Costuma-se
designar por Iluminismo ou Ilustração ou, ainda, Filosofia das Luzes o
movimento de renovação filosófica e intelectual que atingiu a maturidade e
maior expressão na França, no século XVIII.
O
maior cosmopolitismo da cultura francesa, em especial da produção cultural e
intelectual de sua capital, Paris, explica o fenômeno das “luzes” nesse país. Na
França, sobretudo a partir da segunda metade do século XVIII, as contradições
características do Antigo Regime se acirraram (privilégios do clero e da
nobreza; reação aristocrática visando manter intactos os “seus direitos”
seculares; permanência de relações sociais ainda predominantemente feudais que
entravavam as forças capitalistas emergentes etc).
O
movimento iluminista tinha como fundamentos a crença inabalável na razão e a
ideia de que o progresso do ser humano pode ser infinito, desde que o espírito
humano, por meio do livre exercício de suas faculdades, liberte-se do
emaranhado de superstições, do misticismo, ou seja, das “trevas” a que até
então estivera subordinado.
A
busca de uma nova concepção de mundo, essencialmente racionalista e baseada na
existência de leis naturais que regem a dinâmica do Universo, encontrava-se na
base da filosofia iluminista, cujas origens estavam vinculadas à chamada
Revolução Científica do século XVII, a qual, por sua vez, se apoiava nas
concepções de Galileu (1564-1642), de Newton (1642-1727) e de Descartes
(1596-1650), tendo como principal fundamento esta formulação: “Penso, logo
existo”.
Descartes |
Como
desdobramento natural da filosofia iluminista, verificou-se um desprezo pelo
passado, com a rejeição das velhas crenças e antigas tradições. No contexto do “século
das luzes”, mais uma vez a Idade Média foi objeto de críticas, reforçando-se
estereótipos construídos na época do Renascimento.
Passaram
a ser objeto das críticas dos filósofos e propagandistas das “luzes” tanto o
Antigo Regime quanto suas instituições – a sociedade estamental ou de ordens,
baseada nos privilégios de nascimento (não explicados pela igualdade dos homens
perante a natureza); as religiões tradicionais (em especial o catolicismo) e a
Igreja.
Afirmou-se,
de maneira crescente, o pensamento anticlerical, embora a grande maioria dos
pensadores iluministas não negasse a existência de Deus. A esse respeito,
Voltaire (1694-1778), um dos pensadores iluministas, de maneira irônica
afirmou: “As religiões são como pirilampos; só brilham onde há escuridão”.
Ao
pretenderem “derrubar os altares”, os filósofos iluministas colocaram-se como
críticos da religião e de suas explicações metafísicas. Afirmaram-se como
deístas. Para eles, existia um Deus muito diferente do apresentado pelas
religiões tradicionais, particularmente do apresentado pela Igreja Católica. Em
suas concepções, Deus confundia-se com a própria natureza, que seria a origem
de todas as coisas.
A
crítica às proibições impostas pelos soberanos absolutistas e às teorias que
justificavam o poder absoluto dos reis se multiplicaram na segunda metade do
século XVIII. Cada vez mais, os pensadores, refletindo o espírito de toda uma
época e o inconformismo com as estruturas político-jurídicas do Antigo Regime,
defendiam a mais ampla liberdade de expressão.
Rousseau |
No
campo político, destacaram-se Rousseau (1712-1778) e Montesquieu (1689-17550. Enquanto
o primeiro defendia, inclusive, a ideia de soberania popular, o segundo, em sua
obra básica O espírito das leis (1648), propunha a tripartição dos poderes
(executivo, legislativo e judiciário), com a supremacia do legislativo.
Nos
séculos XVII e XVIII, em alguns países, o Antigo Regime, suas instituições e
suas práticas econômicas mercantilistas se desestruturaram em virtude de
movimentos revolucionários “de baixo para cima”, nos quais a participação
popular foi decisiva, como a Revolução Francesa de 1789.
O
pensamento iluminista contribuiu para que algumas das instituições do Antigo
Regime fossem reformadas a partir de iniciativas dos próprios governantes,
consubstanciando o que se denominou de reformismo político.
As
revoluções, entendidas como o “pesadelo” dos grupos dominantes, deveriam ser
evitadas a qualquer custo. Nesse sentido, o reformismo político, que ficou
conhecido como despotismo esclarecido, tornou-se um dos mecanismos principais,
em muitos países europeus, de controle das aspirações populares.
Em
fins do século XVIII e início do século XX, as condições materiais de vida na
Europa Ocidental estavam se transformando rapidamente.
A
produção capitalista, depois de séculos de transição, consolidava-se em alguns
países, pioneiramente na Inglaterra, a partir da Revolução Industrial.
Nesse
contexto, deve-se compreender o surgimento do conjunto de teorias econômicas
que iriam compor o que se convencionou chamar de Economia Política Clássica. Tendo
como pressuposto o liberalismo, pode-se caracterizá-la como sendo uma corrente
do pensamento econômico que melhor refletia as expectativas e as aspirações da
nova ordem burguesa, individualista e capitalista.
Originadas
com o Iluminismo e lançadas pelos fisiocratas, as bases do liberalismo eram a
propriedade privada, o individualismo econômico, a liberdade de comércio, de
produção e de contrato de trabalho.
Assim
como nos planos filosóficos, político, social e religioso, o Antigo Regime fora
questionado pela “Filosofia das Luzes” e pelos “enciclopedistas”, também o
mercantilismo, política econômica dos Estados absolutistas na época de
transição feudalismo/capitalismo, foi questionado teoricamente pelos chamados
économistes. Foram eles que, inclusive, denominaram as práticas econômicas da
época moderna, a posteriori, de mercantilismo, por considera-las absolutamente
antinaturais e por perceberem que, nessa época, o comércio regia atividades econômicas.
Os
économistes formaram o embrião do pensamento econômico da Economia Política
Clássica.
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