domingo, 12 de junho de 2016

O Nazismo e o Fascismo

Benito Mussolini
    “Vitória mutilada”: assim era vista a participação da Itália na Primeira Guerra Mundial ao lado da França e da Inglaterra, pois a maioria das suas reivindicações territoriais não foi atendida nos acordos de paz de 1919. Em decorrência disso, os italianos passaram por um período de grande efervescência política, com o destaque para o crescimento do tradicional Partido Socialista Italiano, fundado em 1892. Com fortes bases operárias, prevalecia no partido uma posição favorável à revolução proletária. Nas eleições de 1919, o Partido Socialista venceu com 32% dos votos, tornando evidente o desgaste dos partidos liberais, a exemplo do Partido Republicano e do Partido Liberal.
                A vitória dos socialistas foi seguida de grande mobilização: uma série de greves por melhores salários e condições de trabalho se desencadeou pelo país, dirigida pelas poderosas centrais sindicais italianas. Mais de um milhão de grevistas paralisaram a indústria em 1920. Além disso, armazéns e lojas foram saqueados pela multidão.
                O crescimento do número de comunistas e socialistas na Itália levou amplos setores da sociedade, sobretudo os pertencentes às elites, a buscarem alternativas para manter o capitalismo. A opção escolhida foi o Fascismo, palavra que deriva do latim Fascium. Na República Romana, a palavra fascium designava uma das insígnias do poder do Estado – 30 varas atadas por uma corda formando um cilindro que não se rompia. Esse era o nome dado ao movimento criado por Benito Mussolini, em março de 1919.             
Mussolini foi membro ativo do Partido Socialista até 1914, quando foi expulso. Discordou da posição partidária que condenava a entrada da Itália na Primeira Guerra. A base de seu fascio era formada por indivíduos de classe média que tinham três pontos em comum: oposição à democracia liberal, forte nacionalismo e ódio ao comunismo.
                O desempenho eleitoral do partido nas eleições de 1919 foi péssimo, conseguindo menos de 5 mil votos. Então Mussolini organizou a agremiação como milícia para-militar, com o objetivo de combater socialistas e comunistas. Os militantes vestiam camisas pretas e espancavam adversários por toda parte.
                Nas eleições de 1921, os fascistas elegeram 35 deputados para o Parlamento. A esquerda continuava forte, embora dividida entre a opção revolucionária e a participação eleitoral, o que favoreceu imensamente a ascensão do fascismo.
                Nesse contexto, o congresso do Partido Fascista, em Nápoles, optou por fazer uma marcha sobre Roma, com o objetivo de reivindicar a participação fascista no governo. Precedida da ocupação de vários prédios públicos, a famosa Marcha sobre Roma ocorreu em 28 de outubro de 1922 e não encontrou resistência. Ao contrário, o sucesso foi além das expectativas: o rei escolheu Mussolini como primeiro-ministro. Os fascistas chegavam ao poder.

                Nas eleições de 1924, os fascistas obtiveram 65% dos votos, a maior parte vindos do sul agrário. Nas cidades industriais, a esquerda ainda tinha alguma força, apesar da violência usada pelos camisas pretas. Em 10 de junho de 1924, o líder socialista Giacomo Matteotti foi sequestrado e morto pelos camisas pretas, depois de proferir um inflamado discurso no parlamento contra a violência dos fascista nas eleições.
Marcha sobre Roma
                       O fascismo passou então, por uma prova de fogo. Mussolini não assumiu a responsabilidade pelo delito, mas os grupos antifascistas, dentre eles os partidos e as centrais sindicais de esquerda, esboçaram uma reação. Os deputados contrários a Mussolini abandonaram o parlamento, aguardando uma intervenção do rei, que apelou para a “concórdia nacional”. Mussolini fechou a Câmara, para reabri-la meses depois.
                Mussolini sobreviveu a três atentados em 1926 e reforçou ainda mais seu poder pessoal. Na terceira vez declarou: “Proponho-me a deter totalmente os atentados contra a minha vida. Não digo por mim, porque verdadeiramente gosto de viver em perigo, senão pelo povo italiano”.
 Três anos depois, o governo celebrou a Concordata de Latrão, pela qual a Igreja, chefiada por Pio XI, reconhecia o Estado italiano e recebia a minúscula área ao lado da Basílica de São Pedro, em Roma, como sede do Estado do Vaticano. Chegava ao fim uma controvérsia criada no final do processo de unificação italiana, ainda no século XIX, conhecida como Questão Romana. O Catolicismo foi também declarado religião oficial da Itália, que fez com a Igreja ima aliança essencial para a consolidação do fascismo.

