No Brasil em que o menino Lula nasceu, em 1945, suas
chances de sobreviver e chegar à idade adulta com educação formal e um trabalho
digno eram mínimas, quase nulas. De cada dez crianças nascidas no Nordeste do
país, duas morriam antes de completar um ano. Ele sobreviveu; como sobreviveria
à seca, ao latifúndio e à fome, as três pragas que assolavam a região.
No mundo em que Lula nasceu, o destino do Brasil
estava condicionado aos interesses do lado norte-americano da Guerra Fria. Era
um país com metade da população isolada no campo e 56% de analfabetos (mais de
70% no Nordeste). As elites atrasadas viviam da renda agrícola e financeira,
combatendo tenazmente qualquer um que sonhasse com um país desenvolvido e
socialmente justo.
A vida de Lula se confunde com a luta de toda uma geração
de brasileiros que desafiou aquele destino. Ainda criança ele percorreu, com a
mãe e os irmãos, o longo caminho de Garanhuns até o litoral de São Paulo, onde
conheceriam outras pragas: o desemprego, a favela, a violência. E a fome sempre
rondando. Sobreviveram graças à obstinação de dona Lindu, que ensinou os filhos
a trabalhar desde cedo e a compartilhar solidariamente o pouco que cada um
ganhava.
Lula era um jovem operário quando os militares tomaram o
poder no país, em 1964. Nos anos seguintes, trabalhando no coração da indústria
brasileira, Lula iniciou seu aprendizado político pela ação sindical – numa
época em que reivindicar salários e direitos podia dar em cadeia, tortura e
morte. Liderando greves reprimidas pela ditadura, aprendeu que os trabalhadores
precisavam também fazer política, ter seu próprio partido.
Desde a criação do PT, em 1980, a trajetória de Lula é
bem conhecida. Construiu o maior partido de massas do país, disputou e perdeu
três eleições, desafiou o preconceito, os poderosos, os meios de comunicação,
para tornar-se, em outubro de 2002, o primeiro trabalhador eleito presidente do
Brasil. Em oito anos de governo, provou que era possível mudar o destino do
país.
1935 - JUNHO
Eurídice Ferreira de Melo, a Dona Lindu, casa-se aos 20
anos com Aristides Inácio da Silva, de 22. As bodas são celebradas apenas no
religioso, a quilômetros de distância do cartório mais próximo, e comemoradas
com sanfona e foguetório na fazenda Cajaranas, em Caetés, então um distrito de
Garanhuns, no agreste pernambucano. O casal se conhece desde sempre. As
famílias de Lindu e Aristides são vizinhas, e seguem a tradição de casar os
filhos entre si, numa época em que os sertanejos saiam de seu povoado, apenas
para comprar mantimentos na cidade mais próxima. A feira fica em Garanhuns,
onde Aristides, a cavalo, compra sal, açúcar, querosene e sabão em troca do
parco dinheiro que obtém vendendo farinha de mandioca para um moinho local.
Lavrador de subsistência, o marido fornece milho, mandioca e feijão para as
panelas de Lindu. De vez em quando, uma galinha, um porco ou uma carne de caça,
graças à boa pontaria de Aristides.
1945 - SETEMBRO
Dona
Lindu e Seu Aristides moram no sítio Vargem Comprida, em Caetés. O agreste
pernambucano é castigado pela pior seca desde 1932. Outra tão severa só seria
registrada no Estado em 1951. Com a lavoura condenada, e quase sem ter o que
comer e beber, Aristides deixa os seis filhos e a mulher grávida de oito meses
e migra para tentar a vida em São Paulo. Sem que ninguém da família saiba, o
retirante leva consigo Dona Mocinha, uma prima de Dona Lindu, de apenas 15
anos. Ela também espera um filho dele. Aristides logo arrumaria emprego como
carregador de sacos num armazém de café em Santos, no litoral paulista, e
passaria a morar com Mocinha numa casa de madeira no distrito de Vicente de
Carvalho, Guarujá.
1945 - OUTUBRO
Luiz
Inácio da Silva nasce ali no sítio Vargem Comprida, em Caetés. É o sétimo filho
de Aristides e Dona Lindu. O parto é feito em casa, uma humilde construção com
chão de terra e apenas dois cômodos: uma sala e um quarto. As crianças dormem
em redes. Na casa não há mesa, cadeiras, água encanada ou mesmo banheiro, seja
dentro ou fora. O banho é semanal, num açude a seis quilômetros de distância.
1949 - JUNHO
Data do
primeiro retrato de Lula, tirado aos 3 anos, junto com a irmã Maria, dois anos
mais velha, num estúdio em Garanhuns. A roupa e as sandálias, maiores do que
seus pés, foram emprestados pelo fotógrafo. Lula não tinha nenhum calçado e só
iria conhecer sapatos na adolescência, em São Paulo.
1950 - JUNHO
Aristides
faz sua primeira visita ao sertão desde a partida, em 1945. Lula tem 5 anos e
vê o pai pela primeira vez. Desconfiado, pergunta para a mãe: "Quem é esse
homem?". Antes de voltar para Santos, Aristides engravida Dona Lindu
novamente. Dessa vez, leva com ele o filho Jaime.
1952 - DEZEMBRO
Em
dezembro, Dona Lindu reúne os filhos, vende a casa e os poucos pertences, e
embarca num pau-de-arara rumo a São Paulo. Foi graças a uma peça pregada por
Jaime que a mãe e os irmãos chegaram ao litoral paulista. Aristides,
analfabeto, ditava as cartas que queria enviar para a mulher enquanto o filho,
alfabetizado, redigia. Numa delas, dizia que a vida em Santos estava difícil e
insistia para que a mulher permanecesse em Pernambuco. O filho fez o contrário.
Passando-se por Aristides, orientou a mãe a vender tudo e partir a seu
encontro. A família segue o fluxo migratório predominante na época, rumo aos
Estados do Sudeste, em franca industrialização. Milhares de retirantes
repetiriam o mesmo trajeto nas décadas seguintes, fugindo do clima e da falta
de perspectivas na terra natal, carente não apenas de chuvas, mas
principalmente de investimentos.Apenas em janeiro de 1952, entraram em São
Paulo 23 mil nordestinos. A tendência só seria reduzida na década de 2000,
quando políticas de distribuição de renda e de criação de empregos encampadas
pelo então presidente Lula fizeram com que o IBGE registrasse, em 2010, um
movimento de retenção da população nordestina e também de retorno dos
retirantes a seus Estados. O que mais recebeu gente de volta, na ocasião, foi justamente
Pernambuco. Após 13 dias de viagem, espremida no caminhão com outros
retirantes, a família desembarca no Brás, na capital paulista, e segue para
Santos. Um barco os leva finalmente a Vicente de Carvalho, onde reencontram
Aristides e Jaime. Assustado, o pai não demonstra alegria ao rever a mulher e
os filhos. Pelo contrário, fica nervoso ao dar pela falta do cachorro Lobo, que
ficara no sertão.
"Meu
pai era um poço de ignorância. Um dia, em 1952, a minha irmã tinha uns três
anos, eu via meu pai comendo pão e a minha irmã pedindo um pedacinho. Meu pai
pegava os pedacinhos de pão e ia jogando para os cachorros. Ele não dava para
ela. Isso me marcou muito. Na época eu tinha uns oito ou nove anos."
1953 - AGOSTO
Aos 7 anos, Lula começa a trabalhar como vendedor
ambulante ao lado do irmão Ziza (apelidado de Frei Chico depois de adulto),
três anos mais velho. Amendoim, tapioca, laranja... Tímido, morria de vergonha
de gritar "Olha a laranja!" no cais de Santos. Acabou virando
engraxate no Centro da cidade.
1954 - MARÇO
Lula
frequenta o Grupo Escolar Marcílio Dias, escondido do pai. Aristides proibira
os filhos de estudar e brincar: apenas trabalhar era permitido.
1955 - OUTUBRO
Cansada
do alcoolismo e das grosserias de Aristides, que agredia fisicamente as crianças,
Dona Lindu abandona o marido e parte de casa com os filhos. O estopim fora uma
ocasião em que Aristides castigou Ziza com golpes de mangueira e, em seguida,
partiu para cima de Lula, para castigá-lo também. Dona Lindu postou-se diante
do caçula, então com 9 anos, como se fosse um escudo, para que o marido não
batesse nele. Acabou levando uma mangueirada. Sentiu pela primeira vez no
próprio corpo a fúria do marido e não admitiu apanhar dele.
"Nós
não tínhamos vida de criança, não tinha esse negócio de brincar, jogar bola, se
divertir. A separação foi um grito de liberdade que a minha mãe deu."
1956 - AGOSTO
Lula muda-se para São Paulo e vai morar com a
mãe e os irmãos na Vila Carioca, um bairro operário no distrito do Ipiranga.
Moram nos fundos de um bar, arrendado por um tio, onde o banheiro é
compartilhado com os clientes. Não há asfalto, nem calçada, nem saneamento, nem
mesa ou cadeiras em casa. Em pouco tempo, os irmãos arrumam emprego e a família
aluga uma casa de alvenaria, também na Vila Carioca. Na época das chuvas, a
casa é invadida por enchentes.
1959 - MARÇO
Depois
de trabalhar como ambulante, engraxate, office boy e auxiliar numa tinturaria,
Lula arruma seu primeiro emprego com carteira assinada nos Armazéns Gerais
Columbia. Com a mesma timidez que o impedia de gritar "laranja!",
Lula emudece, fica nervoso ao telefone e se atrapalha ao transmitir os recados.
É demitido. Seu maior prazer é jogar futebol. Ou ir ao cinema, quando conseguia
um paletó emprestado.
1960 - SETEMBRO
Aos 14
anos, Lula é empregado na Fábrica de Parafusos Marte, onde ganha seu primeiro
ordenado como metalúrgico: meio salário mínimo. No emprego, surge a
oportunidade de se inscrever para o curso profissionalizante no Senai, o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Lula não se entusiasma para ir ao
primeiro teste, para o curso de fundidor, mas presta exame para o segundo, de torneiro
mecânico. É aprovado. Por três anos, além de aprender a profissão, ele teria as
aulas habituais do currículo do ensino secundário, incluindo Educação Física,
com direito a partidas de basquete e futebol, para seu deleite. Lula passa a
jogar bola também aos domingos, formando um time de várzea com os colegas,
participa das atividades culturais do Senai, e logo se torna o mais bem
remunerado dos filhos de Dona Lindu, assumindo boa parte das despesas da casa.
Os seis meses de estágio exigidos pelo curso técnico são cumpridos na própria
Fábrica de Parafusos Marte, onde Lula trabalhou durante três anos e veio e
conheceu aquele que foi seu mestre no torno, o Velho Barbosa.
