Czar Nicolau II |
No começo do século XX, o Império Russo iniciou uma disputa
com o Japão para obter o domínio sobre os territórios da Coreia e da Manchúria.
Essa disputa se acirrou e acabou dando origem a uma guerra. Várias derrotas
militares do Império Russo contra o Japão, no entanto, abalaram a já
fragilizada base do governo czarista de Nicolau II. Além disso, essas derrotas
agravaram ainda mais as condições de vida da maioria da população pobre.
Surgiram revoltas populares e greves que foram duramente
reprimidas por tropas imperiais. No dia 22 de janeiro de 1905, trabalhadores
russos organizaram, na cidade de São Petersburgo, uma manifestação pacífica
para reivindicar melhores salários e redução da jornada de trabalho. O czar, no
entanto, ordenou que os guardas imperiais atacassem os manifestantes, matando
centenas de homens, mulheres e crianças. Este episódio, conhecido como Domingo
Sangrento, marcou o início de várias revoltas contra a autoridade do czar.
Para se organizar e lutar por melhorias, os trabalhadores
criaram então os sovietes, conselhos formados por delegados eleitos por
operários, camponeses e soldados, que conferiam maior representação política à
população russa.
Ilustração do episódio conhecido como Domingo Sangrento |
Após enfrentar os levantes populares, o czar promoveu algumas reformas buscando restabelecer seu prestígio e manter-se no poder. Assim, ele criou a Duma um parlamento formado por deputados eleitos pelo povo que auxiliavam nas decisões políticas, e legalizou os sindicatos de trabalhadores.
Entretanto,
quando a Rússia entrou na Primeira Guerra Mundial, após a Alemanha ter-lhe
declarado guerra, o exército russo, apesar de numeroso, estava despreparado e
sem recursos, sofrendo inúmeras baixas no conflito. À medida que o czar
insistia em manter a Rússia na guerra, aumentava a oposição popular ao seu
governo.
A situação
de pobreza da população aumentou, uma vez que toda a economia estava voltada
para despesas de guerra. No inverno de 1917, uma onda de fome assolou a Rússia.
A população, então, organizou várias greves, saqueou lojas e depredou tribunais
e delegacias. Nem mesmo os soldados reagiram contra a população, pois apoiavam
os revoltosos. Sem ter como retomar o controle da situação, o czar Nicolau II
foi obrigado a abdicar em março de 1917.
O governo
provisório não podia conter a revolta popular. Os camponeses já estavam fazendo
a reforma agrária, ocupando as terras dos nobres e da Igreja Ortodoxa, que
apoiavam o governo do czar. Nas cidades, a agitação dos operários era intensa,
principalmente no soviete de São Petersburgo, controlado pelos bolcheviques. A situação
do governo provisório ficou ainda pior com a tentativa frustrada de um golpe
militar pelo general Kornilv, que era apoiado pelas forças ainda fiéis ao czar.
Lênin e trotsky respectivamente |
Como
o governo provisório não possuía tropas suficientes, foram os sovietes de
Petrogrado que evitaram o golpe militar, em uma demonstração de que estavam em
condições de tomar o poder. Lênin e Trotsky, os principais líderes
bolcheviques, articularam então a insurreição, que teve início na noite do dia
24 de outubro. Contando com tropas de trabalhadores armados, além das unidades
militares que guarneciam Petrogrado, os revolucionários não tiveram
dificuldades em tomar os pontos da capital e depor o governo provisório.
Assim
que tomaram o poder, os bolcheviques do soviete de Petrogrado criaram o
Conselho de Comissários do Povo, uma espécie de ministério responsável pela
nova organização do governo e pela coordenação dos demais sovietes russos.
Presidido por Lênin, o Conselho realizou várias mudanças, como a estatização da
marinha mercante e dos bancos. Também foram criados tribunais revolucionários
formados por cortes populares em substituição às antigas instituições
judiciárias.
Além
disso, houve a extinção dos latifúndios e a desapropriação de terras, que foram
entregues às comunas agrícolas para serem distribuídas aos camponeses de acordo
com as necessidades e a capacidade de trabalho das famílias. As fábricas também
foram estatizadas e passaram a ser autogeridas pelos operários.
