quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A expansão marítima portuguesa

Até os primórdios da Idade Média, as Sagradas Escrituras constituíam as fontes de conhecimento mais acatadas. Os planetas conhecidos limitavam-se a Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, e os cometas e estrelas, segundo se imaginava, não estavam muito distantes de nós. As representações cartográficas diferiam da forma circular que conhecemos hoje. Nos mapas, os compromissos com a proporção dos continentes eram relegados a segundo plano mas os temas bíblicos estavam quase sempre presentes.
Resultado de imagem para Ptolomeu As limitações da época foram responsáveis por erros consideráveis na descrição da Terra, como os vinte e sete mapas mediterrâneos de Ptolomeu, astrólogo que supunha que a África estava ligada por terra à Ásia, fechando o oceano Índico. Acreditava-se na existência de um continente ao sul do oceano índico e a Ásia era mostrada bem mais a leste do que realmente está. Esse acervo cartográfico foi utilizado por Cristóvão Colombo para comprovar a sua chegada às Índias.
É verdade que cada expedição marítima melhorava as condições para a expedição seguinte, testando aperfeiçoamentos técnicos e acumulando conhecimentos. Objetos como o astrolábio, a bússula, quadrante e portulanos (roteiros descritivos de viagens) mostraram-se úteis para as grandes navegações. De modo geral, porém, esses instrumentos levavam a conclusões imprecisas.
Até a assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494), linha imaginária que passava a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde, definindo terras a oeste pertencentes à Espanha e a leste pertencente a Portugal, a cartografia do Velho Mundo praticamente se baseava nas teorias de Cláudio Ptolomeu. O conhecimento cartográfico, a partir do século XV, passou a significar poder e múltiplas vantagens para os Estados nacionais, como foi o caso dos portugueses, que no final do século XV lideraram a confecção dos mapas. O conhecimento cartográfico era segredo de Estado.
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Representação geográfica do Tratado de Tordesilhas
Com seus mapas e portulanos, os navegantes portugueses ultrapassaram a barreira do Cabo Bojador, que segundo a tradição grega era o limite máximo para se navegar sem o perigo de ser queimado ou engolido por um monstro marítimo. A partir das grandes navegações, os vínculos dos cartógrafos com a realidade os aproximaram da representação matemática e geométrica do globo, criando especialistas cada vez mais aptos a descrever e medir todo o planeta. Os mapas com seus ornamentos apresentavam-se como um alicerce do conhecimento no qual se entrelaçaram as imagens oníricas.
Posteriormente, a visão aproximou-se do real, mas as alegorias e os valores ideológicos, dominantes no período, permaneceram nos mapas da época moderna. Das aventuras dos europeus no "mar tenebroso", como era denominado o Atlântico, surgiram descrições interessantes a respeito do que ainda não era totalmente conhecido.
Os mapas apresentados na modernidade europeia renascentista, como centro da cultura cristã, espelhavam-se na imagem criada pelo europeu. A posição saliente da Europa ricamente vestida é uma mostra de como o Velho Mundo se via em relação às outras partes do Globo.
Vejamos a América. É apresentada como uma região que desconhece as estruturas políticas, de acordo com o significado da palavra para os europeus. A prática do canibalismo, um hábito condenável pelos cristãos, também é evidenciada.
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Imaginário europeu sobre as viagens marítimas
Houve outras representações cartográficas nas quais a hegemonia cultural europeia foi um elemento emblemático bem definido. Um contraponto a essa visão eurocêntrica vem dos cartógrafos muçulmanos que projetavam seus mapas adotando uma representação diferente daquela dos europeus. Nessas cartas, o Oriente é privilegiado com relação à posição dos continentes no globo terrestre.
Colombo foi um dos primeiros navegadores a fantasiar a descoberta do que seria a América. Acreditava que o seu empreendimento abriria as portas para o paraíso. Em um trecho de uma de suas cartas afirmava: "As escrituras dizem que no paraíso terrestre cresce a árvore da vida, e dela flui uma nascente que dá origem a quatro grandes rios, o Ganges, o Tigre, o Eufrates e o Nilo. O paraíso terrestre, que só se pode alcançar por vontade divina, fica no fim do Oriente. É neste lugar que estamos". Essa concepção foi absolvida por inúmeros cronistas e viajantes, principalmente espanhóis, que acreditaram na veracidade de seus relatos.
Calejados pelas não tão bem-sucedidas viagens pela África e Ásia, os portugueses desconfiavam dessa chegada às Índias e às portas do paraíso pelo oeste. De qualquer modo, as expedições de Colombo, financiadas pela Espanha após a queda de Granada, último reino muçulmano na península Ibérica (1491), acirraram as disputas entre a Espanha e Portugal. Em 1497, Vasco da Gama partiu de Portugal, nomeado pelo rei Manuel, comandando uma expedição que descobriu o caminho para as Índias. Contornando a costa oriental da África, chegou em Moçambique, a seguir em Mombaça e finalmente em Melinde.
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Vasco da Gama
Em 1524, Vasco da Gama refez seu trajeto, implantando as bases para o domínio português no oceano Índico. No ano de 1519, os navegantes Fernão de Magalhães e Francisco Antônio Pigaffeta, que também era escritor, haviam partido para a primeira viagem de circunavegação, realizada sob a bandeira espanhola. Dirigiram-se para o Atlântico sul, atingindo a passagem hoje conhecida como estreito de Magalhães e prosseguiram pelo Pacífico. Fernão de Magalhães foi morto em um conflito com os navios das Filipinas. A viagem em torno da Terra durou três anos e, pelo que consta, dos 237 homens a bordo dos cinco navios que saíram da Espanha, apenas 18 voltaram. Pigaffeta, um dos sobreviventes dessa aventura, foi responsável pelos relatos que comprovavam que a Terra era redonda.
Pedro Álvares Cabral, um nobre que se destacara na corte portuguesa com hábil negociador, foi enviado especial de Dom Manuel às Índias em 1500, encarregado de estabelecer contatos diplomáticos com os reis daquela região. Cabral aportou na Terra Santa Cruz, primeiro nome dado ao Brasil, e depois seguiu viagem até a Índia. Recebeu homenagens em Portugal ao regressar com a notícia de que havia tomado posse das terras do Novo Mundo, ampliando as possessões lusitanas.
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Pedro Álvares Cabral
Em linhas gerais, o projeto de expansionismo marítimo português e espanhol atendia aos interesses de diversos grupos sociais e instituições que compunham a sociedade ibérica, oferecendo-lhes uma saída para a retração econômica e outros aspectos da crise da ordem feudal. As grandes navegações tiveram o apoio financeiro de classes como a nobreza e a burguesia, interessadas na exploração de outras terras e no alargamento do comércio, e também dos reis, desejosos de encontrar novas fontes de renda. A igreja, por sua vez, sonhava em conquistar novos fiéis e em empreender seu trabalho de catequese em territórios virgens, mas estes sonhos não se opunham à descoberta e à posse de novas riquezas. Muito ao contrário: como escreveu Colombo numa carta, o outro tinha a virtude de enviar algumas almas ao paraíso.
  A verdade é que a Europa do século XV sofria as consequências da escassez de metais preciosos. A formação das monarquias nacionais e a expansão do comércio, que em parte encontrava barreiras devido ao monopólio muçulmano, exigiam o aumento da circulação monetária, insuficiente para atender às necessidades sociais. As narrativas lendárias da existência de tesouros no além-mar aumentavam a cobiça dos europeus, que pretendiam buscá-los a todo custo.
Entre esses tesouros estavam as especiarias, tão necessárias para a conservação das carnes e importadas da Ásia a peso de ouro. O hábito de comer carne se difundiu pela sociedade europeia no início da modernidade, e o mesmo aconteceu com o consumo de certas drogas aromáticas como a canela, noz-moscada, pimenta e o gengibre. O extraordinário aumento do preço das especiarias motivou os europeus a buscar os condimentos nas suas origens, burlando o monopólio muçulmano. Os portugueses foram os primeiros a chegar à Ásia. Voltaram com os porões dos navios abarrotados de especiarias, que lhes proporcionaram uma riqueza inimaginável.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A proclamação da República - Parte 2

