A crise do império era irreversível.
Manifestações populares de repúdio ao aumento do custo de vida vinham ocorrendo
desde o fim da década de 1880. A mais importante foi a Revolta do Vintém,
contra o aumento das passagens de bonde no Rio de Janeiro.
A oposição à Monarquia era cada vez
maior. Revelava-se tanto pelas críticas dos jornais como pelas manifestações
militares e republicanas. Criticava-se principalmente o autoritarismo de D.
Pedro II, exercido por meio do Poder Moderador. Também era de conhecimento
geral que a saúde de D. Pedro o incapacitava de seguir governando o país. Todos
o achavam senil.
Nos dias 8 e 9 de novembro de 1889,
o Clube Militar, reunido sob a chefia de Benjamin Constant, articulou um
movimento armado para a derrubada da Monarquia. Vários civis – tais como
Quintino Bocaiuva e Rui Barbosa – representantes dos republicanos moderados
foram convidados a participar da conspiração. A chefia foi dada a Deodoro da
Fonseca.
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Deodoro da Fonseca |
Boatos afirmando que o marechal
Floriano Peixoto havia prendido Deodoro da Fonseca precipitaram os
acontecimentos. Na tarde do dia 15 de novembro de 1889, as tropas cercaram o
edifício do Ministério e depuseram o ministro Afonso Celso. O Império esboçou
ainda uma resistência, mas os agitadores, como Silva Jardim, mantinham a
população atenta, realizando comícios. A população ocupou a Câmara Municipal, e
José do Patrocínio proclamou o fim da monarquia e o estabelecimento da
República.
O marechal Deodoro da Fonseca,
depois de proclamar e oficializar a República, assumiu a presidência de um
governo provisório. As primeiras medidas visavam eliminar órgãos imperiais:
dissolveu as câmaras, aboliu o Conselho de Estado e transformou as províncias
em Estado.
Entre Novembro de 1890 e fevereiro
de 1891, a Assembleia esteve reunida para discutir um projeto de Constituição
elaborado por Rui Barbosa, Silveira Martins e Américo Brasiliense, entre
outros. No dia 24 de fevereiro de 1891, foi finalmente promulgada a nova
Constituição do Brasil.
O modelo inspirador foi a
Constituição norte-americana, fato que dava autonomia aos estados
(federalismo), marcando a descentralização reivindicada pelos cafeicultores. Por
isso, o país foi oficialmente intitulado Estados Unidos do Brasil. A nova
Constituição do Brasil estabelecia o poder executivo – o presidente e o
vice-presidente – seria escolhido pelo voto direto. Os eleitores deveriam ter
mais de 21 anos. Os analfabetos e as mulheres foram excluídas desse direito.
Depois de promulgada a Constituição,
a Assembleia Constituinte se transformou automaticamente em Congresso Nacional,
composto de duas casas: a Câmara dos Deputados e o Senado. Por uma disposição transitória
da Constituição, as duas casas deveriam eleger o primeiro presidente. Os presidentes
seguintes seriam escolhidos pelo voto direto.
A eleição deu vitória a Deodoro da
Fonseca, mas a vice-presidência ficou com Floriano Peixoto, candidato da oposição.
(República da Espada) Apesar do federalismo da Constituição, Deodoro usou de
todos os poderes, constitucionais ou não, para manter o poder fortemente
centralizado.
Tentando impor sua vontade, Deodoro
lançou, no dia 3 de novembro de 1891, o chamado Manifesto à nação, que não era
senão um golpe de estado, que dissolvia a câmara e o Congresso.
A oposição civil organizou grupos de
resistência, sob a liderança dos paulistas Campos Sales e Prudente de Moraes. Uma
parte importante dos militares se opôs ao golpe de Deodoro: Floriano Peixoto
liderou esse setor do Exército contra o golpe. O mesmo se deu com a Marinha,
que antes havia sido solidaria a Deodoro.
O marechal Deodoro da Fonseca,
diante do cerco que faziam, renunciou no dia 23 de novembro de 1891. A presidência
passou a ser ocupada pelo marechal Floriano Peixoto, herdeiro de um governo
mergulhado em grave crise política, econômica e social.
O período denominado República da
Espada foi considerado pela oligarquia cafeeira como um governo transitório. Segundo
o ponto de vista desse grupo, finda a tarefa de consolidação da República, o
Exército deveria voltar aos quartéis.
O poder ficou nas mãos da oligarquia
dos dois maiores estados produtores e exportadores de café, isto é, Minas
Gerais e São Paulo. Os dois estados sozinhos produziam quase 50% de todas as
nossas exportações. Esse processo culminou no surgimento da politica do cafe-com-leite.
