terça-feira, 11 de julho de 2017

A Revolução Francesa

            Com 28 milhões de habitantes, a França do final do século XVIII era o país mais populoso da Europa e também um dos mais injustos. Os franceses viviam sob o Antigo Regime, uma sociedade em que o clero e a nobreza tinham enormes privilégios e o rei se apresentava como o representante de Deus na terra (absolutismo de direito divino).
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Representação da exploração do Terceiro Estado.

            Naquela época, a sociedade francesa estava dividida em três estamentos: o Primeiro Estado (o clero); o Segundo Estado (a nobreza); o Terceiro Estado (camponeses, trabalhadores das cidades e os burgueses). O rei, os nobres e o clero possuíam terras, poder e privilégios, como o de não pagar impostos. Já o Terceiro Estado pagava a maioria dos impostos e sustentava, com o seu trabalho, o Primeiro e o Segundo estados. Os camponeses, por exemplo, pagavam a talha e o dízimo e, em caso de uma má colheita, eles passavam fome. Isso gerava frequentes protestos.
            Na França do Antigo Regime, a maioria da população vivia e trabalhava no campo. Mas devido à baixa produtividade agrícola, a oferta de alimentos era pequena e seus preços, altos. Como na década de 1780 as inundações e secas foram frequentes, os preços dos alimentos dispararam e a fome atingiu duramente os mais pobres, gerando grande insatisfação social entre eles.
            A burguesia também estava insatisfeita com a monarquia absolutista. Para sustentar seus gastos, a monarquia aumentava impostos encarecendo os preços das mercadorias. E, como o poder de compra da maioria da população vinha diminuindo, muitas empresas faliam, gerando com isso desemprego.
            Gastando mais do que arrecadava, o governo de Luís XVI precisava cada vez mais de dinheiro para equilibrar suas contas. E, ao mesmo tempo, a fome e o desemprego aumentavam a insatisfação dos franceses com o Antigo Regime. Diante dessa grave situação, o rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais. Composta de representantes dos três estados (clero, nobreza e Terceiro Estado), essa assembleia não era consultada há 175 anos.
            Nessa assembleia, cada Estado tinha o direito a um voto. Portanto, clero e nobreza reunidos tinham dois votos contra apenas um do Terceiro Estado. Por isso, o clero e a nobreza estavam certos de que teriam o controle da situação. Mas não foi isso o que aconteceu; os membros do Terceiro Estado lançaram uma campanha em favor da votação por cabeça, isto é, por pessoa, e não por Estado. Em maio de 1789, a Assembleia dos Estados Gerais reuniu-se para debater a situação do país.
            No dia 4 de julho de 1789, assim que se espalhou a notícia de que o rei mandaria reprimir a assembleia, populares da cidade de Paris saíram às ruas saqueando depósitos de armas e de alimentos. Com o apoio de soldados do exército, invadiram e tomaram a Bastilha, prisão símbolo do absolutismo.
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A queda da Bastilha.
            Com a chegada da notícia da queda da Bastilha ao interior, os camponeses passaram a invadir castelos e a pôr fogo nos registros de suas dívidas e nos documentos envolvendo cobrança de impostos. Pressionada pelo avanço da revolução na cidade e no campo, em 4 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte aboliu a servidão, os dízimos e os privilégios do clero e da nobreza, pondo fim ao que restava do feudalismo na França;
            No dia 26 de agosto de 1789, a Assembleia aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, reconhecendo o direito de todos à liberdade, à segurança, à propriedade, à igualdade perante a lei e a resistir a qualquer tipo de opressão.
            A Constituição desagradou profundamente ao rei da França. Ele, então, se aliou aos reis da Áustria e da Prússia (parte da atual Alemanha), a uma parte da nobreza e do alto clero francês indignados com a perda de privilégios. Aliadas, essas forças montaram um exército e invadiram a França.
            A Assembleia declarou “a pátria e perigo”, e os franceses pegaram em armas para defender seu país. O rei fugiu acompanhado de sua família, mas foi reconhecido e preso. Populares se juntaram ao exército francês, que, com isso, ganhou forças para vencer os estrangeiros na Batalha de Valmy, em 20 de setembro de 1792.
            Logo após essa vitória contra a monarquia, elegeu-se às pressas uma Convenção Nacional, isto é, uma assembleia encarregada de elaborar uma nova Constituição. Os membros da Convenção foram eleitos pelo voto universal masculino, e não mais pelo voto baseado na renda do cidadão. A primeira atitude da Convenção foi abolir a Monarquia e proclamar a República.
            Composta por cerca de 750 deputados, a Convenção abrigava três importantes grupos políticos:
GIRONDINOS: Representavam a alta e média burguesia (banqueiros, armadores, industriais e comerciantes). Defendiam o voto censitário, o direito à propriedade privada e eram contrários à participação popular na Revolução.
JACOBINOS: Representavam sobretudo a pequena burguesia, funcionários públicos e lojistas. Defendiam um governo forte, o voto universal e a participação popular no processo revolucionário. Eram liderados por deputados eleitos por Robespierre.
PÂNTANO: Era composta por deputados que agiam conforme seus interesses imediatos: ora apoiando os girondinos, ora os jacobinos. Sentavam-se no centro da Convenção.