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Esquema ilustrativo sobre a Revolução Federalista
De fevereiro de 1893 a 1895, as terras do sul serviram de cenário aos violentos combates da Revolução Federalista, travados entre os partidários de dois oligarcas gaúchos: de um lado, os federalistas (maragatos) liderados por Gaspar Silveira Martins; de outro, os republicanos (chimangos), seguidores de Júlio de Castilhos. Os federalistas defendiam a instalação de um regime parlamentarista nos moldes daquele que existiu no Segundo Reinado. Já os republicanos defendiam um presidencialismo forte, centralizador, no estilo do governo de Floriano Peixoto.

O confronto ultrapassou as fronteiras gaúchas, estendendo-se a Santa Catarina, ao Paraná e à república do Uruguai. Embora Floriano tivesse enviado tropas federais aos sulistas, somente no governo Prudente de Morais, em 1895, é que seria assinado um acordo de paz na região.

Enquanto maragatos e chimangos se enfrentavam em terras gaúchas, teve início no Rio de Janeiro, em agosto de 1893, a Revolta da Armada, sob a liderança do almirante Custódio de Mello. De maneira geral, podemos dizer que o movimento resultou de uma convergência de fatores estruturais e conjunturais. Entre os primeiros estava a disputa pelo poder entre os oficiais do exército e da marinha, representantes de grupos sociais distintos: enquanto a força terrestre reunia basicamente elementos dos setores médios, a marinha, uma corporação mais elitista, representava as classes oligárquicas. Entre os aspectos de conjuntura destacaram-se a ação dos políticos hostis a Floriano, que "jogavam lenha na fogueira", e os projetos presidenciais do próprio Custódio de Mello: o almirante queria suceder a Floriano, mas este apoiava o civil Prudente de Morais.