O Estado que se instalou depois de
1894 representou, sem dúvida, os interesses dos grande cafeicultores, que não
hesitaram em usar todo o poder para garantir o domínio político sobre toda a
nação.
Por questões de saúde, o presidente
Prudente de Moraes precisou se ausentar por quatro meses. Nesse momento,
iniciou-se um conflito social nos sertões da Bahia, que deu origem à chamada
Guerra de Canudos. Os republicanos tiveram as mais variadas reações, mas quase
todas elas agressivas em relação ao levante popular.
Toda a região do Nordeste passava
por uma aguda crise econômica, deixando a maioria da população do campo em
estado de miséria. Os homens livres que trabalhavam na terra de algum grande
latifundiário tinha, de certa forma, uma segurança e proteção. Com a crise, até
esse tipo de trabalho havia desaparecido. A maioria da população sentia-se
desamparada e vagava pelos sertões.
Foi de um desses grupos messiânicos que
vagavam pelo sertão da Bahia que surgiu um líder conhecido com o nome de
Antônio Conselheiro. Conselheiro reuniu vários adeptos, percorrendo os sertões
e fazendo pregações religiosas, ajudando pobres em suas colheitas e em pequenas
construções.
Enquanto a fama de Antônio
Conselheiro aumentava com o auxílio que prestava aos pobres, a Igreja não
admitia suas práticas religiosas. O governo da Bahia começou a persegui-lo,
temendo possíveis agitações. Antônio Conselheiro ganhou poderosos inimigos: o
Estado e a Igreja.
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Antônio Conselheiro |
Em Canudos, Conselheiro fazia suas
pregações religiosas, mas também emitia suas opiniões políticas. Atacava o
governo da República, responsabilizando-o pelo estado de miséria do povo. A
República, segundo o beato, era a responsável pela miséria do povo porque
provocou a ira de Deus quando separou a Igreja do Estado. Os republicanos, por
sua vez, tacharam-no de monarquista perigoso.
O arraial de Canudos chegou a ter
mais de 30 mil habitantes. Era uma verdadeira cidade de casebres. Para administrar
essa “cidade”, Conselheiro havia criado um corpo de auxiliares que organizava a
distribuição de alimentos, as práticas religiosas e a defesa.
O governo federal assumiu a
responsabilidade na repressão ao foco de “monarquistas subversivos”, como eles
ficaram conhecidos. Com isso, vários expedições militares foram enviadas ao
sertão da Bahia com a finalidade de destruir o arraial.
A derrota do governo nas três primeiras
expedições aumentou a convicção entre os republicanos mais radicais de que
Canudos era um perigoso e bem armado foco monarquista. Por essa razão, nova e
poderosa expedição com mais de 10 mil soldados, comandadas pelo general Arthur
Oscar, partiram para os sertões da Bahia com a missão de não deixar pedra sobre
pedra no arraial de Canudos.
Porém, depois de mais de dois meses
de luta, os sertanejos não puderam resistir a uma força muitas vezes maior do
que as suas. No dia 5 de outubro de 1897, cessou a resistência no arraial de
Canudos. Praticamente não houve sobreviventes, a não ser “um velho, dois homens
feitos e uma criança”, como relatou Euclides da Cunha.
Deve-se frisar que o poder estava
rigidamente concentrado nas mãos das oligarquias estaduais, que, praticamente,
não davam chances nem espaços para a atuação da oposição. Para garantir o seu
poder, as oligarquias criaram mecanismos de acordos que caracterizaram a
denominada República Velha (1889-1930). Os principais autores desse acordo eram
os chamados coronéis.
Todo o poder dos Coronéis vinha do
fato de os pobres do campo serem dependentes dos seus favores: os sertanejos
podiam explorar pequenas roças e criar animais; em troca ajudavam na colheita e
no cuidado do gado. O mais importante era que eles protegiam os sertanejos dos
abusos dos policiais e da justiça.
A atuação deles na política se fazia
diretamente através das eleições. Eles tinham força no que ficou conhecido como
seu “curral eleitoral”. Nas épocas de eleições, o coronel se encarregava de
transportar os trabalhadores do interior para os pequenos centros urbanos, onde
ocorriam as votações. Dava alimento, alojamento, roupas, sapatos e até pagava
os dias de trabalho que os sertanejos perdiam. Em compensação, os trabalhadores
votavam em quem ele mandava, pois o voto não era secreto.
Graças a esse mecanismo, era mantida
a estrutura política da República Velha, ao mesmo tempo que aumentava o
prestígio desses chefes na região em que atuavam. Se por acaso na região de domínio de algum “coronel”
surgisse uma oposição, recorria-se à fraude eleitora, através da inclusão, na
lista de eleitores, e nomes de pessoas que haviam falecido. Esse processo era
chamado de “bico de pena”, que significava a falsificação da lista eleitoral.