Dentre os aspectos mais
significativos da história norte-americana ao longo do século XIX,
destacaram-se o processo de industrialização concentrado na região leste e a
expansão territorial para o Oeste. Esses processos históricos não se
dissociaram, uma vez que a expansão industrial estimulou um expressivo
movimento migratório. Calcula-se que, entre 1820/30 e 1920, aproximadamente 32
milhões de europeus entraram pela costa leste nos EUA. Como nesse país não
havia um campesinato livre para ser expropriado e expulso das zonas rurais,
dando origem, assim, a um “exército de reserva de mão-de-obra”, a solução
imigrantista foi o caminho mais natural.
Milhares desses imigrantes, atraídos
pela possibilidade de empregos nas fábricas do Leste, num segundo momento
acabaram se dirigindo para o Oeste, devido às facilidades de acesso à terra, contribuindo
dessa maneira para a expansão territorial, o surgimento de milhares de pequenos
e médios proprietários e a incorporação de novos estados à União.
Marcha para o Oeste |
Os EUA queriam se expandir para o
norte e ocupar as terras de colonização inglesa no Canadá. A sede expansionista
dos norte-americanos acirrou ainda mais as tensões com os ingleses – com quem
já estavam envolvidos em disputas comerciais. De todo modo, o confronto acabou
alimentando a tendência isolacionista das elites norte-americanas, ou seja, sua
predisposição para não interferir nos problemas europeus e de não permitir
ingerências europeias nos assuntos internos dos países do continente.
Independentemente da atitude
política adotada pelo governo em relação às nações europeias, a expansão
territorial prosseguia a todo vapor. Continuava o fluxo migratório para o
Oeste, um território hostil devido às condições naturais adversas e à maciça
presença de índios, mas ao mesmo tempo atraente por possibilitar a formação de
grandes fortunas a partir da exploração do ouro ou da criação de gado. A ocupação
desse território se tornou lendária na história do país e foi chamada de Marca
para o Oeste.
Ao mesmo tempo que adotava uma
política de aquisição de territórios de uma maneira pacífica, os EUA partiram
para guerras de conquistas, nas quais as maiores vítimas foram os indígenas e
os mexicanos. Em 1836, colonos norte-americanos fixados no território do Texas,
então pertencente ao México, proclamaram a independência da região, depois de
vencer as tropas do governo mexicano. Quase dez anos depois, em 1845, os
Estados Unidos anexaram o Texas a seu território, o que foi o estopim da guerra
contra o México no ano seguinte. Ao final do conflito, o governo mexicano
reconheceu a perda de sua antiga província e cedeu ao poderoso vizinho do norte
as regiões da Califórnia, Colorado, Novo México, Nevada e Arizônia, recebendo a
título de recompensa cerca de 15 milhões de dólares.
O destino manifesto |
Com a expansão, os EUA se tornaram
um dos maiores países do mundo. Dotado de enormes reservas de recursos
naturais, seu território se estendia agora do oceano atlântico ao oceano
pacífico.
A região do Norte dos EUA era
industrializada, em contraste com os estados do Sul, predominantemente
agrícola. A principal característica das zonas rurais sulistas consistia na
plantation, grande propriedade monocultora, cuja produção, voltada para a
exportação, dependia do trabalho escravo. O Sul produzia grande quantidade de
algodão, exportado principalmente para a Inglaterra, onde era utilizado na
indústria têxtil em franca expansão.
Guerra de secessão - Norte x Sul |
A burguesia do Norte do país fazia
sérias restrições aos senhores de terras do Sul. A maior crítica dizia respeito
ao trabalho escravo, que, acreditavam, deveria ser extinto e gradativamente
substituído pelo trabalho assalariado; dessa forma, os trabalhadores sulistas
poderiam comprar os produtos fabricados no Norte. Além disso, a população do
Norte apoiava o protecionismo alfandegário, isto é, o aumento das taxas de
importação, para que os produtos nacionais concorressem no mercado interno em
igualdade de condições com os produtos ingleses e de outras procedências.