1962 - MARÇO
Empregado
na Metalúrgica Independência, aos 18 anos, Lula opera o torno no turno da
noite, muitas vezes cumprindo expediente das 19h às 7h. Realizar mais horas
extras do que o permitido por lei era prática comum na fábrica. Numa dessas
ocasiões, por volta das 2 horas da madrugada, quebrou o parafuso de uma prensa
e Lula tratou de consertá-lo. No momento em que ele repunha a peça em seu
lugar, o operário que trabalhava na prensa naquela noite cochilou e largou o
braço da prensa, fazendo-a desabar sobre a mão esquerda de Lula, esmagando-lhe
o dedo mínimo. Lula tem de esperar até as 6 horas da manhã com a mão enrolada
em panos para o patrão chegar e levá-lo ao hospital Monumento, conveniado com o
instituto de previdência social da época. O dedo é amputado numa cirurgia. O
episódio não constitui exceção. Num país que raramente observa as normas de
segurança no trabalho, são muitos os operários que exibem membros mutilados,
como se aquele fosse o preço cobrado pela industrialização. Em razão do
acidente, Lula recebe uma indenização de 371 mil cruzeiros, o equivalente a
pouco mais de R$ 15 mil em 2014. Segue trabalhando normalmente na fábrica.
1962 - DEZEMBRO
Lula
forma-se no Senai. Para a cerimônia de entrega do certificado de conclusão, usa
gravata pela primeira vez.
"Eu
gostaria de ter podido fazer um curso superior. Eu gostaria de ser economista,
mas não foi possível. Não fico me lamentando. O essencial eu tenho, que é o
compromisso ideológico."
1963 - JANEIRO
João
Goulart, que assumira a Presidência da República após a renúncia de Jânio
Quadros, em 1961, consegue finalmente lançar seu plano de governo, com a
aprovação, em plebiscito, da volta do presidencialismo, apoiado por 90% da
população. Antes, para tomar posse, fora obrigado pelas forças armadas a
aceitar um regime parlamentarista, que lhe reduzira poderes. Sua agenda tem
forte apelo social e inclui medidas como a reforma agrária e a nacionalização
de empresas privadas em setores estratégicos. O apoio dos operários é
proporcional ao temor dos patrões.
1964 - MARÇO
Ocorre
o golpe que mergulharia o país em 21 anos de ditadura. Apoiada pelos Estados
Unidos e pela maior parte da grande imprensa e dos políticos tradicionais, a
manobra é justificada como medida necessária para afastar o fantasma do
comunismo — que, segundo os militares e os civis favoráveis ao golpe, rondavam
o governo progressista de João Goulart. No novo regime, congressistas seriam
cassados, partidos seriam extintos, governantes passariam a ser nomeados e a
censura seria instalada nos jornais, nas rádios e nos canais de TV.
Lula
envolve-se numa discussão por aumento de salário e deixa a Metalúrgica
Independência após 11 meses no emprego. É admitido na Fris Moldu Car,
metalúrgica onde trabalha por seis meses e da qual é demitido por não
comparecer ao serviço num sábado, preferindo passar o fim de semana na praia.
1965 - JUNHO
A
política econômica recessiva adotada no país após o golpe militar faz com que
Lula amargue mais de um ano desempregado. Perambula de fábrica em fábrica,
sempre a pé, sem dinheiro para pagar a condução, e ouve sempre a mesma
resposta: "Não há vagas".
"Eu,
às vezes, parava no meio do caminho e chorava pra cacete. Porque você perde a
perspectiva. Eu não tinha muita responsabilidade porque eu era solteiro, mas
fico imaginando o cara que é casado."
1966 - JANEIRO
Lula é
admitido nas Indústrias Villares, em São Bernardo do Campo, uma das mais
robustas metalúrgicas da época. São Bernardo é uma das cidades que integram a
região conhecida como ABC, na Grande São Paulo, onde estão algumas das maiores
fábricas do Brasil, principalmente metalúrgicas, com destaque para as
montadoras de automóveis. No final da década de 1970, São Bernardo teria 210
mil habitantes, e a vizinha Diadema, 90 mil. Juntas, as duas reuniriam nada
menos do que 130 mil operários, quase um a cada dois habitantes adultos. Só a
Volkswagen somava cerca de 40 mil funcionários.
1967 - JUNHO
Atraído
pelo irmão Frei Chico, apelido dado pelos colegas em razão da calvície em
estilo franciscano, Lula visita pela primeira vez o Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo do Campo e Diadema, então presidido por Afonso Monteiro da
Cruz. Diz considerar a política sindical muito chata, com discussões
desnecessárias, a ponto de preferir ficar em casa vendo novela. Os principais
temas em debate eram assistencialistas, como construção de colônia de férias e
melhoria do departamento médico. A partir do ano seguinte teria início o
chamado milagre econômico, quando a recessão seria substituída pela expansão
inflada graças a empréstimos estrangeiros e ao aumento da dívida externa.
Muitos operários do ABC recebiam bons salários e gozavam de um padrão de vida
próximo ao da classe média, o que desmotivava a mobilização política, em
especial entre os operários nordestinos, cientes do quanto a vida poderia ser
pior e temerosos de perder o emprego. Após assistir às primeiras assembleias,
no entanto, Lula passa a se entusiasmar com as disputas e com os debates
acalorados entre bons oradores. Agora, sentia-se como se estivesse diante de
uma partida de futebol.
"Eu
queria só ser um bom profissional, ganhar meu salário, viver minha vida. Ter
filhos. Nada disso de ser liderança sindical me passava pela cabeça."
1968 - SETEMBRO
Início
da trajetória de Lula como líder sindical. Frei Chico, impedido de disputar uma
vaga na diretoria do sindicato porque outro funcionário de sua fábrica (a
Carraço, de carrocerias de caminhão) já a integrava, convence Lula a se
sindicalizar — sua matrícula é 25.968 — e indica o nome do irmão para a chapa
situacionista que disputaria a eleição no começo de 1969, encabeçada pelo então
segundo secretário Paulo Vidal. Lula é aceito porque os outros membros
acreditavam que, como Frei Chico, ele também era ligado ao então clandestino
Partido Comunista Brasileiro, o PCB — o que, em tese, garantiria o apoio dos
metalúrgicos afinados com o "partidão".
1969 - ABRIL
Lula
integra a chapa vencedora na eleição para a diretoria do sindicato e toma posse
como segundo suplente, no dia 24 de abril. Representante do sindicato junto às
bases, continua trabalhando no chão da fábrica e atua dentro da Villares.
1969 - MAIO
Aos 23
anos, casa-se com Maria de Lourdes, sua namorada desde os 18. A cerimônia é
simples, na casa de Dona Lindu, com churrasquinho e guaraná. O casal parte em
lua de mel para Poços de Caldas, no Sul de Minas. Lourdes é irmã de seu melhor
amigo, Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari.
1970 - NOVEMBRO
Um ano
e meio após o casamento, Lourdes anuncia que está grávida.
1971 - MAIO
Grávida
de sete meses, Lourdes adoece. Lula peregrina por hospitais da rede pública
tentando interná-la. Em vão. Anêmica, vítima de hepatite e da negligência dos
médicos que resistiram a interná-la, Lourdes morre durante uma cesariana de
emergência. O bebê, um menino, também não resiste.
"Quem
tem dinheiro pode tudo; quem não tem dinheiro não pode nada, não tem direitos
estabelecidos. Como morreu a Lourdes, morrem milhões de pessoas por aí, nesse
país, sem ter o menor tratamento médico."
1972 - AGOSTO
Em
depressão desde a morte da mulher e do filho, no ano anterior, Lula agarra-se
às atividades sindicais para superar aquele momento. Muda-se para São Bernardo
do Campo. Dentro da Villares, passa a intervir nas negociações com os patrões e
mostra-se habilidoso.
Pela
primeira vez desde o curso do Senai, troca o chão da fábrica por uma sala no
sindicato. Integra novamente a chapa reeleita para a diretoria do sindicato,
não mais como segundo suplente, mas como primeiro-secretário. Dirige o
departamento jurídico e responde pelo setor de previdência social, recém
criado.
1973 - ABRIL
Lula
emerge do luto mais extrovertido e namorador. Viúvo, morando novamente com a
mãe, passa a frequentar bailes e barzinhos quase toda noite, após o expediente
no sindicato. Engata um breve namoro com a enfermeira Miriam Cordeiro e, pouco
depois, conhece Marisa Letícia Casa, viúva como ele e mãe de Marcos, um menino
de 2 anos. Lula está apaixonado por Marisa quando fica sabendo que a
ex-namorada está grávida.
1974 - MARÇO
Nasce
Lurian Cordeiro da Silva, sua filha com Miriam Cordeiro. Lula assume
prontamente a menina, diferentemente do que afirmaria a campanha de Fernando
Collor de Mello, em 1989, numa tentativa de desmoralizar o adversário.
1974 - MAIO
Seis
meses após se conhecerem, Lula e Marisa casam-se no civil. Passam a lua de mel
em Campos do Jordão. Lula oficializaria a adoção de Marcos, o enteado, quando o
menino tinha 10 anos.
1975 - FEVEREIRO
Em nova
eleição, Lula é eleito presidente do Sindicato, com 92% dos votos, e assume o
desafio de liderar uma categoria imensa, com cerca de 100 mil operários e em
nítida expansão. Popular e bom negociador, Lula é apoiado por metalúrgicos de
diferentes tendências políticas. A chancela do presidente anterior, Paulo
Vidal, que integrou a chapa na função de secretário-geral foi essencial para
sua eleição. Como Lula era péssimo orador, Vidal imaginava que, na prática,
continuaria dando as ordens. Na posse, Lula lê um discurso no qual faz críticas
tanto ao capitalismo quanto ao socialismo, qualquer regime que tolhesse a
liberdade dos cidadãos, algo pouco comum nos tempos polarizados de Guerra Fria.
1975 - MARÇO
Nasce
Fábio Luís, primeiro filho de Lula e Marisa, nove meses e nove dias após a festa
de casamento.
1975 - OUTUBRO
Lula
faz sua primeira viagem ao exterior, convidado a participar de um congresso da
Toyota no Japão. Lá, fica sabendo que seu irmão Frei Chico, ligado ao PCB,
havia desaparecido: estaria morto ou preso. É orientado a não voltar ao Brasil,
tamanho o risco de ser morto pela repressão. Lula ignora a recomendação e volta
para procurar o irmão. Vai ao II Exército, ao Dops, e só um mês depois descobre
o paradeiro de Frei Chico, que àquela altura era torturado no DOI-CODI, o mesmo
local em que o regime fizera, dias antes, uma de suas mais famosas vítimas: o
jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura em 25 de outubro. Nos 21 anos de
governo militar, entre 1964 e 1985, a repressão seria responsável por pelo
menos 437 mortes e desaparecimentos, segundo levantamento de 2007 da
SecretariaEspecial de Direitos Humanos da Presidência da República. O episódio
vivido pelo irmão contribui para que Lula fortalecesse sua oposição à ditadura
e passasse a não medir palavras nas assembleias.