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Presidente Prudente de Morais.
No dia 13 de setembro, navios da Armada começaram a bombardear a cidade do Rio de Janeiro. Contando com apoio de São Paulo e adesão popular, o governo tratou de organizar uma reação à revolta. Os rebeldes abriram novas frentes de batalha no sul do país, mas não puderam resistir à contra-ofensiva governamental. Em março de 1894, a revolta estava vencida.

O Brasil da República Velha era um país rural, no qual a agricultura permanecia como atividade econômica predominante. Calcula-se que nesse período cerca de 70% da população economicamente ativa, entre brasileiros e imigrantes, estava empregada no campo: homens, mulheres e crianças com as mãos calejadas pelo cabo da enxada viviam num mundo de miséria e sofrimento. Uma população carente de terra, saúde e educação, chamada com desprezo de "caipira", que não podia consumir o que produzia e não gozava de nenhum benefício social.

O meio urbano apresentava maior heterogeneidade social, principalmente nas cidades de maior porte, como algumas capitais.. Elas reuniam profissionais liberais, funcionários públicos ou de empresas privadas, pequenos comerciantes, industriais, artesãos - e uma grande quantidade de pobres e marginalizados, que ajudavam a formar e a diferenciar o espaço urbano.

No Rio de Janeiro, centro administrativo, político e cultural do país, as elites procuravam imitar, em seus hábitos, o estilo de vida europeu e especialmente francês. Era comum ver nos salões de chá homens de negócios, grandes proprietários, membros dos escalões mais altos da burocracia, políticos influentes, acompanhados de suas famílias.
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Rio de Janeiro - século XIX
O conjunto arquitetônico das principais áreas da capital também sofreu modificações. Antigas casas desapareceram, substituídas por construções mais arrojadas, e os pontos centrais foram embelezados. Nas ruas, ao ruído dos transeuntes começava a somar-se o dos motores dos automóveis. Em contrapartida, os habitantes mais pobres iam sendo empurrados para a periferia, áreas menos valorizadas, nas quais surgiram as favelas e os bairros operários.

Em São Paulo, o processo de urbanização mostrou traços semelhantes aos do Rio de Janeiro, embora estivesse mais associado ao desenvolvimento do setor industrial. Bairros operários como o Brás, Mooca, Bela Vista, Cambuci e Belenzinho passaram a integrar a paisagem urbana. Mas também surgiram grandes avenidas e com elas os arranha-céus.

Belo Horizonte e Curitiba tornaram-se exemplos de cidades racionalmente planejadas, mas também nestes centros o traçado arquitetônico apresentou contrastes significativos entre os bairros mais pobres.

Festas juninas, vendedores ambulantes anunciando guloseimas pelas ruas tranquilas, nas quais as crianças podem jogar uma pelada ou brincar de amarelinha, de pular corda, de passa-anel, de chicotinho-queimado, de pegador, de soltar papagaio. Muitas vezes o dia a dia dos brasileiros da cidade ou do campo, no início do século, se apresenta aos nossos olhos de maneira sedutora, quase idílicas. Tais imagens são verdadeiras. Mas, não devemos nos iludir, por trás delas frequentemente se esconderam medidas e práticas políticas que não incluíram o bem-estar social. Muito pelo contrário.

Uma das características dos governos da República Velha, em todas as instâncias, foi exatamente a implementação de medidas políticas que, para dizer o mínimo, não beneficiavam a maioria da sociedade brasileira. Tal aspecto se relaciona à natureza das administrações públicas da nova ordem instituída com a posse do presidente Prudente de Morais. Este iniciou no país o domínio dos civis e das oligarquias cafeeiras associadas à política dos grandes estados.

A arena pública passou a ser controlada pelo PRP através de uma aliança com o Partido Republicano Mineiro (PRM) e de privilégios concedidos aos dirigentes públicos de estados de menor expressão no contexto nacional. Essa articulação se expressou em iniciativas como a política dos governadores e a política do café-com-leite, mas tinha seus suportes no velho coronelismo.

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Campos Sales
Constituída no governo do presidente Campos Sales (1898/1902), a política dos governadores reforçou o Poder Executivo nas instâncias federal e estadual. Para tal, os governos federais, oriundos do PRP ou do PRM, asseguraram uma aliança política com os governos dos estados de menor representação, apoiando o setor predominante das oligarquias locais, qualwuer que fosse este. Desse modo, diminuíram bastante as disputas entre as oligarquias regionais.

Uma manobra na esfera do Legislativo reforçou a política dos governadores. Na época, o reconhecimento da legitimidade da eleição de candidatos aos cargos de deputado, senador, presidente e vice-presidente da República cabia à Comissão de Verificação de Poderes da Câmara dos Deputados. Uma mudança no regimento interno da Câmara estabeleceu que somente seriam reconhecidos e diplomados os candidatos eleitos pelos partidos aliados ao PRP e PRM. Se um deputado de oposição fosse eleito, não seria diplomado e, portanto, não tomaria posse.

