terça-feira, 29 de novembro de 2016

Sociedades pré-colombianas

Ø Os Maias

Em 700 a.c., aproximadamente, uma importante sociedade surgiu na península de Yucatan, situada na América do Norte e a América Central: a dos Maias. Durante o período de sua formação, essa sociedade herdou vários elementos das culturas dos povos que habitavam a região, como os Olmecas. Por volta de 317 de nossa era, os maias já ocupavam extensas regiões do que conhecemos hoje como o México, Honduras e Guatemala.
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Ruínas maias - Honduras
A sociedade maia destacou-se, entre outros aspectos, por uma forma de organização política original: ela se desenvolveu em torno de centros urbanos autônomos, ligados por uma relativa unidade cultural, sem no entanto constituir um império centralizado. O período áureo dessa sociedade ocorreu entre 1000 e 1400. Nessa fase, o centro da península de Yucatan foi ocupado por outro povo, os toltecas, que aí fundou a cidade de Chichén Itzá. Essa ocupação acabou resultando na fusão das culturas maia e tolteca.
Extremamente religiosos, os maias construíam suas cidades em volta de um núcleo formado por templos, pirâmides e palácios. Nas proximidades desse núcleo, ficavam as casas das pessoas mais ricas.
Temidos e respeitados, os sacerdotes, por sua vez, desempenhavam funções particularmente importantes: presidiam cultos e as cerimônias religiosas e dirigiam toda a vida intelectual da sociedade. Entre eles havia astrônomos, matemáticos, adivinhos e administradores. A estrutura social se caracterizava pela existência de camadas rigidamente separadas, entre as quais não havia mobilidade social.
            Sabe-se que os maias criaram uma espécie de escrita hieroglífica, mas seus manuscritos foram quase todos destruídos durante a conquista espanhola. Restaram apenas alguns tratados sobre a astronomia, astrologia e ritos religiosos. Sabe-se também que, após a conquista, os nativos redigiram algumas crônicas em língua espanhola, preservando parte da tradição maia.
            Indiscutivelmente, os maias foram notáveis em diversos campos do saber, mas dois aspectos chamam a atenção ao estudarmos essa sociedade. Eles não utilizavam nenhum animal de tração ou montaria – por isso os meios de transporte e os trabalhos pesados dependiam da força humana – e desconheciam a roda e o torno, o que restringia sua ação sobre a natureza. Essa limitação, contudo, não impediu que construíssem uma das mais avançadas sociedades da América pré-colombiana.

Ø  Os Astecas

Os astecas viviam originalmente no noroeste do México atual. No século XIV da nossa eram, provavelmente por terem sido expulsos de seu território por povos inimigos, eles foram obrigados a se deslocar para o planalto central do México. No novo espaço, tornaram-se agricultores, sem perder os hábitos guerreiros, pois se viam constantemente envolvidos em disputas com as populações vizinhas pelas reservas de água potável e pelas áreas de cultivo.
     As disputas com outros povos pela posse do território e a necessidade de realizar obras para a prática da agricultura, como a drenagem dos pântanos, conduziram, aos poucos, à concentração do poder em três das principais cidades da região: Texcoco, Tlacopán e Tenochitlán. Essas cidades controlavam diversos povos que habitavam as áreas situadas entre o golfo do México e o oceano pacífico e recebiam tributos das populações subjugadas. Por volta de 1440, quando teve início o governo de Montezuma em Tenochtitlán, estima-se que esse verdadeiro império somava-se cerca de 15 milhões de habitantes.

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Ilustração da cidade de Tenochtitlán,  capital do império Asteca. 

Entre os astecas, a autoridade máxima era exercida por um soberano. Também poderosos devido às guerras constantes, os militares ocupavam posição de destaque na hierarquia social.
No topo da organização social ficavam os sacerdotes e os dignitários civis e militares. Eles formavam a aristocracia. Os sacerdotes, por exemplo, presidiam os cultos religiosos e tinham sob sua responsabilidade a educação dos filhos dos dignitários nos calmecac, a direção dos hospitais, a guarda dos livros sagrados e dos manuscritos históricos. Graças às doações recebidas dos soberanos e de particulares, não raro eles acumulavam grandes riquezas. Além do prestigio social de que desfrutavam, não pagavam impostos e, às vezes, integravam voluntariamente o exército.
O soberano era eleito, sempre numa mesma família, por um conselho de cem membros controlados por militares e sacerdotes. Atribuía-se a ele origem divina e esperava-se que prestasse homenagem aos deuses e protegesse a população, orientando-a moralmente – por exemplo, contra a embriaguez e o roubo. O soberano era auxiliado por uma espécie de chefe de governo e por uma hierarquia de funcionários.
Além do milho, consumido em forma de massa sobre a qual se aplicava uma pasta de feijão e pimenta amassados, os astecas alimentavam-se de abóbora, batata e inhame. Faziam uso de tabaco sob a forma de charuto ou cachimbo e, em certas ocasiões, ingeriam o octli, um líquido fermentado à base de suco de agave. Também cultivavam o cacaueiro, de cujos frutos extraíam uma bebida chamada xocoatl, que daria origem ao chocolate como o conhecemos hoje.
Como os demais povos pré-colombianos, os astecas também eram politeístas. Seus deuses consistiam em forças da natureza, geralmente identificadas com os astros. Eles acreditavam no mito de que, sem o sangue humano (a “água preciosa”) oferecido ao sol, a engrenagem do mundo deixaria de funcionar. Por isso, procuravam manter um “estoque” de prisioneiros destinados aos sacrifícios. Essa era uma de suas justificativas para a guerra. Eles achavam que, depois de morto, o sacrificado ia morar no céu, nas vastas salas da Casa do Sol, para onde também eram conduzidos os guerreiros mortos em combate.
Também foi a crença na volta de certos deuses que fez com que os astecas vissem sem desconfiança a chegada dos espanhóis, um povo que, recebido com cordialidade, acabaria destruindo seu império.