"Se
tiver que ser preso pelo que eu penso, que eu seja preso."
1978 - FEVEREIRO
Lula,
de bigode, aparece pela primeira vez na capa de uma publicação nacional, a
Revista IstoÉ, entrevistado pelo diretor de redação, Mino Carta, e pelo
repórter Bernardo Lerer. A entrevista traz pensamentos como este: "Jamais
participaria do MDB ou da Arena, são farinha do mesmo saco e têm os mesmos
objetivos. A Arena e o MDB não representam a classe trabalhadora. Não me
interessa partido de cima para baixo."
"Eu
digo de peito aberto que não tenho compromisso com ninguém, e que o sindicato
de São Bernardo e Diadema é uma das poucas coisas independentes que existem
nesta terra. Só tenho compromisso com os trabalhadores que me elegeram. A gente
andará de cabeça erguida enquanto puder criticar você e amanhã aplaudir, se for
o caso, e sem dor na consciência. Infelizmente tem muitos dirigentes sindicais
que estão com o boi na sombra."
1978 - ABRIL
Lula é
reeleito presidente do sindicato com 98% dos votos. Desde sua posse, imprimira
um jeito moderno e eficiente de envolver a categoria. Se os trabalhadores não
vão ao sindicato, o sindicato vai até eles, transferindo as assembleias para as
portas das fábricas. Agora, no segundo mandato, Lula decide substituir os
tradicionais boletins informativos por materiais mais lúdicos, com charges e
quadrinhos. Surge o personagem João Ferrador, desenhado por Laerte Coutinho,
ícone da imprensa sindical do ABC.
Lula
consegue levar o movimento sindical a um novo patamar de legitimidade. O novo
sindicalismo que emerge no ABC mostra-se ao mesmo tempo combativo e
independente. Em nada lembra o "peleguismo", praticado por dirigentes
mais fiéis aos interesses dos patrões do que às reivindicações da categoria,
nem o "aparelhismo", característico de diretorias controladas por partidos
políticos, acostumados a usar a entidade como instrumento de divulgação de
doutrinas e cooptação de votos, sem identificação real com as demandas dos
trabalhadores.
1978 - MAIO
O
sindicato organiza uma grande manifestação no feriado do Dia do Trabalhador. A
principal reivindicação era que o reajuste salarial fosse além do índice
definido pelo governo e contemplasse, também, a reposição do poder aquisitivo
corroído pela inflação. O sindicato não tomava a iniciativa de convocar a
categoria para a greve, uma vez que as greves eram proibidas, mas seus
dirigentes abusavam das entrelinhas quando discursavam, numa tentativa de
convencer os trabalhadores da necessidade de radicalizar
1978 - MAIO
Trabalhadores
da Scania, uma montadora sueca com fábrica em São Bernardo do Campo, batem o
ponto e cruzam os braços, insatisfeitos com o reajuste salarial verificado no
holerite do dia 10. São quase 3 mil metalúrgicos em greve, numa paralisação
organizada dentro da fábrica. Outras fábricas do setor automotivo aderem. Lula
assume as negociações na Scania e consegue fechar um acordo bastante positivo,
com 15% de aumento real. O exemplo se alastra pela região do ABC e, em seguida,
por outras cidades paulistas. Mais de 150 mil metalúrgicos interromperam a
produção sem deixar de comparecer ao local de trabalho. No mesmo dia 12 de
maio, Lula é informado da morte de seu pai. Sozinho, Aristides fora enterrado
em Santos, como indigente. Havia sido abandonado por Mocinha e por todos os
seus 24 filhos conhecidos.
"O
arrocho salarial fez com que a classe trabalhadora, após muitos anos de
repressão, fizesse o que qualquer classe trabalhadora do mundo faria: negar a
sua força de trabalho às empresas"
Lula
cogita pela primeira vez fundar um partido. Isso acontece após uma viagem a
Brasília, na qual Lula e outros sindicalistas buscam convencer os deputados a
rejeitar um decreto-lei que proibia a realização de greves por categoriais
consideradas essenciais. Na ocasião, o grupo não encontrou respaldo em nenhuma
bancada. Entre os 482 deputados federais, havia apenas dois de origem operária:
Benedito Marcílio, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo
André, e Aurélio Peres, de São Paulo, ligado ao PCdoB. Eram necessários 241
votos para garantir o direito de greve. Faltavam 239. Lula chegou a ser
esnobado: "Não preciso dos votos de vocês; não sou da sua terra e não fui
eleito por operários", disse um deputado. Esse episódio o fez perceber a
urgência de eleger políticos comprometidos com a causa dos trabalhadores.
1978 - JULHO
Nasce o
filho Sandro Luís
1978 - DEZEMBRO
Apesar
da ilegalidade das greves, são computadas mais de 400 paralisações no país ao
longo do ano, muitas delas apenas no segundo semestre, meses depois dos
dissídios e das manifestações de 1º de Maio, época tradicionalmente utilizada
para as campanhas de negociação salarial.
1979 - JANEIRO
Tão
logo o ano começa, o sindicato resolve preparar a categoria com antecedência
para uma greve geral, capaz de sacudir o país. Assim, teriam mais tempo de
conscientizar os trabalhadores, afinar discursos e lista de reivindicações, e
melhor preparar as atividades de maio.
"Nessa
relação empregado-patrão, a única arma que torna a classe trabalhadora
verdadeiramente respeitada pelo patrão é a greve."
1979 - MARÇO
É
deflagrada a greve geral. A adesão supera as expectativas e obriga a diretoria
do sindicato a transferir a assembleia para o estádio de futebol da Vila
Euclides, único local em São Bernardo capaz de comportar os 80 mil
trabalhadores que comparecem na tarde do dia 13. Sem sistema de som, megafone
ou palanque, Lula é obrigado a improvisar. Sobe numa mesa de bar colocada no
centro do gramado e discursa no gogó, de modo que os operários mais próximos o
ouvem e repetem suas falas para quem está mais atrás, e assim sucessivamente,
até que a mensagem alcance as fileiras mais distantes.
1979 - MARÇO
A greve
é considerada ilegal pela Justiça do Trabalho. Dali a dois dias, já havia 170
mil metalúrgicos parados em todo o ABC.
1979 - MARÇO
Viaturas
da polícia cercam a sede do sindicato. O Ministério do Trabalho decretara
intervenção, afastando seus dirigentes eleitos. Dias depois, parte da
categoria, cansada e descrente, volta a trabalhar, enfraquecendo a capacidade
de reivindicação da diretoria.
1979 - MARÇO
Lula
procura os empresários e propõe uma trégua de 45 dias, com a volta imediata ao
trabalho mediante o fim da intervenção, a reabertura do estádio de Vila
Euclides, que fora fechado para assembleias, o pagamento dos dias parados,
nenhuma demissão e, por fim, reajuste de 11%, conforme tinha sido oferecido
pelos patrões no ano anterior.
1979 - MARÇO
Em
assembleia, Lula pede um voto de confiança e expõe as condições da trégua.
"Ao final desse período, se as nossas reivindicações não forem atendidas,
eu mesmo decretarei a volta da greve", ele diz. Após 45 dias, os patrões
firmam um bom acordo com o sindicato, mas não cumprem a promessa. Há demissões
e retaliações em diversas fábricas. Parte dos trabalhadores, com ânimos
acirrados, defende o tudo ou nada e Lula é chamado de traidor e vendido. Com
sua legitimidade em risco, Lula propõe a destituição da diretoria e a
convocação de nova eleição. No final do processo, sua diretoria é aclamada por
unanimidade, fortalecendo-se para a campanha do ano seguinte.
1979 - MAIO
É
promulgada a Lei da Anistia. Entre os exilados autorizados a voltar ao Brasil
está o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, irmão do cartunista Henfil, cujas
charges eram frequentemente favoráveis ao movimento sindical. Em 1991, Betinho
encabeçaria uma campanha nacional de combate à fome, discutida com Lula na sede
do Governo Paralelo, entidade fundada por ele após a eleição de Collor em 1989.
1980 - FEVEREIRO
É
fundado o Partido dos Trabalhadores, no Colégio Sion, em São Paulo. Cerca de
700 pessoas presenciam a cerimônia. A maioria é formada por sindicalistas,
estudantes, líderes de movimentos sociais, católicos progressistas e
intelectuais de esquerda como Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Holanda e Lélia
Abramo. Presentes, também, 400 delegados eleitos nos 17 Estados em que o
partido obteve a legalização. A legenda é resultado de dois anos de
articulações, desde as greves de 1978, quando surgiu pela primeira vez a
proposta de criar um partido do povo, e não apenas para o povo: "de baixo
para cima", na definição de Lula. Embora não cite a palavra socialismo em
seu Manifesto, o partido reúne militantes de diversas tendências da esquerda.
1980 - ABRIL
Início
da greve: 140 mil metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema cruzam os
braços. Querem reajuste real de 15% nos salários, enquanto as empresas oferecem
3,6%, além de instrumentos de garantia de emprego e redução da jornada de
trabalho de 48 para 40 horas semanais.
1980 - ABRIL
O
Tribunal Regional do Trabalho declara a paralisação ilegal. A repressão parte
para cima dos grevistas, com rondas ostensivas e o uso de helicópteros do
Exército a sobrevoar as assembleias no estádio da Vila Euclides. Lula, Marisa e
os filhos são vigiados permanentemente. Há sempre uma veraneio C14 parada perto
de casa.
1980 - ABRIL
Lula
tem cassado seu mandato sindical. O ministro do Trabalho, Murilo Macedo,
decreta, pela segunda vez, a intervenção no sindicato. Além de cassar a
diretoria, proíbe o uso do estádio da Vila Euclides para assembleias. É
decretada a prisão preventiva de Lula e outros 16 sindicalistas. Essas medidas
deixam os operários enfurecidos, e Lula torna-se uma espécie de oráculo de toda
a agenda trabalhista.
1980 - ABRIL
Lula é
preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Às 6 horas da manhã, três
viaturas estacionam diante de sua casa. Seis policiais armados, inclusive com
metralhadoras, batem na porta e entram. Lula é levado para o Departamento de
Ordem Política e Social, o DOPS, onde ficaria por 31 dias com companheiros de
movimento sindical. No cárcere, faria greve de fome, interrompida no sétimo dia
após apelo do bispo de Santo André, Dom Cláudio Hummes. A convite do bispo, as
assembleias passam a acontecer na Igreja Matriz de São Bernardo.
