terça-feira, 6 de junho de 2017

A Reforma Protestante

          Ao mesmo tempo em que as autoridades católicas discutiam a questão da salvação, ampliou-se também a crítica a determinadas condutas do clero. Para ganhar dinheiro, o alto clero iludia os cristãos por meio do comércio de relíquias ditas sagradas – prática conhecida pelo nome de simonia. Milhares de pessoas eram enganadas, comprando falsas relíquias da Igreja: espinhos da coroa de Cristo, palhas de sua manjedoura, pedaços da cruz em que ele morreu, panos embebidos pelo sangue do seu rosto e objetos pessoais dos santos.
            O comércio de relíquias não era a única fraude cometida por membros da Igreja: eles vendiam também as indulgências, ou seja, documentos que concediam perdão pelos pecados. Pagando certa quantia destinada a financiar obras da Igreja, os fiéis acreditavam estar comprando a “salvação eterna”.
Para piorar ainda mais a imagem da Igreja, boa parte dos sacerdotes desconhecia a doutrina católica e não estavam preparada para exercer funções religiosas. Pela determinação da Igreja, padres não podiam se casar (e ainda hoje não podem). Só que muitos desobedeciam a essa regra, chamada celibato, vivendo com mulheres e tendo filhos.
A ignorância e o mau comportamento do clero traziam problemas para a relação entre as autoridades da Igreja e os fiéis. De acordo com a doutrina católica, os sacerdotes seriam intermediários entre os seres humanos e Deus, e a Igreja seria necessária para se alcançar a salvação. Ora, muitos intermediários pareciam ser tão pecadores que era preciso buscar novas formas de se aproximar de Deus.
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Lutero e as 95 teses.
Martinho Lutero era filho de administrador de minas que alcançou certa prosperidade. Influenciado pelo pai, Lutero foi estudar direito, mas sua vontade era ingressar na vida religiosa. Em 1505, após quase ter morrido durante uma violenta tempestade, ingressou na ordem dos agostinianos, que segue as ideias do teólogos Agostinho.
Entre 1511 e 1513, Lutero aprofundou seus estudos religiosos e começou a amadurecer novas ideias teológicas. Já em 1517 estourou o conflito que provocou o rompimento entre Lutero e as autoridades católicas.
Com o objetivo de arrecadar dinheiro para obras na Basílica de São Pedro, o papa Leão X autorizou a entrega de indulgências aos fiéis que contribuíssem com dinheiro para a empreitada.
Escandalizado com o procedimento do papa, Lutero pregou na porta de uma Igreja da cidade de Wittengerg (na atual Alemanha) um manifesto público – as 95 teses. Nesse documento, protestava contra a conduta do papa e apresentava sua doutrina religiosa.
Iniciou-se, assim, uma longa discussão entre Lutero e as autoridades católicas, que terminou com sua excomunhão (expulsão da comunidade católica como sacerdote e fiel) da Igreja em 1520. Para demonstrar que não se importa com isso, Lutero queimou em praça pública o documento papal (bula) que o condenava.
As ideias de Lutero ganharam seguidores entre camponeses, trabalhadores urbanos, burgueses e nobres do norte da Europa. Nobres e burgueses se interessavam pelas terras e riquezas que poderiam obter se apossando dos bens do clero católico, principalmente regiões que hoje formam o norte da Alemanha.
Entre os principais pontos da doutrina luterana, destacavam-se: a fé cristã como único caminho para a salvação eterna, a bíblia como a única fonte para a fé e o livre exame pelos fiéis como fonte legítima para o entendimento das Escrituras. Além disso, o luteranismo não aceitava o culto aos santos católicos, a adoração de imagens religiosas e a autoridade do papa.
João Calvino aderiu às ideias de reformadores protestantes, como Lutero e o suíço Ulrico Zwínglio, sendo considerado herege e, por isso, perseguido pelas autoridades católicas francesas. Em 1534, acabou fugindo para a Suíça, onde o movimento reformista já se desenvolvia.
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João Calvino
Em 1536, Calvino publicou sua principal obra, Instituição da religião cristã, na qual defendia que os seres humanos estavam predestinados ao céu ou ao inferno, ou seja, algumas pessoas eram escolhidas ou eleitas por Deus para serem salvas, enquanto outras seriam condenadas à maldição eterna.
De 1541 a 1560, Calvino governou com muito rigor a cidade suíça de Genebra, onde havia órgãos encarregados de vigiar e punir os cidadãos. Entre as atitudes condenadas pelo calvinismo estavam o jogo, o culto às imagens de santos, as danças e o uso de roupas luxuosas e joias. Uma das vítimas da perseguição foi o médico espanhol Miguel Servet, queimado vivo em Genebra em 1553. Servet, como já vimos anteriormente, descreveu a circulação do salgue no pulmão.
Na Inglaterra, o rei Henrique VIII, de 1509 e 1547, se envolveu em situações polêmicas e, sobretudo, culminou numa série de problemas com a Igreja Católica. Deve-se frisar que tais problemas provocaram o surgimento da Igreja Anglicana.
Um dos principais motivos para essa ruptura entre o rei inglês e o papa relacionava-se ao poder político. Para fortalecer o poder da monarquia inglesa, era preciso limitar a grande influência política e econômica do papa dentro do país. A Igreja monopolizava o comercio de relíquias sagradas e era proprietária de grandes extensões de terras, que muitos nobres ingleses queriam tomar. Para isso, precisava apoiar o rei, a fim de enfraquecer o poder das autoridades católicas.
Além desse quadro geral, Henrique VIII também enfrentava problemas conjugais e sucessórios. O rei inglês era casado com a princesa espanhola Catarina de Aragão, mas estava descontente. Um dos motivos era o desejo de ter um herdeiro do sexo masculino para o trono, pois o casal só tivera uma filha, depois de quase 20 anos de vida em comum. Além disso, o soberano inglês queria casar-se com outra mulher, Ana Bolena. O rei pediu então ao papa que anulasse seu matrimonio com Catarina de Aragão, mas o pedido foi recusado.
Diante da recusa do papa, o rei conseguiu que o alto clero inglês e o Parlamento reconhecessem seu divórcio. Em 1534, os membros do Parlamento inglês votaram o Ato de Supremacia, lei pela qual Henrique VIII se tornava chefe supremo da Igreja da Inglaterra. O papa Paulo III excomungou o rei inglês, mas não conseguiu impedir a criação da Igreja Anglicana, que não era muito diferente da católica em termos de doutrina e de culto.
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Rei Henrique VIII.

