terça-feira, 25 de julho de 2017

A Revolução Industrial.

         Denomina-se Revolução Industrial as transformações econômicas ocorridas na Inglaterra a partir das últimas décadas do século XVIII, tempo em que a máquina a vapor passou a ser sistematicamente utilizada na produção de mercadorias, em especial na fabricação de tecidos, na mineração e na metalurgia.
         Os artigos passaram a ser produzidos em série, em grande escala, graças às melhorias técnicas e a uma nova divisão do trabalho. Essas mudanças levavam à implantação da indústria contemporânea. Criaram-se, ainda, novos mercados consumidores, muitos pela força das armas. Afinal, à medida que se industrializavam, os países precisavam ampliar mercados em várias partes do mundo.

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Mecanização do processo produtivo.
         Essas mudanças não foram rápidas: ocorriam desde o início da Europa Moderna. A expansão marítima dos séculos XV e XVI havia colocado em contato povos de regiões muito distantes do mundo. Mas, no que se refere à Europa, as trocas de mercadorias eram desproporcionais em vários casos: importavam em valor, por exemplo, muito mais no Oriente (China e Índia, basicamente) do que exportava. Os chineses não se interessavam por quase nenhum artigo europeu.
A partir do século XVI, os principais mercados dos comerciantes europeus estavam no próprio continente e nas colônias americanas, onde lucravam, por exemplo, com a revenda dos produtos orientais de luxo, como tecidos, tapetes, especiarias e porcelanas. Além disso, consumiam-se na América produtos agrícolas ou manufaturados das metrópoles.
A Inglaterra do século XV era uma sociedade basicamente agrária, mas desde muito tempo camponeses e artesãos organizados em corporações de ofício se dedicavam à produção de tecidos grosseiros de lã. Os tecidos de lã de melhor qualidade eram produzidos em outras partes, principalmente nas cidades flamengas de Flandres, na Bélgica. Entre os tecidos mais cobiçados, entretanto, estavam os de algodão produzidos na Índia, não só por conta da qualidade, como também pelo preço.
Os ingleses tinham a vantagem do acesso mais barato à lã. Enquanto os tecelões de Flandres tinham de importar grande parte, principalmente da Inglaterra, e pagar altas tarifas, os ingleses a produziam internamente. No século XVI, com o acelerado processo de cercamento dos campos e a consequente ampliação dos rebanhos de carneiros, a matéria-prima ficou ainda mais acessível, e os negociantes de tecidos passaram a controlar o processo produtivo.
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Indústria têxtil - Inglaterra do século XVIII
Para a intensificação da produção manufatureira, contribuiu a exploração das minas de carvão e de ferro. O investimento no aprimoramento de mecanismos hidráulicos e em novas técnicas permitiu que o minério, antes explorados quase na superfície, fosse extraído de grandes profundidades. Eram necessários recursos expressivos para levar a cabo essa exploração. Como muito capital e mão de obra, e poucos obtiveram grande sucesso.
A exploração das minas em grande escala teve um efeito multiplicador: desenvolveu outro setor, o naval, sobretudo no século XVII, já que era necessário o transporte marítimo e fluvial para levar o carvão às cidades, como ladrões.
Podemos perceber, assim, as pré-condições que fizeram da Inglaterra a pioneira no processo de industrialização: uma organização de trabalho baseada no pagamento de salários aos trabalhadores (cada vez mais concentrados no mesmo espaço urbano de produção); a exploração de minas de ferro e de carvão (que iriam permitir futuramente a produção de máquinas e o uso do vapor); e a existência de um grupo social enriquecido. Tudo contribuiu para o sucesso do que viria a ser a Revolução Industrial inglesa do século XVIII, com novas técnicas de fiação e tecelagem e outro tipo de matéria-prima – o algodão.