A política do café-com-leite consistiu na alternância de paulistas e mineiros na Presidência da República. Durante toda a República Velha, os presidentes empossados eram dos estados de São Paulo ou Minas Gerais, com exceção de Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa. Esse revezamento só foi possível graças às ações oriundas da política dos governadores.
Todas essas articulações, porém, repousavam sobre a atuação dos coronéis. Coronel era um título normalmente concedido aos grandes fazendeiros pela Guarda Nacional, instituição criada no período imperial. Na República, a patente serviu para designar os chefes políticos dos municípios. Seu estilo de atuação política, expresso na troca de favores, recebeu a designação de Coronelismo.
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O coronelismo e o voto de cabresto.
Normalmente os coronéis atuavam nas cidades, onde distribuíam favores como: proteção aos aliados e compadres; construção de escolas e hospitais; resolução de conflitos locais e obtenção de obras públicas para a região. Isto contribuiu para a formação de "currais eleitorais", onde prevalecia o "voto de cabresto": todos os que deviam favores aos coronéis acabavam votando em seus candidatos.

Essas práticas eram facilitadas pelo sistema eleitoral em vigor, no qual o voto não era secreto, mas a descoberto. Para votar, o cidadão dirigia-se à mesa eleitoral, composta pelo presidente da Câmara e por mesários por ele indicados, que controlavam as listas de presença e votação. Ao término das eleições os votos eram apurados pelos membros das câmaras municipais e estaduais, que registravam o resultado em atas - e queimavam as cédulas. Esse sistema, que favorecia a fraude eleitoral garantiu a perpetuação das oligarquias rurais no poder.

A proclamação da República no Brasil - Parte 1

Os dois primeiros governos da República Velha, os chamados governos militares, tiveram características distintas dos mandatos posteriores. Governos de transição, não apresentavam os elementos políticos definitivos que tão bem caracterizaram os períodos subsequentes.

De maneira geral, as contradições políticas foram sentidas nos meios militares e civis. As divergências no meio militar se faziam presentes entre o Exército, ocupando o mais alto posto político do país e a Marinha, fora do poder. No círculo civil, as divergências ocorriam no campo ideológico, onde três correntes disputavam a definição da natureza do novo regime: o liberalismo de influência norte-americana, o jacobinismo e o positivismo.
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Representação da Proclamação da República - 15 de Novembro de 1889
As discussões a respeito das três tendências foram acirradas até a promulgação da primeira Constituição do período republicano, em 24 de fevereiro de 1891. Esta Constituição deu a vitória aos defensores do liberalismo de influência norte-americana.

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Marechal Deodoro da Fonseca.
A estrutura do novo regime foi instituída pelo Governo Provisório (1889-1891), sob o comando do marechal Deodoro da Fonseca. Foram dissolvidas as assembleias provinciais e as câmaras municipais, os presidentes de província e os membros do Conselho de Estado foram exonerados. As antigas províncias se transformaram em estados e tiveram seus dirigentes escolhidos pelo governo.

Uma elite heterogênea de civis e militares assumiu o aparelho administrativo. Nas Forças Armadas, o predomínio político coube ao exército e, entre os civis, aos representantes das oligarquias agrárias, principalmente os cafeicultores paulista e os pequenos e médios proprietários urbanos. Os setores populares, urbanos e rurais, permaneceram à margem das decisões políticas.

Os municípios se tornaram peças fundamentais no cenário público devido à autonomia política e financeira a eles conferida. O jogo de poder, nas diversas instâncias, passou a ser decidido na esfera municipal, uma vez que os grupos no controle local se articulavam com o governo estadual para obter nomeações de funcionários públicos, delegados e juízes, fortalecendo sua dominação.

As transações políticas na República Velha não envolveram um Partido Republicano de âmbito nacional, mas sim os vários partidos republicanos de expressão regional ou estadual. Os mais antigos eram os partidos republicanos mineiro e paulista.

Concomitantemente às reformas estruturais do Estado, surgiram algumas importantes iniciativas econômicas, entre as quais a reforma bancária realizada pelo ministro da Fazenda, Rui Barbosa. Essa política tornou-se conhecida como Encilhamento; ela estabelecia que a partir daquela data (1890), três bancos, além do Banco Nacional, poderiam emitir cédulas do tesouro. O país foi dividido em três zonas, cada qual com seu banco emissor.

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Ministro da Fazenda Rui Barbosa
A reforma bancária destinava-se a fornecer maior número de linhas de crédito para a expansão da agricultura, do comércio e da indústria. Teve, porém, consequências desastrosas, pois fez crescer a inflação e o custo de vida, além de contribuir para uma especulação desenfreada. Isso aconteceu porque os créditos tinham se tornado fáceis para o financiamento de diversas atividades econômicas e para a aquisição de ações de empresas antigas ou novas. Os bancos emprestavam o dinheiro com garantias do governo federal, o que alimentou a especulação e resultou na criação de diversas empresas, sem se levar em conta as verdadeiras necessidades do mercado interno.

Em resumo, o Encilhamento provocou uma crise econômica generalizada. A moeda perdeu valor, houve excessos de importações, empresas e bancos faliram e os cofres públicos se esvaziaram.