A aristocracia rural do Sul,
interessada em continuar vendendo seus produtos à Inglaterra e importando os
artigos manufaturados de que necessitava, batia de frente com o Norte ao
defender o livre-cambismo, ou seja, uma política de liberdade comercial sem taxas
protecionistas.
A essas diferenças de origem
econômica se somavam outras, de fundo cultural. No norte, havia um grupo
empresarial dinâmico e empreendedor, interessado no desenvolvimento nacional. No
Sul, porém, continuava a predominar uma mentalidade rural, aristocrática,
voltada aos interesses regionais; por isso mesmo, dava-se mais importância à
autonomia dos estados do que ao fortalecimento do país.
Abraham Lincoln |
Em meio a esses embates, em 1860 foi
eleito presidente Abraham Lincoln, membro do Partido Republicano. Adepto de uma
política protecionista, Lincoln opunha-se à escravidão e aos espírito
autonomista dominante nos estados do Sul. A reação das elites na Carolina do
Sul, um dos estados escravistas, foi proclamar sua separação do restante do
país. Em seguida, dez outros estados sulistas fizeram o mesmo. Juntos, eles
formaram uma nova estrutura política nacional, os Estados Confederados da
América.
Em 12 de abril de 1861, tropas
confederadas tomaram de assalto o forte Sumter, na Carolina do Sul, defendido
por forças do governo. Três dias depois, Lincoln declarou guerra à
Confederação. O conflito que se seguiu seria mais tarde considerado a primeira
das grandes guerras modernas, com um saldo de 620 mil mortos.
As condições do Norte no confronto
eram de indiscutível superioridade. Mais industrializado do que o Sul, contava
também com uma malha ferroviária mais extensa e moderna. Além disso, as armas
de que dispunha eram produzidas em suas próprias fábricas, enquanto a
Confederação dependia da importação de material bélico. As duas populações
também eram desiguais em número e na composição social e étnica. Enquanto o
Norte somava 23 estados, com uma população de 28 milhões de pessoas –
constituída em quase sua totalidade de pessoas livres, descendentes de europeus
-, o Sul contabilizava onze estados com 9 milhões de habitantes, um terço dos
quais escravos de origem africana. Para complicar ainda mais a situação do Sul,
a Confederação também não conseguiu apoio à sua causa no exterior: a escravidão
era, a essa altura, condenada pela opinião pública de todas as grandes nações.
Não constituiu surpresa, portanto,
que os sulistas tenham sido derrotados, apesar de sua forte resistência. Depois
de quatro anos de sangrentos combates, os nortistas venceram em Appomattox, na
Virgínia, a última batalha da guerra. Em 1863, ainda durante o conflito,
Lincoln decretou o fim da escravidão nos estados rebeldes. No ano seguinte,
conseguiu se reeleger presidente dos EUA, mas não chegaria a exercer o segundo
mandato. Em 14 de abril de 1865, quatro dias depois do fim da guerra, Lincoln foi
assassinado no interior de um teatro pelo ator sulista John Booth.
Organização racista - Ku Klux Klan |
Em 1867 surgiu o exemplo mais forte
de segregação racial nos EUA: a Ku Klux Klan. Criada por veteranos sulistas da
Guerra de Sucessão, essa sociedade secreta tentou impedir, a qualquer custo,
que os negros exercessem seus direitos após o fim da escravidão. Recorrendo a
meios extremos, como a tortura e o linchamento de pessoas de origem africana,
integrantes da Ku Klux Klan, mascarados e encapuzados, passaram a espalhar o
terror no Sul do país, assassinando, indiscriminadamente, homens, mulheres e
crianças.
Em 1877, a justiça norte-americana
proibiu o funcionamento da organização, que ainda assim continuou a agir na
clandestinidade. Prova disso é que, nos anos de 1920, a Ku Klux Klan chegou a
reunir em suas fileiras 1 milhão de defensores da segregação racial. Ainda hoje
ocorrem nos EUA ações anti-raciais isoladas, resquícios do ódio articulado pela
Ku Klux Klan.
Nenhum comentário:
Postar um comentário