domingo, 27 de novembro de 2016

A formação geográfica e política dos EUA

            Dentre os aspectos mais significativos da história norte-americana ao longo do século XIX, destacaram-se o processo de industrialização concentrado na região leste e a expansão territorial para o Oeste. Esses processos históricos não se dissociaram, uma vez que a expansão industrial estimulou um expressivo movimento migratório. Calcula-se que, entre 1820/30 e 1920, aproximadamente 32 milhões de europeus entraram pela costa leste nos EUA. Como nesse país não havia um campesinato livre para ser expropriado e expulso das zonas rurais, dando origem, assim, a um “exército de reserva de mão-de-obra”, a solução imigrantista foi o caminho mais natural.
            Milhares desses imigrantes, atraídos pela possibilidade de empregos nas fábricas do Leste, num segundo momento acabaram se dirigindo para o Oeste, devido às facilidades de acesso à terra, contribuindo dessa maneira para a expansão territorial, o surgimento de milhares de pequenos e médios proprietários e a incorporação de novos estados à União.
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Marcha para o Oeste
            Os EUA queriam se expandir para o norte e ocupar as terras de colonização inglesa no Canadá. A sede expansionista dos norte-americanos acirrou ainda mais as tensões com os ingleses – com quem já estavam envolvidos em disputas comerciais. De todo modo, o confronto acabou alimentando a tendência isolacionista das elites norte-americanas, ou seja, sua predisposição para não interferir nos problemas europeus e de não permitir ingerências europeias nos assuntos internos dos países do continente.
            Independentemente da atitude política adotada pelo governo em relação às nações europeias, a expansão territorial prosseguia a todo vapor. Continuava o fluxo migratório para o Oeste, um território hostil devido às condições naturais adversas e à maciça presença de índios, mas ao mesmo tempo atraente por possibilitar a formação de grandes fortunas a partir da exploração do ouro ou da criação de gado. A ocupação desse território se tornou lendária na história do país e foi chamada de Marca para o Oeste.
            Ao mesmo tempo que adotava uma política de aquisição de territórios de uma maneira pacífica, os EUA partiram para guerras de conquistas, nas quais as maiores vítimas foram os indígenas e os mexicanos. Em 1836, colonos norte-americanos fixados no território do Texas, então pertencente ao México, proclamaram a independência da região, depois de vencer as tropas do governo mexicano. Quase dez anos depois, em 1845, os Estados Unidos anexaram o Texas a seu território, o que foi o estopim da guerra contra o México no ano seguinte. Ao final do conflito, o governo mexicano reconheceu a perda de sua antiga província e cedeu ao poderoso vizinho do norte as regiões da Califórnia, Colorado, Novo México, Nevada e Arizônia, recebendo a título de recompensa cerca de 15 milhões de dólares.
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O destino manifesto 
            Com a expansão, os EUA se tornaram um dos maiores países do mundo. Dotado de enormes reservas de recursos naturais, seu território se estendia agora do oceano atlântico ao oceano pacífico.
            A região do Norte dos EUA era industrializada, em contraste com os estados do Sul, predominantemente agrícola. A principal característica das zonas rurais sulistas consistia na plantation, grande propriedade monocultora, cuja produção, voltada para a exportação, dependia do trabalho escravo. O Sul produzia grande quantidade de algodão, exportado principalmente para a Inglaterra, onde era utilizado na indústria têxtil em franca expansão.
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Guerra de secessão - Norte x Sul
            A burguesia do Norte do país fazia sérias restrições aos senhores de terras do Sul. A maior crítica dizia respeito ao trabalho escravo, que, acreditavam, deveria ser extinto e gradativamente substituído pelo trabalho assalariado; dessa forma, os trabalhadores sulistas poderiam comprar os produtos fabricados no Norte. Além disso, a população do Norte apoiava o protecionismo alfandegário, isto é, o aumento das taxas de importação, para que os produtos nacionais concorressem no mercado interno em igualdade de condições com os produtos ingleses e de outras procedências.