O ano de 1890 foi marcado pela convocação de eleições, em setembro, para a formação de uma Assembleia Constituinte que se instalou no dia 15 de novembro. Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira Constituição da República brasileira.
         A nova Carta apresentou características liberais. Veja alguns de seus pontos significativos:
  • O país tornou-se uma república federativa denominada Estados Unidos do Brasil; as províncias passaram à condição de estados e ganharam a condição de estados e, além disso, ganharam autonomia para promulgar suas próprias constituições, fazer empréstimos no exterior, arrecadar impostos e eleger seus governadores (então chamados Presidentes de Estado).
  • O presidente da República, os presidentes estaduais e os membros do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) seriam eleitos diretamente através do voto aberto e pelo povo, com excessão dos analfabetos, mendigos, mulheres, soldados e menores de 21 anos.
  • O presidente da República, além de chefe de governo, tornou-se chefe da Federação, através de um mandato de 4 anos sem direito à reeleição, podendo interferir nos estados em casos de invasão estrangeira ou se apresentassem tendências separatistas.
  • Foi reconhecida a igualdade de todos perante a lei, a liberdade e segurança individual e, principalmente, a garantia de plenos direitos à propriedade.
  • A igreja passou a ser separada do Estado, não havendo, porém, na prática, efetivas garantias para a liberdade de todos os cultos, uma vez que os templos das religiões de origem africana eram constantemente fechados e seus praticantes perseguidos e presos.
  • Instituíram-se o registro de nascimento, o registro de casamento civil e o atestado de óbito.

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Marechal Floriano Peixoto
Após a promulgação da Constituição, os congressistas escolheram o novo presidente. Foram apresentadas duas chapas: uma formada pelo marechal Deodoro da Fonseca como presidente, tendo Eduardo Wandenkolk como vice, e outra que propunha Prudente de Morais como presidente e o marechal Floriano Peixoto como vice. Deodoro foi eleito para presidente e Floriano Peixoto para vice, pois nesta época era permitido votar para dois cargos de chapas diferentes.

O primeiro governo constitucional da era republicana enfrentou grande instabilidade e uma forte oposição do Congresso Nacional, em boa parte devido ao estilo autoritário de Deodoro. A tensão cresceu quando um projeto de lei que abria a possibilidade de impeachment do presidente tramitou no Congresso, mas acabou vetado. Em represália, em 3 de novembro de 1891, um decreto do Executivo dissolveu o Parlamento, anunciando a convocação de novas eleições e uma revisão constitucional.

A resistência ao autoritarismo do governo federal foi organizada pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Pará, com o apoio da marinha e de setores do exército. Paralelamente a essa movimentação, os ferroviários deflagraram uma greve na Central do Brasil, o que trazia sérios riscos para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro. Doente e receando a explosão de uma guerra civil no país, o homem que proclamara a República renunciou em 23 de novembro de 1891.

A renúncia de Deodoro levou à presidência Floriano Peixoto, o "marechal de ferro", aquele que seria responsável pela consolidação do regime republicano no Brasil. Em declaração pública, o novo presidente anunciou que seu governo teria como base a Constituição, prometeu respeitar a vontade nacional e restaurar os direitos e garantias constitucionais. Mas na verdade, mesmo contando com o apoio do influente PRP, seu governo não foi muito diverso do anterior em termos de autoritarismo.

Para conseguir o apoio popular, Floriano tomou medidas econômicas e sociais como a diminuição do preço dos aluguéis das casas dos operários, a isenção de impostos sobre a carne para baratear o produto e o controle do preço dos gêneros de primeira necessidade. Outras iniciativas visavam recuperar a economia dos traumas causados pelo Encilhamento. O governo de Floriano incentivou a industrialização, porém com restrições para evitar o aumento da inflação e evitar a especulação. Também procurou fiscalizar a aplicação do erário público, a fim de equilibrar o orçamento. Mas as medidas não foram eficazes a curto prazo e acabaram provocando uma forte oposição civil e militar, sob a forma de movimentos rebeldes.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

América: continente dos emigrados

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Ilustração referente à chegada dos portugueses no Brasil
No final do século XV, quando os europeus chegaram à América, depararam com povos em diferentes estágios de evolução, a que chamaram "índios". Os ancestrais desses "índios havia, ocupado o continente em diferentes ondas migratórias, o que contribuiu para dar à nova pátria o perfil heterogêneo que encontrado ainda hoje. De maneira geral, acredita-se que os imigrantes apresentavam certas identidades  entre si, mas não se pode esquecer que cada um deles tinha sua própria história, seu jogo de forças sociais, formas de trabalho, tradições e mitos.

Estima-se que, quando Pedro Álvares Cabral chegou ao litoral brasileiro, aqui existiam em torno de 10 milhões de indígenas. Hoje, esse número não ultrapassa 300 mil.

Das extensões de gelo sobre o Ártico percorridas pelos esquimós até os territórios dos patagônicos no extremo sul das Américas, grupos indígenas pontilhavam o "continente dos emigrados". Entre eles existia uma enorme diversidade sócio-cultural. O império inca, na área andina, correspondente às regiões do Equador, Bolívia e Peru, e as civilizações asteca e maia, no México e no trecho norte da América Central, constituem exemplos de sociedades indígenas de grande desenvolvimento político, econômico e social.