Hitler e Mussolini
             
                 Nesse mesmo ano, realizou-se um plebiscito para avaliar a aprovação do governo, em que Mussolini obteve cerca de 98% de aceitação. Tornou-se o Duce (derivado de Dux, chefe, na Roma Antiga); o mito da romanidade guerreira era levado do fascismo.
              A sociedade começou então a ser organizada nos padrões do fascismo, dentro de uma ordem rígida. O lema da juventude, por exemplo, era: “Crer, obedecer, combater”. Na universidade, criaram-se os Grupos Universitários Fascistas, e os professores foram obrigados a jurar fidelidade ao regime, sob pena de demissão. Manifestações públicas se multiplicaram em louvor ao regime e ao Duce. Enquanto isso, as oposições continuavam sendo eliminadas por meio de violência e terror.
                A recuperação econômica da Itália foi significativa, mas não eliminou o desequilíbrio entre o norte e o sul e se fez, em grande parte, à base do arrocho salarial. Em 1939, a renda per capita italiana era um terço da inglesa e metade da francesa.
               Nas relações exteriores, o governo fascista ensaiou uma política imperialista na África, invadindo a Etiópia em 1935. A guerra durou sete meses e foi a primeira evidência da debilidade militar italiana. Embora tenham protestado contra a invasão na Liga da Nações, França e Inglaterra aceitaram a vitória da Itália, que havia se tornado uma peça importante no xadrez político europeu. O fascismo estava em alta, e Mussolini era reconhecido como uma importante liderança política.
Símbolo do Partido Nazista
                 Ao final da Primeira Guerra Mundial, a situação da Alemanha era muito pior que a da Itália. Derrotada na guerra, foi despojada de vários territórios, como a Alsácia-lorena e o chamado Corredor Polonês. Foi obrigada ainda a pagar pesadas indenizações aos países vencedores e estava impedida de se remilitarizar, fixando-se em 100 mil o número máximo de soldados, além da proibição de possuir tanques e artilharia pesada.
                A crise da monarquia foi resultado, de um lado, da derrota alemã na Primeira Guerra e, de outro, da onda comunista que varreu a Alemanha a partir do segundo semestre de 1918. A pregação revolucionária partiu de uma dissidência do velho partido Social-Democrata fundado em 1863 que, por volta de 1891, tinha abandonado a estratégia revolucionária e pretendia tomar o poder por meio da disputa eleitoral.
Adolf  Hitler
                Foi nesse ambiente que se plantou a semente do nazismo, cujo embrião foi o minúsculo Partido dos Trabalhadores Alemães. Tinha a pretensão de representar a classe operária alemã rivalizando com os comunistas e socialistas. Foi nele que Adolfo Hitler ingressou, em 1919. Austríaco, ex-cabo do exército alemão, destacou-se na guerra como mensageiro por ter atravessado o fogo cruzado nas trincheiras do front. Foi ferido e condecorado com a cruz de ferro, uma das principais medalhas concedidas aos militares do país. Também era um pintor frustrado, recusado anos antes na Academia de Belas-Artes de Viena.
 Hitler se destacou por seus discursos nas cervejarias de Munique – famosas por abrigarem comícios e debates políticos -, contestando a humilhação da Alemanha pela “traição de Versalhes”.  Metódico, organizou o partido e assumiu sua liderança, transformando-o, em 1920, no Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), isto é, o Nazismo.
             No nascente partido, Hitler conviveu com vários intelectuais antissemitas e logo amadureceu seu ódio pessoal contra o povo judeu. O traço mais específico do programa nazista, diferentemente do fascismo italiano, residiu na defesa da raça ariana (germânica) e na condenação dos judeus. Hitler e os ideólogos do partido divulgaram ideias de que os judeus representavam a pior parte da humanidade: de um lado, eram os capitalistas mais avarentos; de outro, eram os principais responsáveis pela criação e difusão do comunismo.