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Robespierre - líder Jacobino. 

            O rei Luís XVI, acusado de traição à pátria, foi levado a julgamento. Os Girondinos queriam absolve-lo; os Jacobinos desejavam sua condenação. Após um mês de intensos debates, mais de 90% dos deputados da Convenção declararam Luís XVI culpado. No cofre do rei havia provas dos acordos que ele fizera com os monarcas estrangeiros combinando a invasão da França. Em janeiro de 1793, o rei foi executado em praça pública, sob uma chuva de aplausos dos populares.
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Execução do Rei Luís XVI na guilhotina. 
            A execução do rei gerou reações internas e externas. A Inglaterra uniu-se a outros países monarquistas e formou com eles uma coligação para atacar a França revolucionária. Os jacobinos, por sua vez, reagiram criando órgãos especiais para defender a revolução, entre eles o Comitê de Salvação Pública, responsável pelo controle do exército e da política de julgar pessoas consideradas inimigas da revolução.
            À frente do Comitê de Salvação Pública, estava Robespierre, o verdadeiro chefe do governo. Para conter a crise social e financeira em que a França estava mergulhada, o Comitê distribuiu as terras dos nobres entre milhares de camponeses, aboliu a escravidão nas colônias francesas, tornou o ensino primário obrigatório e gratuito e tabelou o preço dos gêneros de primeira necessidade, que vinha subindo diariamente.
            Essas medidas, que contentavam as camadas populares, desagradavam os girondinos. A tensão entre esses grupos aumentou ainda mais com o assassinato do líder popular Marat por uma mulher ligada aos girondinos.
            O assassinato de Marat contribuiu para que o governo jacobino intensificasse a repressão: as pessoas suspeitas de conspirar contra a revolução passaram a ser condenadas à morte, sem interrogatório ou direito de defesa, por um tribunal do governo. Assim, milhares de pessoas foram mortas na guilhotina. Nesse período, conhecido como período do terror, o medo tomou conta dos franceses.
            Uma nova constituição, elaborada em 1795, manteve a República, restabeleceu o voto censitário e confiou o governo a um Diretório, composto de cinco deputados. O governo do Diretório também encontrou sérias resistências, tanto por parte dos jacobinos quanto dos monarquistas.
            Além disso, os jornais diziam que a França precisava de um homem enérgico, respeitado e admirado para “salvar” a pátria. Um jovem general, de nome Napoleão Bonaparte, reunia essas características. Um dos motivos de sua fama era o seu excelente desempenho militar contra os exércitos estrangeiros.
            Em 10 de novembro de 1799 – 18 Brumário, segundo o calendário republicano -, Napoleão, apoiado por políticos burgueses e por militares, tomou o poder. Esse episódio passou para a história como o Golpe de 18 Brumário. Essa data tem servido para marcar o final da Revolução iniciada na França dez anos antes.
            A trajetória do imperador Napoleão Bonaparte foi marcada desde o início pelas guerras, que visavam à expansão do domínio francês.
            A Inglaterra, a maior potência industrial da época, temia o poder econômico da França. Com seu desenvolvimento industrial, a França logo seria um concorrente forte no mercado europeu. Além disso, a cada vitória o exército comandado por Napoleão anexava novas terras na Europa. Isso significava mais mercados para seus produtos, o que ameaçava diretamente a Inglaterra.
            Em 1805, a marinha francesa tentou invadir a Inglaterra, mas foi vencida pela esquadra inglesa do almirante Nelson, na batalha de Trafalgar. Em compensação, por terra, o exército de Napoleão venceu inimigos mais numerosos e mais bem armados. Em menos de dois anos a contar de 1805, derrotou a Áustria, a Rússia e a Prússia, que haviam se aliado à Inglaterra.
            O plano de Napoleão foi decretar que nenhum país europeu poderia comerciar com a Inglaterra ou receber navios ingleses em seus portos. Com esse decreto, conhecido como Bloqueio Continental (1806), Napoleão pretendia arruinar a economia da Inglaterra e, em seguida, conquista-la. Inicialmente o plano parecia ter dado certo, mas logo se soube que os produtos ingleses continuavam entrando na Europa por diversos pontos, inclusive por Portugal.

