Proclamada
em 15 de novembro de 1889, a República nascia no Brasil como resultado de um
movimento de cúpula, como uma espécie de “revolução pelo alto” controlada desde
o primeiro momento pelos militares e pelas elites agrárias.
Dessa
forma, o novo regime não se preocupou em promover mudanças, mesmo que
superficiais, na estrutura econômica do país. A grande propriedade rural
monocultora e voltada para a exportação foi mantida como base da economia. Ao mesmo
tempo, conservou-se a estrutura política sustentada no mandonismo dos coronéis
do interior e das oligarquias agrárias. Por toda parte, o traço distintivo da
jovem República continuou sendo a exclusão social, política e econômica de
grande parte da população.
Movimento do Exército na proclamação da República. |
Herdada do período colonial, a escravidão foi uma das bases sobre as quais se assentava o Império. A partir de 1870, porém, ela começou a ser contestada por amplos setores da sociedade. Profissionais liberais, estudantes, artesãos, pequenos empresários e até sacerdotes e militares passaram a se manifestar contra o trabalho escravo em um dos mais empolgantes movimentos sociais de nossa história: a campanha abolicionista.
A
pressão sobre o governo crescia, e como resposta foi aprovada, em 1885, a Lei
Saraiva-Cotegipe, ou Lei dos Sexagenários, pela qual eram libertados os
escravos com mais de 60 anos. A questão abolicionista, porém, parecia estar
longe de ser resolvida. A escravatura, entretanto, parecia estar com os dias
contados. Em 1887, as fugas de escravos se intensificaram nas fazendas de São
Paulo, e o governo, preocupado em proteger os interesses dos donos das terras,
tentou mobilizar o exército para capturar os revoltosos. Com discursos na
Assembleia Geral, Joaquim Nabuco conciliou os militares a se rebelarem contra a
função de capitães do mato que o governo queria impor a eles. Deu certo, pois
logo depois, em nota oficial dirigida ao governo, o Exército pediu que fosse
liberado desse tipo de ação.
Aos
poucos, o ideal republicano se difundiu pelo país, conquistando adeptos entre
as camadas médias da população urbana. O movimento ganhou importante impulso,
porém, quando duas crises abalaram o regime imperial: a Questão Religiosa e a
Questão Militar.
Além
desses, a participação do Brasil na Guerra contra o Paraguai também foi
desastrosa para o Império, pois além de contribuir para difundir ideias
republicanas e abolicionistas, estimulou também a formação do chamado “espírito
de corpo” entre os membros do Exército. Esse “espírito” levava-os a pensar como
grupo, ou como corporação dotada de qualidade e valores que a colocavam acima
das ambições dos políticos profissionais, chamados depreciativamente por eles
de “casaca”.
Insatisfeitos
com a política do Império, os militares passaram a se considerar mais
preparados que os civis para cuidar dos interesses da nação. A partir daí,
nascia a ideia de “missão salvadora” a que o Exército estaria destinado. Sob essa
óptica, soldados e oficiais deixavam de ser meros instrumentos para garantir a
segurança da nação e tornavam-se “cidadãos fardados”, comprometidos com o
futuro da pátria. Essas ideias justificavam para eles a intervenção militar na
vida política do país.
Benjamin Constant |
No
dia 11 de novembro, Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva e Rui Barbosa, entre
outros líderes, reuniram-se com o marechal Deodoro da Fonseca, tentando
convencê-lo a aderir à conspiração. Com todo o seu prestígio nos meios
militares, Deodoro seria a garantia de que o Exército permaneceria unido em
torno da causa republicana.
Amigo
de dom Pedro II, Deodoro hesitou. Enquanto isso, surgiram alguns boatos de que
a prisão tinha sido decretada e de que haveria profundas mudanças no Exército.
Diante dos rumores, Deodoro decidiu liderar o movimento para depor o ministério
de dom Pedro II.
Na
manhã de 15 de novembro de 1889, tropas rebeladas sob o comando do marechal
Deodoro prenderam o visconde de Ouro Preto e outros ministros. Em seguida,
desfilaram pelo centro da cidade, sempre com o marechal à sua frente. Nas ruas,
a população carioca foi surpreendida com a parada militar, sem saber direito o
que estava acontecendo. Naquela mesma tarde, os revoltosos proclamaram a
República e, à noite, as lideranças republicanas reuniram-se para formar o
Governo Provisório.
Marechal Deodoro da Fonseca. |
Proclamada
a República, os líderes do movimento compuseram um Governo Provisório, sob a
chefia do marechal Deodoro da Fonseca, um antigo monarquista e velho amigo de dom
Pedro II. Deodoro compôs então o seu ministério com civis e militares de
destaque no movimento republicano, como Quintino Bocaiuva (Relações Exteriores)
e Benjamin Constant (Guerra). Além deles, havia ex-monarquistas, como Rui
Barbosa (Fazenda), e representantes da poderosa aristocracia cafeeira de São
Paulo, como o fazendeiro Campos Sales (Justiça). Em linhas gerais, como era de
esperar, o ministério representava as principais elites econômicas e políticas
do país.
