dos confederados. No ano seguinte, aprovou a segunda Lei do
Confisco, que declarava livre todo escravo capturado ou fugido para o
território da União. Lincoln propôs a emancipação dos escravos de forma lenta e
gradual, mediante indenização. Tudo isso contrariava frontalmente os interesses
dos escravocratas sulistas. A guerra transformou-se, então, em um conflito
contra a escravidão.
Para firmar a aliança com os estados do oeste
e incentivar os colonos, aprovou-se, em 1862, um lei (Homestead Act) que
facilitava o acesso à propriedade da terra, no oeste, para todo colono chefe de
família maior que 21 anos que não tivesse lutado contra o governo dos EUA. Foi
um grande estímulo aos pioneiros, à pequena propriedade, à vinda de imigrantes
e ao trabalho livre.
Em 1862, por meio da
Proclamação da Emancipação, Lincoln aboliu a escravidão nos EUA, exceto nos
estados que haviam recusado a secessão (separação), como Delaware, parte da
Virgínia e do Kentucky. A proclamação de 1863 também aprovou o recrutamento de
negros livre nos exércitos da União.
O resultado da guerra
permaneceu incerto até 1863, com sucessivos triunfos do exército do sul,
comandado pelo general Lee. O êxito animou os confederados, que, em julho
daquele ano, ousaram invadir o território da União, na Pensilvânia. Foi uma das
batalhas mais sangrentas da guerra, que resultou na derrota completa dos
confederados. A partir daí, o sul limitou-se a defender seu território.
A imagem dos EUA após
a guerra era positiva. Os estados do norte eram vistos como hegemônicos,
abolicionistas, industrializados, democráticos, vencedores de um sistema
escravista ultrapassado e violento.
O presidente Lincoln
é hoje celebrado como grande estadista e defensor da liberdade. É considerado
um mártir, pois morreu assassinado por um extremista do sul em 15 de abril de
1865. Os direitos constitucionais foram estendidos aos ex-escravos pela 15ª
Emenda, de 1870, concedendo o direito a voto a todos os cidadãos
estadunidenses, independentemente de raça, cor ou condição prévia de servidão.
Ao mesmo tempo, iniciou-se a “Reconstrução Radical” do sul, na qual políticos
aventureiros do norte se elegeram com base no voto dos ex-escravos.
A ascensão de milhões
de negros à condição de cidadãos provocou outro tipo de guerra: a guerra
racial. Ex-confederados criaram, no sul, a Ku Klux Klan (KKK), organização
racista de brancos que se recusava a compartilhar direitos constitucionais com
os negros, em plano de igualdade. Foi uma reação à chamada “Reconstrução
Radical”, que a União impôs aos derrotados.
Ku Klux Klan. |
A KKK matou muitos
negros, espancou e mutilou vários outros, sempre com um discurso preconceituoso
e discriminatório. Agiam na clandestinidade, mas com tolerância das
autoridades, uniformizados com um manto e uma máscara brancos. Suas vítimas
eram, muitas vezes, enforcadas, mortas na fogueira ou ainda pregadas em uma
cruz. Declarada ilegal, a KKK perdeu sua força, mas seria revigorada após a
Primeira Guerra Mundial, quando se espalhou por todo o país.
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