1980 - MAIO
A greve
termina no 41º dia, sem acordo, mas com um importante saldo político. Embora
cerca de 1.500 trabalhadores grevistas tenham sido demitidos nos dias que se
seguiram ao final da paralisação, o direito de greve tornou-se uma bandeira
reivindicada nacionalmente, e que seria garantida anos depois, na Constituição
de 1988.
1980 - MAIO
Morre
Dona Lindu, aos 64 anos, vítima de um câncer no útero, no Hospital Beneficência
Portuguesa de São Caetano. No dia seguinte, Lula é autorizado por Romeu Tuma,
então diretor do Dops, a deixar a prisão, escoltado, para ir ao enterro da mãe.
A multidão presente ao enterro cerca a viatura policial e tenta impedir que
Lula volte à prisão. Foi preciso que ele mesmo tomasse a palavra e convencesse
quem protestava de que retornar à cela seria mais prudente, alegando que uma
rebelião, naquele momento, daria motivo para uma repressão ainda mais
intensa.
1980 - MAIO
A
prisão preventiva de Lula é revogada e ele pode voltar para São Bernardo, onde
é recebido com festa. Sua primeira atitude ao chegar em casa é abrir uma gaiola
e libertar um passarinho. Naquele mesmo ano, Lula fundaria o PT. Em fevereiro
de 1981, seria condenado pela Justiça Militar a três anos e seis meses de
prisão. Recorre em liberdade e, em maio de 1982, o processo é anulado pelo
Superior Tribunal Militar.
"Eu
acho que eu só cheguei aonde cheguei pela fidelidade aos propósitos que não são
meus, são de centenas, milhares de pessoas."
1980 - MAIO
Lula é
eleito primeiro presidente do PT.
1981 - JUNHO
Como
líder e porta-voz do PT, Lula viaja o Brasil e o mundo. Vai a mais de 10 países
entre 1980 e 1981. Nos Estados Unidos, tem audiência com o senador democrata
Ted Kennedy, irmão do ex-presidente John Fitzerald Kennedy. Na Itália,
encontra-se com o papa João Paulo II e com o líder sindical polonês Lech
Walesa, que seria agraciado com o Nobel da Paz em 1983 e governaria o país
entre 1990 e 1995.
1982 - FEVEREIRO
Dois
anos depois, o Tribunal Superior Eleitoral reconhece oficialmente a fundação do
PT e o autoriza a disputar as eleições gerais daquele ano, nas quais seriam
escolhidos governadores, senadores, deputados federais e estaduais, bem como
vereadores e prefeitos do interior. Os prefeitos das capitais ainda eram
nomeados pelos governadores. Lula é candidato ao governo de São Paulo e
incorpora o apelido ao sobrenome, passando a assinar Luiz Inácio Lula da Silva:
uma estratégia para ser facilmente localizado na célula eleitoral pelos
eleitores que só o conhecessem como Lula. Num debate realizado durante a
campanha eleitoral, um de seus adversários, Rogê Ferreira, do PDT, pergunta:
"Afinal, você é comunista, socialista ou o quê?". "Sou torneiro
mecânico", Lula responde.
1982 - NOVEMBRO
1.144.648
pessoas, ou 10% do eleitorado, votam em Lula, quarto colocado na disputa. André
Franco Montoro, do PMDB, vence a eleição. Em todo o país, o PT elege oito
deputados federais, 12 estaduais, dois prefeitos e 78 vereadores.
1983 - AGOSTO
Lula é
um dos articuladores da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, fundada durante
o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora. O evento reuniu cerca de 5 mil
representantes de sindicatos em São Bernardo do Campo. Por ser presidente do
PT, não integra a mesa diretora, que é encabeçada por Jair Meneguelli, seu
sucessor na presidência do sindicato.
1983 - NOVEMBRO
Na
praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, Lula
comanda o primeiro grande comício por eleições diretas. "O
prazer da política é você sentir que o povo participa, que o povo começa a se
despertar no sentido de ele próprio começar a transformar as coisas no
país."
1984 - ABRIL
Lula
articula um comitê suprapartidário em prol das eleições diretas. A campanha é
encampada pelos partidos políticos de oposição à ditadura. Até 25 de abril,
quando foi votada a Emenda Dante de Oliveira, diversos atos e comícios
mobilizam milhões de brasileiros nas grandes cidades.
1985 - MARÇO
Nasce
Luís Cláudio, o filho caçula de Lula.
1985 - NOVEMBRO
Fortaleza
é a primeira capital a eleger um prefeito do PT. Aliás, uma prefeita: Maria
Luiza Fontenele.
1986 - NOVEMBRO
Lula é
eleito deputado federal constituinte, o mais votado do Brasil, com 651.763
votos. Nos dois anos seguintes, participa da elaboração da Constituição Federal
de 1988 e ajuda a garantir a inclusão de emendas como o direito à greve, a
licença maternidade de 120 dias e a jornada de trabalho de 44 horas semanais
(eram 48).
1987 - DEZEMBRO
Durante
o 5º Encontro Nacional do PT, realizado no prédio do Senado, em Brasília, Lula
é aclamado candidato do partido à Presidência da República na eleição de 1989,
a primeira após 29 anos sem eleição direta para presidente. Para se dedicar
melhor à campanha eleitoral, transmite o cargo de presidente do partido ao
também sindicalista Olívio Dutra, do Rio Grande do Sul. Luiz Gushiken assumiria
a presidência em seguida.
"Vim
dizer para vocês que aceito esse desafio, o mais importante da minha vida.
(...) Não sei se terei competência, durante a batalha, de fazer jus à confiança
que vocês tiveram em mim. Agora, uma coisa eu peço para o meu Partido: a gente
não pode fazer uma campanha com dúvidas sobre qual segmento social a gente
representa. Temos de fazer uma campanha classista, falando dos interesses da
classe trabalhadora. E precisamos marcar posição. Precisamos acirrar as
contradições. Se não for assim, a peãozada não vai entender a nossa campanha.
Vamos à luta."
1988 - OUTUBRO
Lula é
o principal mobilizador da campanha do PT para as prefeituras brasileiras. O
partido é vitorioso em três capitais: São Paulo (Luiza Erundina), Porto
Alegre (Olívio Dutra) e Vitória (Vitor Buaiz). No total, conquista 36 cidades,
entre elas pólos importantes como Campinas e São Bernardo do Campo.
1989 - MARÇO
Lula é
candidato a presidente da República. Encabeça a coligação Frente Brasil
Popular, apoiada pelo PT, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), do vice
José Paulo Bisol, e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Sua campanha
emplaca com grande sucesso o jingle "Lula lá". Também conhecida como
"Sem medo de ser feliz" ou "Brilha uma estrela", a canção
continuaria sendo utilizada nas campanhas seguintes. "Lula lá, brilha uma
estrela / Lula lá, cresce a esperança / Lula lá, o Brasil criança / Na alegria
de se abraçar..."
Lula
começa a ser apontado como favorito. A campanha é polarizada com Leonel
Brizola, do PDT, nos primeiros meses. Até a emergência da candidatura de
Fernando Collor de Mello, o auto-intitulado "caçador de marajás", no
segundo semestre. Senador de Alagoas pelo nanico PRN, o Partido da Reconstrução
Nacional, Collor é apoiado pelas oligarquias nacionais, pelos bancos, pelas
grandes indústrias e pela mídia, em especial pela Rede Globo. Também na
disputa, Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Guilherme Afif Domingos (PL),
Ulysses Guimarães (PMDB) e outros 15 candidatos.
"Há
um tipo de candidato que é o político-Xuxa: antes da eleição, beijinho
beijinho. Depois da eleição, tchau tchau."
1989 - NOVEMBRO
Lula
recebe 11.622.673 votos (16%) e vai para o segundo turno contra Collor (28,5%).
Agora, sua candidatura é apoiada por uma ampla rede de partidos progressistas:
PDT, PSDB, PV, PCB e parte do PMDB, além de PT, PSB e PCdoB.
1989 - DEZEMBRO
O
empresário Abílio Diniz, dono da rede de supermercados Pão de Açúcar, é sequestrado
em São Paulo. Na TV, são veiculadas imagens de um sequestrador com uma camiseta
da campanha de Lula. Em depoimento à polícia, Humberto Paz, o sequestrador,
diria ter sido torturado e obrigado por policiais a vestir a camiseta.
1989 - DEZEMBRO
Em
outro episódio utilizado pela oposição para derrotar o candidato do PT, o
penúltimo programa eleitoral de Collor exibe uma entrevista com Miriam
Cordeiro, ex-namorada de Lula, na qual ela afirma que o candidato, depois de
engravidá-la em 1973, ofereceu dinheiro para que fizesse um aborto e não
reconheceu a criança. "Não posso apoiar um homem que acabou com a minha
vida", declara.
A
entrevista é exibida novamente no dia seguinte, no Jornal Nacional, na Globo.
Miriam teria recebido 200 mil cruzados novos, o equivalente a 24 mil dólares na
época, para gravar o depoimento. Abalado, Lula aparece ao lado da filha de 15
anos em seu último programa, no dia seguinte:
"Eu
não vou responder à mãe da Lurian, porque a Lurian não é resultado de um gesto
de ódio. A Lurian é resultado de um gesto de amor. (...) Para mim, na verdade,
o que importa é o julgamento que a minha filha faz de mim. E eu tenho certeza
absoluta de que ela saberá julgar melhor do que ninguém o pai que ela
tem."
1989 - DEZEMBRO
É
realizado o último debate entre Lula e Collor. Os "melhores momentos"
exibidos no Jornal Nacional na edição do dia seguinte valorizam a participação
do candidato do PRN. Após 22 anos, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni,
então diretor geral da Globo, admitiria, numa entrevista concedida a Geneton
Moraes Neto em 2011, que a emissora não apenas manipulou a edição em favor do
favorito de Roberto Marinho como ajudou a armar o debate, interferindo na
maquiagem de Collor e plantando pastas vazias que estariam recheadas com
supostas denúncias contra Lula. "Só não botei uma caspazinha no (ombro do)
Collor porque ele não aceitou", disse Boni.
1989 - DEZEMBRO
Lula é
derrotado no segundo turno, obtendo 31.076.364 votos contra 35 milhões
atribuídos ao candidato eleito. Collor tem 53% dos votos válidos e Lula, 47%.