Quintino Bocaiuva. |
As
medidas iniciais do Governo Provisório foram publicadas no Diário Oficial do
dia 16 de novembro de 1889. O país passava a ser uma República Federativa com o
nome de Estados Unidos do Brasil, e as províncias eram transformadas em
estados. Adotou-se uma nova bandeira, com o lema positivista Ordem e Progresso.
Poucos dias depois, foi decretada a separação entre o Estado e a Igreja, o que
significa que funções que até então eram exercidas pela Igreja passariam, a
partir desse momento, a ser exercidas por repartições públicas. Ao mesmo tempo,
para elaborar uma Constituição para a República, o governo convocou eleições
para uma Assembleia Nacional Constituinte.
No
comando da política econômica, a principal preocupação de Rui Barbosa era
promover a industrialização do país, o que só seria possível se houvesse
recursos para investir na produção. Como faltava dinheiro, a saída era o
governo criar linhas de crédito e aumentar o volume de papel-moeda em
circulação.
Por
isso, em janeiro de 1890, Rui Barbosa deu início a uma política financeira que
permitia a alguns bancos emitir dinheiro quase sem controle estatal.
Essa
política possibilitou maior volume de negócios em todo o país: apenas no ano de
1890, fundaram-se 313 novas empresas. A maioria delas, porém, tinha como meta a
venda de ações para obter lucros rápidos e fáceis no mercado financeiro. Entre 1890
e 1891, o aumento da quantidade de dinheiro em circulação provocou inflação e
febre especulativa na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Essa febre recebeu o
nome ENCILHAMENTO, pois lembrava a jogatina das corridas de cavalo.
Não
demorou muito para que uma séria crise econômica abalasse o país. No início de
1891, além da inflação, ocorreu acentuada queda no preço das ações, causando
prejuízos e falências. A política de emissão de dinheiro e a expansão do
crédito, que caracterizaram o encilhamento, duraram dois anos, até o início do
governo de Floriano Peixoto, que assumiu o compromisso de estabilidade da
moeda.
Rui Barbosa. |
Convocada
logo nos primeiros dias do novo regime, a Assembleia Constituinte só deu início
a seus trabalhos em novembro em 1890. Três meses depois, a Constituição,
inspirada na Carta estadunidense, estava pronta. Revisado por Rui Barbosa, o
texto constitucional instituía uma República federativa presidencialista,
delegando maior autonomia aos estados. Depois de votada pela Assembleia, a
Constituição republicana entrou em vigor em 24 de fevereiro de 1891.
No
dia seguinte, a Assembleia elegeu o marechal Deodoro da Fonseca presidente da
República. Para a vice-presidência foi eleito outro militar, o marechal
Floriano Peixoto. Segundo a Constituição, os presidentes seguintes deveriam ser
escolhidos por voto direto, podendo participar das eleições apenas homens com
mais de 21 anos e alfabetizados. A seguir, a Assembleia Constituinte
transformou-se em Congresso Nacional, constituído pelo Senado e pela Câmara dos
Deputados.
Desde
o início de seu governo, Deodoro enfrentou forte oposição no Congresso. Os parlamentares
acusavam-no de autoritário e, em agosto de 1891, tentaram aprovar uma lei
limitando os poderes da Presidência. Em 3 de novembro, Deodoro fechou o
Congresso e decretou estado de sítio. Essa reação autoritária desencadeou uma
rebelião liderada pelo almirante Custódio de Melo. Com os navios de guerra
apontando seus canhões para a cidade do Rio de Janeiro, os revoltosos exigiam a
renúncia do presidente. Sem apoio suficiente e disposição para reagir, Deodoro
deixou o cargo em 23 de novembro de 1891.
Marechal Floriano Peixoto. |
Empossado
na Presidência, o marechal Peixoto entregou o ministério da Marinha a Custódio
de Melo e tentou governar com o apoio do Partido Republicano Paulista, o PRP. O
clima político, no entanto, não era de conciliação. Floriano Peixoto contava
com a simpatia de setores radicais e nacionalistas das camadas médias urbanas –
os chamados JACOBINOS -, mas era considerado autoritário pelas elites rurais. Em
fevereiro de 1893, a crise entrou em sua fase mais aguda, com a eclosão da
Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. Os rebeldes exigiam o afastamento
do governador gaúcho, o positivista Júlio de Castilho, e a diminuição dos
poderes do presidente, com a instituição do parlamentarista.
Sete
meses depois de iniciada a Revolução Federalista, o almirante Custódio de Melo,
que nesse meio-tempo havia se afastado do ministério e de Floriano, declarou-se
novamente em estado de rebeldia. O marechal precisava apagar, agora, dois focos
de incêndio: a rebelião dos gaúchos e a Revolta da Armada, na baía de
Guanabara.
Para
aumentar a força de seus adversários. Floriano passou a acusa-lo de
monarquistas (o que, pelo menos em parte, era verdadeiro). Dessa forma, ele
pôde aparecer como o defensor da República. Conseguiu o apoio do Exército, do
PRP e dos presidentes (atuais governadores) dos estados. Ao mesmo tempo,
mobilizou grande parte da população carioca. Em abril de 1894, Floriano
conseguiu sufocar a Revolta da Armada contando com uma nova frota de navios
obtida com urgência no exterior. E no ano seguinte, já sob o governo do
paulista Prudente de Morais, a Revolução Federalista chegou ao fim.
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