O imperialismo praticado pelas
potências do século XIX gerou intensas rivalidades e disputas territoriais
entre elas e foi um dos principais combustíveis da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), um conflito total e mundial. Total porque o alvo não eram os
militares apenas, mas também a população civil, tanto do campo quanto das
cidades; mundial porque envolveu países de todos os continentes.
Otto von Bismarck |
Sob a liderança de Otto von Bismarck
completou-se, em 1871, o processo de unificação da Alemanha. Unificada, rica em
carvão e ferro e com um governo favorável à industrialização, a Alemanha
progrediu em ritmo acelerado e, nas décadas seguintes, tornou-se uma potência
econômica. No plano externo, Bismarck, tornou-se uma potência econômica. No plano
externo, Bismarck adotou o sistema de alianças defensivas, cujo objetivo era
evitar o isolamento da Alemanha em casos de guerra. Por isso o Império Alemão
aliou-se ao Império Austro-Húngaro e, depois, à Itália, dando origem, assim, à
Tríplice Aliança (18882), também conhecida como bloco das Potências Centrais.
Pouco tempo depois, no entanto,
Bismarck foi demitido pelo Kaiser Guilherme II que, ao assumir o poder na Alemanha,
adotou nova política externa: a expansão pela força. Guilherme II lançou um
programa de apoio à indústria naval alemã, com o objetivo de fortalecer a
Marinha e disputar com a Grã-Bretanha a hegemonia nos mares.
A euforia militarista vivida pela
Alemanha favoreceu a circulação de ideias de superioridade racial e cultural do
povo alemão sobre os outros povos. Muitos alemães passaram a preferir a guerra
ao acordo como um meio de conseguir mais poder e mais colônias no restante do
mundo. A Alemanha de Guilherme II pressionava por uma nova divisão colonial.
Desde a unificação da Alemanha, em
1871, até o início da guerra, em 1914, as principais potencias europeias lançaram-se
numa corrida armamentista desenfreada: adotaram o serviço militar obrigatório e
passaram a fabricar armamentos e munições em quantidades cada vez maiores. Por tudo
isso, o período de paz que antecedeu a Primeira Guerra ficou conhecido como “paz
armada”.
Em torno de 1914, o trono do Império
Austro-Húngaro era ocupado por Francisco Ferdinando, que tinha 85 anos e se
encontrava com a saúde abalada. Seu herdeiro, o arquiduque Francisco
Ferdinando, planejava transformar o Império Austro-Húngaro (uma monarquia dual)
em uma monarquia tríplice (austro-húngaro-eslava), o que ameaçava a independência
da Sérvia e contrariava os anseios nacionalistas eslavos de se libertarem do
domínio austro-húngaro. No dia 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando
e sua esposa visitavam a Sarajevo, capital da Bósnia, quando foram assassinados
a tiros por militantes da organização nacionalista Secreta Bósnia.
Ilustração do assassinato de Francisco Ferdinando |
Era o que faltava para o início da
guerra. O Império Austro-Húngaro acusou o governo sérvio de ser o mandante do
crime e, exatamente um mês depois do atentado, declarou guerra à Sérvia, dando
início à Primeira Guerra Mundial. Rapidamente, o sistema de alianças entrou em
funcionamento: em sete dias as principais potencias estavam em guerra.
O belicismo tomou conta da Europa: a
maioria dos políticos, jornalistas e militares das principais potências
desejava a guerra e dizia que ela seria curta.
Considerando as estratégias e as
operações na frente ocidental, a guerra de 1914-1918 pode ser dividida em duas fases:
·
Guerra de movimento: fase caracterizada por
intenso movimento de tropas e que durou de agsto a novembro de 1914. Começou com
a aplicação do Plano Schlieffen, que previa a invasão da França por duas alas
do exército alemão que atuariam como uma gigantesca pinça de 600 km de raio,
coagindo, assim, as tropas francesas.
·
A guerra de trincheiras: fase em que os
exércitos da França e da Inglaterra, de um lado, e o da Alemanha, de outro,
cavaram 640 km de trincheiras, protegidas por cercas de arme farpado, desde o
mar do Norte até a fronteira com a Suíça. Com o corpo enfiado na terra, os
soldados usavam granadas de mão e metralhadoras para minar as forças
adversárias.