"Faltou
muito pouco para que, pela primeira vez na nossa história, o povo assumisse o
governo do Brasil. Nada será capaz de apagar da minha memória e dos meus olhos
o grande espetáculo que o povo brasileiro promoveu durante todo o ano de 1989:
uma luta pelo resgate da esperança e da dignidade do povo brasileiro."
1990 - JULHO
Lula
funda o Governo Paralelo, um núcleo inspirado numa iniciativa idêntica do
Partido Trabalhista Inglês, com a missão de monitorar as políticas adotadas por
Collor e formular propostas alternativas àquelas. Essa estrutura, em atividade
informal desde o final de 1989, daria origem, anos mais tarde, ao Instituto
Cidadania, no qual seriam formuladas importantes políticas públicas, como
o Fome Zero.
1992 - JUNHO
Lula é
o principal nome de oposição ao governo de Fernando Collor. Como presidente do
PT, mobiliza a bancada e atua para instalar de uma CPI sobre denúncias de
corrupção, formação de quadrilha (tendo como "testa-de-ferro" o
tesoureiro Paulo César Faria), desvio de dinheiro e uso de verba pública para
pagar gastos pessoais (a compra de um Fiat Elba e despesas da Casa da Dinda).
Dois congressistas do PT apresentam o requerimento formal para a instalação da
CPI: Eduardo Suplicy, no Senado, e José Dirceu, na Câmara. Com base nessas
denúncias, surge o Movimento pela Ética na Política. Os
"caras-pintadas" vão às ruas pedir o impeachment de Collor.
1992 - SETEMBRO
A
Câmara aprova o impeachment do primeiro presidente eleito após a
redemocratização. Pesquisas mostram que, se a eleição para presidente ocorresse
naquele momento, Lula seria eleito.
1993 - MARÇO
Convidado
por Itamar Franco, o PT decide não assumir cargos em seu governo. Lula ajuda a
articular articulam um movimento nacional de combate à fome. A intenção é
transformar os 32 milhões de brasileiros que viviam abaixo da linha de pobreza
— uma em cada cinco pessoas — num tema político de primeira grandeza. O projeto
de implementação de uma política nacional de segurança alimentar inspira a
campanha Ação Nacional contra a Fome, a Miséria e pela Vida, conhecida também
como "campanha do Betinho" por ter sido conduzida publicamente e na
mídia pelo sociólogo Herbert de Souza.
O
Governo Paralelo se transforma em Instituto Cidadania. Nos anos seguintes, até
a eleição de Lula, essa entidade civil produziria importantes projetos de
políticas públicas em áreas como habitação, segurança pública, segurança
alimentar e energia.
1993 - ABRIL
É
realizado um plebiscito para definir a forma (monarquia ou república) e o
sistema (presidencialismo ou parlamentarismo) de governo no Brasil. Apesar de
muitos filiados preferirem o parlamentarismo, o PT opta por apoiar o sistema
presidencialista, que em tese atribui maior poder ao presidente, confiante na
vitória de Lula no ano seguinte.
1993 - ABRIL
Em
Garanhuns, Lula inicia a primeira Caravana da Cidadania, interessado em
conhecer melhor o Brasil e, principalmente, as principais dificuldades dos
brasileiros mais pobres e excluídos. Sua jornada resgata temas urgentes como
conflitos de terra, entraves à produção agrícola, seca e miséria. Até julho do
ano seguinte, Lula e sua equipe fariam sete caravanas, com sete trajetos
distintos, percorrendo as cinco regiões do Brasil num total de 40 mil
quilômetros rodados. A revista americana Newsweek publica uma extensa
reportagem sobre a iniciativa. Intuitivamente, Lula se prepara para disputar
novamente a presidência, no ano seguinte.
"As
classes dominantes têm os olhos voltados para a Europa e a bunda voltada para o
Brasil."
1993 - SETEMBRO
Líder
da oposição, Lula faz coro com as denúncias apresentadas contra os "anões
do orçamento", congressistas acusados de montar um esquema de propinas com
base na aprovação fraudulenta de emendas parlamentares.
"Há
no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma
maioria de uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios
interesses."
Sua
declaração, defendendo a abertura de uma CPI para apurar as denúncias contra os
"anões do orçamento", inspira Herbert Vianna, do grupo Paralamas do
Sucesso, a compor "Luiz Inácio (300 picaretas)". Lançada em 1994, a
música é censurada. "Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou / São 300
picaretas com anel de doutor", diz o refrão.
Considerado
imbatível na campanha eleitoral do ano seguinte, Lula mantém conversas
frequentes com líderes do PSDB, costurando uma possível aliança na campanha
eleitoral do ano seguinte. Após uma dessas conversas, fica praticamente
acertado o nome de Tasso Jereissati para vice de Lula. A aliança PT-PSDB, no
entanto, implodiria poucos meses depois, com a ascensão da pré-candidatura do
então ministro Fernando Henrique Cardoso, lançado pelos tucanos paulistas.
1994 - JUNHO
Lula é
candidato à Presidência da República pela segunda vez. Seu principal adversário
é o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Como ministro da Fazenda do governo
Itamar Franco, ele é lançado como "o pai do Plano Real", exitoso no
controle da inflação ao adotar o dólar como lastro para a criação, em março, de
uma moeda transitória, a Unidade Real de Valor (URV), precursora do real,
introduzido em 1º de julho. Candidato pelo PSDB, Fernando Henrique — que
recebera o apoio do próprio Lula quando concorreu ao Senado, em 1978, e
presenciara algumas reuniões de organização do PT, em 1979 — é apoiado agora
por todos os setores que, naquele momento, temiam uma vitória de Lula.
Com um
farto material captado em vídeo durante as Caravanas da Cidadania, desde o ano
anterior, e famoso por organizar comícios lotados, com a participação de
diversos artistas, Lula é surpreendido por uma lei aprovada no Congresso por
iniciativa do PSDB e do PFL, seus adversários: naquele ano, ficaria proibida a
exibição de cenas externas nos programas eleitorais.
Em
razão da campanha, Lula deixa novamente a presidência do PT, sendo substituído
por Rui Falcão. No 10º Encontro Nacional do partido, realizado no ano seguinte,
em Guarapari, seria escolhido o nome de José Dirceu para a presidência. Desde
então, Lula seria apresentado como "presidente de
honra". Denúncias contra José Paulo Bisol, que fora candidato a vice
em 1989 e repetiria a dobradinha em 1994, obrigam a formação de uma nova chapa,
já com a campanha em curso. O então deputado Aloizio Mercadante assume seu
lugar.
1994 - OUTUBRO
Lula
obtém 18% dos votos e é derrotado no primeiro turno por FHC, que se elege com
36%. A soma dos demais candidatos não chega a 18% do eleitorado. Pela primeira
vez o PT elege governadores: Vitor Buaiz, no Espírito Santo e Cristovam
Buarque, em Brasília.
1996 - OUTUBRO
Nas
eleições municipais, o PT conquista 187 prefeituras (crescendo em relação às 54
de 1992). Entre elas, duas capitais: Porto Alegre, com Raul Pont e Belém, com
Edmilson Rodrigues.
1997 - MAIO
A Vale,
então Vale do Rio Doce, é privatizada. Em leilão contestado na Justiça, o
consórcio Brasil, liderado pela CSN, adquire o controle acionário da empresa
por R$ 3,3 bilhões (ágio de 20% sobre o preço mínimo). Na oposição, Lula
condena não apenas a privatização como também o preço pago por ela. Computando
apenas no ano de 1999, a empresa teria um lucro de R$ 1,21 bilhões, equivalente
a um terço de todo o dinheiro colocado na compra. A crítica à política
privatizante conduzida por Fernando Henrique Cardoso torna-se um dos pilares do
PT. Entre 1997 e 2002, seriam privatizadas 133 empresas estatais brasileiras,
segundo dados do IBGE. A opção por privatizar empresas estatais vem na esteira
do Consenso de Washington, espécie de receituário neoliberal adotado pelo FMI e
recomendado aos países em desenvolvimento, que tinha a privatização como um de
seus dez pilares. Lula também condena a criação do Proer, programa de ajuda a
bancos e instituições financeiras que entraram em crise com a estabilidade da
moeda (a maioria dependia da inflação para ganhar dinheiro). Entre 1995 e 2000,
foram alocados cerca de R$ 30 bilhões em dinheiro público nas linhas de
financiamento criadas pelo governo para salvar bancos em falência, como o
Nacional, o Econômico e o Bamerindus, e evitar um pretenso colapso do sistema
financeiro. Fusões e privatizações de bancos estaduais, muitos com graves
problemas contábeis, foram estimuladas pelo programa.
1997 - JUNHO
É
aprovada no Senado a emenda constitucional que institui a possibilidade de
reeleição para presidente, governadores e prefeitos. O placar indica 62 votos a
favor e 14 contra, repetindo a ampla maioria obtida na Câmara, em janeiro: 369
X 111. A decisão passa a valer já para a eleição do ano seguinte, favorecendo o
então presidente Fernando Henrique Cardoso. Surgem denúncias e confissões de
que deputados teriam vendido seus votos a favor do governo.
1998 - JULHO
O
sistema Telebrás é privatizado, por meio de leilão.
1998 - OUTUBRO
Depois
de passar todo ano de 1997 informando que não seria candidato, Lula cede aos
apelos do partido e aceita disputar pela terceira vez a Presidência da
República. Perde novamente para Fernando Henrique Cardoso, no primeiro turno. O
placar é de 53% contra 32%. Ciro Gomes, do PPS, é o terceiro colocado, com 11%
dos votos. O PT vence em três estados a eleição para governador: Olivio Dutra,
no Rio Grande do Sul, Zeca do PT, em Mato Grosso do Sul e Jorge Viana, no Acre.
1999 - JANEIRO
Logo no
início de seu segundo mandato, FHC introduz uma política diferente do prometido
em relação à moeda brasileira. O Banco Central adota o sistema de câmbio
flutuante, deixando de controlá-lo. Até 2000, a moeda viveria um período
inédito de maxidesvalorização, confirmando a tese de que o câmbio
artificialmente equiparado ao dólar vinha sendo mantido a todo custo, graças a
juros altos e baixo investimento em produção, com o objetivo explícito de
garantir a reeleição. Crises deflagradas na Ásia, na Rússia e na Argentina no
final da década de 1990 comprometem a balança comercial brasileira e ajudam a
derrubar o preço das commodities em razão da redução nas exportações. O governo
perde popularidade e Lula é apontado como favorito para a eleição de 2002.