                Os nazistas atribuíam aos judeus a miséria enfrentada pela Alemanha e a responsabilidade pelo que chamavam de “traição de Versalhes”. O antissemitismo acabou se tornando um polo de coesão ideológica e favoreceu a ascensão do nazismo. O partido se afirmaria, assim, como antissemita e anticomunista, embora também condenasse os abusos do capitalismo.
                Em 1923, Hitler tentou dar um golpe de Estado, cuja intenção era fazer uma “marcha sobre Berlim”. Porém avaliou mal a conjuntura, e a rebelião foi abortada. Hitler foi condenado a cinco anos de prisão mas foi anistiado poucos meses depois. Na prisão, escreveu o livro “Minha Luta” (Mein Kampf), resumindo seu projeto de uma Grande Alemanha expansionista, ariana e livre de judeus.
                Em meio à crise, o desempenho eleitoral dos nazistas cresceu, bem como a aproximação do partido com grupos ligados ao grande capital. Selava-se, discretamente, um acordo entre o nazismo e o capitalismo alemão, que financiava o partido. Nas eleições parlamentares de 1930, o número de cadeiras nazistas saltou de 12 para 107. Assim, a balança pendia para o nazismo, enquanto os partidos de centro perdiam votos.
                Animado com o êxito e com o crescente prestígio popular, Hitler se candidatou à presidência, tendo como um de seus opositores o marechal Paul Von Hindenburg. No pleito de 1932, o desempenho de Hitler foi excepcional, forçando um segundo turno. Mas ele acabou derrotado, com 37% dos votos válidos, contra 53% recebidos pelo marechal. Vários segmentos da sociedade ainda desconfiavam de Hitler e apostavam em Hindenburg.
                Diante da conjuntura de crise, as classes sociais alemães aderiram definitivamente ao nazismo. Em manifesto, grandes industriais apelaram ao presidente Hindenburg para nomear Hitler chanceler do Estado alemão – o que aconteceu em 29 de janeiro de 1933. No dia seguinte à sua posse, Hitler assistiu da janela da chancelaria a um enorme desfile de militantes nazistas uniformizados, segurando tochas e saudando, na noite gélida de Berlim, a ascensão de seu líder ou Fuhrer.
Por fim, a morte de Hindenburg em 1934, levou Hitler a acumular os cargos de chanceler e de presidente, dando início ao Terceiro Reich, com o atropelo da constituição. Os partidos políticos foram proibidos, exceto o nazista. Submetidas a um plebiscito, as mudanças foram recusadas por 30% dos votantes, frustrando as expectativas de uma aprovação consagradora. Mesmo assim, a política nazista avançou anos depois.
Joseph Goebbels
Confiada ao ministro Joseph Goebbels, a propagando do regime foi cuidadosamente  planejada. Pouco depois de assumir o posto, Goebbels pôs em ação o projeto de “limpar a Alemanha” da cultura internacionalista, judaica e comunista, incentivando grande queima de livros em praça pública. Livros de não alemães, marxistas e judeus, livros pacifistas e de psicanálise arderam em todas as cidades universitárias.
Os nazistas perseguiram os judeus logo que alcançaram o poder. Foram produzidos filmes ridicularizando-os e passando a imagem de que contaminavam a sociedade ariana, como uma doença. O nazismo, com isso, inaugurou a noção de “guerra racial” e colocou a ciência a serviço de seu programa político.
Em 1933, os judeus foram proibidos de exercer profissões liberais. Em 1935, foram decretadas as Leis de Nuremberg, com medidas que proibiam, por exemplo, o casamento entre judeus e arianos. Bastava ter apenas um avô judeu ou avó judia para o indivíduo ser considerado impuro. O Estado promoveu, inclusive, uma campanha sob o lema: “Procure sua avó judia!”

A recuperação econômica da Alemanha foi, contudo, assombrosa, em grande parte voltada para o rearmamento e para a guerra. A inflação foi contida; a agricultura e a indústria retomaram o crescimento com o congelamento dos salários. A relação entre trabalhadores e patrões passou a ser mediada pelo Estado, por meio da Lei de Ordenação do Trabalho Nacional. A consolidação do nazismo esteve, desde o início, comprometida com o expansionismo territorial, resumindo na teoria do “espaço vital”, que difundia a necessidade de novos territórios para o desenvolvimento da raça ariana.


 Os campos de concentração

 



 


 


 

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