            A aristocracia rural do Sul, interessada em continuar vendendo seus produtos à Inglaterra e importando os artigos manufaturados de que necessitava, batia de frente com o Norte ao defender o livre-cambismo, ou seja, uma política de liberdade comercial sem taxas protecionistas.
            A essas diferenças de origem econômica se somavam outras, de fundo cultural. No norte, havia um grupo empresarial dinâmico e empreendedor, interessado no desenvolvimento nacional. No Sul, porém, continuava a predominar uma mentalidade rural, aristocrática, voltada aos interesses regionais; por isso mesmo, dava-se mais importância à autonomia dos estados do que ao fortalecimento do país.
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Abraham Lincoln 
            Em meio a esses embates, em 1860 foi eleito presidente Abraham Lincoln, membro do Partido Republicano. Adepto de uma política protecionista, Lincoln opunha-se à escravidão e aos espírito autonomista dominante nos estados do Sul. A reação das elites na Carolina do Sul, um dos estados escravistas, foi proclamar sua separação do restante do país. Em seguida, dez outros estados sulistas fizeram o mesmo. Juntos, eles formaram uma nova estrutura política nacional, os Estados Confederados da América.
            Em 12 de abril de 1861, tropas confederadas tomaram de assalto o forte Sumter, na Carolina do Sul, defendido por forças do governo. Três dias depois, Lincoln declarou guerra à Confederação. O conflito que se seguiu seria mais tarde considerado a primeira das grandes guerras modernas, com um saldo de 620 mil mortos.
            As condições do Norte no confronto eram de indiscutível superioridade. Mais industrializado do que o Sul, contava também com uma malha ferroviária mais extensa e moderna. Além disso, as armas de que dispunha eram produzidas em suas próprias fábricas, enquanto a Confederação dependia da importação de material bélico. As duas populações também eram desiguais em número e na composição social e étnica. Enquanto o Norte somava 23 estados, com uma população de 28 milhões de pessoas – constituída em quase sua totalidade de pessoas livres, descendentes de europeus -, o Sul contabilizava onze estados com 9 milhões de habitantes, um terço dos quais escravos de origem africana. Para complicar ainda mais a situação do Sul, a Confederação também não conseguiu apoio à sua causa no exterior: a escravidão era, a essa altura, condenada pela opinião pública de todas as grandes nações.
            Não constituiu surpresa, portanto, que os sulistas tenham sido derrotados, apesar de sua forte resistência. Depois de quatro anos de sangrentos combates, os nortistas venceram em Appomattox, na Virgínia, a última batalha da guerra. Em 1863, ainda durante o conflito, Lincoln decretou o fim da escravidão nos estados rebeldes. No ano seguinte, conseguiu se reeleger presidente dos EUA, mas não chegaria a exercer o segundo mandato. Em 14 de abril de 1865, quatro dias depois do fim da guerra, Lincoln foi assassinado no interior de um teatro pelo ator sulista John Booth.
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Organização racista - Ku Klux Klan
            Em 1867 surgiu o exemplo mais forte de segregação racial nos EUA: a Ku Klux Klan. Criada por veteranos sulistas da Guerra de Sucessão, essa sociedade secreta tentou impedir, a qualquer custo, que os negros exercessem seus direitos após o fim da escravidão. Recorrendo a meios extremos, como a tortura e o linchamento de pessoas de origem africana, integrantes da Ku Klux Klan, mascarados e encapuzados, passaram a espalhar o terror no Sul do país, assassinando, indiscriminadamente, homens, mulheres e crianças.

            Em 1877, a justiça norte-americana proibiu o funcionamento da organização, que ainda assim continuou a agir na clandestinidade. Prova disso é que, nos anos de 1920, a Ku Klux Klan chegou a reunir em suas fileiras 1 milhão de defensores da segregação racial. Ainda hoje ocorrem nos EUA ações anti-raciais isoladas, resquícios do ódio articulado pela Ku Klux Klan. 

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