2000 - OUTUBRO
Nas
eleições municipais o PT desponta, pela primeira vez desde sua fundação, como o
partido mais votado em todo o Brasil. Vence em 187 cidades, incluindo São Paulo
(Marta Suplicy), Recife (João Paulo), Porto Alegre (Tarso Genro), Goiânia
(Paulo Wilson), Aracaju ( Marcelo Déda) e Belém (Edmilson Rodrigues). Pula de
1895 para 2485 vereadores e demonstra que já atingiu maturidade suficiente para
a vitória na discuta presidencial.
2002 - JANEIRO
O
prefeito de Santo André, Celso Daniel, é assassinado. Amigo pessoal de Lula,
ele fora escolhido pelo então pré-candidato para coordenar seu plano de
governo. Após a tragédia, é substituído na função por Antonio Palocci, prefeito
de Ribeirão Preto pela segunda vez e ex-presidente estadual do PT.
2002 - MARÇO
É
realizada uma prévia dentro do PT para a escolha do candidato. O senador
Eduardo Suplicy, de São Paulo, também lançara seu nome, como alternativa. O
sindicalista é praticamente aclamado, obtendo 80% dos votos. Lula impõe duas
condições: só seria candidato se o PT firmasse um amplo leque de alianças,
capaz de envolver em torno de seu nome representantes de vários setores da
sociedade, inclusive aqueles tradicionalmente arredios ao partido. Queria um
vice ligado ao meio empresarial.
O nome
de José Alencar Gomes da Silva é oficializado como vice de Lula. Dessa vez, seu
vice é um empresário mineiro, industrial do setor têxtil e ex-presidente da
Federação das Indústrias de Minas Gerais. A dupla é festejada como uma
conveniente união capital-trabalho. As duas biografias têm pontos comuns. Ambos
tiveram infâncias pobres, começaram a trabalhar cedo, não cursaram ensino
superior e tornaram-se lideranças sindicais, cada um à sua maneira: um
representando os trabalhadores; o outro o patronato. Para concorrer, Alencar
trocara o PMDB pelo Partido Liberal (PL), uma legenda conservadora com forte
identificação evangélica.
2002 - JUNHO
Em
encontro promovido para divulgar seu programa de governo, Lula lê a famosa
Carta ao Povo Brasileiro. Escrita para acalmar os mercados e ampliar sua base
eleitoral, ela revela uma face mais moderada de Lula, que se comprometia a
cumprir contratos, inclusive sobre a dívida externa, e os acordos com o FMI. A
carta também evidencia o compromisso do candidato em manter o controle da
inflação. Ao mesmo tempo, critica o modelo econômico, ao qual atribui a culpa
pela estagnação e pelas altas taxas de desemprego.
"O
novo modelo não poderá ser produto de decisões unilaterais do governo, tal como
ocorre hoje, nem será implementado por decreto, de modo voluntarista. Será
fruto de uma ampla negociação nacional, que deve conduzir a uma autêntica
aliança pelo país, a um novo contrato social, capaz de assegurar o crescimento
com estabilidade. Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos
contratos e obrigações do país."
2002 - SETEMBRO
A
campanha eleitoral deslancha. Seguindo as recomendações de seus publicitários,
Lula adota um novo visual. Apara a barba toda semana, usa terno azul marinho e
gravata vermelha em quase todos os compromissos, sorri mais, grita menos: a
imprensa se refere a ele como "Lulinha paz e amor".
2002 - OUTUBRO
Lula
vence o primeiro turno com o dobro de votos de José Serra (PSDB), segundo
colocado (46,4% dos votos contra 23,2%)
2002 - OUTUBRO
No
segundo turno, Lula é eleito presidente da República, exatamente no dia de seu
aniversário de 57 anos. Recebe 52.793.364 votos, ou 61,3% do eleitorado,
contra 38,7% de José Serra. Cerca de 150 mil pessoas se concentram na Avenida
Paulista para a festa da vitória. A multidão canta "Parabéns a você"
ao aniversariante eleito. Em seu discurso, Lula presta homenagem à mãe, a
fundadores do PT como Mário Pedrosa e Sérgio Buarque de Holanda, a petistas
históricos como Chico Mendes e Carlito Maia e a companheiros como Henfil, Paulo
Freire, Betinho, João Amazonas, Celso Daniel e Toninho do PT.
"Eu
quero que vocês saibam que Zé Alencar e eu, e o governo que nós vamos montar,
nós vamos trabalhar 24 horas por dia, de domingo a domingo, para que a gente
possa cumprir cada coisa que nós prometemos nesta campanha. (...) Nós
precisamos garantir que cada homem e cada mulher, por mais pobre que seja,
tenha o direito de tomar café de manhã, almoçar e jantar todo santo dia. Nós
temos que garantir às pessoas o direito de morar. Nós temos que garantir às
pessoas o direito de conquistar a sua cidadania."
2002 - DEZEMBRO
Lula é
diplomado 36º presidente da República no Tribunal Superior Eleitoral. Faz um
discurso emocionado e não consegue evitar as lágrimas.
"Se
havia alguém no Brasil que duvidasse que um torneiro mecânico, saído de uma
fábrica, chegasse à Presidência da República, 2002 provou exatamente o
contrário. E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma
superior, ganho como meu primeiro diploma o diploma de presidente da República
do meu país."
2003 - JANEIRO
Lula
recebe a faixa presidencial das mãos de Fernando Henrique Cardoso. Durante a
solenidade, o presidente que sai se atrapalha com a faixa e, ao retirá-la,
derruba os próprios óculos. Imediatamente, o presidente que entra se agacha
para pegar os óculos e os devolve sem cerimônia ao antecessor. Pela primeira
vez, há um operário na Presidência da República. Lula é, também, o primeiro
presidente civil eleito nascido em Pernambuco, o primeiro sem diploma
universitário e o primeiro filiado a um partido de esquerda. Lula desfila pela
esplanada dos ministérios a bordo do Rolls Royce oficial, primeiro ao lado de
José Alencar e, em seguida, com a primeira-dama Marisa Letícia. Em determinado
momento, o carro tem de ser empurrado. Em seu primeiro discurso, propõe um novo
pacto social, promete fazer a reforma agrária, ratifica seu compromisso com a
produção e a geração de emprego e afirma que o combate à fome é sua meta
principal. Do início ao fim, enaltece o sentido de mudança que revestira sua
vitória.
"Mudança:
esta é a palavra-chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas
eleições de outubro. A esperança, finalmente, venceu o medo e a sociedade
brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos. (...) Foi para
isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar. Este
foi o sentido de cada voto dado a mim e ao meu bravo companheiro José Alencar.
(...) Hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo."
2003 - JANEIRO
Lula
leva metade de seus ministros para uma viagem por regiões pobres do Nordeste e
de Minas Gerais. No roteiro, locais como a favela Irmã Dulce, em Teresina, as
palafitas do Recife e a cidade de Itinga, no Vale do Jequitinhonha. A intenção
é garantir que sua equipe conhecesse a miséria e compreendesse a importância de
priorizar políticas de distribuição de renda.
2003 - JANEIRO
Lula
escolhe seu retrato oficial. Na foto, aparece sorridente, com uma bandeira
nacional ao fundo, e sem a faixa presidencial. Antes dele, apenas Itamar Franco
posara sem a faixa verde-amarela. Em seu segundo mandato, Lula retomaria a
tradição de posar com a faixa.
2003 - JANEIRO
Lula é
o primeiro presidente da República a discursar no Fórum Social Mundial, em sua
terceira edição, em Porto Alegre.
"Governar
é como uma maratona: você não pode começar a 80 por hora porque o seu fôlego
pode acabar na primeira esquina. Você tem que dar uns passos sólidos,
concretos, para que você possa terminar o governo com a certeza de um dever
cumprido."
2003 - JANEIRO
Dois
dias após falar no Fórum Social Mundial, Lula discursa no Fórum Econômico
Mundial, em Davos, e propõe um pacto mundial pela paz e contra a fome. O
primeiro passo, segundo sua proposta, seria a criação de um fundo internacional
para o combate à miséria, constituído pelos países do G-7 e estimulado pelos
grandes investidores internacionais e pelos donos das maiores fortunas do
mundo. Em Porto Alegre, havia justificado assim sua ida à Suíça: "Quero
dizer em Davos que não é possível continuar uma ordem econômica em que uns
comem cinco vezes por dia e outros ficam cinco dias sem comer".
"Mais de dez anos após a derrubada do
Muro de Berlim, ainda persistem muros que separam os que comem dos famintos, os
que têm trabalho dos desempregados, os que moram dignamente dos que vivem na
rua ou em miseráveis favelas, os que têm acesso à educação e ao acervo cultural
da humanidade dos que vivem mergulhados no analfabetismo e na mais absoluta
alienação."
2003 - JANEIRO
Lançamento
institucional do Programa Fome Zero.
"Hoje
estamos dando um grande passo. E sei que, até atingirmos nossa meta, será uma longa
caminhada. A fome não será vencida da noite para o dia, nem apenas com algumas
medidas isoladas do Governo. A vitória contra a fome vai exigir muito esforço,
muita persistência, muita coragem e dedicação de todos nós, durante os próximos
quatro anos."
2003 - MAIO
Lula
indica Joaquim Barbosa para o Supremo Tribunal Federal (STF). Até o final dos
oito anos de governo, Lula indicaria outros sete magistrados, o que faz dele o
presidente que mais nomeou ministros do STF desde a ditadura: Eros Grau, Carlos
Alberto Menezes Direito, Ayres Britto, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Cezar
Peluso e Dias Toffoli. De infância pobre e ex-faxineiro, Barbosa fez doutorado
na Universidade de Sorbonne (França) e foi procurador do Ministério Público
Federal antes de se tornar o primeiro brasileiro negro a virar ministro do STF.
Anos depois, já como presidente do colegiado, teria destaque no julgamento do
chamado "mensalão" e desempenharia um papel de liderança na
condenação de membros do governo Lula e dirigentes do PT.
2003 - JULHO
Lula
recebe líderes do MST no Palácio do Planalto. Veste um boné do movimento,
ratifica seu compromisso em fazer a reforma agrária e diz que as invasões
atrapalham o processo.
2003 - NOVEMBRO
Lançamento
do programa Luz para Todos, que atinge mais de 3 milhões de residências rurais
até 2014, universalizando esse direito entre a população mais pobre.
2004 - JANEIRO
O PMDB
adere formalmente à base aliada, garantindo maioria parlamentar ao governo, que
em seu primeiro ano teve de negociar apoio de pequenos partidos e disputar no
varejo cada projeto de lei.