Nas terras que hoje integram o Canadá, os EUA e o Brasil existiam grupos nômades que se dedicavam à coleta, à caça, à pesca e a uma agricultura rudimentar. Seu estilo de vida variava em função de diversos fatores, entre os quais o ambiente que dominavam. Por exemplo, os costumes dos grupos que se deslocavam pelas pradarias diferiam bastante daqueles encontrados entre os povos da floresta. Porém, mesmo entre grupos que partilhavam a mesma região, os traços culturais variavam de tribo para tribo.
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Ritual dos índios tupinambá
Assumindo o risco da generalização, pode-se dizer que a vida social dos indígenas estava centrada nas relações familiares e no papel que cada elemento ocupava na comunidade. Na maioria dos grupos, a poligamia (união de um homem com várias mulheres) constituía prática comum. As tarefas cotidianas se distribuíam de acordo com o sexo e a faixa etária. As mulheres encarregavam-se das atividades domésticas e, eventualmente, dos trabalhadores agrícolas, enquanto os homens se dedicavam à pesca, à caça e à guerra.

Até o contato com o europeu, instrumentos e armas eram feitos de madeira, pedra e osso. Os ameríndios dominavam a arte de fazer fogo a partir da rotação rápida de um pedaço de madeira dura em outro mais flexível. O fogo servia ao preparo dos alimentos e à fabricação de recipientes de barro, de maior ou menor grau de elaboração conforme o grupo indígena.

A tribo era a organização social mais abrangente dessas populações. Dependendo do número de seus membros, podia reunir várias aldeias e controlar um extenso território. Os assuntos mais importantes eram discutidos pelos guerreiros mais experientes ou pelos homens adultos. Nesses conselhos tribais ou de aldeias, as opiniões dos xamãs eram sempre ouvidas com atenção. Misto de curandeiros e feiticeiros, eles conheciam os espíritos, associados às manifestações da natureza, e sabiam curar doenças, neutralizando os espíritos que as provocavam.
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A divisão do trabalho entre os indígenas.

Em sua maioria, os povos indígenas não reconheciam a existência de fronteiras nítidas entre o mundo dos homens e o mundo dos espíritos; pois cabia aos xamãs - os pajés dos grupos tupis do território brasileiro - acompanhar a passagem de um plano ao outro. 

Algumas tribos se dividiam em clãs integrados por indivíduos que se julgavam descendentes da mesma entidade mítica - uma águia, por exemplo. Também era comum a existência de líderes de bandos, de autoridade temporária, escolhidos para coordenar as ações durante uma caçada ou uma expedição guerreira. Mas nessas sociedades sem Estado não existia um poder político que determinasse o que as pessoas deveriam fazer e que punisse quem não obedecesse. Mesmo que a tribo tivesse optado pela paz com um inimigo tradicional, por exemplo, um grupo de guerreiros poderia contrariar a decisão e partir para o combate.

Mais numerosos do que as tribos de qualquer outro grupo linguístico existente no Brasil, como o grupo Jê e o aruaque, os tupis-guaranis podiam ser encontrados ao longo do litoral sul-americano desde a Venezuela até o rio da Prata, no sul do continente. Esses grupos foram os que tiveram mais contato com os colonizadores. Estima-se que, no momento do encontro com os europeus, sua população ultrapassava a casa de um milhão de pessoas, dispersas pelo litoral e em áreas do interior.

      Da época da conquista aos nossos dias, várias imagens já foram construídas sobre os Guarani. Conquistadores, religiosos, antropólogos e viajantes tentaram reproduzir o pensamento e as atitudes desse grupo indígena de modos de vida antigos e atuais, que ainda hoje os "civilizados" não lograram alcançar. O mais intrigante e alarmante é talvez o fenômeno dos suicídios que, nos últimos tempos passaram a ocupar as manchetes de jornais.

Nas aldeias não existia uma autoridade  formal, responsável pelo controle do grupo. Mas os guerreiros mais valorosos tinham grande prestígio, e o mesmo acontecia aos pajés, mediadores entre o plano dos homens e o dos espíritos, presentes em todas as manifestações da natureza. Esses grupos acreditavam na vida futura e na reencarnação dos antepassados em uma criança. Temiam os espíritos do mal e as almas dos mortos, responsabilizados pelas doenças, acidentes, derrotas nas guerras e fenômenos meteorológicos, como as tempestades.