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            Diante disso, Napoleão ordenou a seus soldados que invadissem Portugal. Os ingleses pressionaram o governo português a fugir para o Brasil, principal colônia de Portugal. Foi o que o príncipe D. João e sua corte fizeram, chegando à Bahia em 1808 e instalando-se no Rio de Janeiro naquele mesmo ano.
            Além disso, o Bloqueio Continental não surtiu o efeito desejado. Primeiro porque os ingleses continuavam conseguindo vender seus produtos industrializados na Europa e na América. Segundo porque nações agrárias, como a Rússia, vinham tendo prejuízos enormes por não poder vender seus estoques de trigo e madeira para os ingleses, como faziam antes. Por essa razão, a Rússia rompeu o bloqueio no final de 1810 e voltou a negociar abertamente com a Inglaterra.
            A derrota na Rússia encorajou os tradicionais adversários da França a se unirem uma vez mais. Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia formaram um gigantesco exército, que, depois de vencer os franceses, invadiu a França e ocupou a capital, Paris, em 1814. Napoleão foi enviado para a Ilha de Elba, com mil soldados sob suas ordens. O trono francês foi ocupado por Luís XVIII, irmão de Luís XVI, o rei francês que fora guilhotinado na Revolução Francesa.
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Napoleão Bonaparte

            No início de 1815, Napoleão fugiu de Elba e, acompanhado de oitocentos homens, desembarcou na França, onde foi recebido como herói. Enquanto se dirigia a Paris com seus soldados, as tropas que o rei da França enviara para prendê-lo uniram-se a ele. O impopular rei Luís XVIII fugiu do país e Napoleão assumiu o seu lugar.
            Napoleão, porém, governou pouco mais de três meses. Os ingleses lideraram uma nova coligação militar com mais de 1 milhão de soldados e derrotaram definitivamente as forças de Bonaparte, na batalha de Waterloo, em 1815. Preso por seus inimigos, Bonaparte foi mandado para Santa Helena, uma ilha minúscula localizada no Atlântico, onde permaneceu até a morte, em 1821.

        As nações vencedoras reuniram-se com a França monárquica no Congresso de Viena, entre 1814 e 1815, para decidir os rumos da Europa. Ali reunidos, os representantes dessas nações decidiram adotar dois princípios: o princípio da legitimidade e a política do equilíbrio europeu.

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