2004 - FEVEREIRO
A
revista Época publica a primeira grave denúncia contra o governo
Lula. Waldomiro Diniz, então Subchefe de Assuntos Parlamentares e assessor do
ministro-chefe a da Casa Civil José Dirceu, é acusado de ter ligação com o
empresário e bicheiro carioca Carlinhos Cachoeira. Em vídeo divulgado pelo
próprio Cachoeira, ele aparece sendo extorquido por Diniz. Os recursos seriam
empregados nas campanhas do PT no Rio de Janeiro e, em troca, Diniz ajudaria o
empresário numa concorrência pública. Como a ajuda não veio, Cachoeira divulgou
o vídeo.
Terminado
o ano, o PIB brasileiro registra crescimento de 5,2%, resultado surpreendente
se comparado ao 0,5% de crescimento do ano anterior. O máximo de crescimento
obtido nos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso fora 4,4%, em 2000.
Lula assume o governo de um país que, em 2003, era a 13ª economia mundial e,
oito anos depois, entregaria o Brasil na 7ª posição.
2005 - JANEIRO
Lula
lança o Programa Universidade para Todos (ProUni), criado no Ministério da
Educação para facilitar o acesso de jovens de baixa renda ao Ensino Superior,
por meio de bolsas de estudo em universidades privadas. Até o final do segundo
mandato, 750 mil alunos seriam beneficiados.
Veja o
site do Programa
Universidade para Todos
2005 - JUNHO
Em
entrevista à Folha de S. Paulo, o deputado federal Roberto Jefferson,
presidente do PTB, acusa o governo de pagar mesadas a deputados em troca de
votos favoráveis a projetos de lei de seu interesse. Uma nova palavra desponta
no noticiário: "mensalão". É o início da maior crise do governo Lula.
2005 - JUNHO
Acusado
de ser o coordenador do "mensalão", o ministro da Casa Civil, José
Dirceu, deixa o cargo. Dali a quatro dias, o homem forte do governo Lula seria
substituído pela mulher forte do mesmo governo, a então ministra de Minas e
Energia Dilma Rousseff.
2005 - DEZEMBRO
Brasil
quita dívida com o Fundo Monetário Internacional, o FMI.
2006 - FEVEREIRO
Pela
primeira vez desde as denúncias do "mensalão", Lula lidera as
pesquisas de intenção de voto, superando os adversários nos dois turnos, em
todos os cenários. Volta a ser o candidato favorito à reeleição.
2006 - MARÇO
Cai o
ministro da Fazenda, Antônio Palocci, suspeito de violar o sigilo bancário do
caseiro Francenildo Costa, que o acusara de frequentar uma mansão em Brasília
com o objetivo de fechar negócios suspeitos com lobistas. É substituído por
Guido Mantega, que frustra quem esperava mudanças importantes na economia ao
afirmar que as diretrizes são definidas pelo próprio presidente: "Lula é o
único fiador da política econômica", diz.
2006 - MARÇO
O
Brasil entra em órbita. Marcos Pontes é o primeiro astronauta brasileiro a
viajar ao espaço e a pisar na Estação Espacial Internacional, numa missão de
dez dias, tendo sido selecionado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e pela
Nasa.
2006 - OUTUBRO
É realizado
o primeiro turno. O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, recebe 41, 6% dos votos
e frustra as expectativas de vitória de Lula já no primeiro turno. Lula,
ausente no último debate, é o preferido por 48,6% do eleitorado
2006 - OUTUBRO
Lula é
reeleito com mais de 58 milhões de votos, ou 60,8% do eleitorado. Em números
absolutos, é a maior votação obtida por um chefe de Estado no Ocidente. O
recorde anterior era de Ronald Reagan, eleito presidente dos Estados Unidos com
54,5 milhões de votos em 1984. Alckmin fica com 39,1% dos votos, menos do que
recebera no primeiro turno.
O IPCA
registra inflação anual de 3,14%, a menor desde 1998. Em 2002, último ano do
governo anterior, fora registrado 12,5%. O resultado é comemorado no governo e
contribui para a aprovação da política econômica.
2007 - JANEIRO
Lula
toma posse num dia chuvoso. Em seu discurso, define as prioridades para os
quatro anos seguintes: acelerar, crescer e incluir.
2007 - JANEIRO
O
governo lança o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pacote de medidas
estruturais, incluindo concessão de crédito, estímulo a investimentos diretos e
realização de obras de infraestrutura, principalmente em setores sociais como
habitação, saneamento e transporte. A intenção é transformar o programa na
principal marca do segundo mandato, assim como o Bolsa Família fora a principal
bandeira dos primeiros quatro anos.
2007 - MARÇO
O
presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, visita o Brasil. Ao lado de
Lula, anuncia um acordo de cooperação tecnológica para a produção de
etanol.
2007 - JUNHO
Bovespa
encerra o primeiro semestre com valorização de 22%, a maior alta desde
1999.
2007 - AGOSTO
O STF
acata todas as denúncias apresentadas contra os suspeitos de envolvimento com o
"mensalão". Ao todo, são 40 réus.
2007 - OUTUBRO
Em
cerimônia em Zurique, na Suíça, a Fifa confirma o Brasil como país-sede da Copa
do Mundo de 2014. Não há surpresa, uma vez que se tratava de candidatura
única.
2007 - NOVEMBRO
É anunciada a
descoberta de grandes reservas de petróleo na camada pré-sal. Os depósitos se
estendem desde o norte da Bacia de Campos até o sul da Bacia de Santos.
Estima-se reserva equivalente a 2 bilhões de barris.
2008 - MARÇO
Lula inaugura obras
do PAC no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e apresenta Dilma Rousseff
como "mãe do PAC". A ministra-chefe da Casa Civil desponta como
provável candidata do PT à sucessão presidencial.
2008 - MAIO
Alegando
falta de apoio político e fazendo críticas à agenda desenvolvimentista do
governo, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente desde o início do primeiro
mandato, pede demissão e é substituída por Carlos Minc. Em agosto do ano
seguinte, ela deixaria oficialmente o PT para integrar a oposição. Seria
candidata à Presidência em 2010, pelo Partido Verde (PV).
2008 - SETEMBRO
Lula
suja as mãos de petróleo ao participar da primeira extração simbólica da camada
do pré-sal, numa plataforma da Petrobras instalada no Campo de Jubarte, no
Espírito Santo.
"Tive
o prazer de meter a mão no óleo, e é uma sensação eu penso que única para um
ser humano que tem o privilégio de presidir o País neste momento. (...) Se a
gente imaginar o que está programado até 2017, ultrapassaremos os 2 trilhões de
reais de investimentos na economia brasileira."
2008 - NOVEMBRO
Barack
Obama é eleito presidente dos Estados Unidos.
2008 - NOVEMBRO
O Banco
do Brasil anuncia a compra da Nossa Caixa e recupera o posto de maior banco do
país. Semanas antes, em 3 de novembro, a fusão entre Itaú e Unibanco havia
formado um gigante financeiro que tinha ultrapassado o banco público.
2008 - DEZEMBRO
Em
pronunciamento à Nação, Lula comemora o fato de o país sair praticamente
incólume da crise mundial e credita o fato a trunfos de seu governo como o
aumento do salário mínimo, a redução do desemprego e ao volume de reservas em
moeda estrangeira. "Nas crises anteriores, em poucos dias o Brasil
quebrava e era obrigado a pedir socorro ao FMI", diz. "Desta vez, o
Brasil não quebrou, nem vai quebrar. Está enfrentando a situação de cabeça
erguida. Enquanto a maioria dos países ricos está em recessão, o Brasil vai
continuar crescendo."
"Se
você está com dívidas, procure antes equilibrar seu orçamento. Mas, se tem um
dinheirinho no bolso ou recebeu o décimo terceiro, e está querendo comprar uma
geladeira, um fogão, ou trocar de carro, não frustre seu sonho, com medo do futuro.
Porque, se você não comprar, o comércio não vende. E, se a loja não vender, não
fará novas encomendas à fábrica. E aí a fábrica produzirá menos e, a médio
prazo, o seu emprego poderá estar em risco. Assim, quando você e sua família
compram um bem, não estão só realizando um sonho. Estão também contribuindo
para manter a roda da economia girando. E isso é bom para todos."
2009 - MARÇO
Por 10
votos a 1, o STF mantém a demarcação contínua da reserva Raposa Serra do Sol,
em Roraima, numa importante vitória dos índios e dos ambientalistas sobre os
ruralistas. A decisão judicial consolida o principal marco do governo Lula em
sua trajetória indigenista.
2009 - MARÇO
É
lançado o programa Minha Casa, Minha Vida com recurso da Caixa Econômica
Federal.O plano habitacional se propõe a construir e entregar 1 milhão de
moradias na primeira fase, para famílias com renda mensal de até R$ 5 mil, por
meio de parcerias com estados e municípios. No final do mandato, em dezembro de
2010, haviam sido contratadas 1 milhão casas pelo programa. Em 2014 seria
ultrapassada a casa dos 3 milhões, entre residências entregues e contratadas.
2009 - ABRIL
Em
reunião do G20, em Londres, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
aperta a mão de Lula, vira-se para o primeiro-ministro da Austrália, Kevin
Rudd, e diz, apontando para o brasileiro: "Esse é o cara! Eu adoro esse
cara." Segundo Obama, Lula é "o político mais popular da
Terra."
2009 - ABRIL
Dilma
Rousseff anuncia que está com câncer e submete-se a quimioterapia para vencer o
linfoma. Mantém o cargo durante o tratamento, que se estenderia por cinco
meses, até a confirmação da remissão.
2009 - JULHO
A
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) aprova por unanimidade o
parecer do deputado petista José Genoino pelo arquivamento do Projeto de Emenda
Constitucional apresentado pelo deputado Jackson Barreto, do PMDB, que
introduzia a possibilidade de segunda reeleição. Em outras palavras, é
sepultada a ideia de um terceiro mandato para Lula, bem como para os demais
ocupantes de cargos eletivos majoritários, como prefeitos e governadores. Lula
e o PT já haviam se posicionado contra a mudança.
2009 - JULHO
A
expressão "nunca antes na história deste país", recorrente nos
discursos de Lula, é ironizada na mídias e nas redes sociais. O blogueiro Paulo
Henrique Amorim apelida o petista de "Nunca Dantes". Marcelo Tas
lança o livro "Nunca antes na história deste país", no qual reúne as
frases mais engraçadas e polêmicas do presidente. Em 2010, o próprio Blog do
Planalto, órgão de divulgação do governo federal, publicaria uma série de posts
intitulada "Nunca Antes ", na qual sintetizaria as principais
conquistas inéditas da administração. Em 15 de dezembro de 2010, voltaria ao
tema durante cerimônia de registro em cartório do balanço de seu governo:
"Muita
gente fica incomodada quando eu falo isso. Muita gente fala: 'O Lula está
descobrindo o Brasil'. Não estou descobrindo. Nós apenas estamos fazendo o que
os outros não fizeram. E quando os outros não fizeram o que a gente fez, a
gente diz 'nunca antes na história do Brasil."