A contrarreforma foi comandada principalmente pelos papas Paulo III, Paulo IV, Pio V e Sisto V.
Em 1534, o militar religioso Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus. Seis anos depois, o papa Paulo III aprovou a criação da ordem e seus estatutos gerais, ou seja, o documento que definia a atuação desses religiosos.
Inspirados na estrutura militar, os jesuítas consideravam-se “soldados da Igreja”, com a missão de combater a expansão do protestantismo. A principal estratégia dos jesuítas foi investir na criação de escolas religiosas; outro instrumento utilizado foi a catequese. Consolidados, os jesuítas empenharam-se em converter ao catolicismo povos dos continentes recém-conquistados pelos europeus – americanos, asiáticos e africanos.

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Ilustração da ação dos padres jesuítas

         No ano de 1545, o papa Paulo III convocou um concílio, reunido na cidade de Trento, na península Itálica. Em 1563, depois de anos de trabalho, os membros do concílio reafirmaram pontos básicos da doutrina católica, como os sete sacramentos, a crença em que o papa era infalível e a exclusividade do clero católico na interpretação da bíblia. Reafirmaram também que conceder indulgencias era correto e legítimo, embora proibissem a venda delas.

Com o avanço do protestantismo, em meados do século XVII, a alta hierarquia da Igreja e alguns governantes católicos decidiram reorganizar a Inquisição. Entre outras medidas, elaboraram uma lista de livros proibidos aos católicos, o índex.

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