quinta-feira, 24 de março de 2016

A Primeira Guerra Mundial

                Um dos eventos que marcou o século XX foi o conflito conhecido como Primeira Guerra Mundial, onde diversas nações do mundo desencadearam uma sangrenta guerra e que, sobretudo, reformulou a geografia do continente europeu. Uma das causas do conflito foi o imperialismo, que consiste na busca desenfreada das grandes potências por colônias na África e na Ásia. Com isso, diante da sede por lucros, perpetuou-se entre tais potências um sentimento de rivalidade, que culminou numa guerra de proporções continentais.
                Deve-se ressaltar que no início do século XX, os franceses perderam a região da Alsácia-Lorena para os alemães, uma região rica em carvão. Diante desse fato, o orgulho francês foi gravemente ferido, tornando-se uma questão de honra recuperar esses territórios. O crescimento da Alemanha desencadeou uma acirrada disputa com outras nações europeias, como a Inglaterra e a própria França.
Além disso, houve também a revitalização do ideal de nacionalismo, cujo principal alicerce ideológico consistia na defesa de sua nação diante das ameaças estrangeiras e, sobretudo, pela preservação das colônias dominadas. Minorias étnicas – como tchecos, eslovacos, bósnios, croatas e romeno -, sistematizavam estratégias de luta no sentido de preservar sua autonomia. Os sérvios, por exemplo, identificavam-se com os interesses nacionais e culturais dos povos russos, criando diferenças e antagonismos com os austríacos.
Os países europeus passaram cada vez mais a investir cada vez mais nas Forças Armadas, que culminou na mobilização da população com ideias de civismo e patriotismo. Deve-se ressaltar que, no início do século XX, a Europa vivia em paz, embora fosse uma paz armada. Na época, era comum usar a frase latina Si vis pacem, para bellum, ou seja, “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Em outras palavras, mesmo vivendo um período de paz, sem conflitos bélicos, os países europeus investiam na fabricação de armamentos.
Deve-se enfatizar que dois blocos de países se formação antes da eclosão da guerra. Por um lado, foi criado a Tríplice Entente, liderada pela França, Inglaterra e Rússia. Em contrapartida, foi criada a Tríplice Aliança, composta, principalmente, pela Alemanha, Império Austro – Húngaro e Itália. Estava criado o clima fundamental para o inicio da guerra, apenas faltava um motivo para seu início.
 O pretexto para a guerra foi o assassinato do príncipe herdeiro do trono do império austro-húngaro, Francisco Ferdinando, na cidade de Sarajevo. Em decorrência da morte do príncipe, a monarquia fez uma série de exigências ao governo sérvio, incluindo o direito de investigar o assassinato. Porém, se as condições fossem aceitas, a Sérvia renunciaria à sua soberania; se negasse, seria motivo para a declaração da guerra. Com isso, os sérvios se recusaram a aceitar a imposição dos austríacos e, um mês após a morte do príncipe, a guerra teve início.
A Rússia se posicionou em defesa dos sérvios e mobilizou suas tropas. Por outro lado, os alemães, alegando solidariedade aos austríacos, declarou guerra aos austríacos e, dois dias depois fez o mesmo contra a França. A Inglaterra, alegando a quebra de neutralidade belga, declarou guerra contra a Alemanha, honrando a tríplice entente. Deve-se enfatizar que cada país beligerante contou com o apoio de suas sociedades. O nacionalismo exacerbado e as crenças de que o conflito era inevitável e seria curto mobilizaram amplos setores sociais.
No final de 1915, uma realidade se impôs na frente ocidental: a guerra de trincheiras. Elas foram cavadas ao longo de centenas de quilômetros, cortando o território europeu de norte a sul. Desse modo, os exércitos alemães e franceses não conseguiam avançar, e assim permaneceram por mais três anos. Por mais que usassem artilharia pesada, nenhum dos dois lados conseguia ultrapassar as trincheiras inimigas, o que representou um dos maiores horrores da guerra. Milhares de soldados passavam meses atirando contra os inimigos, enfiados na terra, junto com ratazanas e piolhos. A água e a comida eram racionadas. Muitas vezes eles não podiam retirar os cadáveres dos colegas e conviviam com os corpos em estado de decomposição.

O campo de batalha é terrível. Há cheiro de azedo, pesado e penetrante de cadáveres. Homens que foram mortos no último outubro estão meio afundados no pântano e nos campos de nabo em crescimento. (...) Um pequeno veio de água corre através da trincheira, e todo mundo usa a água para beber e se lavar: é a única água disponível. Ninguém se importa com o inglês pálido que apodrece alguns passos adiante. As bombas alemães, caindo sobre o cemitério, provocaram uma terrível ressurreição.
(De um fatalista na guerra, de Rudolf Binding, que serviu em uma das divisões da Jungdeutschland).

Além disso, o exército alemão passou a utilizar lança-chamas e armas químicas, como o gás mostarda, que provocaram graves queimaduras. Além disso, os ingleses inventaram o tanque de guerra, o avião (usado pela primeira vez como arma bélica) e o submarino (considerado o grande triunfo alemão).
A vitória tendia para o lado alemão mas, em abril de 1917, novos acontecimentos mudaram o rumo da guerra. A participação dos EUA na guerra se restringia apenas no fornecimento de mantimentos aos países envolvidos, além do empréstimo de recursos financeiros. Porém, após o afundamento do navio norte-americano Lusitana, o governo começou a mudar sua posição diante do conflito. Mesmo assim, sua participação se tornou efetiva apenas quando a situação pareceu desfavorável aos seus aliados.
Ao longo de 1917, as sociedades europeias envolvidas no conflito estavam cansadas e os soldados exaustos. O custo de vida disparou, os salários diminuíram e as mercadorias desapareceram das prateleiras. Com isso, tornou-se efetivo um amplo movimento pacifista exigindo o fim da guerra.
Embora o exército alemão tentasse uma contraofensiva para alcançar Paris, acabou rechaçado, sem ter condições para lutar. Enquanto na Alemanha a população conhecia a fome, Inglaterra e França recebia ajuda material e militar dos EUA. Diante da derrota iminente, o governo alemão assinou o armistício, sem condições, em 11 de novembro de 1918.
Após o fim do conflito foi criado o Tratado de Versalhes, conhecido pelos alemães como ditado de Versalhes, por ser impositivo e humilhante. As imposições foram fundamentadas na cláusula de culpa de guerra, estabelecida pelas potências vitoriosas. De acordo com o tratado, a Alemanha perdeu parte de seus territórios, ficou proibida de constituir exército, não poderia fabricar armas, foi obrigada a pagar uma pesada indenização, dentre outras punições. Com isso, os submarinos alemães foram entregues à Inglaterra, à Bélgica e à França.

As consequências da guerra foram trágicas para as sociedades europeias. Cerca de 10 milhões de pessoas morreram, entre civis e militares. Milhões de mulheres tornaram-se viúvas, com filhos para criar e, sobretudo, as nações europeias saíram arruinadas do conflito. Além disso, a democracia liberal passou a sofrer fortes críticas, acontecendo intensos confrontos entre nacionalistas radicais e partidos comunistas em diversos países do mundo.

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