quarta-feira, 2 de março de 2016

 

O velho camarada Luiz Carlos Prestes
            Uma das personalidades mais marcantes do século passado, que revolucionou a ideologia comunista de meados dos anos 1930 e 1940, foi o comunista Luiz Carlos Prestes. Sua vida foi caracterizada pelos exílios e pela luta na defesa dos ideais marxistas. Frustrações e conquistas também fizeram parte da trajetória desse grande líder, contestado por alguns e admirado por outros.  Suas convicções e projetos políticos modificaram radicalmente a constituição estrutural do partido comunista da época.
            A sua marcante participação na história do país começou em meados de 1925, quando Prestes percorreu pelo menos 13 estados, mais de 25 mil quilômetros, divulgando suas ideias. Essa postura atribuiu ao ex-militar do exército a alcunha de Cavaleiro da Esperança. A “Coluna Prestes”, como o movimento ficou conhecido, foi perseguido pelo governo de Artur Bernades. Após dois anos de peregrinação pelo país, o revolucionário e seus companheiros passaram à clandestinidade em alguns países da América Latina. Todavia, sua conduta atraiu a atenção dos membros majoritários do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
            Após sua entrada para o PCB, Prestes iniciou seus estudos sobre as ideias comunistas. Realizando uma análise sobre a conjuntura política do período abordado, percebemos que ocorria uma dicotomia peculiar, uma vez que o nazismo e fascismo ganhavam espaço no cenário internacional. Visando inibir o avanço do nazi-fascimo, Prestes, juntamente com membros ativos do PCB, organizaram a Aliança Nacional Libertadora, um movimento que objetivava impedir o crescimento do Nazismo no Brasil.
            Nesse contexto de bipolaridade, ou seja, onde duas correntes ideológicas se destacavam de uma maneira significativa, a fascista e a comunista, Prestes organizou um movimento no sentido de derrubar o governo de Getúlio Vargas e implantar um governo popular no Brasil. Todavia, alguns equívocos foram constatados no planejamento da revolta. O líder da rebelião procurou se aliar à classe militar, deixando de trabalhar com os sindicatos e trabalhadores de uma maneira geral. Os destacamentos que supostamente estavam ao lado dos revolucionários não se levantaram contra o governo. (Esse episódio ficou conhecido como a “Intentona Comunista”). Com isso, todos os participantes da revolta foram presos e Olga Benário, esposa de Luiz Carlos Prestes foi enviada ao campo de concentração de Hitler.
Esse episódio provocou a prisão do cavaleiro da esperança, que ficou na cadeia durante nove anos (1935-1944). Foi o período chamado de Estado Novo, onde Vargas governou o Brasil de uma forma ditatorial. Vale ressaltar que sua filha nasceu no interior de um campo de concentração, e sobreviveu graças ao engajamento de sua avó, D. Leocádia Prestes. Após longos anos na cadeia, quando foi libertado, Prestes se tornou senador da república, entrando, por pouco tempo, na vida política do país. Vale destacar que logo depois, no governo de Eurico Gaspar Dutra, ele também foi obrigado a se retirar do país.
Nas eleições de 1950, Prestes provocou uma das cenas mais intrigantes da sua carreira política, que foi seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas à Presidência da República. A pergunta que os comunistas da época se faziam era como o “cavaleiro da esperança” poderia dar sustentação política a uma pessoa que mandou sua esposa para a morte nas mãos de Hitler e deixou-o preso por nove anos. Vale frisar que milhares de membros do PCB deixaram o partido por causa dessa atitude de Prestes.
A resposta do líder comunista foi simples e objetiva. Segundo Prestes suas convicções políticas estavam acima de suas trajédias pessoas. Em outras palavras, ele acreditava que naquele momento o melhor para o país era a volta de Vargas ao poder. As críticas que recebeu de seus companheiros não o fez mudar de posição, uma vez que sua principal característica sempre foi a de não voltar atrás depois de tomada uma decisão.