Ø  Os Incas

Os incas apareceram tardiamente na história dos povos andinos. É possível que eles fossem um dos grupos que compunham o povo quíchua, cujo idioma era falado numa ampla região dos Andes. Mas sabe-se que, no século XII, eles viviam ao redor de Cuzco. A tradição inca atribuía a um de seus ancestrais, Manco Capac, o papel de fundador do Império. Ele e seus sucessores passaram a adotar o título de Inca, nome de uma antiga divindade andina.
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Ruínas da Cuzco - capital do império Inca
Os incas tinham um governo forte e centralizado. A sucessão no poder se dava na família do governante, mas o herdeiro não era necessariamente filho do Inca, e sim o parente considerado mais capaz para assumir o cargo. Por isso, ao final de cada governo, havia grande disputa entre os herdeiros. Uma vez vitorioso, o novo Inca comparecia ao Templo do Sol, onde era entronizado. Investido de poderes exclusivos, ninguém podia encará-lo.
O Império contava com uma vasta rede de estradas e pontes, cuja extensão chegava a 16 mil quilômetros. Em determinados pontos dessa rede havia estabelecimentos, os tampu, que serviam simultaneamente de postos de correio, de centros de produtos artesanais e de armazéns. O Império também era dotado de um eficiente serviço de comunicações, que permitia não só receber ou enviar informações com rapidez, mas também deslocar tropas com relativa velocidade para qualquer parte do território.
A agricultura, principal atividade econômica, dependia em boa parte dos terraços construídos nas encostas da cordilheira e de um sistema de canais para transportar água de fontes localizadas, muitas vezes, a quilômetros de distância. Os Incas cultivavam mais de quarenta espécies vegetais, entre elas, abóbora, vagem, algodão, milho, batata, amendoim e abacate.
A escravidão não era praticada entre os incas, mas havia os chamados “dependentes perpétuos”, ligados aos curacas e ao Inca. Eles não podiam ser trocados ou vendidos, como os escravos, e tinham importância econômica secundária. Ao lado disso havia a mita, uma antiga obrigação de prestar trabalho ao curaca e aos deuses locais, revestida de caráter religioso. Depois da formação do império Inca, essa obrigação passou a ser prestada também ao Inca, o Filho do Sol.
A mita recaía sobre todas as pessoas casadas, que deveriam cuidar das terras e dos rebanhos do Inca e ainda desempenhar as funções que lhes fossem designadas: no exército, nas oficinas de trabalhos artesanais, na construção e manutenção de estradas, pontes e edifícios.

Ø  Os povos indígenas brasileiros

Os primeiros habitantes que os portugueses encontraram ao desembarcar em terras americanas adotaram, em geral, uma atitude amistosa em relação aos conquistadores. Estes, ao perceber que eles falavam entre si línguas parecidas e tinham certos hábitos semelhantes, chamaram os indígenas de tupis.
Os portugueses não sabiam, no entanto, que os tupis não eram um só grupo, mas englobavam numerosos povos, com grande diversidade cultural e religiosa. Foi exatamente com esses indígenas do litoral que os portugueses mantiveram maior contato e aprenderam as primeiras regras de sobrevivência no continente que então começavam a explorar.
Os tupis se organizavam em tribos compostas de unidades menores, as aldeias, que mantinha entre si interesses comuns. Além disso, a divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. As mulheres, além dos afazeres domésticos, ocupavam-se da agricultura e da coleta e colaboravam na pesca. Encarregavam-se de preparação do cauim – bebida fermentada à base de mandioca – e de muitas atividades artesanais, como tecer redes, trançar cestos, fazer tapetes etc.
Além da derrubada da mata e da preparação da terra para o plantio, os homens ocupavam-se da caça, da pesca e do fabrico de canoas, armas de guerra e instrumentos de trabalho. Deviam erguer as habitações, defender a aldeia, tomar parte na guerra e executar os prisioneiros, se sua tribo praticava a antropofagia. Também eram os homens que exerciam a função de curandeiros.
A finalidade da guerra, entre os indígenas, era manter o domínio tribal sobre os territórios ocupados, vingar a morte de parentes, ou ainda fazer prisioneiros para o ritual antropofágico. A antropofagia servia para expressar o ódio ao inimigo e a vontade de adquirir as qualidades de bravura do guerreiro morto.

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Ilustração de um ritual de antropofagia 

Entre os antigos tupinambás, o prisioneiro de guerra era propriedade daquele que o tinha capturado. O proprietário podia mesmo dá-lo de presente a outros indivíduos, parentes seus. Mas o prisioneiro não se destinava a produzir bens para seu proprietário; este, depois de algum tempo, sacrificava-o no ritual antropofágico, ganhando assim mais um nome.

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