Possíveis ou não de compreensão, certos enigmas da vida desses povos não conseguiram ser respondidos de maneira aceitável. Um dos costumes indígenas que causou enorme perturbação aos europeus foi o ritual antropofágico, praticado entre os tamoios e outros grupos tupi-guaranis. Comer a carne de um guerreiro da tribo inimiga, após uma guerra, tinha um significado místico arraigado na cultura das comunidades ameríndias. 
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Representação do ritual antropofágico.
Os primeiros contatos que os conquistadores tiveram com os povos da Amazonas, entre eles os Tapajós e os Omagua, ocorreram em meados do século XVI. A região era densamente povoada, com cerca de dez milhões de habitantes distribuídos principalmente ao longo do rio Amazonas e de seus afluentes. A atual população de ameríndios que habita hoje a região, cerca de 250.000 indivíduos, não pode ser comparada à complexa sociedade que aí se encontrava no passado.

Há fortes indícios de que eram governados por líderes poderosos, responsáveis por amplos territórios, que apesar de não possuírem o poder político institucionalizado de um Estado, eram respeitados e reconhecidos.

Pelo que parece, a sociedade era estratificada, composta pelo chefe das aldeias, habitantes comuns, artesãos, religiosos e escravos, todos subordinados a um chefe regional: as chefaturas. As riquezas naturais foram fortes aliadas na sobrevivência dessa civilização, que vivia da pesca e da agricultura.  

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

A América indígena

            Sabe-se que os povos ameríndios eram numerosos. Mas, sobre o total da população na época do contato com o europeu em 1492, temos apenas uma estimativa. Entre todos os povos que viviam na América antes de Colombo, daremos atenção especial aos Astecas, Incas, Maias e Tupis.

Os astecas
                Os astecas viveram em Aztlán (daí o seu nome), no norte da América, até por volta do século XII, quando deixaram sua região de origem em busca de terras férteis. No início do século seguinte, depois de muito caminhar, chegaram ao Vale do México, à beira do lago Texcoco, e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlán.    
            Aos poucos, por meio da guerra e de alianças políticas, os astecas subjugaram diversos povos da região. Assim, a cidade de Tenochtitlán passou a ser a cabeça do que se convencionou chamar de Império Asteca.
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Representação da cidade de Tenochtitlán.    
            Os povos submetidos aos astecas tinham de cultuar o deus Huitzilopochtli – deus da guerra, das tempestades e do sol. Eram obrigados também a pagar tributos tais como: penas raras, pedras preciosas, tecidos de algodão, madeira, mantos, esteiras, colares e cacau, com o qual faziam o tão apreciado xocoatl (chocolate).
            Caso se recusassem a pagar os tributos eram castigados com expedições punitivas – que incluíam saques e raptos de pessoas para oferecer em sacrifício aos deuses. Isto explica por que os povos sob o domínio asteca se rebelavam com frequência. O povo de Cuctlaxtlan, por exemplo, chegou a aprisionar os coletores de impostos astecas em uma casa à qual atearam fogo.
            O império asteca apresentava uma sociedade complexa e estratificada. O imperador, considerado um ser semidivino, concentrava enorme poder e riqueza. Essa riqueza provinha, sobretudo, dos impostos, que se acumulavam no palácio imperial, onde eram registrados pelos escribas. Em tempo de escassez, os celeiros imperiais eram abertos para que se distribuíssem alimentos e roupas ao povo. Pelo fato de o imperador ser o comandante do exército e, ao mesmo tempo, o mais alto sacerdote, alguns historiadores afirmam que o Império Asteca era uma monarquia militar teocrática.
            Os nobres ocupavam as funções administrativas, militares e religiosas e, geralmente, levavam uma vida regrada e sem vícios. A bebida, bem como o luxo e a ostentação, eram reprovados socialmente e punidos com rigor. Os nobres com funções administrativas no governo eram isentos de impostos e seus filhos tinham direito a uma educação diferenciada. Parte dos sacerdotes saía da nobreza. Sua principal função era organizar e conduzir o culto aos deuses e interpretar suas vontades.
            Outra camada social era a dos comerciantes. Eles enriqueciam por meio de trabalho mas procuravam dissimular riqueza, pois se demonstrassem ser ricos eram perseguidos pela nobreza. Eles transmitiam sua profissão de pai para filho.
            Havia ainda os artesãos que desempenhavam atividades como a ourivesaria, a joalheria e o trabalho com plumas. Eles estavam agrupados em corporações e cada uma delas tinha um conjunto de tradições e um deus próprio. Eles trabalhavam tanto em suas casas quanto nos palácios e residências da nobreza. E, assim como os comerciantes, transmitiam seu ofício aos filhos.

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Representação gráfica da sociedade asteca.
            Já os camponeses eram o grupo mais temeroso da sociedade asteca. Ao se casarem, recebiam um lote de terras onde construíam uma casa e passavam a cultivar milho, feijão, pimenta, abóbora, tomate, entre outros. No entanto, eram obrigados a pagar pesados impostos, prestar serviço militar e trabalhar gratuitamente na conservação de estradas e canais e na construção de diques e monumentos. Na base das pirâmide social estavam os escravos, que eram geralmente prisioneiros de guerra.

Os maias
                Os maias estão entre as civilizações mais antigas da América. Seus ancestrais viviam nas montanhas da atual Guatemala desde 2.500 a. c.
            Habitando um meio inóspito, esses povos se deslocavam pela selva em busca de alimentos (caça, pesca e colheita). Posteriormente, domesticaram plantas como o milho, a pimenta e o feijão, e se estabeleceram na Península de Yucatán.