Já nos acontecimentos envolvendo a ação dos militares brasileiros em 1964, Prestes foi contra a luta armada. Essa posição também gerou uma série de contestações de seus paridários, que o acusou de reacionário e desprovido dos verdadeiros ideais marxistas. O historiador Jorge Ferreira argumenta sobre o assunto com objetividade e precisão: “Com a vitória fácil do golpe militar, várias lideranças dentro do partido se opuseram a ele, que sempre foi contra a luta armada”. Vale ressaltar que nesse momento houve uma divisão interna do partido, onde os mais “radicais”, que defendiam a luta armada, contestavam os comunistas, como Prestes, que eram contrários às ações armadas na luta contra os militares.
O próprio Prestes foi categórico ao argumentar sobre a questão: “Nós tínhamos muita confiança nas forças armadas, tínhamos uma fração muito forte no Exército, mas aqueles elementos não estavam preparados para se defender, para organizar a resistência”. Vale destacar que, partindo-se de uma visão estrutural, a luta armada realmente obteve sucesso, pois importantes líderes dessas lutas acabaram morrendo ou sofrendo torturas diversas nos aparelhos repressores orquestrados pelo regime militar. O exemplo mais emblemático disso foi a morte de Marighella e de Lamarca, que foram perseguidos e assassinados pelos militares. Em outras palavras, Prestes sabia que o momento não era oportuno e que os revolucionários não estavam prontos para enfrentar o exécito brasileiro. Contudo, vale destacar que o cavaleiro da esperança cometeu um equívoco em sua análise acerca da atual situação política do Brasil, pois para ele o governo de João Goulart tinha apoio dos grandes empresários e industriais, e, dessa forma, sua presença no comando supremo do país estaria garantida. Foi um erro de percepção política, uma vez que os militares conseguiram derrubar o presidente e instituir uma ditadura militar.
Com o golpe militar de 1964, Luiz Carlos Prestes acabou, mais uma vez, caindo na clandestinidade. Nesse período foi morar na Rússia, onde procurou articular estratégias no sentido de lutar contra a concentração de poder nas mãos dos generais brasileiros. Seu exílio durou até 1979, quando conseguiu retornar ao país pelas vias legais. O clima era de euforia e de luta pela volta da democracia, onde passeatas e movimentos de contestação à ordem vigente estavam sendo colocados em prática em todos os Estados da federação.
O fim da ditadura ocorreu em 1985, quando Tancredo Neves foi eleito presidente da república, o primeiro presidente civil depois de 21 de regime militar. Todavia, Tancredo não assumiu o poder, pois acabou adoencendo poucos dias antes da posse. O vice, José Sarney, após uma série de conflitos e desentendimentos, assumiu o comando supremo da nação.
Numa carta endereçada à sua esposa, que estava em Moscou, Prestes desabafou: E o próprio Sarney já vai manifestando seus instintos latifundiários e sua disposição de continuar no poder de qualquer maneira, já não apenas por cinco anos, mas por muito mais”.
Basta olharmos para a atual situação do Congresso Nacional para verificarmos que mais uma vez Prestes estava correto em suas proposições políticas. Não só o Sarney, mas vários políticos oligárquicos exercem o poder de uma forma soberana e despótica. A democracia, mais uma falácia do neoliberalismo, apenas serve para fortalecer o apadrinhamento e falta de escrúpulos dos “líderes” dessa nação sem liderança.
Prestes, antes de morrer, em 1990, deixou claro suas convicções acerca da formação estrutural do PCB. Para ele, o partido comunista, de uma forma lamentável e deplorável, perdeu seus ideais e seu engajamento na luta contra a miséria e manipulação das camadas mais desfavorecidas. Em outras palavras, o partido deixou de lado a luta pela causa popular, das melhorias trabalhistas e do materialismo histórico. E, realmente, os partidos atuais, que se escondem atrás das siglas, da foice e do martelo (símbolos do comunismo), apenas querem seus espaços nas pastas ministeriais do Estado. Procuram se aliar ao governo em busca de benefícios políticos, e não apresentam propostas no sentido de melhorar a vida da população mais carente.
Enfim, a figura de Luiz Carlos Prestes modificou o pensamento das camadas sociais brasileiras preocupadas com a revolução comunista. Suas análises continuam presentes e servindo de modelo para projeções no sentido de encontrar soluções para problemas estruturais da nossa nação. Revolucionário ou Reacionário, Comunista ou Burguês, não importa como os atuais historiadores o consideram, sua estima e convicções sempre será destacada por todos que se propõem em explicar os atuais problemas do Brasil.










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