Guerra de trincheiras |
Em
1917, ocorreram dois episódios decisivos para o desfecho da guerra: a entrada
dos EUA e a saída da Rússia do conflito.
Os
Estados Unidos entraram na guerra em abril de 1917, motivados por um conjunto
de fatores: a decisão alemã de adotar a guerra submarina, ameaçando as
exportações estadunidenses; o torpedeamento, pelos alemães, do navio
estadunidense Lusitânia; e a ajuda que a Alemanha ofereceu ao México em caso de
guerra contra os EUA.
O
Brasil, cujo maior parceiro comercial eram os Estados Unidos, também teve navios
torpedeados pelos alemães e, em outubro de 1917, declarou guerra ao Império
alemão. O governo brasileiro contribuiu com o esforço de guerra enviando para
as frentes de batalha dois cruzadores; cinco contratorpedeiros; um navio
auxiliar; um rebocador e 86 médicos; aviadores que combateram ao lado de
pilotos britânicos e franceses; e oficiais que integraram o exército francês na
frente ocidental.
Enquanto
isso, triunfava na Rússia a revolução socialista liderada por Vladimir Ulianov,
conhecido como Lênin. Ciente dos enormes prejuízos que a guerra causara ao seu
país, o governo revolucionário assinou com a diplomacia alemã um tratado de paz
em separado, o Tratado de Brest-Litovsk (1918), pelo qual a Rússia saía da
guerra.
As
crises decorrentes dos reveses que os alemães vinham sofrendo na guerra
favoreceu a explosão de uma revolução popular na Alemanha, que forçou Guilherme
II a renunciar e proclamar a República. Dois dias depois, em 11 de novembro de
1918, o novo governo assinou o Armistício de Compiègne, que punha fim à guerra.
Presidente norte-americano Woodrow Wilson |
Durante
o último ano da Grande Guerra, o então presidente estadunidense Woodrow Wilson
propôs um acordo de paz baseado em 14 pontos, entre os quais cabe destacar: o
fim da diplomacia secreta; a liberdade de navegação marítima; a redução ao
mínimo dos armamentos nacionais; e o direito de autodeterminação dos povos. Os “14
pontos” e Wilson apoiavam-se no ideal de uma “paz sem vencidos nem vencedores”.
Contudo,
os vencedores foram implacáveis e impuseram uma série de tratados aos
derrotados. Com isso, o Tratado de Versalhes, assinado em 28 de junho de 1919,
obrigava a Alemanha:
Ø A ceder
aos vencedores todos os seus direitos sobre as colônias ultramarinas;
Ø A devolver
a região da Alsácia-Lorena para a França;
Ø A entregar
à França a propriedade absoluta, com direito total de exploração, das minas de
carvão situadas na bacia do rio Sarre;
Ø A ceder
à recém-criada Polônia uma faixa de terra dentro da Alemanha – o “corredor
polonês” – a fim de permitir-lhe o acesso ao mar Báltico. O “corredor polonês”
desembocava em Danzig, transformada, então, em “cidade livre”.
Os
EUA emergiram da Primeira Guerra Mundial como uma das grandes potências do
globo. Por sugestão do presidente estadunidense Woodrow Wilson foi criada, em
1919, a Liga das Nações. Com sede em Genebra, na Suíça, essa aliança devia
arbitrar os conflitos internacionais e garantir a paz mundial.
No
entanto, inicialmente, e por razões diversas, a Alemanha, a Rússia e mesmo os
Estados Unidos não integraram a Liga das Nações, fato que contribuiu para o seu
enfraquecimento. Além disso, por não contar com efetivos militares próprios, o
poder de coação dessa Liga era restrito, pois apoiava-se apenas em sanções
econômicas e militares. Isso ajuda a explicar por que ela se mostrou impotente
para impedir a invasão japonesa na Manchúria (China) em 1931 ou a anexação da
Etiópia pela Itália em 1935.
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