No século XVIII, a Inglaterra era um país rico, com a maioria da população vivendo no campo. Em 1700, a população girava em torno de 6 milhões de pessoas, com cerca de 70% ocupadas nas atividades agrárias. A produção agrícola, entretanto, vinha sofrendo mudanças importantes.
Foi importante também o rápido aumento no processo de cercamento das terras comuns, que ocorria há séculos na Inglaterra, mas que sofreu enorme impulso na segunda metade do século XVIII e início do século XIX. As terras comuns eram aquelas que os camponeses e os aldeões, embora não fossem os proprietários, tinham o direito de utilizar para caçar, pescar, retirar lenha e madeiras e usar como pasto para o seus animais.
Por meio dos chamados cercamentos o governo inglês livrava os proprietários de qualquer tipo de restrição quanto ao uso das suas terras, incluindo as terras comuns, podendo dispor delas como quisessem, vendendo-as ou arrendando-as. Houve, na verdade, uma redefinição da propriedade agrária e das relações de trabalho no campo.
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Crítica de Charlie Chaplin à Revolução Industrial.
Como todas as terras, incluindo as terras comuns, passaram a ser alienáveis, os camponeses não puderam mais usá-las em proveito próprio. Passaram a trabalhar por jornada para os proprietários ou arrendatários mais ricos ou migraram para outros lugares.
O cercamento dos campos foi o elemento decisivo, embora não o único, para o desenvolvimento da indústria, porque estimulou o avanço da agricultura e o consequente aumento da produtividade agrícola, facilitando a produção de matéria-prima para as fábricas. Resultou em mais alimentos para a população e, como consequência, na diminuição da mortalidade. Provocou, ainda, a liberação de um grande contingente de trabalhadores, que passaram a se ocupar de outras atividades, como nas minas de carvão e de ferro e nas fábricas nascentes. É certo que essas mudanças transformaram profundamente o universo econômico e cultural dos camponeses, que tiveram de se submeter a uma ordem nova: a do capital. Tornaram-se assalariados do campo e das cidades.
A fabricação de tecidos era atividade tradicional na Inglaterra. A maioria das famílias camponesas estava, de alguma forma, envolvida com o processo de fiar e tecer. No século XVI, houve empenho dos negociantes de tecidos em centralizar a produção têxtil, sem concentrar os trabalhadores nas mesma oficina. Eles forneciam materiais para as fiandeiras e os tecelões, recolhendo o produto e o comercializando nos mercados interno e externo. A introdução de uma nova matéria-prima, o algodão, no século XVIII, não mudou, em princípio, essa organização.
Assim, entre os séculos XVIII e XIX, as formas de trabalho se transformaram radicalmente. Milhares de trabalhadores, principalmente mulheres e crianças, concentravam-se em fábricas, sob um regime de serviço intenso e rigoroso. Sem uma regulamentação específica, calcula-se que a jornada diária de trabalho era superior a 12 horas. Somente em 1847 apareceram regulamentações que limitavam a jornada de 10 horas diárias. Em 1850, outra lei estipulou um horário para encerrar a atividade semanal: duas horas da tarde sábado, com descanso no domingo – dia tradicionalmente reservado à religião.
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Exploração do trabalho infantil durante a Revolução Industrial.