2009 - OUTUBRO
Com
emoção e lágrimas de muitas pessoas que participaram da solenidade em
Copenhagen, o Comitê Olímpico Internacional anuncia o Rio de Janeiro como sede
dos Jogos Olímpicos de 2016.
2010 - JANEIRO
Chega
aos cinemas o filme "Lula: O filho do Brasil", dirigido por Fábio
Barreto e baseado no livro homônimo, de Denise Paraná. Produzido sem recorrer a
nenhuma lei de renúncia fiscal, o filme custou cerca de R$ 17 milhões e estreou
em 513 salas.
2010 - FEVEREIRO
Indicada
por Lula, Dilma Rousseff é confirmada como candidata a presidente da República
em congresso nacional do PT.
2010 - JULHO
Lula
intensifica a presença brasileira na África e estabelece relações para futuras
parcerias entre os dois continentes durante excursão oficial por países como
Guiné Equatorial, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul. Em oito anos de
governo, foram abertas 19 novas embaixadas em países africanos. E o comércio
com países do continente triplicou.
2010 - AGOSTO
O
presidente inaugura em Divinópolis (MG) o Campus Dona Lindu, extensão da
Universidade Federal de São João Del Rey (MG). Batizado em homenagem à sua mãe,
o local se soma ao rol de 126 campi e 14 universidades federais inauguradas no
governo Lula até o fim do mandato.
2010 - OUTUBRO
Dilma
Rousseff vence o primeiro turno com 47% dos votos e disputa o segundo com o
tucano José Serra, que obteve 33%. A ex-petista e ex-ministra do Meio Ambiente
Marina Silva (PV) fica em terceiro lugar, preferida por 19% do eleitorado.
2010 - OUTUBRO
Dilma é
eleita presidente da República com 55.752.529 votos (56%).
2010 - DEZEMBRO
Lula
registra em cartório um balanço dos oito anos de governo. O documento tem 310
páginas e é assinado por todos os ministros. Entre os trunfos listados na prestação
de contas, destaque para os resultados das políticas sociais e de distribuição
de renda. Segundo o texto, 27,9 milhões de brasileiros saíram da zona de
pobreza em oito anos. Foram criadas 15 milhões de vagas com carteira assinada,
reduzindo o desemprego para apenas 6,1% e permitindo que, pela primeira vez na
história do Brasil, haja mais trabalhadores formais do que informais. Foram
assentadas 602 mil famílias sem-terra, em 3,4 mil novos assentamentos que,
juntos, cobrem uma área de 47,1 milhões de hectares, o equivalente a quase duas
vezes o estado de São Paulo. Na agricultura, houve recordes sucessivos de
exportação, alcançando 73,9 bilhões de dólares em exportações em 2010, ano em
que o Brasil colheria sua maior safra de grãos: 148 milhões de toneladas. Ao
mesmo tempo, os indicadores do Meio Ambiente não ficam atrás. O Brasil foi
responsável por 74% das unidades de conservação criadas no mundo nesse
mesmo período de oito anos. A Amazônia alcançou o menor nível de desmatamento
em 23 anos de monitoramento.
"Esta
prestação de contas é menos para engrandecer o que nós fizemos e mais para dar
uma fotografia à sociedade brasileira para que ela, vendo o que foi feito, ela
perceba também o que não foi feito e o que precisa ser feito."
2010 - DEZEMBRO
O Ibope
divulga a última pesquisa de popularidade do ano e crava a aprovação recorde de
87% ao governo Lula.
2010 - DEZEMBRO
No
último dia de governo, Lula acata o parecer da Advocacia Geral da União e nega
extradição do ativista de esquerda Cesare Battisti para a Itália. A decisão
sobre seu futuro se arrastava desde a prisão de Battisti, em 2007, por uso de
passaporte falso. Embora o governo italiano pressionasse pela extradição e o
STF entendesse que a prisão do ativista não se deu por motivo político, Lula
faz uma leitura diferente do episódio e opta por mantê-lo no país. Sua decisão
é divulgada poucas horas antes de deixar a Presidência para evitar que Dilma
tivesse de lidar com o tema.
Em sua
derradeira solenidade no Palácio do Planalto, Lula agradece a equipe e faz um
pronunciamento no qual se diz realizado por ter conseguido, acima de tudo,
inaugurar um novo tipo de relação entre presidente e sociedade, mais aberta e
transparente. Em oito anos, promoveu mais de 50 conferências nacionais com
diferentes setores da sociedade civil e manteve as portas do Palácio do
Planalto abertas para grupos que jamais haviam colocado os pés ali. Em 18 de
abril de 2007, recebeu uma delegação de militantes do movimento de defesa dos
direitos dos hanseniano, incluindo dezenas de portadores da doença. Em 24 de
maio, Lula promulgaria ali mesmo uma medida provisória que conferiu pensão indenizatória vitalícia aos hansenianos que,
em razão da doença, tenham sido internados compulsoriamente em
hospitais-colônias do Estado.
2011 - JANEIRO
No dia
1º de janeiro de 2011, o primeiro operário a ocupar a sala principal do Palácio
do Planalto passaria a faixa verde-amarela para a primeira presidenta do
Brasil.
"Eu
penso que o Brasil mudou. O Brasil mudou na relação com a sociedade. Nunca
antes os humildes foram tratados com tanta deferência (…), nunca os estudantes
e os professores foram tratados com o respeito que foram tratados. Isso
demonstra o grau de maturidade que o Brasil alcançou."
2011 - FEVEREIRO
Lula
retoma sua atividade no Instituto Cidadania, em São Paulo, e comanda sua
transição para Instituto Lula. Nessa nova fase, a prioridade é sistematizar o
aprendizado adquirido com a experiência de governo e promover um intercâmbio
mundial de ideias e iniciativas, com foco especialmente na África e na América
Latina. É anunciada a ideia de construir em São Paulo um Memorial da
Democracia, resgatando a longa luta do povo brasileiro até chegar à etapa atual
de mudanças revolucionárias por caminhos pacíficos.
2011 - MARÇO
Lula
faz sua primeira palestra como ex-presidente, para uma plateia formada por
executivos da LG.
2011 - JUNHO
O
prestigio internacional de Lula e do Brasil, garantem a eleição do brasileiro
José Graziano da Silva, ministro do combate à fome em 2003, para o importante
posto de diretor geral da FAO, façanha que se repetiria em 2003 com a eleição
do embaixador Roberto Azevedo para diretor geral da OMC.
2011 - OUTUBRO
Recebe
o diagnóstico de câncer na laringe. Nos meses seguintes, seria submetido a
quimioterapia e radioterapia, num agressivo tratamento chefiado pelo
cardiologista Roberto Kalil Filho. Pela primeira vez desde 1979, Lula aparece
sem a barba.
2012 - OUTUBRO
Cinco
meses após o diagnóstico de câncer, Lula faz exames no Hospital Sírio Libanês,
que apontam remissão completa do tumor.
"Uma
coisa que eu aprendi e que eu posso dar como sugestão é que o paciente (...)
tem que ter disciplina. Ele tem que seguir as orientações. Não vai ter nada
legal, não vai ter nada gostoso, tudo é difícil, mas ele tem que saber que o
resultado disso é ele viver. E só pelo fato de ele saber que o resultado de ele
ser disciplinado vai garantir a ele o direito de viver, vale a pena qualquer
sofrimento."
2012 - OUTUBRO
Liberado
pelos médicos, Lula se engaja nas campanhas eleitorais do PT e visita 12
capitais. O partido conquista vitórias importantes, como a de Luciano Cartaxo,
em João Pessoa, e a de Elmano de Freitas, em Fortaleza, além da festejada
eleição de Fernando Haddad, em São Paulo: um político pouco conhecido que fora
indicado por Lula, repetindo o fenômeno Dilma Rousseff.
2012 - DEZEMBRO
A
conferência internacional "Fórum pelo Progresso Social: o crescimento para
sair da crise" é realizada em Paris. Promovida pelo Instituto Lula em
parceria com a francesa Fundação Jean Jaurès, do partido socialista, tem como
objetivo reunir economistas e personalidade internacionais em torno de
estratégias que permitam aos países superar os sacolejos da economia mundial e,
ao mesmo tempo, preservar os empregos e garantir o desenvolvimento. A
presidenta Dilma Rousseff e o presidente François Hollande comparecem à
cerimônia de abertura. Uma segunda rodada é agendada para meados do ano
seguinte, desta vez em São Paulo.
2013 - MARÇO
Lula
publica no New York Times um artigo sobre a morte do presidente
venezuelano Hugo Chávez. Começam as tratativas para que o ex-presidente
passe a colaborar mensalmente com o jornal americano. Em 23 de abril, é
anunciado o fechamento do contrato e, a partir de junho, Lula passa a assinar
uma coluna mensal, distribuída pela agência de notícias do NYT, não necessariamente
veiculado pela edição impressa. No texto de estreia, aborda as manifestações
que ocuparam as ruas do Brasil após protestos em repúdio ao aumento das
passagens de ônibus.
"As
preocupações dos jovens não são meramente materiais. Eles querem maior acesso ao
lazer e a atividades culturais. Mas, acima de tudo, eles exigem instituições
políticas mais limpas e transparentes, sem as distorções do sistema político e
eleitoral anacrônico do Brasil, que recentemente se mostrou incapaz de promover
uma reforma. A legitimidade dessas demandas não pode ser negada."
2013 - JUNHO
"Novas
abordagens unificadas para erradicar a fome na África" é o título do
encontro internacional realizado em Adis Adeba, na Etiópia, promovido pelo
Instituto Lula em parceria com a Comissão da União Africana (AUC) e a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A meta
é erradicar a fome do continente, onde 245 milhões de pessoas não têm o que
comer, até 2025.
2013 - NOVEMBRO
Lula é
uma das 120 lideranças de dez diferentes países reunidos no seminário
"Desenvolvimento e Integração na América Latina", em Santiago, no
Chile. O objetivo do evento é discutir o aprofundamento das relações físicas,
econômicas, energéticas e sociais entre os países da região. O seminário é organizado
pelo Instituto Lula em parceria com a Comissão Econômica para a América Latina
e o Caribe (Cepal), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco
de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Ao longo do ano, Lula visitara uma
dezena de países latino-americanos: Chile, Argentina, Cuba, Colômbia, Equador,
México, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. O Instituto Lula
mantém um grupo de trabalho intitulado Iniciativa América Latina, em paralelo à
Iniciativa África.
Fonte: https://lula.com.br/
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