No
final do século XIX, o território que hoje corresponde à África do Sul, rico em
diamantes, era disputado por britânicos e bôeres, colonos que tinham origem
principalmente holandesa. Depois de vencer os bôeres, os britânicos criaram, em
1910, a União Sul-Africana, área ligada à Inglaterra, mas com alguma autonomia.
Dez
anos depois, os africânders, minoria branca composta de descendentes de
holandeses e britânicos, tomou o poder e criou uma série de leis que visavam
segregar os negros, aprofundando práticas racistas que vinham sendo adotadas
desde o início da colonização do território pelos europeus no século XVII.
Depois
de 1948, tais leis foram ampliadas e a política de segregação racial foi
institucionalizada. O regime do apartheid, palavra de origem africânder que
significa “segregação”, classificou a população em grupos raciais e determinou
o local onde cada um deles poderia se fixar. As leis reservaram 87% das terras
para a minoria branca, proibiram os casamentos inter-raciais, separaram as
residências de negros e as de brancos e determinaram que os dois grupos não
podiam usar os mesmos hospitais, escolas, meios de transporte, praias e outros
espaços públicos.
A
Lei de Educação Banta, de 1953, estabeleceu um currículo diferenciado para as
escolas negras, destinado a formar jovens para exercer ofícios subalternos aos
brancos. O próximo passo veio em 1975, quando o governo decretou a
obrigatoriedade do ensino do africânder nas escolas negros, idioma que poucos
negros dominavam. Em 16 de junho de 1976, no bairro de Soweto, em Johanesburgo,
10 mil estudantes realizaram uma manifestação contra a política educacional do
governo para os negros. Nesse episódio, quatro alunos foram mortos, entre eles
o estudante Hector Pieterson, de 13 anos de idade.
Bairro de Soweto, Johanesburgo |
A
segregação, além de racial, também era política. Os negros eram impedidos de
eleger representantes e de serem eleitos. Contudo, desde a proclamação das
primeiras leis segregacionistas, na década de 1910, os negros já resistiam
contra a política racista do governo africânder. O principal movimento de resistência se
organizou em torno do Congresso Nacional Africano (CNA), fundado em 1912 para
defender os negros da política racista do governo.
Nelson Mandela |
A
luta contra o apartheid mudou de rumo depois do chamado Massacre de
Shaperville, em 1960, quando uma manifestação pacífica de civis negros foi
violentamente reprimida pela polícia, causando a morte de 69 pessoas. Nelson Mandela,
um dos principais líderes do CNA e até então contrário à luta armada,
reconheceu que era preciso radicalizara resistência para derrotar o regime. Preso
em 1962 por promover ações ilegais, Mandela foi condenado à prisão perpétua, e
a repressão tornou-se ainda mais severa. Partidos de oposição, como o CNA,
foram declarados ilegais, e outros líderes contra o apartheid tiveram de deixar
o país.
O
regime racista na África do Sul entrou em crise no final dos anos 1970 e início
dos anos 1980, em decorrência do fim do império colonial português e da queda
do governo de minoria branca na Rodésia (atual Zimbábue). Em 1984, uma revolta
popular contra o apartheid levou o governo a decretar a lei marcial, fazendo
com que a comunidade internacional reagisse à medida. A ONU, então, declarou
sanções à África do Sul com o objetivo de pressionar o governo do país a acabar
com o apartheid. Nesse contexto, o então presidente Pieter Botha viu-se
obrigado a promover reformas no regime, enquanto crescia no mundo um movimento
pró-libertação de Mandela.
A
eleição de Frederik de Klerk para presidente, em 1989, trouxe uma série de
mudanças para o país. Em 1990, o CNA foi legalizado e Nelson Mandela libertado.
No ano seguinte, as leis racistas foram abolidas na África do Sul. Os negros
puderam, a partir daquele momento, atuar na vida política institucional do
país. Em 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul, tendo
pela frente o enorme desafio de tomar medidas para corrigir as graves
distorções socioeconômicas criadas ou aprofundadas pelo regime do apartheid.
Nenhum comentário:
Postar um comentário