A introdução das máquinas no processo produtivo aumentou o montante dos investimentos no setor têxtil, restringindo o número de empresários com dinheiro para montar fábricas. A propriedade das máquinas concentrou-se na pessoa do industrial capitalista, que contratava os operários pagando salários pelas jornadas de trabalho.
Na fábrica, os operários atuavam somente em uma etapa da produção – uma mudança radical na forma de realizar o trabalho. Em outras palavras, o processo produtivo nas fábricas tendia a se fragmentar: estava em curso uma nova divisão do trabalho.
O sistema de fábricas impulsionou outras mudanças. Ampliou consideravelmente a população urbana, especialmente com a expansão do sistema de fábrica para outros setores da economia, como os de chapéus, sapatos, ferramentas e alimentação. Multiplicava-se, também, o setor de serviços, sobretudo o comércio. Também cresceu a oferta de empregos domésticos – criadas, cozinheiras e arrumadeiras – nas casas dos novos ricos empresários. Na passagem do século XVIII para o XIX, o aumento da população nas cidades, que não estavam preparadas para receber tanta gente, teve repercussões sociais significativas. Em cidades como Londres, Manchester, Liverpool e Leeds multiplicavam-se os bairros pobres – mas os governos locais não conseguiam atender à nova demanda e promover reformas do espaço urbano. Havia ruas sem calçamento, lixo por todos os cantos, muitas pessoas morando numa mesma casa. A situação era propícia para a disseminação de doenças, com epidemias frequentes de cólera e tifo. Aprofundaram-se as desigualdades sociais entre ricos e pobres.
As associações de trabalhadores eram antigas na Inglaterra; funcionavam, em geral, como instituições de ajuda mútua. Com a industrialização, os sindicatos entraram em cena, lutando por melhores salários e condições de trabalho. Nessa época, o Estado apenas reprimia as manifestações operárias. A função do Estado liberal era manter a ordem; não interferia nas relações entre trabalhadores e empregados. Afinal, a Câmara dos Comuns era domínio da burguesia... em 1799, o Parlamento britânico aprovou a “combination law”, proibindo a associação de trabalhadores, ou seja, o sindicato.
Existia um forte preconceito em relação aos trabalhadores, tanto por parte da burguesia quanto dos governantes (que, em geral, eram burgueses). Eram considerados indivíduos inferiores, brutos, sem educação e com nível intelectual baixo. Mesmo assim, as elites temiam tanto os trabalhadores como os desocupados, considerados perigosos. Receavam os quebra-quebras, as invasões de fábricas por multidões enfurecidas, as passeatas de pobres e desocupados pelas ruas.
Deve-se frisar que entre 1811 e 1819, houve uma série de ataques às fábricas: homens armados com martelos, machados e pistolas, com rostos pintados de preto e envolto em cachecóis, invadiam as instalações para quebrar as máquinas, vistas como as grandes vilãs, responsáveis por roubar o emprego dos trabalhadores – em particular dos tecelões.
Antes de cada ataque, o proprietário da fábrica recebia uma carta anônima de alerta, assinada pelo general Nelson Ludd – personagem imaginário criado a partir de história de Robin Hood. Os primeiros ataques do chamado movimento ludista ocorreram em Nottingham, onde coexistiam a produção doméstica de tecidos em oficinas e empresas dotadas de máquinas a vapor. O movimento se irradiou para outras regiões, contando com enorme apoio popular. Calcula-se que o quebra-quebra dos ludistas tenha causado um prejuízo de 1,5 milão de libras esterlinas e a destruição de 30% das máquinas de Nottingham.
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Ilustração referente ao movimento conhecido como ludismo.
A reação do governo foi violenta, com enforcamentos, masmorras e deportações. Uma lei de 1817, conhecida como a Lei da Rolha, proibiu reuniões públicas e distribuição de panfletos que incitassem revoltas. O governo chegou a infiltrar pessoas para fomentar desordens e, dessa forma, poder estimular medidas ainda mais severas. A repressão inibiu a atuação dos ludistas a partir de 1819.
No final da década de 1830 surgiu o movimento cartista, mais organizado e centralizado em reivindicações políticas. A iniciativa partiu da Associação dos Trabalhadores de Londres, com a divulgação da Carta do Povo (origem do nome cartismo), redigida por William Lovett e enviada ao Parlamento em 1838.
Os cartistas queria a aprovação de uma reforma parlamentar que garantisse: uma representação mais equilibrada nas eleições distritais; a abolição do censo eleitoral exigido dos candidatos ao Parlamento; o sufrágio universal masculino para os maiores de 21 anos; mandatos parlamentares anuais; voto secreto; pagamento de salário aos parlamentares; reforma dos distritos eleitorais. O objetivo era claro: democratizar o Parlamento, permitindo maior acesso ao poder legislativo na Inglaterra.
As petições cartistas foram apoiadas por milhares de operários. Em julho de 1838, a carta já tinha quase 1,3 milhão de assinaturas. Mas, apesar da mobilização popular, não foi aceita pelo parlamento, o que desencadeou novas manifestações, reprimidas pela polícia. Lovett foi preso, assim como outros 450 integrantes do movimento, incluindo os principais líderes.

Em 1840, com a gradual libertação dos cartistas, o movimento ganhou novo fôlego – em especial com a Formação da Associação Cartista Nacional, origem do primeiro partido político popular da época contemporânea. Organizado em seções locais, chegou a contar com mais de 40 mil associados.
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Movimento cartista lutando por melhores condições de vida e de trabalho.

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