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Localização geográfica da Península de Yucatán.
            Assim como os antigos gregos, os maias viviam em cidades-estados, ou seja, cidades com governo, leis e costumes próprios. Em caso de guerra contra um inimigo comum, as cidades maias se organizavam em confederações, mas nunca chegaram a constituir um império, a exemplo das astecas e das incas.
            As grandes e sofisticadas construções maias e o deslocamento de enormes blocos de pedra revelam seus conhecimentos de engenharia e cálculo. As pirâmides serviam de esteio para os templos religiosos aos quais se chegava por meio de uma escadaria íngreme. Algumas pirâmides, como a de Tikal, tinham mais de 60 m de altura. Muitas cidades maias surgiram em torno dos centros cerimoniais.
            A sociedade maia era hierarquizada. Os grupos sociais mais favorecidos (governantes, sacerdotes e comerciantes) viviam em palácios e templos situados em torno dos centros cerimoniais e eram sustentados pelas famílias de agricultores e artesãos espalhadas pelas aldeias existentes na floresta. Esses habitantes das florestas só se dirigiam aos centros cerimoniais para a prática da religião, do comércio, ou em dias de festa.
            A agricultura tinha grande importância na vida dos maias. A maioria da população trabalhava no cultivo de feijão, abóbora, algodão, cacau, abacate e milho. Este último era a vase de sua alimentação.
            Por volta do século IX, os maias abandonaram suas cidades subitamente. Para alguns, as razões do abandono foram os flagelos naturais, como epidemias, secas prolongadas, inundações, terremotos, furacões, etc. para outros, a causa do abandono das cidades maias foram tragédias provocadas pelo próprio ser humano, tais como invasões violentas, pressão de grupos periféricos, insurreições populares.
            Os conhecimentos e práticas dos maias foram incorporados pelos astecas e outros povos do Vale do México, que conquistaram as cidades mais por volta de 1400.

Os incas
                Acredita-se que, enquanto caminhavam à procura de terras férteis, os incas chegaram ao interior da Cordilheira dos Andes por volta do século XIII. Naquelas cidades altas, começaram suas vidas como camponeses e pastores e ergueram a cidade de Cuzco. Aos poucos, no entanto, ampliaram seus domínios aliando-se aos povos da região ou submetendo-os. Em 1438, fundaram um império, que teve Pachakuti como primeiro imperador. No processo de formação de seu império, os incas assimilaram elementos de outras culturas, inclusive o quéchua, a língua que mais tarde espalhariam pelo Andes.

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Ruínas da cidade-estado de Cuzco.
            O império inca expandiu-se consideravelmente graças às sucessivas conquistas. Ele era dividido em várias regiões administrativas, cujos governadores deviam prestar contas de seus atos ao imperador. A interligação entre as regiões do império era feita por uma eficiente rede de estradas construídas nas encostas das montanhas. Jovens eram treinados desde a infância para correr por elas, levando e trazendo informações e produtos por longas distâncias. As principais estradas incas ligavam o interior a Cuzco, uma cidade planejada que servia como capital do império incaico.
            Antes de começar uma construção, os incas produziam uma maquete de argila e pedra que os ajudava a formar uma ideia da obra depois de pronta. Na construção, usavam grandes blocos de pedra, que eram cortados e encaixados uns nos outros sem a necessidade de uma substância colante.
            Restam, ainda hoje, construções incas intactas e um número grande de vestígios delas em cidades como Cuzco, Lima e Quito. Em Machu Picchu existem edificações em que se pode ver o modo de organização dos bairros de uma cidade inca.
            Habitando regiões montanhosas, os incas adotavam a irrigação sistemática e construíam terraços na forma de uma imensa escada para a prática da agricultura. Nos degraus mais altos, cultivavam espécies vegetais resistentes ao frio, como a batata; nos do meio, milho, abóbora e feijão; nos mais baixos, semeavam as árvores frutíferas. Com isso, conseguiam colheitas variadas e fartas o ano inteiro. Os incas se dedicavam também ao pastoreio: criavam a lhama, animal de carga com grande resistência, além da alpaca e do guanaco, dos quais obtinham a lã e o leite.
            No topo da sociedade incaica estava o imperador, intitulado Inca, o “filho do Sol”, reverenciado e respeitado por todos. Abaixo dele, a nobreza, da qual saíam os governantes, os sacerdotes e os chefes militares.

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Representação gráfica da sociedade inca.
            Entre os grupos intermediários estavam os médicos, os contabilistas, os projetistas, os guerreiros, os artesãos. Esses grupos profissionais – além do imperador e dos nobres – viviam em cidades e eram ajudados pelo governo. Já os camponeses, que constituíam a maioria da população, moravam em aldeias rodeadas por campos de cultivo e de pastoreio e viviam oprimidos por diferentes tributos. No império Inca, a religião – que tinha como principal cerimônia o culto ao deus Sol – e a língua oficial, o quíchua, eram obrigatórias.