Houve
também o confisco dos bens da Igreja Ortodoxa e a abolição do ensino religioso
nas escolas. Assim, foi priorizada a educação laica, e os privilégios de
caráter religioso sofreram severas restrições.
Logo
que assumiram o poder, os bolcheviques determinaram a adoção do regime de
partido único, e o Partido Bolchevique foi rebatizado de Partido Comunista. E,
em 1922, com a intenção de englobar as demais repúblicas soviéticas anexadas à
Rússia, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Mapa da URSS |
Depois
que a Rússia retirou-se da guerra, os grupos anticomunistas se organizaram e
formaram uma coalizão para derrubar o regime socialista implantado pelos
bolcheviques. Dessa coalizão participaram os antigos oficiais fiéis ao
czarismo, grupos liberais, mencheviques e mesmo os socialistas que estavam
descontentes com o poder concentrado pelo Partido Comunista. Além disso, os
grupos anticomunistas receberam o reforço de tropas e apoio material dos países
capitalistas, como França, Inglaterra, Estados Unidos e Japão. Esse contingente
contrarrevolucionário ficou conhecido como Exército Branco.
Em
defesa da revolução, Leon Trotsk passou a ocupar o cargo de comissário do povo
para a guerra. Com dificuldades para montar às pressas um exército capaz de
resistir à guerra civil se configurava, ele estabeleceu o serviço militar
obrigatório e recrutou oficiais e soldados do antigo exército czarista. Rapidamente,
Trotsky organizou o Exército Vermelho, formado por três milhões de homens
treinados sob rígida disciplina e motivados por intensa propaganda comunista.
Durante
a guerra civil, que durou de 1918 a 1920, foi implantado o comunismo de guerra.
De acordo com essa política, baseada em uma disciplina severa no exército e nas
fábricas, os camponeses deveriam entregar parte de sua produção ao esforço de
guerra do Estado. A estatização da economia foi levada ao extremo, com a
proibição de qualquer iniciativa privada. Mediante esses esforços, o Exército
Vermelho venceu as forças contrarrevolucionárias no final de 1920,
expulsando-as do país. A guerra teve um saldo de milhares de mortos.
Com
o fim da guerra civil e da política do comunismo de guerra, a necessidade de
recuperar o país, arrasado pelo conflito, obrigou o Partido Comunista a adotar
a Nova Política Econômica (NEP) para a reconstrução do que havia sido
destruído.
Iniciada
em 1921, essa política era defendida por Lênin como um recuo estratégico de
retorno ao capitalismo para em seguida avançar ainda mais no fortalecimento do
socialismo. O embargo da produção camponesa foi substituído por um imposto a
ser cobrado em produtos, sendo permitido que os camponeses vendessem o
excedente, para assim obterem lucro. Além disso, o Estado soviético permitiu
que a iniciativa privada controlasse pequenos setores do comércio e da
indústria, mantendo sob a autoridade estatal as grandes indústrias pesadas e
áreas estratégicas, como a produção de aço, construção naval, geração de
energia, extração mineral e sistema bancário.
Após
a morte de Lênin, em 1924, teve início uma disputa pelo poder entre Stálin,
então secretário-geral do Partido Comunista, e Trotsky, o comissário do povo
para a guerra.
A disputa
entre Trotsky e Stálin espelhava também uma disputa entre os dois projetos de
revolução socialista. Enquanto Stálin era partidário do fortalecimento do
socialismo na Rússia, para depois leva-lo a outras nações, Trotsky defendia a “revolução
permanente”, ou seja, a internacionalização do movimento revolucionário, pois
acreditava que o socialismo russo dificilmente venceria sozinho a concorrência capitalista.
Stalin - dirigente do Partido Comunista após a morte de Lênin |
Como
dominava a máquina burocrática do partido, Stálin conseguiu expulsar Trotsky do
país e passou a exercer o poder absoluto, realizando expurgos dentro e fora do
partido, eliminando a maioria dos revolucionários que lutaram ao lado de Lênin.
Nascia, assim, a ditadura stalinista, marcada pela rigorosa censura à imprensa
e pelo rígido controle sobre a sociedade.
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